Crítica | “Quebrando Regras” e o retrato morno de uma revolução

Quebrando Regras

Quebrando Regras“, lançado em 2025, é um daqueles filmes que carregam uma missão maior do que a própria narrativa ao precisar contar uma história real e que deve ser ouvida em todo o mundo. Inspirado na trajetória de Roya Mahboob, interpretada por Nikohl Boosheri, o filme narra a história de uma professora afegã que ousou aprender e ensinar robótica a meninas em um país onde educar mulheres é visto como desafio e, muitas vezes, como afronta. 

A protagonista, então, forma o primeiro time de robótica composto apenas por meninas, e leva as competidoras a competições internacionais, atraindo olhares de jornais, políticos, figuras públicas e, também, do Talibã, autoridade em seu país. Infelizmente, a atenção chamada torna cada uma delas e suas famílias em um alvo ambulante do regime. Diante do desafio, a história de “Quebrando Regras” percorre uma parte do sonho de cada uma, desenrolando a cada competição e obstáculo. 

Divertido e leve, o filme dirigido por Bill Guttentag é acessível a diversos públicos, sem, no entanto, perder de vista o peso do contexto. E um de seus pontos altos é não mergulhar na política ou em estereótipos recorrentes sobre o Oriente Médio. Em vez disso, aposta na força das histórias pessoais, na potência do aprendizado e na capacidade da ciência de literalmente abrir fronteiras. Em tempos em que Hollywood ainda trata o Oriente sob a ótica do exótico ou do trágico, “Quebrando Regras” se destaca por colocar o foco onde deve estar: nas pessoas e no poder da educação, tecnologia e ciência como força de mudança.

“Quebrando Regras”

Mas, mesmo com essa abordagem necessária, o filme fica aquém do que poderia ser. Faltou aprofundamento. A história dessas meninas merecia mais camadas, mais tempo para respirar. Em alguns momentos, as emoções parecem contidas demais, como se a direção tivesse receio de ir fundo no drama real. 

A atuação, especialmente das jovens protagonistas, é um pouco crua, o que é perdoado por serem estreantes, o resultado final perde força.

Outro ponto que enfraquece a autenticidade do longa é o idioma. Falado quase todo em inglês, o filme perde a textura cultural que um idioma local poderia trazer. Entende-se a escolha, considerando possíveis riscos e censuras do regime afegão, mas ainda assim, o inglês ocidentaliza uma história que tem alma oriental, e isso afeta a experiência.

No fim, “Quebrando Regras” é um bom filme. Importante, necessário, com uma mensagem linda e personagens inspiradoras, mas poderia ser mais do que isso. Poderia emocionar de verdade, arrancar lágrimas e fazer com que o brilho dessas meninas ecoasse com mais potência. É um retrato digno, mas morno, de uma história que merecia o calor da intensidade que realmente tem.

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