Demolidor Renascido tem altos e baixos, mas estabelece bem seu futuro no Universo Cinematográfico Marvel.
Assim como visitar um amigo que há muito tempo não víamos, sentimos saudades e temos aquela sensação maravilhosa de nostalgia ao assistir a série, mas, assim como podemos ver atitudes e comportamentos errados em nosso amigo, vemos erros técnicos gritantes nessa produção. Logo nos 15 minutos iniciais do primeiro episódio, a série nos mostra para que veio, tanto para o bom quanto para o ruim.
A série começa com Matt Murdock, Karen Page e Foggy Nelson saindo do escritório e indo para o Josie’s Dinner, um restaurante já conhecido das temporadas anteriores. Tudo está tranquilo, os três estão se divertindo e Foggy celebrando uma vitória antecipada, que será o grande plot final da temporada.
A paz não dura e nesses 15 minutos, Foggy é baleado pelo Mercenário em frente a Karen, enquanto Matt entra em luta sanguinária com o atirador. No maior estilo “cena do corredor” das temporadas anteriores, um plano sequência se inicia. Vemos os dois personagens lutando do térreo até o topo de um prédio de 3 andares, com bem mais brutalidade que nas temporadas anteriores distribuídas pela Netflix.

Demolidor Renascido | Disney+
A parte boa é, uma sequência criativa e instigante de assistir, que te deixa tenso, justamente porquê vemos o tempo inteiro Matt escutar os batimentos cardíacos de Foggy durante a luta e não queremos que o personagem se vá. A parte feia, são os efeitos especiais desnecessários usados nos personagens durante a cena da luta. Tentam fazer com o Demolidor o mesmo que fizeram em sua participação na série da Mulher-Hulk, trazendo parkour e movimentos alongados para o personagem ficar mais cartunesco.
Mas aqui, isso não funciona, é feio, tem momentos que os atores parecem bonecos de borracha. Além, é claro, de usarem a montagem dos episódios para tentar ajudar, o que acaba piorando e a cena fica beirando o vale da estranheza e quebrando a imersão do espectador. Em todas as cenas de luta da temporada eles abusam dos efeitos especiais e principalmente da edição, isso é um erro.
Nesses primeiros minutos temos um vislumbre de alguns personagens que vão ganhar destaque ao longo da temporada. O episódio inteiro você sente o luto do Matt, sente que algo está faltando, justamente Foggy e Karen(que some para voltar no último episódio), mas essa sensação, assim como o próprio luto, vai passando conforme os episódios avançam.
A base da temporada é estabelecida com Matt negando para si, ser o Demolidor e Fisk negando para o público, ser o Rei do Crime. Mas como vemos ao final do primeiro episódio, Fisk, agora prefeito, olha para a cidade da sacada de um prédio, ele está na escuridão e somente uma luz branca o ilumina rapidamente. Assim também está Matt, no meio da multidão, com o rosto inclinado para cima e uma luz vermelha pulsante piscando em seu rosto. Ambos estão contemplando, negando e sentindo dentro de si o desejo de libertar o seu alter ego.

Demolidor Renascido | Disney+
A série tem uma boa dose de fã service: as cenas do Matt com o Fisk conversando em uma lanchonete é o exemplo disso. Com uma atuação impecável tanto do Charlie Cox como do Vicente D’Onofrio, realmente é difícil imaginar outros atores interpretando esses personagens. Agora, mais velho, o Charlie Cox traz para o Matt Murdock um senso de responsabilidade muito maior. É notável que não só ator amadureceu, como o personagem também. Não somente na idade, mas também na atuação.
E falando em boa atuação, Kamar de Los Reyes, que interpreta o Hector Ayala ou Tigre Branco nessa temporada, dá um show de interpretação. Ele conseguiu trazer a carga dramática que o papel pedia. O ator infelizmente faleceu de câncer no final de 2023. Hector Ayala é um dos pontos alto da série, o episódio de seu julgamento, é tudo que a série da Mulher-Hulk prometeu e não foi, um episódio de advocacia.
A série está repleta de referências ao UCM, seja uma menção aos Skrulls, a Echo ou ao policial Morales, pai de Miles Morales e a maior de todas, um episódio inteiro com o pai de Kamala Khan, a Ms. Marvel, como coadjuvante de Matt. Por mais que a Marvel tenham exagerado nos últimos anos com milhares de referências em suas séries e filmes, que muitas vezes não dá para entender tudo, aqui eles diminuíram a dosagem e não entregam demasiadamente.
Aos poucos vemos Matt se soltando das amarras que o impedia de retornar como vigilante, ao longo dos episódios ele se coloca em situações perigosas para no fim da série ter sua culminância retornando como Demolidor, assim também faz Wilson Fisk como Rei do Crime.
Já sabemos desde o início que o Rei do Crime é o principal vilão da série, mas ao decorrer dos episódios, vemos vigilantes sendo introduzidos, com uma história cativante e bem desenvolvida, mas que é abandonada no episódio seguinte. Criam um personagem, dão uma história, desenvolvem ele para ser antagonista ou ajudante do Demolidor e o matam logo em seguida. Isso acaba se tornando uma fórmula repetitiva e frustrante.

Demolidor Renascido | Disney+
A série tem sua alta no começo da temporada e conforme os episódios vão passando, tem uma baixa. O motivo disso é a troca da equipe criativa, com a Marvel demitindo os produtores e showrunners iniciais e trazendo de volta a mesma equipe criativa de quando a série foi distribuida pela Netflix. A troca foi feita durante a greve dos roteiristas e atores de Hollywood. O plano inicial era a série ter 18 episódios na primeira temporada, mas com a mudança, a série terá duas temporadas com 9 episódios cada.
A equipe consegue juntar suas ideias com as da equipe anterior, mas a mudança é perceptível, essa baixa se dá a isso, mas mesmo assim, não chega a ser ruim. Ela apenas abre mais portas e ganchos para a conclusão na segunda temporada, além de preparar o terreno para o Demolidor, Justiceiro e o Rei do Crime no UCM.
A série tem muitas ideias e execuções boas, mas também tem muitas partes que sofrem com qualidade técnica. Ela não tem sutileza em lugares que precisa ter, como na edição, por exemplo. Mas tem ótimas atuações, tem um roteiro interessante e o fator nostalgia ao seu lado. Não é a melhor série da Marvel, mas com certeza não é a pior, tem potencial e sendo bem trabalhada, pode ficar ainda melhor. A série nos dá um bom fã service e uma base boa do personagem no futuro do UCM.
A segunda temporada da série está sendo gravada em Nova York e tem data de lançamento para 2 de março de 2026. Até lá, você pode assistir a todas as temporadas de Demolidor e a temporada completa de Demolidor Renascido no Disney+.
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