CRÍTICA | Pecadores é um suspiro para histórias originais no cinema

Pecadores consegue juntar gêneros e fazê-los funcionar.

Pecadores chegou à HBO Max provando que é muito mais do que um filme de terror. É uma obra autoral, ousada, e um verdadeiro fôlego criativo num cinema dominado por franquias, continuações e fórmulas repetidas.

Sob direção de Ryan Coogler, Pecadores é a primeira história 100% original do diretor. O filme mostra que há espaço para narrativas novas, complexas e emocionalmente envolventes, e Michael B. Jordan entrega aqui a melhor atuação de sua carreira.

Ambientado nos Estados Unidos dos anos 1930, em meio à segregação racial, o filme costura elementos de horror, drama e musical com um pano de fundo histórico potente. A trama mergulha nas raízes do blues e da cultura afro-americana como forma de resistência.

Michael B. Jordan interpreta dois irmãos gêmeos com personalidades opostas (e é nesse duelo interno que o ator brilha), transitando entre vulnerabilidade e fúria com total domínio de cena.

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Esse é a quarta vez em que Coogler e Jordan trabalham juntos – Divulgação Warner Bros

Diferente da pressa comum dos filmes atuais, Pecadores aposta na construção lenta e cuidadosa dos personagens. O roteiro não tem medo de gastar tempo com contexto, ambiente e camadas emocionais. Quando a ação de fato começa, o espectador já está completamente imerso naquele universo.

A música, elemento central da narrativa, vai além da trilha sonora: ela molda o ritmo, a estética e o sentimento do filme. Ludwig Göransson (vencedor do Oscar por Oppenheimer) entrega mais uma trilha memorável, que amplifica o peso e a beleza de cada cena. É um trabalho sonoro que emociona e assusta ao mesmo tempo.

Mesmo partindo de uma premissa aparentemente comum (vampiros, ação, dualidade entre irmãos) o filme consegue transformar cada clichê em algo mais profundo. Nada é colocado ali por acaso. Tudo tem propósito: discutir identidade, pertencimento, herança cultural e sobrevivência em um mundo que tenta silenciar certas vozes.

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A música é essencial para entender a mensagem de “Pecadores” – Divulgação Warner Bros

A estrutura do filme é clara e direta, mas cheia de camadas. O subtexto está em todos os lugares: nas músicas, nos diálogos e nos olhares. É nesse equilíbrio entre forma e conteúdo que Pecadores se destaca, especialmente num cenário onde o novo virou exceção.

Se há um ponto fraco, talvez seja a personagem de Hailee Steinfeld. Apesar da boa atuação, ela parece subutilizada na trama, servindo mais como peça dramática do que como alguém com presença real. Sua função na história é funcional, mas emocionalmente rasa.

Ainda assim, Pecadores é um filme corajoso, que mistura gêneros sem perder sua identidade. Ryan Coogler e Michael B. Jordan mostram novamente a força criativa que têm juntos, e entregam uma obra que fala sobre dor, fé, cultura e resistência com autenticidade.

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Michael B. Jordan entrega a melhor atuação de sua carreira em Pecadores – Divulgação Warner Bros

Michael B. Jordan prova sua versatilidade ao estrear em um novo gênero e encarar o desafio de interpretar dois personagens. Ele dá vida a dois irmãos com personalidades totalmente opostas, e faz isso com tanta precisão que a distinção entre eles se torna clara desde os primeiros momentos.

Mais do que um truque de atuação, essa dualidade se conecta de forma brilhante à narrativa, enriquecendo a jornada emocional do filme.

Esse é um filme com muita alma e coração. Emocionando e assustando ao mesmo tempo. No fim das contas, é disso que o cinema precisa: histórias que tenham algo real a dizer.

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