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  • CRÍTICA | Deu Match: A Rainha dos Apps de Namoro surpreende em uma fórmula que já está ficando batida

    CRÍTICA | Deu Match: A Rainha dos Apps de Namoro surpreende em uma fórmula que já está ficando batida

    Em Deu Match: A Rainha dos Apps de Namoro, novo filme da 20th Century Studios no Disney+ é estrelado por Lily James, que normalmente entrega boas atuações, como na minissérie Pam e Tommy, interpretando Pamela Anderson durante a juventude, nos entregando uma personagem onde ela quase some em função do seu papel de Whitney Wolfe Herd em Deu Match.

    Muito se fala do desgaste de certas fórmulas e de determinados gêneros do cinema, mas pouco se fala do desgaste dessa estrutura narrativa do filme biográfico, que geralmente o lado com mais recursos conta a sua versão da história. 

    A obra nos conta a história cheia de percalços da empresária norte americana e não foge da estrutura de filmes de empreendedorismo, com um começo sofrido com poucos recursos financeiros, até que eventualmente o(a) personagem principal tem uma ideia genial.

    Deu Match acaba realmente surpreendendo na força e perspicácia de sua protagonista, que em muitos momentos, mostra que ser uma mulher em ambientes muito masculinos pode ser intimidador. 

    Porém o filme nos demonstra que na maioria dos casos mesmo se impondo isso não será suficiente, principalmente em empresas que dizem ter políticas igualitárias, entretanto não as aplica na prática. 

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    Deu match | Disney+

    Algo bem interessante é feito durante toda a obra, que é não santificar sua protagonista como foi realizado no premiado Bohemian Rhapsody. 

    A obra nos mostra a personagem de Lily James cometendo erros de julgamento, sendo conivente com situações problemáticas, enquanto busca sua própria ascensão. Whitney Wolfe é confrontada com esses problemas do mundo corporativo, e acaba assumindo que fazia parte do problema por fazer vista grossa. 

    O antagonista serve como a perfeita demonstração de como é a entrada de uma pessoa abusiva na vida de alguém, surgindo do nada e se torna bem dominante e manipulador com o tempo. 

    Isso é retratado de maneira bem interessante na obra onde torna a respiração do vilão (seu chefe) cada vez mais alta e inconveniente, conforme a relação dos dois vai piorando.  

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    Deu match | Disney +

    O longa retrata com muita seriedade a denúncia do abuso, a situação terrível da vítima, o descaso das figuras de autoridade com a gravidade da situação, a banalização das outras pessoas e principalmente a repercussão nas redes sociais. 

    No segundo ato temos  Whitney Wolfe extremamente abalada, após sua demissão da empresa Tinder, uma consequência da sua decisão de não aceitar o assédio que vinha sofrendo. 

    Em seguida é mostrado uma grande guinada no estado mental da protagonista, especialmente devido a um acordo de confidencialidade, da qual é obrigada a assinar para ter seus direitos como cofundadora pagos. 

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    Deu Match | Disney +

    Com todo esse contexto ela tem ideia pela qual ficou tão famosa o Bumble, uma plataforma feita por mulheres, para mulheres, com políticas realmente igualitárias, que garantem um ambiente respeitoso para todos. 

    Mas mesmo nessa empresa com tais condições, houve um revés em algo que fugia de seu controle, e a personagem de Lily James nos mostra como evoluiu através de uma importante decisão a qual toma.

    Existe um detalhe em Deu Match, que em muitos momentos fica artificial e nos tira das cenas, atrapalhando na imersão na história, e parece constantemente não estar confortável para a atriz, que são as lentes verdes nos olhos da protagonista. 

    Portanto o filme nos dá algo novo no genérico, surpreende, devido ao seu ponto de vista bem raro, e nos mostra como a ascensão de figuras femininas de poder pode ser bem difícil, frustrante, onde o chamado Mansplaining não é só ocasional, mas sim constante, onde o crescer profissional sempre será desafiador, mas que se torna impossível num ambiente não propício para e sem equidade nas condições de trabalho. 

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  • CRÍTICA | Maurício de Sousa: O Filme leva história em quadrinhos para a tela do cinema em bela homenagem

    CRÍTICA | Maurício de Sousa: O Filme leva história em quadrinhos para a tela do cinema em bela homenagem

    No próximo dia 23 de outubro, chega aos cinemas de todo o Brasil o mais novo filme-homenagem produzido para celebrar a vida e a obra de um dos maiores nomes da cultura nacional. Maurício de Sousa: O Filme, dirigido por Pedro Vasconcelos, conta a história de uma personalidade entre mais queridas pelos brasileiros, eternizado por ser o criador da Turma da Mônica.

    Protagonizado por Mauro Souza, filho de Maurício e estreante no cinema, o longa-metragem apresenta a trajetória do escritor e cartunista desde o anonimato até o momento em que se tornou quem é hoje. Mas será que o filme é bom mesmo? Já assistimos à obra e contamos todas as nossas impressões em uma análise completa e sem spoilers.

    A história de Maurício de Sousa: O Filme

    Maurício de Sousa O Filme

    Mauro Sousa, filho de Maurício, interpreta o pai na fase adulta – Divulgação

    Em comemoração aos 90 anos do quadrinista mais importante do país, Maurício de Souza: O Filme conta sobre o criador da Turma da Mônica, começando na sua infância, passando pela descoberta da paixão ao universo dos quadrinhos, bem como a invenção de uma carreira que na época é era considerada impossível, até às aventuras para sustentar a família e crescer profissionalmente.

    Mauro Sousa dá vida ao próprio pai

    Dono de uma carreira consistente dentro do teatro, Mauro Sousa já integrou montagens brasileiras de musicais da Broadway, como no caso de Miss Saigon. Oitavo filho de Maurício, o artista e empresário também é responsável pela direção da Maurício de Sousa Produções (MSP). Estreando no cinema no longa-metragem dirigido por Pedro Vasconcelos, o ator recebeu a missão de interpretar seu próprio pai e se saiu bem neste novo desafio.

    Mauricio de Sousa O Filme Diego Laumar

    Diego Laumar dá vida a Maurício de Sousa durante a infância – Divulgação

    Claro, dar vida a alguém que você já conhece há décadas e que convive no dia a dia pode facilitar um pouco o trabalho, é fato. Ao mesmo passo, a tarefa pode ser ainda mais complicada exatamente pelo mesmo motivo, principalmente quando se trata de uma personalidade que possui trejeitos marcantes. Gestos característicos, olhares específicos e o tão famoso e cativante sorrido do “pai” da turminha mais admirada no país não são exatamente as coisas mais tranquilas de se fazer diante das câmeras. Mas Mauro consegue executar um trabalho satisfatório e parecer natural em cena.

    Inspiração para a criação do personagem Nimbus nos quadrinhos, o ator carrega um tanto da aparência do pai e usou esse tópico a seu favor durante o filme. São nítidas as semelhanças entre os familiares, mas Mauro ainda consegue transmitir o carisma de Maurício de Sousa, até mesmo nos momentos mais improváveis da trama, que não são poucos. O maior quadrinista do Brasil passou por uma série de percalços para chegar no patamar atual, e muitos deles são contatos de forma irreverente.

    Mas a missão de interpretar Maurício de Sousa não é única e exclusiva de seu filho. Durante o período da infância do protagonista, o jovem Diego Laumar entrega uma atuação repleta de afeição, doçura e esmero. É um verdadeiro deleite se deliciar com as boas risadas provocadas pelo artista mirim.

    História em quadrinhos na telona

    Mauricio de Sousa O Filme quadrinhos

    Maurício de Sousa: O Filme marca a estreia de Mauro Sousa no cinema – Divulgação

    É importante deixar claro que o roteiro de Maurício de Sousa: O Filme não reinventa a roda. Muito pelo contrário. É uma linha narrativa básica, já vista em outros estilos de cinebiografias. Funciona, é bem-feita, mas nada de extraordinário se comparada com produções que exploram estilos mais ousados e com recursos de storytelling alternativos. O ponto alto da obra aparece destacado em outros aspectos.

    Como revelado pelo próprio diretor, foi uma escolha de Pedro Vasconcelos optar por utilizar a câmera parada durante as cenas. A princípio, pode não parecer algo importante, mas esta decisão tem a capacidade de transformar o longa-metragem em uma espécie de história em quadrinhos. Em determinados momentos, o espectador tem a sensação de que cada enquadramento do filme é um quadro de um almanaque ou gibi da Turma da Mônica.

    O efeito colabora para a escolha do ritmo da história, que opta por um tom descontraído, proporcionando uma experiência leve e agradável, mesmo quando retrata situações tristes e revoltantes. É por meio desse estilo, junto a planos fechados e detalhes, que o diretor consegue transmitir a experiência da nona arte dentro do cinema. É quase como se fosse possível ler balões de falas durante os diálogos das personagens.

    Mauricio de Sousa O Filme final

    Maurício de Sousa: O Filme estreia em 23 de outubro – Divulgação

    A trilha sonora também colabora diretamente para a construção da trama. Com o objetivo de ressaltar a essência da cultura nacional, o longa coloca o público para ouvir faixas consagradas, como Aquarela, de Toquinho, além de diversos outros sucessos, que caem como uma luva dentro da proposta apresentada ao longo de uma hora e 35 minutos de filme.

    Homenagem em vida

    Acima de qualquer coisa, a produção de Pedro Vasconcelos é um filme-homenagem. A obra não se preocupa em explorar situações polêmicas que possam ter acontecido na vida do cartunista. O conceito aqui é valorizar a vida e todo o trabalho de um dos nomes responsáveis pela alfabetização da população brasileira. Como uma cinebiografia, falta. Mas como celebração, Maurício de Sousa: O Filme entrega uma bela história em quadrinhos.

    Assista ao trailer de Maurício de Sousa: O Filme

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  • Jogo Sujo é o tipo de filme que seu pai vai assistir e dizer: FILMÃO

    Jogo Sujo é o tipo de filme que seu pai vai assistir e dizer: FILMÃO

    Jogo Sujo é a mais nova aposta da Prime Video, uma pena que desperdiça tantos atores talentosos com uma historia apressada e mal desenvolvida

    Jogo Sujo se esforça para englobar vários gêneros em um único filme e acaba se tornando mais um “blockbuster de streaming genérico” como tantos outros em tantas plataformas.

    Baseado nos livros de Donald E. Westlake, o filme conta a historia de Parker, ladrão que depois de ser traído no seu último trabalho e levar um tiro, vai atrás de vingança, mas isso o leva ao maior roubo da sua vida.

    O longa começa deixando o mais evidente possível que Parker, o protagonista interpretado por Mark Walhberg é o homem mais durão do mundo. Quando um dos bandidos que não dura 5 minutos vivo escuta seu nome, se treme de medo e diz que não quer encrenca.

    O diretor, Shane Black, quer mostrar que o Parker é um homem sério, sem piadinhas, sem um lado cômico e o Mark Walhberg até consegue passar essa seriedade, o problema são as pessoas ao redor dele. Se ele é sério, os outros personagens são “hilários”, até mesmo o chefe da máfia e os seus capangas.

    Com exceção de Wahlberg, a personagem de Rosa Salazar, Zen, é a única outra séria. E do mesmo jeito, se outros são hilários, eles dois são seríssimos, com os lábios cerrados, cara de mal e totalmente focados.

    Jogo Sujo

    Jogo Sujo \ Prime Video

    Lakeith Stanfield interpreta Grofield, um ator que para manter seu teatro, faz bicos roubando. Ele protagoniza o filme ao lado de Wahlberg e fica claro que o diretor quis fazer o mesmo que conseguiu com seu último filme, Dois Caras Legais, mas não consegue aqui. Que é: colocar um protagonista sério e outro cômico.

    Isso é clássico do cinema, mas, diferente de Ryan Gosling e Russel Crowe, em Jogo Sujo, os atores não tem química. O contraponto um do outro aqui não funciona por ser exacerbado, você não se importa com a relação deles e nem se vai acontecer algo com os personagens, em alguns momentos você até torce que algo aconteça.

    No longa, a vida é tratada de forma banal, matam qualquer um que estiver a sua frente, e pense num pessoal com a mira boa, não erram um tiro na cabeça. Nos livros, os personagem realmente são gananciosos e pouco se importam com os outros, mas da forma que é posto aqui, é vazio e gráfico demais, tem horas que você só cansa.

    Jogo Sujo

    Jogo Sujo / Prime Video

    Honestamente, poderíamos tirar um bloco só para falar dos coadjuvantes, mas se nem os protagonistas tem química, imagina eles. O talento desperdiçado aqui é enorme, em um único filme temos – além dos três já mencionados acima – Keegan-Michael Key, Nat Wolff, Chukwudi Iwuji e Tony Shalhoub e os quatro tentam fazer dar certo, mas simplesmente não dá. Eles podem funcionar solo, mas em conjunto, não é bom.

    Você sabe que quem tinha de morrer, morre no inicio, todos os integrantes do grupo estão seguros, se tem uma dificuldade, nos últimos instante, eles vão conseguir se livrar dela. Mas, o maior problema do filme é tentar ser muitas coisas ao mesmo tempo. Não sabe se é comedia, não sabe se é ação e o pior, não funciona como comédia de ação.

    Justiça seja feita, contado nos dedos, uma hora ou outra sai um arzinho do seu nariz por alguma piada chegou na hora certa e com certeza vai sair da sua boca: que mentira danada. Especialmente na cena do Grofield pilotando a moto no maior estilo capitão america.

    Se o seu pai gosta desse tipo de filme, você pode colocar pra assistir com ele sem medo, que quando acabar, ele vai dizer: que filmão. Jogo Sujo está disponível no Prime Video.

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  • CRÍTICA | “O Ônibus Perdido” é guiado por um inferno lá fora, e um conflito por dentro

    CRÍTICA | “O Ônibus Perdido” é guiado por um inferno lá fora, e um conflito por dentro

    Em O Ônibus Perdido, Matthew McConaughey e America Ferrera guiam uma história onde o verdadeiro resgate é emocional.

    O Ônibus Perdido é mais do que um simples thriller inspirado em fatos reais; é um mergulho intenso em como o caos externo pode se entrelaçar com os dilemas pessoais de quem já está tentando sobreviver ao peso da própria vida. O filme, dirigido por Paul Greengrass, tem aquele olhar característico do cineasta: câmera nervosa, cortes rápidos e uma tensão que parece nunca nos deixar respirar.

    O protagonista Kevin, vivido de forma visceral por Matthew McConaughey, é apresentado em meio a uma vida despedaçada tanto no campo pessoal, especialmente em relação ao filho, quanto no profissional, que não lhe dá descanso. O que ele não poderia imaginar é que, em meio a esse turbilhão íntimo, uma catástrofe inesperada o forçaria a enfrentar medos ainda maiores. McConaughey entrega aqui uma performance carregada de fragilidade e humanidade, equilibrando a dureza da situação com momentos de vulnerabilidade que só um ator do seu calibre consegue transmitir.

    O Ônibus Perdido é guiado por um inferno lá fora, e um conflito por dentro.

    “O Ônibus Perdido”, já disponível no Apple TV+.

    A entrada de America Ferrera como Mary é outro ponto alto. Sua personagem se torna uma espécie de âncora emocional, não só para Kevin, mas também para as crianças presas dentro do ônibus. Há uma troca genuína entre os dois personagens, um cuidando do outro em meio ao desespero, e é nesse detalhe que o filme encontra seu coração. Ferrera traz um calor humano que contrasta com a frieza das imagens reais usadas por Greengrass para reforçar a sensação de que estamos diante de algo que realmente aconteceu.

    O diretor constrói o suspense de forma quase documental, misturando dramatização e registros visuais que intensificam a imersão do espectador. Há cenas de tirar o fôlego, mas que nunca soam gratuitas; tudo é colocado a serviço da narrativa e da carga emocional da trama para quem esteja assistindo lembre a todo momento que foi um acontecimento real.

    "O Ônibus Perdido" é guiado por um inferno lá fora, e um conflito por dentro

    Paul Greengrass em “O Ônibus Perdido”, já disponível no Apple TV+.

    O que mais impressiona em O Ônibus Perdido é a forma como a catástrofe externa se transforma em metáfora para a vida de Kevin. O ônibus perdido, cheio de crianças inocentes e com um extremo medo sob sua responsabilidade, funciona como reflexo de um homem tentando se reencontrar, de um pai tentando resgatar o que restou da sua conexão familiar.

    No fim, O Ônibus Perdido não é apenas um relato de sobrevivência, mas um retrato sobre como o ser humano encontra força no improvável: no outro, no coletivo, na empatia. É um filme que mexe, que angustia e que, acima de tudo, te faz pensar por um bom tempo.

  • Crítica | Marvel Zumbis é muita promessa e pouca entrega

    Crítica | Marvel Zumbis é muita promessa e pouca entrega

    Dirigida por Bryan Andrews, Marvel Zumbis opta por se prender em uma história cansada, e não alcança o potencial que poderia

    Desde que o MCU começou em 2008, a ideia que deve haver um universo compartilhado entre todas as suas produções, levou a Marvel a um caminho que se encontra cada vez mais frágil. Marvel Zumbis sofre diretamente destas restrições: ao invés de ousar criar um universo autônomo, mantém-se amarrada ao cânone, ousa pouco, e não alcança seu potencial criativo, se reduzindo a uma série pouco inovadora de histórias já contadas.

    Derivado de um dos episódios mais impactantes de What If? (2021, Bryan Andrews), o enredo gira em torno de personagens das fases mais recentes, como Shang-Chi, o Guardião Vermelho, Yelena Belova, o Barão Zemo e, principalmente, Kamala Khan, que assume o papel de protagonista. A escolha é, em parte, acertada: a jovem heroína traz empatia e frescor à narrativa, equilibrando sua ingenuidade adolescente com a gravidade do apocalipse, além de ser uma das personagens mais amadas desta nova fase, porém, o roteiro pouco aproveita esta questão, fazendo Kamala repetir um arco previsível e imaturo.

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    Marvel Zumbis | Marvel Animation

    A produção boas ideias pontuais, como a introdução de um Blade Cavaleiro da Lua, e algumas sequências visuais vibrantes nos episódios finais, ao mesmo tempo que apresenta uma quantidade generosa de easter eggs, incluindo referências a produções menos celebradas, e atualmente esquecidas, como Eternos (2021, Chloé Zhao), porém, que ao seu final, não acrescenta em nada à trama.

    Enquanto os quadrinhos de Marvel Zumbis marcaram época justamente por sua crueldade melancólica, somada a um otimismo introvertido, a produção de Andrews não segue este caminho.

    Ao invés de zumbis complexos como nos quadrinhos, estes são simples cascas grotescas, sem a dimensão trágica dos quadrinhos, e restando apenas monstros no estilo George Romero que apesar de falar, não são nada mais do que típicos zumbis, controlados por uma poderosa Feiticeira Escarlate que facilmente encerraria esta série em um episódio se quisesse.

    Ao longo de rápidos 4 episódios, somos apresentados a um desequilíbrio entre humor, drama e violência que agrava ainda mais a narrativa: piadas deslocadas interrompem momentos de tensão, impedindo que a obra assuma de fato uma identidade de horror.

    Visualmente, a série repete a estética de What If?, com uma animação 2D competente, mas sem maiores ousadias. O destaque fica para o uso de cores nos episódios finais, quando o confronto contra Thanos zumbi e a destruição das Joias do Infinito criam imagens memoráveis, porém, é inevitável que faltou coragem para realmente lidar com um gore estético que Marvel Zumbis poderia alcançar, realmente aproveitando a sua classificação indicativa para maiores de 18 anos.

    A produção busca homenagear Chadwick Boseman ao dar mais um desfecho ao Pantera Negra, porém, apesar do gesto ser bonito, somente evidencia como a série depende de vínculos passados, algo que mostra sinais de desgaste, afinal, personagens secundários não conseguem sustentar sozinhos o interesse do público, enquanto figuras mais icônicas, como os X-Men ou o Quarteto Fantástico, permanecem de fora.

    No fim, Marvel Zumbis é um exemplo claro de como a Marvel teme correr riscos. A série entrega momentos isolados empolgantes, como a batalha contra um Namor zumbi ou o confronto final com o Hulk, mas carece de uma narrativa coesa e de personagens que despertem genuína empatia, resultando em uma produção que demonstra potencial, mas que aposta na familiaridade em vez de explorar o radical e o inusitado que os quadrinhos proporcionaram, sem contar que evita lidar com todas as possibilidades que a classificação indicativa para maior poderia proporcionar.

    Caso a produção tivesse optado por abraçar a liberdade criativa, sem as amarras do MCU, Marvel Zumbis poderia se tornar uma das melhores produções da Marvel, ao invés de ser apenas uma fagulha: um vislumbre do que poderia ter sido, mas que se apaga rapidamente no momento que se encerra.

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  • PRIMEIRAS IMPRESSÕES | 2º Temporada de ‘Gen V’ lentamente aquece para um final surpreendente

    PRIMEIRAS IMPRESSÕES | 2º Temporada de ‘Gen V’ lentamente aquece para um final surpreendente

    Criada por Eric Kripke e Evan Goldberg, Gen V retorna mais potente e com maior impacto dentro do universo de The Boys

    Embora The Boys (2019, Eric Kripke) tenha se consolidado como uma das séries de maior sucesso do Amazon Prime Video, já na terceira temporada o público começava a notar sinais de desgaste. Capitão Pátria demorava a assumir de fato sua persona de grande vilão, algo só alcançado plenamente no final da quarta temporada, assim, para atiçar novamente o interesse do público, optou-se por expandiu o universo por meio de um novo olhar, e assim nasceu Gen V.

    Com uma atmosfera adolescente e estrutura semelhante à da série original, Gen V apresentava um tom mais leve e participações pontuais de personagens conhecidos, como Ashley e até uma breve aparição de Capitão Pátria, sendo claro desde o começo que a produção era somente um braço deste gigantesco universo que estava sendo criado, nada mais do que isso, porém, seu final foi corajoso, amarrando-se diretamente à quarta temporada de The Boys e levando a novos caminhos.

    No dia 17 de setembro, a série retornou com uma nova temporada, agora profundamente ligada ao desfecho da última temporada de The Boys, e mais presente dentro do universo como um todo, sendo já um ponto positivo se compararmos com sua última temporada: se antes Gen V estava à margem, agora participa ativamente do tabuleiro que definirá o final da série como um todo.

    Gen V

    London Thor, Jaz Sinclair e Lizze Broadway em cena de ‘Gen V’- DIvulgação Amazon Prime Video

    A imersão na “América de Capitão Pátria” é um dos destaques. A sátira política, marca registrada de Kripke e Goldberg, continua afiada e desconfortavelmente próxima da realidade, principalmente se refletirmos a questão dos imigrantes na América. Como em South Park (1997, Trey Parker), ninguém escapa das críticas, mesmo que a série adote em geral um viés mais democrático e liberal. Este pano de fundo torna o início da nova temporada especialmente relevante, ainda mais com a presença ampliada de personagens icônicos como Luz-Estrela, como mostrado já no trailer, e preparando terreno para uma quinta temporada que promete proporções épicas.

    Apesar de mais inclusa no universo, Gen V permanece a mercê de The Boys, exigindo cada vez mais que o público acompanhe todo o conteúdo prévio, diferentemente da primeira temporada, que se sustentava, por bem ou por mal, de forma mais autônoma.

    A temporada começa logo após os eventos da quarta temporada: Emma e Jordan são libertos da prisão, Marie está foragida e André não retorna, em respeito ao ator Chance Perdomo, falecido em um acidente de moto antes das filmagens. Sua ausência é sentida e constantemente mencionada, a ponto de se tornar repetitiva, abrindo espaço para que Polaridade, seu pai na trama, ganhe mais destaque.

    Com um novo reitor misterioso no comando da Universidade Godolkin, a narrativa aprofunda as origens da instituição e mergulha na psicologia de Sam e, principalmente, de Cate, que se confirma como uma das personagens mais complexas do universo de Gen V. Marie também cresce muito, conquistando empatia e carisma, mesmo sem desejar o papel de “escolhida” que lhe é imposto, enquanto Jordan e principalmente Emma estão presentes, porém, sem o carisma tão claro da temporada anterior.

    Gen V

    Maddie Phillips em cena de ‘Gen V’- DIvulgação Amazon Prime Video

    O ritmo inicial é lento, apesar de manter a violência e as cenas sexuais desconfortáveis que construíram o universo, porém, somente sentimos algo realmente relevante no gancho do terceiro episódio, que inicia o aquecimento em direção a um clímax intenso, que atinge o ápice no penúltimo episódio e conduz a um final de temporada arrebatador, que terá fortes implicações para o futuro da franquia.

    Embora não alcance o peso estético e temático de The Boys, a segunda temporada de Gen V demonstra mais maturidade e coerência com o universo maior, especialmente nas alegorias sobre política, mídia conspiratória e resistência, além de no mínimo uma participação especial em cada episódio da temporada.

    Ao preparar o campo de batalha que pode redefinir todas as regras do universo apresentada, Gen V cumpre com excelência o papel de ponte. Para os fãs ansiosos pela quinta e última temporada de The Boys, ela funciona não apenas como um saboroso aperitivo, mas como parte essencial de um banquete que promete ser memorável.

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  • CRÍTICA | GOAT entrega uma história sombria, tendo a melhor atuação da carreira de Marlon Wayans

    CRÍTICA | GOAT entrega uma história sombria, tendo a melhor atuação da carreira de Marlon Wayans

    GOAT é o segundo longa de Justin Tipping, produzido por Jordan Peele (diretor de Corra!). A trama acompanha Cameron Cade (Tyriq Withers), jovem jogador de futebol americano que idolatra Isaiah White (Marlon Wayans). O filme mergulha no processo de treinamento intenso, nos desafios inesperados e nos sacrifícios que Cade precisa enfrentar sob a influência de White.

    Na superfície, GOAT parece contar uma história comum: um atleta que precisa superar obstáculos para alcançar seus objetivos. Porém, Tipping transforma esse enredo tradicional em algo muito mais sombrio.

    O diretor usa o esporte apenas como pano de fundo para discutir o preço psicológico e físico de quem busca o topo. A frase “Você não precisa morrer, você precisa sobreviver à morte de quem você foi um dia” resume bem a proposta: mostrar o quanto é necessário se despir da própria identidade para atingir o sucesso.

    Esse tom mais denso ganha força na atuação de Marlon Wayans, que entrega o desempenho mais intenso da carreira. Conhecido por papéis cômicos em As Branquelas e Todo Mundo em Pânico, aqui o ator surpreende pela dramaticidade e entrega total, algo que pode abrir novas portas em sua trajetória.

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    Marlon Wayans e Tyriq Withers formam a dupla principal da história em GOAT – Divulgação Universal Pictures

    A condução do filme não é feita para agradar a todos. GOAT tem gosto amargo, tanto pelo tema quanto pela maneira como é contado. Há cenas de dor, humilhação e exagero, que escancaram sem pudor a crítica de Tipping.

    Essa abordagem pode afastar parte do público, mas dá força ao impacto da obra. A primeira metade funciona como uma introdução dinâmica, embora nem sempre prenda a atenção de todos. Já a segunda metade é onde a história atinge seu ápice, com tensão crescente e maior envolvimento emocional.

    Mesmo sem dirigir, Jordan Peele deixa sua marca. Sua visão criativa aparece na atmosfera incômoda e na crítica social que atravessa a narrativa, algo que já se tornou característica de seus trabalhos. Esse elemento era uma das maiores curiosidades em torno do filme, e, felizmente, não decepciona.

    Quando falamos de roteiro, GOAT fica em uma posição intermediária. Não chega ao nível de destaque de outras produções de 2025, mas se diferencia pela forma como escolhe contar sua história.

    O maior mérito está em fugir dos clichês do gênero esportivo. Ao invés de focar na superação dentro de campo, o filme mostra o lado raramente explorado: o peso do sacrifício, as consequências emocionais e o impacto sobre quem está ao redor do atleta.

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    Tyriq Withers interpreta o protagonista de GOAT, Cameron Cade- Divulgação Universal Pictures

    Quando falamos de roteiro, GOAT fica em uma posição intermediária. Não chega ao nível de destaque de outras produções de 2025, mas se diferencia pela forma como escolhe contar sua história.

    O maior mérito está em fugir dos clichês do gênero esportivo. Ao invés de focar na superação dentro de campo, o filme mostra o lado raramente explorado: o peso do sacrifício, as consequências emocionais e o impacto sobre quem está ao redor do atleta.

    As perguntas que ficam são diretas e incômodas: até onde você estaria disposto a ir para ser o melhor? O que se perde nesse processo? Qual é o custo real da glória? GOAT não oferece respostas fáceis, mas expõe o dilema de forma crua e marcante.

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    Esse foi o segundo filme dirigido por Justin Tipping – Divulgação Universal Pictures


    No fim, pode não ser um filme para todos, pode não conquistar prêmios ou ter reconhecimento imediato. Ainda assim, dificilmente passará despercebido. É o tipo de obra que pode ganhar força com o tempo, seja por revisitas ou pelo amadurecimento de sua mensagem.

    O saldo é positivo. Com atuações sólidas, uma abordagem ousada e uma reflexão poderosa sobre o preço do sucesso, GOAT faz seu nome. Talvez divida opiniões, mas certamente será lembrado — seja pela coragem de contar essa história ou pelo incômodo que deixa no espectador.

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  • CRÍTICA | Coração de Lutador traz a melhor atuação de Dwayne Johnson

    CRÍTICA | Coração de Lutador traz a melhor atuação de Dwayne Johnson

    Coração de Lutador traz uma bibliografia diferenciada, que homenageia a força do boxe e apresenta uma oportunidade do ator The Rock fazer algo diferente.

    Coração de Lutador é um filme dirigido por Ben Safdie, que decide contar a curta, mesmo no momento podendo ter sido árdua, jornada do lutador Mark Kerr em vencer seu vício por opioides e enfrentar a ideia de também poder ser derrotado no esporte que ama.

    Existem dois clichês em obras bibliográficas: aquela que faz tudo em um modo automático sem vida, não arriscando em apresentar os defeitos do artista, e aquela que apresenta sua superação em meio aos conflitos, ganhando uma produção que respeita suas vitórias, mas não esconde seus problemas. Felizmente, esse filme se diferencia de ambos arquétipos.

    Coração de Lutador | A24

    Coração de Lutador | A24

    Coração de Lutador conta a história de Mark Kerr com precisão, cuidado e carinho. A direção escolhe o estilo cinematográfico “Found Footage“para contar essa história, proporcionando uma visão familiar a que se teria ao acompanhar tais personagens no dia a dia, o que dá uma chance de ver como era a rotina do lutador, o que chateava sua pessoa e o que também dava gosto.

    O longa-metragem em nenhum momento busca fazer uma lista de documentos sobre a origem desse homem, onde cresceu e como chegou no período da obra (entre 1997 e 2000). Pelo contrário, procura sua simpatia para onde ele está, enxergando a luta diária para manter suas vitórias, e te deixa procurar as respostas para as lacunas pontuadas. A obra se concentra no que importa e mergulha nisso.

    Mark Kerr é quem importa. Ele não é perfeito, não é sempre o cara legal, tenta sim fazer o certo, mas também se descontrola, vicia e coloca no direito de decidir o que bem entender. E Dwayne Johnson, que já foi um lutador, parece saber exatamente como imprimir isso na tela, deixando apenas para seus olhos dizerem o que incomoda e o que agrada.

    Acaba sendo fácil dizer que é a melhor interpretação do ator, porque ele nunca havia se entregado para um papel que demandasse maior seriedade, sempre se levando por frases de efeito e uma cara de “bad-ass”, o que contrasta com alguém que realmente acompanhamos por mais tempo. A câmera está a todo momento procurando olhar pra ele, quase não deixando haver cortes, o que permite maior tempo pro artista ficar no personagem e brilhar.

    Coração de Lutador | A24

    Coração de Lutador | A24

    A mesma câmera também dá sua atenção para os embates do filme, nunca enrolando demais com a resolução, mas sempre entregando algo verossímil, sem coreografias exageradas, com cada soco dado sendo sentido e, uma visão próxima que não indica o uso de dublês. Ou seja, parece mesmo um documentário sobre o lutador.

    No entanto, mesmo que a proposta da produção seja essa abordagem mais leve, até crua, de acompanhar Kerr em momentos conturbados, a falta de um debate maior sobre a quebra mental de ter perdido ou do que precisou deixar de lado, acabou por me distanciar como espectador. Parece que a câmera virou tão documental, que só pode gravar o que era permitido, tendo visto uma coisa ou outra que desse o que falar, mas não permitindo que eu sentasse ao lado do homem.

    Por isso, Coração de Lutador se diferencia dos outros. Ele dá muito tempo de tela para ver como Mark Kerr reage, mostra como se pode encontrar a felicidade com a perda, já que ela faz parte e todos somos humanos, mas peca ao jogar situações no ar que são resolvidas por um rápido texto antes dos créditos. Sendo uma obra que você não sente passar, mas também não se conecta emocionalmente. Pelo menos, no meu caso.

    Só pra não deixar em branco, Emily Blunt arrebenta no papel de Dawn Staples! Ela sim, merece uma indicação ao Oscar.

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  • CRÍTICA | “Uma Batalha Após a Outra” acerta em cheio com DiCaprio explosivo e Paul Thomas Anderson em sua forma mais ousada

    CRÍTICA | “Uma Batalha Após a Outra” acerta em cheio com DiCaprio explosivo e Paul Thomas Anderson em sua forma mais ousada

    Mistura de sátira, ação e crítica política, o novo longa de PTA, “Uma Batalha Após a Outra”, transforma Thomas Pynchon em um espetáculo vibrante e traz a melhor atuação de Leonardo DiCaprio desde “O Lobo de Wall Street” (2013)


    O diretor Paul Thomas Anderson (“Embriagado de Amor”) retorna às telas em grande estilo com “Uma Batalha Após a Outra”, um filme que reafirma sua ousadia criativa ao transformar literatura complexa em cinema pulsante. Inspirado no romance “Vineland” (1990), de Thomas Pynchon (“Vício Inerente”), a adaptação conserva o espírito paranoico e contracultural do autor, mas
    o contextualiza no presente ao abordar temas como imigração e confiança nas instituições. Embora dialogue com o passado, a obra revela-se surpreendentemente atual.

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    Uma Batalha Após a Outra I Warner Bros

    A narrativa segue Bob (Leonardo DiCaprio), um revolucionário errático envolvido em ataques a centros de detenção de imigrantes na fronteira EUA-México. Dentro da célula armada, seu papel é secundário e improvisado, contrastando com Perfídia (Teyana Taylor), parceira carismática e estrategista do grupo.
    O embate central ocorre com o coronel Steven Lockjaw (Sean Penn), uma figura grotesca e obcecada, que funciona como contraponto perfeito ao protagonista. Paralelamente, Bob enfrenta uma relação conturbada com a filha adolescente, Willa (Chase Infiniti), que questiona sua relevância como militante e sua capacidade de ser pai, trazendo uma camada de complexidade emocional à trama.


    O grande destaque do filme é, sem dúvida, Leonardo DiCaprio (“Os Infiltados”), em sua performance mais intensa e multifacetada desde “O Lobo de Wall Street” (2013). O ator constrói um personagem deslocado, frágil e, por vezes, ridículo, mas sempre fascinante, num trabalho que já o coloca entre os favoritos ao Oscar. Sean Penn (“Sobre Meninos e Lobos”) também impressiona, compondo um vilão animalesco e repulsivo, cuja energia grotesca amplifica a instabilidade de Bob. Entre os coadjuvantes, Teyana Taylor (“Mil E Um”) é magnética, enquanto Regina Hall (“Viagem de Garotas”) e Chase Infiniti (“Acima de Qualquer Suspeita”) oferecem atuações firmes, enriquecendo a densidade do enredo.

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    Uma Batalha Após a Outra I Warner Bros



    Anderson equilibra com maestria sátira e ação, criando uma narrativa que, mesmo nos momentos mais intensos, não perde a carga de humor. A ironia surge pontualmente, proporcionando alívio sem diluir a força da crítica política e social do longa. Esse equilíbrio entre tons distintos é uma das maiores qualidades da obra, evidenciando a habilidade do diretor em manter a coesão sem comprometer a intensidade da mensagem.


    O ritmo narrativo é consistente, com poucas passagens mais lentas. Apesar da extensa duração (2 horas e 41 minutos), o filme se mantém surpreendentemente leve. O diretor consegue expandir as situações com inteligência, evitando repetições desnecessárias e mantendo o espectador engajado até o final.

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    Uma Batalha Após a Outra I Warner Bros


    Visualmente, a fotografia, de Michael Bauman (“Homem de Ferro”), é impressionante. A câmera explora amplamente os espaços, permitindo que cada cena respire e crie uma imersão única na Nova York em questão— seja no caos das ruas ou nos confrontos mais intimistas. A generosidade dos enquadramentos dá à narrativa uma sensação de amplitude e liberdade, contribuindo para a experiência cinematográfica como um todo.

    No balanço final, “Uma Batalha Após a Outra” é um filme vibrante e ousado, que combina inventividade formal, crítica política e atuações marcantes. Sério e absurdo na mesma medida, divertido e desconfortável, o longa observa o passado recente para iluminar as contradições do presente. Uma experiência intensa que reafirma o talento de Anderson e coloca DiCaprio em um dos momentos mais arrebatadores de sua carreira.

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  • CRÍTICA | O Estúdio faz sátira do universo por trás das grandes produções de Hollywood

    CRÍTICA | O Estúdio faz sátira do universo por trás das grandes produções de Hollywood

    Em O Estúdio Seth Rogen estreia no Apple TV + fazendo uma jornada quádrupla, cumprindo o desafio de criar, escrever, produzir e protagonizar essa sátira primorosa que está agora completa para maratonar no streaming da Apple.

    O Estúdio protagonizado por Seth Rogen que já nos apresentou uma comédia bem crítica sem nenhum medo das represálias no filme A entrevista onde dirige e é coprotagonista, na série também temos Catherine O’Hara, Kathryn Hahn e Bryan Cranston sendo excelentes na comédia na nova série de comédia da Apple TV +.

    A série desde o início contém um ritmo muito acelerado, onde logo no primeiro e segundo episódio de O Estúdio temos cenas de plano sequência extremamente bem filmados e frenéticos, na qual já de cara nos põe nesse universo bem intenso.

    A obra nos mostra como é desafiador e em certos momentos estressante produzir uma obra de entretenimento, de que como quase todos os projetos o orçamento pode ser um problema, a equipe pode ter atritos.

    CRÍTICA | O Estúdio faz sátira do universo por trás das grandes produções de Hollywood

    Apesar de ilustrar muitos problemas do mundo da produção de obras cinematográficas, em O Estúdio o bom humor é sempre presente seja na sua sátira, no humor físico, no sarcasmo, no seu cinismo ou até sua meta linguagem.

    Também vale ressaltar que o show funciona como um “Onde está o Wally?” das estrelas de Hollywood, logo no primeiro episódio somos surpreendidos com a aparição de
    Martin Scorsese, Charlize Theron , Steve Buscemi e Paul Dano, e isso se estende por toda a série.

    E falando do precioso elenco de O Estúdio temos um espetáculo a parte as cenas com Kathryn Hahn e Ike Barinholtz, ambos tem um humor ácido e caricato que funciona, apesar de ser bem expansivo e se destacar em muitos momentos.

    Se tratando em destaque merece ser ressaltado o brilhantismo de Catherine O’Hara e Bryan Cranston em cena apesar de não interagirem diretamente na maior parte da série os dois tem cenas incríveis ao longo dos episódios.

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    O Estúdio | Apple TV+

    Em O Estúdio também vale nota a atriz não tão conhecida Chase Sui Wonders que está em filmes como Morte morte morte e Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado que surpreende por sua veia cômica e que assim como sua personagem que começa mais contida e vai aflorando com o avançar da série.

    O que também vai aumentando com o avançar da série são suas homenagens tendo um episódio inteiro fazendo alusão aos clássicos do estilo Noir, sem corromper o ritmo geral do show.

    E falando em ritmo temos um episódio bem agitado com o famoso e talentoso diretor e produtor Ron Howard conhecido por Uma mente brilhante e Rush no limite da emoção.

    Mostrando que em muitas produções existe uma espécie de queda de braço entre estúdio, produtora e diretor onde dificilmente todos ganham.

    Entretanto como mostrado na série na maioria dos casos apenas um ganha , pois a série mostra constantemente como é difícil conciliar arte, lucro e a satisfação do publico.

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    O Estúdio | Apple TV+

    Mas infelizmente nem todos do elenco de O Estúdio são bons no episódio 6 “The Pediatric Oncologist ” temos a presença da atriz Rebecca Hall fazendo o papel de Sarah uma nova namorada médica de Matt (Seth Rogen) e sua presença muito séria e pouco interessante não funciona.

    O contra ponto entre os dois personagens e seus diferentes mundos não funcionam de jeito nenhum, o que realmente salva o episódio é do meio para o final onde não temos apenas ela como contra ponto mas também alguns colegas da mesma durante um leilão.

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  • CRÍTICA | Animais Perigosos pede pra piorar

    CRÍTICA | Animais Perigosos pede pra piorar

    Animais Perigosos tem uma história que podia envolver e deixar tenso, mas opta por tomar decisões questionáveis que tornam a experiência angustiante.

    O começo de Animais Perigosos diz muito sobre ele num geral. Um casal quer ter uma experiência marítima de ver tubarões de perto, dentro de uma gaiola metálica, a moça começa a ficar com medo pelas histórias aterrorizantes que aconteceram com esses animais. A montagem e trilha sonora fazem questão de explorar o terror do que pode vir a acontecer, sendo bem preciso quanto ao que vai acontecer, o que já atrapalha a imersão, porque torna o que vem a seguir esperado. No entanto, uma virada acontece e indica que toda a parte escancarada foi proposital, o filme queria brincar com o espectador e vai contar outro tipo de história agora, ainda mais interessante. Só que a execução joga tudo de bom pro alto.

    O diretor Sean Byrne parece querer tanto fazer algo surpreendente, fora do habitual, que acaba por deixar o rumo escolhido sem lógica. Até pode ser pensado uma lógica, mas falta verossimilhança e sobra o questionamento do quão provável seria tal ocorrido ou tal escapatória. Isso, quando não acaba por fazer algo cafona, que traga vergonha, onde duas pessoas se conhecem e um foco é dado para o aperto de mãos, ou a proposta de abordar os tubarões como seres vivos com compaixão, acreditando que trazer uma cena de conexão instantânea, sem um preparo antes, vai causar uma comoção como se fosse o clássico “E.T. – O extraterrestre”.

    Animais Perigosos tem uma história que podia envolver e deixar tenso, mas opta por tomar decisões questionáveis que tornam a experiência angustiante.

    Animais Perigosos | Diamond Films

    Dando alguns exemplos, sem esclarecer o que vai acontecer na obra. Muitas vezes, Animais Perigosos toma uma decisão que de primeira é interessante e poderia acontecer, mas a forma como é explorada, aprofundada, é o que estraga a assistida. O personagem está buscando uma pessoa e revela ter os sentidos aguçados como o Superman. De acordo com a tensão que procura causar, a ameaça do tubarão varia entre ter um ou muitos, com um escolhendo se vai querer aparecer ou apenas beliscar. Existe um local cheio de luzes, com barulho de muita conversa, mas ninguém ouve os gritos, o som de motor do barco, ou vê as luzes fortes de uma balsa chegando em um mar aberto. E acredite, tem mais do que isso.

    Quando se trata dos intérpretes de cada personagem, quem se destaca positivamente é a protagonista Zephyr (Hassie Harrison) por conseguir expor fluidez em seus diálogos, trazer um olhar imponente que leve a acreditar em sua capacidade, tal como, sua expressão física passa muita segurança sobre quem é e o que pode fazer, não fazendo o papel da protagonista que aprende a se defender… ela já sabe. Já seu rival Tucker (Jai Courtney) fica preso ao esteriótipo do homem sem parafuso, que vê diversão em tudo, passa do ponto no jeito gozado de ser e consegue ser mais superficial que uma parede. O resto do elenco não incomoda, mas também não chama a atenção.

    Animais Perigosos tem uma história que podia envolver e deixar tenso, mas opta por tomar decisões questionáveis que tornam a experiência angustiante.

    Animais Perigosos | Diamond Films

    Como um filme que se propõe a causar terror, mesmo que psicológico, ele acaba por errar no propósito graças à sua montagem. Um trilha sonora densa é posta antes de qualquer acontecimento relevante, já indicando que algo possa acontecer, então quando ocorre não surpreende. Poucas são as vezes que a obra decide deixar o som ambiente e proporcionar uma surpresa, um clima silencioso, que traz a verdadeira sensação de terror para imaginar o que de pior pode vir. Mas aí, vem os cortes bruscos e rápidos entre as ações dos personagens, dando uma sensação desconfortável sobre como uma coisa levou a outra, mais afastando quem assiste do que aproximando para ficar empolgado ou tenso.

    No meio disso tudo, é notável que Animais Perigosos faça questão de desconstruir a ideia sobre o tubarão ser esse animal marítimo aterrorizante que vai matar qualquer um que passar perto, trazendo informações que têm base se for pesquisar (coisa que eu fiz hahaha) e um apreço para o quão calmos, singelos, podem acabar sendo. Isso funcionaria bastante se a proposta do filme fosse abordar o que são os tubarões, mas eles são objetos, usados para um meio nesse filme, não qualquer coisa além disso. Então, na última vez que trazem isso, chega de forma inapropriada, deixando uma cena cafona que funcionaria melhor em um filme do herói Aquaman.

    Concluindo, o filme claramente quer ser levado a sério, mas acaba por querer abordar temas demais e não conseguir casar as tramas que se interessa em debater, acreditando que poderia ter sido de tudo (filme de romance, comédia, terror ou drama), o que resta a ser apenas vazio.

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  • CRÍTICA | Invocação do Mal 4: O Último Ritual chega para cobrar dívida de casal Warren em um terror bem-feito

    CRÍTICA | Invocação do Mal 4: O Último Ritual chega para cobrar dívida de casal Warren em um terror bem-feito

    A partir desta quinta-feira (4), chega aos cinemas de todo o Brasil o mais novo lançamento da franquia que coleciona milhares de fãs ao redor do mundo. Dirigido por Michael Chaves, Invocação do Mal 4: O Último Ritual (2025) é o capítulo de encerramento de uma das sagas mais bem consolidadas do universo do terror no audiovisual.

    Com Vera Farmiga (Bates Motel, 2013) e Patrick Wilson (Aquaman, 2018) na pele do famoso casal Warren mais uma vez, a obra tem duração de duas horas e quinze minutos e tem arrancado muitos elogios da crítica internacional. Mas, afinal, o filme é bom mesmo? Nós já assistimos ao longa-metragem e contamos tudo o que achamos nesta análise completa e sem spoilers.

    A história de Invocação do Mal 4: O Último Ritual

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    Invocação do Mal 4: O Último Ritual conta o último caso dos Warren – Divulgação/Warner

    Após anos dedicados à resolução de casos sobrenaturais, Ed (Patrick Wilson) e Lorraine (Vera Farmiga) Warren tentam viver uma vida tranquila ao lado sua filha e longe de qualquer perigo aterrorizante que possa existir. No entanto, ao perceber que entidades misteriosas continuam assombrando a vida de Judy (Mia Tomlinson), o casal se vê envolvido em mais um trama que vai colocar todos frente a frente com seus maiores medos.

    Explorando a relação do casal principal como pano de fundo, Invocação do Mal 4: O Último Ritual promete encerrar a história dos investigadores em uma batalha final contra as forças malignas, regada à muita tensão e suspense.

    Casal Warren tem dívida cobrada

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    Filme de Michael Chaves encerra franquia iniciada por James Wan – Divulgação/Warner

    É impossível dedicar tantos anos da sua vida a combater o sobrenatural sem nunca sofrer consequências por isso. Pelo menos é essa a ideia que Michael Chaves (A Maldição da Chorona, 2019) quer passar sobre o casal de protagonistas do terror mais conhecido de Hollywood. Baseado nas histórias reais da dupla que resolveu uma série de mistérios pertencentes ao outro plano, o diretor aqui guia muito bem os dois personagens ao ritual final da sua aventura.

    Utilizando de artifícios técnicos muito semelhantes aos usados no filme anterior da saga, Chaves consegue impôr a sensação de que os espíritos, por vezes derrotados pelos Warren, estão prontos para cobrar a dívida eterna. E qual maneira melhor de fazer isso, se não tendo como alvo a maior preocupação de suas vidas? Como era de se esperar, a filha passa a ser o ponto de destaque da trama.

    Mas esse não é, nem de longe, um problema. Mia Tomlinson sustenta com qualidade a personagem que lhe é pedida. Em muitas situações de contracena com a mãe, a primogênita consegue transmitir a ideia de que sabe que carrega consigo um enorme peso por conta de seus pais, mas não deixa que isso a impeça de viver a sua vida, inclusive a amorosa. Par romântico de Judy, Tony (Ben Hardy) é uma ótima inclusão na história, muitas vezes sendo responsável pelo alívio cômico, contrastando com o tom de mistério e suspense.

    Roteiro bem-amarrado nos dois primeiros atos

    Um ponto forte dos filmes de Invocação do Mal é a ótima capacidade dos roteiristas em criar personagens que alimentam ótimas subtramas ao longo da narrativa. Enquanto o casal Warren se vê envolto em um enorme embate contra espíritos malignos, há sempre espaço para elementos secundários se desenvolverem em construções sólidas. Não é diferente neste caso. É claro que todos estão curiosos para saber qual será o grande fim de Ed e Lorraine, mas o filme também entrega excelentes inserções relacionadas à filha Judy e à família Smurl, que rouba a cena do longa em sua casa mal-assombrada.

    Desde o primeiro take, o público já está imerso nos acontecimentos. Afinal de contas, o ritmo começa muito acelerado, com uma sequência de cenas envolvendo os protagonistas quando ainda eram mais novos. O perturbador nascimento da única filha do casal acumula enorme tensão em momentos onde os espectadores prendem o fôlego e já se veem completamente envolvidos com a proposta apresentada em tela. Tudo fruto do roteiro bem amarrado por David Leslie Johnson e da montagem final de Elliot Greenberg e Gregory Plotkin.

    Ainda sobre o lado técnico, não há como não mencionar a edição de som do longa-metragem. Por se tratar de um filme de terror, que geralmente precisa de uma mescla entre momentos de alta adrenalina e outros de silêncio total, o trabalho sonoro colabora diretamente para a experiência, pois ele guia da forma correta, ajudando a manter atenção presa no que pode estar por vir.

    O ponto fraco

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    Invocação do Mal 4: O Último Ritua chega aos cinemas do Brasil em 4 de setembro – Divulgação/Warner

    É uma pena que toda a excelente construção feita até o início do terceiro ato acabe tendo um encerramento, até certo ponto, simplista. A história é empolgante, os personagens são instigantes, a curiosidade está a mil – muito por conta dos ótimos enquadramentos e jogos de câmera que potencializam a tensão – quando o longa entrega uma finalização bastante improvável para toda a lenda que havia se criado a respeito do mal que os aguarda.

    De fato, não é ruim. O clímax é extremamente honesto e funciona de acordo com a proposta apresentada. No entanto, quando se possui uma mitologia tão incrível quanto a do ritual final dos Warren, é de se esperar que a resolução seja um pouco mais corajosa. Falta algo, mas não atrapalha a diversão.

    É o fim de Invocação do Mal?

    A título de comparação, não há como negar que os cinemas de James Wan – diretor de Invocação do Mal 1 e 2 – e Michael Chaves – responsável pela direção dos dois seguintes – são bastante distintos. Contudo, mesmo não usufruindo de takes longos e mais sustos, como nos trabalhos que consagraram Wan, Chaves ‘conclui’ a Saga do Mal de forma satisfatória.

    O termo entre aspas na última frase se deve pelo fato de que, apesar desse ser o fim dos Warren, é difícil acreditar que tanto os seus criadores quanto a Warner deixarão a franquia tão bem-sucedida morrer.

    Assista ao trailer de Invocação do Mal 4: O Último Ritual

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  • CRÍTICA I “A Vida de Chuck” entrega reflexão, mas não encanta plenamente

    CRÍTICA I “A Vida de Chuck” entrega reflexão, mas não encanta plenamente

    A Vida de Chuck” é um filme sólido e emocionalmente envolvente, porém não atinge o status de obra-prima. Apesar da vitória em Toronto, o longa demorou a conseguir distribuição, até que a Neon garantiu sua chegada ao público, reunindo um elenco de peso — Tom Hiddleston (“Os Vingadores”), Chiwetel Ejiofor (“12 Anos de Escravidão”), Karen Gillan (“Guardiões da Galáxia”) e Mark Hamill (“Star Wars”) — e capturando a atenção imediata dos espectadores. A narrativa híbrida, que mistura drama existencial, fantasia e elementos de realismo mágico, cria uma experiência interessante, ainda que irregular em certos momentos.

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    A Vida de Chuck I Neon

    Na trama, acompanhamos a vida de Charles Krantz (Benjamin Pajak/Jacob Tremblay/Hiddleston) em três capítulos distintos, oferecendo uma reflexão sobre a passagem do tempo e a compreensão da própria existência.

    Dirigido e escrito por Mike Flanagan (“A Maldição da Residência Hill”), o longa adapta a obra homônima de Stephen King (“Carrie, a Estranha”) e apresenta uma narrativa não-linear que instiga a reflexão. O primeiro ato já se destaca pela tensão e pelo realismo mágico, ambientado em um apocalipse misterioso que mistura resignação e elementos de terror macabro, prendendo rapidamente a atenção do espectador.

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    A Vida de Chuck I Neon

    Porém, à medida que a história avança, a tensão inicial cede lugar a uma narração em off e a um protagonista ativo em cenários devastados, o que reduz um pouco o impacto da jornada. A trajetória invertida é ousada, mas carece da ambiguidade necessária para reforçar plenamente o realismo mágico.

    Nas atuações, destaque para Hiddleston, que conduz o segundo ato com competência, especialmente em uma sequência de dança memorável. E para o retorno de Mark Hamill e Mia Sara (“Curtindo a Vida Adoidado”), adicionando um toque nostálgico, com maior destaque para o primeiro, que entrega uma atuação sólida e convincente.

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    A Vida de Chuck I Neon

    Tecnicamente, Flanagan demonstra controle seguro da direção, a trilha sonora, composta pelos Irmãos Newton (“Doutor Sono”), acrescenta ao clima confortável do filme, e o design de produção, de Steve Arnold (“House of Cards”), cria momentos memoráveis sem depender excessivamente do texto, privilegiando ações e ambientes específicos.

    No fim, “A Vida de Chuck” não é inesquecível, mas oferece uma experiência reflexiva e emocionalmente satisfatória. Entre as adaptações de Stephen King, ao menos não se trata de uma tragédia, o que já é uma vitória. Um filme que equilibra drama, fantasia e contemplação, oferecendo uma boa opção de “confort movie” para quem busca reflexão sem exageros.

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  • CRÍTICA | Capoeiras mistura capoeira, candomblé e jornada de herói

    CRÍTICA | Capoeiras mistura capoeira, candomblé e jornada de herói

    Dirigida por Tomas Portella, Capoeiras mistura dança, candomblé, luta e a cultura carioca para construir uma jornada clássica de herói, transmitindo um sentimento genuinamente brasileiro, apesar de sua falta de ousadia.

    Aos poucos, as produções nacionais vêm conquistando mais espaço no streaming da Disney Plus, desde longas metragens originais como A Vilã das Nove (2024, Teo Poppovic), à novelas como Amor da Minha Vida (2025, René Sampaio; Matheus Souza), Impuros (2018, René Sampaio) e Maria e o Cangaço (2025, Sérgio Machado). Ainda assim, poucas carregam tanto da nossa identidade quanto Capoeiras.

    A série dialoga diretamente com o cinema brasileiro, evocando obras como Cidade de Deus (2002, Fernando Meirelles) no retrato do negro marginalizado, e entrega momentos grandiosos, como uma cerimônia de Candomblé celebrando o nascimento de Carolina, filha da Orixá dos Ventos. Esse é o maior trunfo da produção: mesmo quando a narrativa se americaniza demais, como nas sequências que remetem diretamente à Clube da Luta (1999, David Fincher), o Brasil segue pulsando em cada cena.

    No campo narrativo, Capoeiras segue a estrutura clássica da Jornada do Herói. A trama acompanha Veneno da Madrugada, faxineiro de uma boate em um pequeno vilarejo carioca, professor da escola de capoeira do Mestre Ouro, e padrinho orgulhoso de sua afilhada, e Noivo da Vida, um antigo amigo que após conhecer o mundo todo, retorna para casa após ter uma terrível premonição. Este reencontro acaba os levando em uma jornada pelas lutas clandestinas de capoeira.

    Capoeiras

    Sergio Malheiros em cena de Capoeiras- Divulgação Disney Plus Brasil

    Ao longo de seis episódios de cerca de 40 minutos, a série se inspira tanto no teatro grego, ao reforçar a inevitabilidade do destino, quanto em Shakespeare, especialmente Hamlet (1623), ao explorar relações familiares corrompidas. O tio Dinho assume o papel de antagonista, estando ligado à morte do modelo paterno dos protagonistas, e o seu casamento com a viúva. No entanto, o personagem carece de força dramática, e ao invés de explorá-lo mais a fundo, a narrativa se arrasta em tramas paralelas que não avançam a história como um todo, como o arco da amiga de Veneno da Madrugada, que termina de forma abrupta e sem impacto.

    Como destaques ficam para as coreografias de luta e a trilha sonora marcada pelo berimbau e instrumentos de percussão, que imprimem tensão e autenticidade. Em contrapartida, o tom novelesco pesa contra a produção: diálogos exagerados, repetições de flashbacks e retcons que almejam criar surpresas no público, mas acabam cansando o espectador.

    Ainda assim, Capoeiras acerta ao valorizar a capoeira não apenas como prática, mas como símbolo de identidade e resistência, sendo vocalmente exclamado diversas vezes ao longo da série que ela libera o melhor de todos nós. É fácil imaginar que a série inspire curiosidade e até mesmo novos praticantes.

    Capoeiras

    Cena de Capoeiras- Divulgação Disney Plus Brasil

    Capoeiras é uma série que une em si muitas qualidades boas e muitas qualidade que ainda devem ser melhoradas como produto audiovisual, sendo dramática e por vezes arrastada, mas ao mesmo tempo é carregada de energia brasileira e um senso de nacionalismo e pertencimento, transmitido principalmente por seus cenários e um design de produção exemplar.

    Com ajustes de ritmo e lapidações narrativas, uma segunda temporada, que pelo final do episódio 6, já está muito bem encaminhada, pode consolidar Capoeiras como mais um sucesso nacional no catálogo da Disney Plus, demonstrando novamente a força do audiovisual brasileiro.

    Capoeiras é uma produção original Star+ e estreia em 29 de agosto no Disney Plus.

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  • CRÍTICA | Ladrões consegue ser bom, mesmo sem inovar em nada

    CRÍTICA | Ladrões consegue ser bom, mesmo sem inovar em nada

    Ladrões chega aos cinemas como uma das produções mais comentadas de 2025 e não é difícil entender o motivo. A adaptação do romance de Charlie Huston equilibra tensão, emoção e uma construção narrativa que respeita cada personagem, sem desperdiçar tempo ou espaço em tela. O resultado é um filme que, mesmo partindo de uma trama já explorada inúmeras vezes no cinema, consegue se destacar pela forma como é conduzido.

    Desde o início, nota-se um ótimo desenvolvimento da história. Não há personagens descartáveis; cada figura, por menor que pareça, exerce um papel fundamental no desenrolar dos acontecimentos.

    Essa escolha narrativa cria um dinamismo que prende a atenção do espectador, transformando a trama em um quebra-cabeça no qual todas as peças são necessárias.

    A sensação é de que cada diálogo e cada interação carregam peso, fortalecendo a experiência e evitando o comum problema de personagens vazios em thrillers policiais.

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    Austin Butler e Matt Smith funcionam muito bem juntos em Ladrões – Divulgação Columbia Pictures

    Um dos grandes trunfos do longa está na atuação de Austin Butler, que comprova sua versatilidade ao assumir um papel completamente distinto de seus trabalhos anteriores.

    O ator se apropria de nuances emocionais, oscilando entre vulnerabilidade e determinação, e consegue transmitir ao público uma carga dramática que humaniza seu personagem.

    Butler constrói alguém complexo, um protagonista que, ao mesmo tempo em que se mostra duro pelas circunstâncias, revela fragilidade em pequenos gestos e olhares. É, sem dúvida, um dos grandes momentos de sua carreira até agora.

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    Mesmo não sendo do mesmo nível dos melhores trabalhos de Darren Aronofsky, Ladrões é uma ótima escolha do diretor – Divulgação Columbia Pictures

    Entre as surpresas mais delicadas está o toque de sensibilidade na relação com o gato, que funciona como uma espécie de contraponto ao ambiente violento e imprevisível da narrativa. Essa conexão não é apenas um detalhe acessório, mas um recurso que dá profundidade emocional ao protagonista e, consequentemente, ao próprio filme.

    É através dessa relação que se revela uma face mais íntima e humana da personagem central, oferecendo ao espectador respiros emocionais em meio ao caos.

    Outro destaque é a maneira como o filme apresenta seus vilões. Eles não surgem de forma apressada ou caricata, mas são inseridos com calma e desenvolvidos a ponto de se tornarem peças essenciais no jogo de poder que se estabelece.

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    Zoe Kravitz talvez seja não utilizada da melhor maneira, visto o talento da atriz – Divulgação Columbia Pictures


    É importante ressaltar que, em sua essência, a trama aborda uma temática já revisitada diversas vezes pelo cinema: um homem comum envolvido em situações criminosas maiores do que ele poderia controlar.

    Ainda assim, o longa consegue se reinventar de forma original, muito pela combinação de escolhas de roteiro, atuações sólidas e decisões de direção que surpreendem. Não se trata de reinventar a roda, mas de dar a ela uma nova textura, um novo ritmo e um novo olhar.

    Em suma, Ladrões é uma obra que entende o valor de contar bem uma história. Com personagens relevantes, um protagonista em estado de graça, vilões memoráveis, um olhar sensível e uma estética visual competente.

    Mesmo em um terreno já explorado inúmeras vezes pelo cinema, encontra frescor e identidade própria. Trata-se de uma narrativa que respeita a inteligência do público, conduzida com habilidade e que, ao final, deixa uma marca clara: a de um filme que soube passar a mensagem que queria.

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  • CRÍTICA | A Hora do Mal é um dos destaques do gênero em 2025

    CRÍTICA | A Hora do Mal é um dos destaques do gênero em 2025

    A Hora do Mal é um filme dirigido por Zach Cregger, mesmo diretor de Noites Brutais, mas agora com uma inteção e estrutura de história um pouco diferentes do filme de 2022. Cregger marca seu nome no ano de 2025 ao lançar um dos melhores filmes do gênero dos últimos anos e deixa um ânimo para os fãs de terror.

    Nos últimos anos, o terror se consolidou como um dos gêneros mais férteis do cinema, capaz de dialogar com público e crítica em igual medida.

    A Hora do Mal chega como mais um exemplo dessa força, trazendo um roteiro bem construído, atuações consistentes e uma narrativa que entende o tempo necessário para criar expectativa, desenvolver seus personagens e entregar momentos de impacto.

    O resultado é um filme que não apenas assusta, mas também demonstra consciência narrativa, sabendo onde quer chegar e como usar cada peça de sua história.

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    Josh Brolin é um dos destaques de A Hora do Mal – Divulgação Warner Bros


    Logo nos primeiros minutos, a estrutura pode soar ambígua. O espectador é introduzido a diferentes personagens, cujas conexões ainda não são claras, e isso pode causar a sensação de estar um pouco perdido.

    No entanto, essa escolha é proposital. O roteiro constrói as bases da narrativa com calma, sem pressa em revelar tudo de imediato. Esse ritmo mais lento no início funciona como preparação para o que vem depois, pois quando as peças começam a se encaixar, a experiência se torna ainda mais satisfatória. O que parecia disperso se mostra, na verdade, cuidadosamente entrelaçado.

    Outro ponto de destaque é o elenco. Não há uma atuação fora do tom ou que comprometa a trama. Todos entregam personagens sólidos, com intensidade e credibilidade, e isso ajuda a sustentar o realismo necessário para que o suspense funcione.

    Em filmes do gênero, é comum que coadjuvantes se tornem esquecíveis, mas em A Hora do Mal até os papéis menores têm peso dentro da engrenagem da história. Essa consistência faz com que o espectador esteja sempre atento, sem nunca sentir que algo está sobrando.

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    A Hora do Mal é o primeiro projeto dirigido por Cregger desde 2022 – Divulgação Warner Bros

    A grande virada do filme, no entanto, acontece quando a vilã é apresentada — e isso só acontece na metade da trama. É uma escolha ousada, porque poderia comprometer o ritmo ou diminuir o suspense.

    Mas aqui acontece o oposto: a revelação é tão bem construída que aumenta a expectativa do público. A presença da antagonista não só intensifica a tensão como também reorganiza a narrativa, levando-a a um novo patamar.

    Mais do que um simples obstáculo, a vilã carrega personalidade, motivações e um espaço próprio dentro da história. E o mais interessante: ela é tão marcante que o filme deixa portas abertas para um possível spin-off, algo que parece natural, e não apenas uma jogada de mercado.

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    Julia Garner ganha outro papel de destaque em 2025 – Divulgação Warner Bros


    Ao final, A Hora do Mal se revela um terror que entende suas próprias ambições. É intenso sem ser gratuito, lento sem ser arrastado, complexo sem ser confuso. Tudo parece calculado para que o público se envolva com os personagens, tema medo pela situação deles e, ao mesmo tempo, queira saber mais sobre o universo apresentado.

    Quando os créditos sobem, fica clara a sensação de ter assistido a uma história completa, mas que ainda guarda possibilidades de expansão (especialmente pelo potencial da vilã).

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  • CRÍTICA | Confinado parte de uma boa premissa, mas não consegue ir além do óbvio

    CRÍTICA | Confinado parte de uma boa premissa, mas não consegue ir além do óbvio

    Confinado é uma refilmagem indireta de um filme brasileiro, que, por sua vez, já adaptava uma obra argentina. Sob a direção de David Yarovesky, porém, o longa se limita ao óbvio, ainda que consiga arrancar alguns momentos emocionantes e estabelecer certos laços com o público.

    Dirigido por David Yarovesky, Confinado narra a jornada de um ladrão (Bill Skarsgard) que, ao tentar roubar um carro, acaba trancado no veículo por dias, restando-lhe apenas a interação com o dono do automóvel, interpretado por Anthony Hopkins.

    A narrativa se desenvolve pela perspectiva do protagonista: um homem desonesto, pai de uma filha pequena e cercado de problemas. A partir disso, o filme o coloca em situações constrangedoras numa tentativa superficial de gerar empatia, mas o efeito acaba sendo pouco convincente.

    Em compensação, Bill Skarsgård entrega uma de suas performances mais marcantes, enquanto Anthony Hopkins, embora só apareça visualmente na segunda metade, já impõe sua força dramática apenas com a voz

    Bill Skarsgard interpreta o protagonista de Confinado

    Bill Skarsgard faz uma das melhores interpretações de sua carreira em Confinado – Divulgação Prime Video

    O maior acerto do filme é a construção da relação entre o protagonista e sua filha, elemento que sustenta a narrativa por boa parte do tempo. Foi esse laço que me manteve atento ao desenrolar da história, mesmo quando as consequências pareciam exageradas não pelo exagero, mas pela falta delas.

    Confinado não inova em termos narrativos ou estruturais, mas se sustenta graças às ótimas atuações do elenco. Anthony Hopkins, como de costume, extrai muito de um material limitado, reafirmando o porquê de sua consagração.

    Embora a situação central seja mostrada logo no começo, o filme demora a explorar assuntos que poderiam tornar a narrativa mais interessante. É possível que Yarovesky tenha se prendido demais às versões anteriores, resultando em um roteiro por vezes rígido e previsível.

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    Anthony Hopkins aparece pouco, mas brilha em Confinado – Divulgação Prime Video

    Um dos pontos altos do longa é, sem dúvida, a relação entre o protagonista e sua filha. Mesmo sendo poucos, esses momentos conseguem transmitir emoção real e funcionam como um fio condutor da narrativa.

    David Yarovesky mantém um estilo visual limpo e funcional, mas pouco ousado. A fotografia e a ambientação ajudam a sustentar a tensão, mas não inovam. A sensação de confinamento é transmitida, mas sem recursos que realmente desafiem o espectador, reforçando a ideia de que o filme segue fórmulas já vistas.

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    Confinado foi a pimeira vez em que Bill e David trabalharam juntos – Divulgação Prime Video

    Em resumo, Confinado é um filme que se apoia fortemente nas atuações — especialmente de Bill Skarsgård e Anthony Hopkins — para manter o interesse. A narrativa previsível e o roteiro engessado impedem que a premissa ganhe a força que mereceria.

    Pode-se dizer que Confinado é uma obra quase completa: a história já foi explorada de outras formas, e este longa representa apenas mais um olhar sobre a mesma situação. O diretor não me deixa muito animado em relação aos seus próximos trabalhos, mas pretendo acompanhá-los, acreditando que ele tenha aprendido com os erros desta vez.

    Ainda assim, para quem valoriza boas performances e momentos emocionais pontuais, o longa consegue entregar algo satisfatório.

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  • CRÍTICA | O Último Azul explora senso visual e faz ode à Liberdade

    CRÍTICA | O Último Azul explora senso visual e faz ode à Liberdade

    Na próxima quinta-feira (28), chega aos cinemas brasileiros um dos mais aguardados lançamentos do audiovisual nacional em 2025. Vencedor do Prêmio do Júri, o famoso Urso de Prata, no Festival de Berlim, O Último Azul estreia repleto de expectativa e muita curiosidade por parte do público.

    O longa-metragem dirigido por Gabriel Mascaro (Boi Neon, 2015) conseguiu a inscrição entre as produções que pleiteiam a vaga de candidato do Brasil ao Oscar 2026. Bem cotado na disputa, é a aposta de alguns para ocupar o lugar que no ano passado pertenceu a Ainda Estou Aqui (2024). Mas será que é tudo isso mesmo? A Cinerama já assistiu à obra da Vitrine Filmes e te conta agora o que achou, sem spoilers.

    A história de O Último Azul

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    O Último Azul estreia em 28 de agosto nos cinemas – Divulgação/Vitrine Filmes

    Em uma distopia, Gabriel Mascaro conta a história de Tereza (Denise Weinberg), uma senhora de 77 anos que busca aproveitar os últimos instantes da sua velhice antes de precisar embarcar em uma viagem só de ida para a Colônia, local apontado pelo Governo Brasileiro como um retiro obrigatório para idosos acima dos 80.

    Ao descobrir que a idade mínima para ingressar no programa assistencial diminuiu em cinco anos, a protagonista se vê sem tempo para realizar seus últimos desejos antes de ficar o resto da vida presa em um local desconhecido no interior da Amazônia. A partir de então, toma medidas drásticas para escapar do cata-velho e se aventurar em meio aos rios da região Norte do país em uma trajetória pela sua liberdade.

    Elenco brilha e faz roteiro fluir com perfeição

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    Denise Weinberg vive Tereza, a protagonista de O Último Azul – Divulgação/Vitrine Filmes

    Em O Último Azul, a sensação que fica é a de que o texto foi escrito pensando exatamente nos atores selecionados. É mágico e poético como todos em tela possuem cada um o seu momento de brilhar e valorizar ainda mais a trama. O protagonismo é todo de Tereza, é claro, vivida por Denise Weinberg (Greta, 2019) em uma das melhores atuações da sua carreira. Tão famosa por seus trabalhos feitos nos palcos, sua voz e presença em cena dão autonomia para uma senhora bastante decidida e autossuficiente.

    Confiante de que ainda poderia aproveitar os anos restantes da forma que bem entendesse antes de precisar migrar para a Colônia, Tereza é sensivelmente representada quando percebe que o fim da liberdade bateu à porta e agora precisa encarar um destino do qual não escolheu. A trajetória de resiliência e esperança vivida pela personagem transmite ao público uma viagem completamente alucinante em busca da sua independência. Não há exagero algum ao afirmar que ela é o filme.

    Mas, como todo grande papel principal costuma ser acompanhando de bons coadjuvantes, é preciso destacar dois nomes de peso que elevaram a grandeza do longa-metragem ao mais alto nível. A começar por Rodrigo Santoro (300, 2006), que dá vida ao barqueiro Cadu. Apesar dos breves minutos em tela, a sua participação na história é indispensável. Totalmente à vontade em cena, o ator é responsável por apresentar parte central da mitologia e por guiar Tereza na melhor direção dentro do dilema que a protagonista enfrenta.

    Por outro lado, chamando toda a atenção possível e entregando um resultado espetacular, a cubana Miriam Socarrás (Violeta, 1997). Na pele de Roberta, a artista carrega irreverência e cumplicidade. A sua personagem lida com meandros da dúvida desde o momento em que surge para o público. Dona de um passado um tanto sombrio, a atriz tem espaço para se desenvolver e ampliar a sua magnitude no decorrer da narrativa.

    Experiência sensorial potencializa debate necessário

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    O Último Azul tem roteiro de Gabriel Mascaro e Tibério Azul – Divulgação/Vitrine Filmes

    É muito prazeroso entrar na sala do cinema e se deparar com profissionais que estão dispostos a trazer pautas de extrema empatia com um olhar nada habitual. O Último Azul é, sim, uma obra sobre etarismo e discriminação geracional, abordada por um roteiro preciso – escrito pelo próprio Gabriel Mascaro e por Tibério Azul -, que correlaciona o tema a uma experiência sensorial vivida por quem está do outro lado da tela. A compaixão desta ficção científica, que hora permeia o humor, outrora mergulha no drama, mostra como o cinema pode sempre se renovar.

    A fotografia do mexicano de Guillermo Garza entrega frames de beleza irretocável. De fato, o pano de fundo ser a flora amazônica colabora consideravelmente para este ponto, mas a maestria do trabalho de direção de arte, liderado por Dayse Barreto (O Estranho, 2023), revela que capricho e originalidade tendem a guiar o que está escrito a um excelente resultado. O longa é colorido e deixa claro que se orgulha desse tópico conforme a história avança.

    A conexão desse casamento fica ainda melhor com uma trilha sonora bastante presente. O compositor Memo Guerra faz questão de transitar pela tensão pedida por uma boa distopia. Contudo, não abre mão de notas capazes de ressaltar os sentimentos de descoberta, esperança e resiliência que a obra apresenta. Tudo conversa muito bem, tornando o filme completo dentro de si.

    O cinema nacional agradece

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    O Último Azul disputa vaga para o Oscar 2026 – Divulgação/Vitrine Filmes

    O Prêmio do Júri no Festival de Berlim foi merecido. Não há como trabalhar uma questão tão relevante e essencial para a existência humana, como a velhice, com a maestria que Mascaro aplicou e sair sem o devido reconhecimento. A busca de Tereza expõe o que muitos idosos querem dizer todos os dias: “Nós estamos aqui. Ser velho não é uma maldição e eu não preciso de fraldas”.

    Para todos que convivem com essas questões no dia a dia, O Último Azul surge como um alento, um deleite acerca de um tema que precisa ser tratado com naturalidade. A uma hora e meia de filme passa voando e cada segundo merece ser aproveitada com a graça do seu tempo. É um dos melhores lançamentos do cinema brasileiro em 2025.

    Assista ao trailer de O Último Azul

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  • CRÍTICA | Corra que a Polícia Vem Aí recupera a comédia sem noção 

    CRÍTICA | Corra que a Polícia Vem Aí recupera a comédia sem noção 

    Corra que a Polícia Vem Aí sabe muito bem em que momento se encontra e dá um jeito de dialogar com todos os públicos.

    “Corra que a polícia vem aí” foi uma franquia de sucesso, por volta dos anos 80, no meio da comédia, sendo protagonizada por um ator que ficou conhecido pelo gênero de ação e que, ao envelhecer, se entregou para outro meio, ironizando um gênero que por tanto tempo fez parte. E Liam Neeson (conhecido por obras com muito tiro, como a trilogia “Busca Implacável“) parece seguir o mesmo percurso.

    A história percorre um caminho bem simples, com Frank Junior investigando um caso especial que o leva a encontrar uma mulher que fará seu mundo girar (talvez literalmente)  e o ajudará a descobrir sobre um plano maléfico que promete fazer a Terra voltar às suas raízes, quando o “tempo era bom”.

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    Corra que a Polícia Vem Aí | Paramount Pictures

    Fica visível pela simplicidade o quanto a obra está mais centrada em como vai contar essa clássica jornada, ao invés do que ela propõe em si, se aproveitando do gênero da comédia para exagerar, se divertir e aloprar os arquétipos comuns nos longas de ação e espionagem. Um que, por vezes, acaba sendo homenageado é a franquia Missão Impossível, que teve seu oitavo filme lançado no mesmo ano.

    Nos primeiros minutos, uma brincadeira absurda de tão fora da realidade é feita e já fica claro qual vai ser a abordagem do longa-metragem. Encontrando um modo atraente de dividir entre situações que não aconteceriam, sendo levadas na “seriedade”, em respostas literais para um pedido com outro sentido, na participação proposital da “mão do diretor” e no modo como a câmera dá foco para um acontecimento, enquanto deixa um espaço para outro que está sendo ignorado.

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    Corra que a Polícia Vem Aí | Paramount Pictures

    Dessa forma, não existe um fator que sobra ou incomoda, pois a óbvia trilha sonora, o vilão com feição esnobe e os comentários caricatos soam propositais, tendo o total intuito de provocar risada pelo quão cafona, bobo ou bizarro se torna aquele momento, especialmente aquele que o casal tira férias em uma cabana.

    Todavia, causa incômodo a pressa em resolver todas as situações alarmantes. A conclusão gera momentos marcantes e engraçados, mas carece de trazer uma dificuldade maior, ou apenas mais exagerada, que poderia gerar algo mais absurdo e que, dentro da proposta, seria cabível. O filme acaba rápido e o gosto por querer mais fica na ponta da língua. Pelo menos, acaba sendo bem legal como o filme encontra uma forma de te prender até a conclusão dos créditos.

    “Corra que a polícia vem aí” aborda a possibilidade de encontrar o amor depois de anos sozinho e a luta interminável do ser humano para com a evolução da tecnologia, podendo deixar que ela auxilie, mas não domine. Vão existir pessoas buscando ganhar por cima de outras, e vão existir aquelas que estarão despreocupadas com as situações que vão se meter, já que a causa vai além dos riscos. Liam Neeson sempre protagonizou o herói que faz tudo em prol do bem e aqui não é diferente, apenas se encontra em um tom mais agradável.

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  • CRÍTICA | A Morte de um Unicórnio beira entre magia e o vazio

    CRÍTICA | A Morte de um Unicórnio beira entre magia e o vazio

    Dirigido por Alex Scharfman, A Morte de Um Unicórnio é um conto de fadas moderno que perde sua magia ao trocar encantamento por violência gratuita

    Sempre que é anunciada uma produção envolvendo criaturas fantásticas ou mitológicas, meu interesse é imediatamente despertado. Afinal, uma das grandes virtudes da arte, especialmente do cinema, é a capacidade de subverter conceitos, ícones e símbolos estabelecidos ao longo de séculos, transformando-os em algo único e contemporâneo. O resultado pode variar: do excelente O Labirinto do Fauno (2006, Guillermo del Toro), passando pelo interessante A Lenda de Ochi (2025, Isaiah Saxon), até o mediano A Morte de Um Unicórnio.

    Estes três filmes podem ser considerados contos de fadas modernos, compartilhando elementos clássicos do gênero, como a presença do fantástico, a dicotomia bem/mal, coragem, perseverança e laços familiares, mas transportam estas histórias para épocas distintas, que apresentam diferentes valores e símbolos. Del Toro opta por um pano de fundo histórico, enquanto A Morte de Um Unicórnio situa-se num contexto mais contemporâneo.

    No caso de A Morte de Um Unicórnio, a figura central é o próprio unicórnio, criatura que fascina gerações, especialmente crianças e jovens adultos. Símbolo de pureza e inocência, e em algumas versões, encarnação divina, carregando significados que se esvaziam diante de um mundo capitalista e cínico, algo que o filme aborda de forma explícita.

    A Morte de um Unicórnio

    Cena de A Morte de um Unicórnio- Divulgação Universal Pictures

    Como o título já entrega, a trama gira em torno da morte desse ser sagrado, após ser atropelado por Elliot e sua enteada Ridley. Marcados por um relacionamento frio e distante após a morte da mãe da garota, eles embarcam numa jornada que mistura rancor, reconciliação e uma dose inesperada de violência, envolvendo unicórnios vingativos e interesses corporativos.

    Narrativamente, o filme segue todos os beats clássicos, chegando a homenagear, ou simplesmente copiar, grandes obras como Alien, o 8.º Passageiro (1979, Ridley Scott) e Jurassic Park (1993, Steven Spielberg), facilitando a compreensão da produção, porém, reduzindo a originalidade e desperdiçando o potencial mágico que todo o contexto do unicórnio poderia proporcionar.

    Após o atropelamento, Elliot e Ridley levam o animal à casa de Dell Leopold, magnata farmacêutico interpretado por Richard E. Grant. Ao descobrirem que o unicórnio possui poderes curativos, de acne a câncer, surge o previsível desejo de explorá-lo até a última gota. Quando os pais da criatura aparecem para vingar o filhote, a narrativa se aproxima perigosamente de um pastiche de suas principais referencias, levando à mortes que beiram o fetiche.

    Ideias promissoras como Ridley ser uma donzela de coração puro capaz de domar o unicórnio, ou a visão da “Máquina do Mundo” ao tocar o chifre, são abandonadas em prol de uma abordagem mais pé-no-chão e violenta, que dilui o encanto. O resultado é um filme com sérios problemas de tom: vendido como comédia sombria, não é engraçado; não funciona como fantasia, não emociona; não se encaixa nem como drama, nem como horror e não consegue convencer, ocasionando um filme sem público definido.

    A Morte de um Unicórnio

    Cena de A Morte de um Unicórnio- Divulgação Universal Pictures

    A violência gratuita, que lhe garantiu classificação para maiores de 18 anos, também afasta seu provável público-alvo: crianças e jovens fascinados por criaturas mágicas. No campo estético, a construção do animal é um ponto alto, fugindo do óbvio “cavalo com chifre”, porém, o design visual em geral é simplista e vazio, com exceção do clímax diurno, que oferece uma ambientação curiosamente marcante.

    No fim, A Morte de Um Unicórnio é um exemplo claro do risco de mirar alto sem definir com precisão o que se quer alcançar. O resultado é um entretenimento irregular: repleto de boas atuações, uma premissa com potencial, e momentos memoráveis, mas que poderia, e deveria, ter sido muito mais.

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  • CRÍTICA | Corra! é o tipo de terror que continua com você muito depois dos créditos

    CRÍTICA | Corra! é o tipo de terror que continua com você muito depois dos créditos

    O filme Corra! é a melhor estreia de um diretor no século XXI, ganhando o prêmio de Melhor Roteiro Original no Oscar de 2018. Jordan Peele coloca seu nome na história do cinema e começa uma carreira com trabalhos recheados de mensagens subliminares e críticas sociais.

    Corra! marca a estreia de Jordan Peele na direção e já chega com um dos roteiros mais afiados e marcantes dos últimos anos. Faltando pouco tempo para o lançamento de Him (novo projeto produzido por Peele, mas não dirigido por ele) é impossível não revisitar sua trajetória e perceber como tudo em que ele se envolve deixa uma marca forte no cinema.

    Em Corra!, Jordan Peele usa o terror como lente para expor o racismo estrutural disfarçado de cordialidade. A trama acompanha Chris, um jovem negro que vai conhecer a família da namorada branca em um fim de semana aparentemente tranquilo — até perceber que algo muito errado se esconde por trás da simpatia exagerada dos anfitriões.

    O filme parte de uma situação cotidiana para escalar em tensão, desconforto e crítica social, transformando o medo em ferramenta de reflexão sobre como o racismo se manifesta até nos espaços mais “educados”.

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    Todos atores envolvidos conseguem entregar uma atuação impecável em Corra! – Divulgação Universal Pictures

    Peele constrói o terror não no susto fácil, mas no clima, no silêncio tenso, nos gestos forçados, na sensação de que tem algo errado mesmo quando está tudo normal. É uma obra que usa e abusa da simbologia, mas o faz com maestria.

    A atuação de Daniel Kaluuya é outro ponto alto. Ele entrega um personagem contido, mas carregado de emoção, e nos conduz por essa espiral de estranhamento até o ponto de explosão. O olhar dele carrega medo, cansaço e alerta.

    Se Corra! partisse apenas de sua premissa: um jovem negro em perigo na casa da família branca da namorada, ele já teria força. Mas o que o torna tão especial é a forma como transforma isso numa análise social complexa, simbólica e impactante. É um filme que continua ecoando muito depois dos créditos finais.

    Corra! teve uma receita de 255,457 milhões de dólares.

    Jordan Peele dirigiu, escreveu e produziu o filme – Divulgação Universal Pictures

    Jordan Peele chegou com uma assinatura própria, e Corra! foi o aviso: ele não estava apenas dirigindo um terror — ele estava criando um novo espaço dentro do gênero, onde o medo é real e profundamente político.

    As camadas presentes em cada cena, enquadramento e diálogo são densas e cuidadosamente construídas. Corra! é o tipo de filme que pede revisitas. Sua crítica social é tão profunda e detalhada que, na primeira experiência, é difícil captar todas as referências, símbolos e mensagens que Peele espalha ao longo da narrativa. Cada nova sessão revela algo que passou despercebido, tornando o filme ainda mais poderoso com o tempo.

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    O papel rendeu a Daniel Kaluuya uma indicação ao Oscar de Melhor Ator – Divulgação Universal Pictures

    Corra! não reinventou o terror, ele reconectou o gênero às suas raízes mais potentes: o medo como espelho social. Jordan Peele mostrou que é possível assustar e, ao mesmo tempo, provocar reflexão, entregar entretenimento e levantar discussões urgentes.

    O filme também abriu portas para uma nova leva de produções que enxergam o terror como espaço para crítica, representatividade e profundidade. Peele não só inspirou outros criadores, como também elevou o padrão de exigência do público para o que se espera de uma obra do gênero. Depois de Corra!, o terror passou a ser visto com outros olhos.

    No fim das contas, esse é o tipo de filme que define uma geração. Ele mostra que o cinema pode ser ferramenta de transformação, mesmo nos formatos mais populares. Com essa estreia, Jordan Peele iniciou uma nova fase para o terror moderno.

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  • CRÍTICA | Os Caras Malvados 2 traz um bom entretenimento

    CRÍTICA | Os Caras Malvados 2 traz um bom entretenimento

    Pra quem vai esperando uma continuação mais avassaladora em Os Caras Malvados 2, não é o que vai encontrar, mas também não sairá insatisfeito do cinema.

    Os Caras Malvados 2 abre com um assalto que já leva o espectador a cair de paraquedas nessa aventura que em dez minutos, relembra quem viu o primeiro filme dos acontecimentos e esclarece para o público novo quem são, tal qual, qual será a abordagem da vez para essa equipe que descobriu como fazer o bem pode trazer frutos.

    O inicio então, mesmo que no passado, prepara quem assiste para o ponto negativo que se encontra de pessoas que tentam voltar a sociedade depois de cometerem crimes e não conseguem. Os protagonistas estão buscando emprego e uma vida melhor, mas encontram diversos receios em suas entrevistas, até surgir uma emboscada que os coloquem no mundo que um dia fizeram parte ,em prol de melhorar a imagem negativa que possuem.

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    Os Caras Malvados 2 | Dreamworks

    A animação segue um caminho promissor nos assuntos que vai abordar, mas joga isso fora ao focar em uma aventura que agrade o público infantil. Piadas de peido são repetidas, os personagens seguem um caminho batido e até as reviravoltas perdem força quando o filme perde a coragem de manter as novas antagonistas… como antagonistas.

    Os personagens são carismáticos, existe uma quebra de quarta parede pontual e certas piadas são genuinamente engraçadas. Em nenhum momento o filme descansa, não dá tempo para momentos introvertidos, que possam aprofundar as figuras, mas também não se atropela, podendo perder qualquer carga emocional para com os acontecimentos.

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    Os Caras Malvados 2 | Dreamworks

    Aliás, um ponto deveras positivo, está na forma como a animação deixa de lado qualquer verossimilhança, dando até a sensação para mim de que a franquia “Velozes e Furiosos” funcionaria mais como desenho, ao elevar o nível de loucura e ação ao decorrer do longa-metragem. Explorando outros tipos de arte para dar um brilho, uma capa pra emoldurar, entendendo que o novo estilo de 2D com 3D agradou o grande público.

    Por ter assistido o filme em português, não posso falar sobre as vozes originais, mas devo elogiar a tamanha capacidade dos artistas brasileiros em trazerem tanto charme e tanta vida aos personagens. A sabedoria da direção em colocar referências da nossa cultura na obra engrandece ainda mais a experiência e deixa alguns diálogos mais engraçados.

    Os Caras Malvados 2 não tem nada que já não tenha sido visto. Peca pela falta de tocar em temas raros de se ver no mundo dos filmes animados, mas pelo menos passa uma lição de moral agradável, que deve fazer o público mais novo sair bem feliz.

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  • CRÍTICA | Duster e a impaciência para altos índices de audiência imediata dos Streamings

    CRÍTICA | Duster e a impaciência para altos índices de audiência imediata dos Streamings

    Duster, nova série de J. J. Abrams, distribuída pela Hbomax foi cancelada menos de uma semana após o episodio final ir ao ar. Esse texto estava sendo preparado quando chegou a noticia que o streaming não a renovaria para um segundo ano.

    Com potencial, boas atuações, uma bela fotografia, uma direção e um texto envolvente, que mesmo sendo batido, diverte e não se torna cansativo, a série não conseguiu uma renovação. Mas, vamos do inicio.

    A série se passa nos anos 1970 e acompanha Nina Hayes(Rachel Hilson), a primeira agente negra do FBI, recrutando Jim Ellis(Josh Holloway), como informante, após mostrar provas que seu chefe, um conhecido criminoso, pode ter assassinado seu irmão.

    A primeira cena de Duster, nos apresenta Jim, correndo contra o tempo para entregar uma encomenda. Chegando ao ponto de encontro, descobrimos ser não somente um coração, mas terminamos com o protagonista fazendo uma massagem cardíaca no paciente com o peito aberto na mesa de cirurgia.

    Pela descrição, a cena parece ser um pouco louca, mas aí está o trunfo da direção, transformar algo que parece absurdo no texto, mas que consegue funcionar em tela. Nesses primeiros minutos, a série nos diz como será sua temporada: seu protagonista se metendo em confusão e saindo delas de uma forma criativa.

    Logo após essa cena, temos os créditos iniciais, com carrinhos Hot Wheels, honestamente, a melhor abertura de uma série que já vi. Padrão abertura HBO, nos dá pequenas pistas do que vai acontecer ao decorrer da temporada e que muda uma coisinha aqui, outra ali, de episódio para episódio, assim como Game of Thrones e Westworld.

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    Duster | Hbomax

    Rachel Hilson faz um trabalho excelente e realmente consegue vender que é aquela personagem, mas, é inegável, toda vez que a historia está centrada em Jim Ellis, é mais interessante. Holloway tem presença e carisma para tomar o protagonismo para si, sem esforço. Isso se deve não somente ao ator, mas também ao texto, que não faz cenas tão memoráveis para Nina, como faz para Jim.

    Embora Jim tenha cenas mais interessantes, seja pelo seu estilo descolado dos anos 1970, com calças boca de sino, camisas coloridas, altas manobras em seu carro chamativo e uma facilidade para sair de confusão da mesma maneira que entrou, o protagonismo da série é dividido entre ele e Nina. Ao longo dos episódios, temos cortes indo de um para o outro. Mostrando que eles estão em situações similares e ambos tem o mesmo valor narrativo.

    O destaque de atuações além dos protagonistas, fica para Keith David, que interpreta o vilão Ezra Saxton E Corbin Bernsen, que interpreta Wade Ellis, pai do protagonista. Keith mostra nesse personagem, um homem ameaçador, você sabe do que ele é capaz e vemos ele fazendo essa coisas. Mas, assim como é imponente, tem uma vulnerabilidade que não faz você odiar o personagem como deveria. Já Corbin traz uma leveza maior ainda para a série, a vontade é que ele apareça mais a cada episódio. menção honrosa para Patrick Warburton, que aparece brevemente no segundo episódio e dá um show de atuação.

    J. J. Abrams e LaToya Morgan (criadores da série) não fogem do clichê, pelo contrario, usam isso ao seu favor. Por exemplo: quando Jim é demitido por Saxton, sabemos que ele vai voltar. Quando a oficial Hayes está no deserto tentando encontrar a chave de suas algemas, sabemos que ela vai acha-las no último segundo. Quando os dois protagonistas estão encurralados no último episódio, sabemos que eles vão sair vivos.

    Duster

    Duster | Hbomax

    Não tem perigo real para os dois protagonistas, nós sabemos disso, e os roteiristas sabem que sabemos disso. Então não tem uma preocupação em fugir do óbvio, mas sim em encontrar caminhos criativos, inesperados e engraçados para chegar neste óbvio. Como, parar uma luta para conversar sobre filosofia, vida e condições de trabalho; roubar um par de sapatos do Elvis, colocar o presidente Richard Nixon de CGI se gravando dizendo falas racistas e muitas outras coisas.

    Mas, não é por usar o clichê a seu favor que Duster escapa de cair em armadilhas, mesmo com uma excelente fotografia, a edição peca em alguns momentos, como: a câmera cortar para o mesmo ângulo, mas usando um take diferente no rosto do protagonista, ficar por menos de 5 segundos e cortar para outro ângulo, servindo para um absoluto nada. Deixando um corte em tela horroroso e desnecessário de se ver.

    O roteiro não te deixa pensando nele por dias e nem é sua intenção fazer isso, mas cumpre o que se propõe, entreter por algumas horas o espectador. Isso, combinado com boas atuações, uma química entre os atores e uma boa direção, faz você ter uma boa série para assistir por algumas horas.

    Por isso, é uma pena, mas não tanto uma surpresa quando a HBO Max anunciou que estava cancelando a série. Por mais que seja divertida e carismatica, ela não teve uma grande divulgação e nem uma boa campanha de marketing, com isso, episódios não tiveram os números de audiência que a HBO queria.

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    Duster | Hbomax

    O que, num palpite certeiro, a empresa por não investir em propaganda e ver que os primeiros episódios não repercutiram muito, já planejavam cancelar a partir dos primeiros episódios. Mas esperaram a conclusão da temporada para dar fim, assim, os índices dos episódios finais não serem mais baixos ainda.

    Se tivesse mais tempo para ficar no catálogo, poderia alcançar público, mas com o cancelamento, ninguém irá ver. A série temina bem, até os 4 minutos finais que abrem vários ganchos para sua segunda temporada (que nunca veremos). Duster vale a pena assistir, mesmo com o cancelamento e se voce mutar os últimos minutos da série, terá uma bela história terminando sem gancho e com Josh Holloway e Rachel Hilson admirando um belo pôr-do-sol de cgi.

    Todos os episódios de Duster estão dispóniveis na HBO Max.

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    CRÍTICA I “Amores Materialistas” e o preço de tentar reinventar o maior sentimento humano

    Após o sucesso sensível de “Vidas Passadas” (2023), Celine Song tropeça em seu segundo filme , com um romance cínico, verborrágico e surpreendentemente genérico.


    “Casamento é um contrato comercial”, declara Lucy (Dakota Johnson) já nas primeiras cenas de Amores Materialistas”. “Sempre foi assim.” A frase define com precisão o olhar cínico da protagonista — e também insinua a proposta do filme: discutir o amor sob a ótica das transações afetivas/financeiras. No entanto, ao longo de quase duas horas, o que se vê é uma história que flerta com a provocação, mas tropeça em escolhas narrativas frágeis e uma condução que se pretende sofisticada, mas termina desequilibrada.

    Na trama, acompanhamos Lucy, uma consultora de casamentos que trata relacionamentos como algoritmos emocionais. Ela está convicta de que o amor pode (e deve) ser medido em planilhas — até se envolver com dois homens completamente opostos: John (Chris Evans), um aspirante a ator falido com charme de galã clássico, e Harry (Pedro Pascal), um milionário emocionalmente disponível.

    Amores Materialistas

    Amores Materialistas I Sony Pictures

    Dividida entre razão e desejo, Lucy tenta aplicar suas próprias fórmulas ao próprio coração. O problema é que, embora o longa tente dar camadas à personagem, sua transformação soa inconsistente. Lucy é apresentada como uma mulher segura, decidida e bem resolvida — e de repente, sem construção adequada, tem suas convicções desmontadas por uma virada pouco verossímil. Especialmente para uma profissional vendida como experiente, a incapacidade de avaliar riscos soa forçada.

    A discussão sobre o amor como uma equação matemática até surge de forma interessante no texto, mas logo se perde em diálogos excessivos e uma verborragia emocional que esgota qualquer tentativa de sutileza. A beleza do “não dito”, tão bem trabalhada pela diretora/roteirista Celine Song (“The Seagull on the Sims 4”) em “Vidas Passadas” (2023), simplesmente desaparece aqui. Ao contrário da estreia, “Amores Materialistas” resulta em um filme inferior, genérico e inchado — levantando a incômoda dúvida: “Vidas Passadas” foi apenas um acaso feliz?

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    Amores Materialistas I Sony Pictures


    Neste novo longa, o triângulo amoroso é batido, previsível e nada empolgante. Por mais que Pedro Pascal (“The Last of Us”) e Chris Evans (“Os Vingadores”) tentem emprestar humanidade aos seus personagens, a presença constante de Dakota Johnson (“Cinquenta Tons de Cinza”) em modo pálido afasta qualquer senso de realismo. Lucy não é tratada como uma mulher comum — e, portanto, sua jornada perde parte do impacto que deveria ter.

    A narrativa ainda tenta mudar de tom na reta final, apostando em um drama repentino com carga trágica. No entanto, esse desvio não só quebra o pouco ritmo conquistado, como recorre a um artifício de gosto duvidoso: um evento extremamente violento sofrido por uma personagem secundária é instrumentalizado como simples catalisador para a epifania da protagonista. Em vez de expandir o debate, essa escolha apenas evidencia o desequilíbrio do roteiro.

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    Amores Materialistas I Sony Pictures


    No fim das contas, “Amores Materialistas” até pode ser assistido sem sofrimento, mas está muito longe de se destacar. É um filme que tenta ser moderno, inteligente e sensível — mas acaba parecendo apenas mais um romance urbano genérico, com pretensões maiores do que sua entrega.

    E considerando que se trata do aguardado segundo longa de Celine Song após a belíssima estreia com “Vidas Passadas”, o saldo é especialmente decepcionante. A promessa de uma nova voz autoral e sensível do cinema contemporâneo, por ora, fica em suspenso.

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