CRÍTICA | O Último Azul explora senso visual e faz ode à Liberdade

O Último Azul - Crítica

Na próxima quinta-feira (28), chega aos cinemas brasileiros um dos mais aguardados lançamentos do audiovisual nacional em 2025. Vencedor do Prêmio do Júri, o famoso Urso de Prata, no Festival de Berlim, O Último Azul estreia repleto de expectativa e muita curiosidade por parte do público.

O longa-metragem dirigido por Gabriel Mascaro (Boi Neon, 2015) conseguiu a inscrição entre as produções que pleiteiam a vaga de candidato do Brasil ao Oscar 2026. Bem cotado na disputa, é a aposta de alguns para ocupar o lugar que no ano passado pertenceu a Ainda Estou Aqui (2024). Mas será que é tudo isso mesmo? A Cinerama já assistiu à obra da Vitrine Filmes e te conta agora o que achou, sem spoilers.

A história de O Último Azul

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O Último Azul estreia em 28 de agosto nos cinemas – Divulgação/Vitrine Filmes

Em uma distopia, Gabriel Mascaro conta a história de Tereza (Denise Weinberg), uma senhora de 77 anos que busca aproveitar os últimos instantes da sua velhice antes de precisar embarcar em uma viagem só de ida para a Colônia, local apontado pelo Governo Brasileiro como um retiro obrigatório para idosos acima dos 80.

Ao descobrir que a idade mínima para ingressar no programa assistencial diminuiu em cinco anos, a protagonista se vê sem tempo para realizar seus últimos desejos antes de ficar o resto da vida presa em um local desconhecido no interior da Amazônia. A partir de então, toma medidas drásticas para escapar do cata-velho e se aventurar em meio aos rios da região Norte do país em uma trajetória pela sua liberdade.

Elenco brilha e faz roteiro fluir com perfeição

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Denise Weinberg vive Tereza, a protagonista de O Último Azul – Divulgação/Vitrine Filmes

Em O Último Azul, a sensação que fica é a de que o texto foi escrito pensando exatamente nos atores selecionados. É mágico e poético como todos em tela possuem cada um o seu momento de brilhar e valorizar ainda mais a trama. O protagonismo é todo de Tereza, é claro, vivida por Denise Weinberg (Greta, 2019) em uma das melhores atuações da sua carreira. Tão famosa por seus trabalhos feitos nos palcos, sua voz e presença em cena dão autonomia para uma senhora bastante decidida e autossuficiente.

Confiante de que ainda poderia aproveitar os anos restantes da forma que bem entendesse antes de precisar migrar para a Colônia, Tereza é sensivelmente representada quando percebe que o fim da liberdade bateu à porta e agora precisa encarar um destino do qual não escolheu. A trajetória de resiliência e esperança vivida pela personagem transmite ao público uma viagem completamente alucinante em busca da sua independência. Não há exagero algum ao afirmar que ela é o filme.

Mas, como todo grande papel principal costuma ser acompanhando de bons coadjuvantes, é preciso destacar dois nomes de peso que elevaram a grandeza do longa-metragem ao mais alto nível. A começar por Rodrigo Santoro (300, 2006), que dá vida ao barqueiro Cadu. Apesar dos breves minutos em tela, a sua participação na história é indispensável. Totalmente à vontade em cena, o ator é responsável por apresentar parte central da mitologia e por guiar Tereza na melhor direção dentro do dilema que a protagonista enfrenta.

Por outro lado, chamando toda a atenção possível e entregando um resultado espetacular, a cubana Miriam Socarrás (Violeta, 1997). Na pele de Roberta, a artista carrega irreverência e cumplicidade. A sua personagem lida com meandros da dúvida desde o momento em que surge para o público. Dona de um passado um tanto sombrio, a atriz tem espaço para se desenvolver e ampliar a sua magnitude no decorrer da narrativa.

Experiência sensorial potencializa debate necessário

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O Último Azul tem roteiro de Gabriel Mascaro e Tibério Azul – Divulgação/Vitrine Filmes

É muito prazeroso entrar na sala do cinema e se deparar com profissionais que estão dispostos a trazer pautas de extrema empatia com um olhar nada habitual. O Último Azul é, sim, uma obra sobre etarismo e discriminação geracional, abordada por um roteiro preciso – escrito pelo próprio Gabriel Mascaro e por Tibério Azul -, que correlaciona o tema a uma experiência sensorial vivida por quem está do outro lado da tela. A compaixão desta ficção científica, que hora permeia o humor, outrora mergulha no drama, mostra como o cinema pode sempre se renovar.

A fotografia do mexicano de Guillermo Garza entrega frames de beleza irretocável. De fato, o pano de fundo ser a flora amazônica colabora consideravelmente para este ponto, mas a maestria do trabalho de direção de arte, liderado por Dayse Barreto (O Estranho, 2023), revela que capricho e originalidade tendem a guiar o que está escrito a um excelente resultado. O longa é colorido e deixa claro que se orgulha desse tópico conforme a história avança.

A conexão desse casamento fica ainda melhor com uma trilha sonora bastante presente. O compositor Memo Guerra faz questão de transitar pela tensão pedida por uma boa distopia. Contudo, não abre mão de notas capazes de ressaltar os sentimentos de descoberta, esperança e resiliência que a obra apresenta. Tudo conversa muito bem, tornando o filme completo dentro de si.

O cinema nacional agradece

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O Último Azul disputa vaga para o Oscar 2026 – Divulgação/Vitrine Filmes

O Prêmio do Júri no Festival de Berlim foi merecido. Não há como trabalhar uma questão tão relevante e essencial para a existência humana, como a velhice, com a maestria que Mascaro aplicou e sair sem o devido reconhecimento. A busca de Tereza expõe o que muitos idosos querem dizer todos os dias: “Nós estamos aqui. Ser velho não é uma maldição e eu não preciso de fraldas”.

Para todos que convivem com essas questões no dia a dia, O Último Azul surge como um alento, um deleite acerca de um tema que precisa ser tratado com naturalidade. A uma hora e meia de filme passa voando e cada segundo e merece ser aproveitada com a graça do seu tempo. É um dos melhores lançamentos do cinema brasileiro em 2025.

Assista ao trailer de O Último Azul

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