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  • CRÍTICA | A Hora do Mal é um dos destaques do gênero em 2025

    CRÍTICA | A Hora do Mal é um dos destaques do gênero em 2025

    A Hora do Mal é um filme dirigido por Zach Cregger, mesmo diretor de Noites Brutais, mas agora com uma inteção e estrutura de história um pouco diferentes do filme de 2022. Cregger marca seu nome no ano de 2025 ao lançar um dos melhores filmes do gênero dos últimos anos e deixa um ânimo para os fãs de terror.

    Nos últimos anos, o terror se consolidou como um dos gêneros mais férteis do cinema, capaz de dialogar com público e crítica em igual medida.

    A Hora do Mal chega como mais um exemplo dessa força, trazendo um roteiro bem construído, atuações consistentes e uma narrativa que entende o tempo necessário para criar expectativa, desenvolver seus personagens e entregar momentos de impacto.

    O resultado é um filme que não apenas assusta, mas também demonstra consciência narrativa, sabendo onde quer chegar e como usar cada peça de sua história.

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    Josh Brolin é um dos destaques de A Hora do Mal – Divulgação Warner Bros


    Logo nos primeiros minutos, a estrutura pode soar ambígua. O espectador é introduzido a diferentes personagens, cujas conexões ainda não são claras, e isso pode causar a sensação de estar um pouco perdido.

    No entanto, essa escolha é proposital. O roteiro constrói as bases da narrativa com calma, sem pressa em revelar tudo de imediato. Esse ritmo mais lento no início funciona como preparação para o que vem depois, pois quando as peças começam a se encaixar, a experiência se torna ainda mais satisfatória. O que parecia disperso se mostra, na verdade, cuidadosamente entrelaçado.

    Outro ponto de destaque é o elenco. Não há uma atuação fora do tom ou que comprometa a trama. Todos entregam personagens sólidos, com intensidade e credibilidade, e isso ajuda a sustentar o realismo necessário para que o suspense funcione.

    Em filmes do gênero, é comum que coadjuvantes se tornem esquecíveis, mas em A Hora do Mal até os papéis menores têm peso dentro da engrenagem da história. Essa consistência faz com que o espectador esteja sempre atento, sem nunca sentir que algo está sobrando.

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    A Hora do Mal é o primeiro projeto dirigido por Cregger desde 2022 – Divulgação Warner Bros

    A grande virada do filme, no entanto, acontece quando a vilã é apresentada — e isso só acontece na metade da trama. É uma escolha ousada, porque poderia comprometer o ritmo ou diminuir o suspense.

    Mas aqui acontece o oposto: a revelação é tão bem construída que aumenta a expectativa do público. A presença da antagonista não só intensifica a tensão como também reorganiza a narrativa, levando-a a um novo patamar.

    Mais do que um simples obstáculo, a vilã carrega personalidade, motivações e um espaço próprio dentro da história. E o mais interessante: ela é tão marcante que o filme deixa portas abertas para um possível spin-off, algo que parece natural, e não apenas uma jogada de mercado.

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    Julia Garner ganha outro papel de destaque em 2025 – Divulgação Warner Bros


    Ao final, A Hora do Mal se revela um terror que entende suas próprias ambições. É intenso sem ser gratuito, lento sem ser arrastado, complexo sem ser confuso. Tudo parece calculado para que o público se envolva com os personagens, tema medo pela situação deles e, ao mesmo tempo, queira saber mais sobre o universo apresentado.

    Quando os créditos sobem, fica clara a sensação de ter assistido a uma história completa, mas que ainda guarda possibilidades de expansão (especialmente pelo potencial da vilã).

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  • CRÍTICA | Confinado parte de uma boa premissa, mas não consegue ir além do óbvio

    CRÍTICA | Confinado parte de uma boa premissa, mas não consegue ir além do óbvio

    Confinado é uma refilmagem indireta de um filme brasileiro, que, por sua vez, já adaptava uma obra argentina. Sob a direção de David Yarovesky, porém, o longa se limita ao óbvio, ainda que consiga arrancar alguns momentos emocionantes e estabelecer certos laços com o público.

    Dirigido por David Yarovesky, Confinado narra a jornada de um ladrão (Bill Skarsgard) que, ao tentar roubar um carro, acaba trancado no veículo por dias, restando-lhe apenas a interação com o dono do automóvel, interpretado por Anthony Hopkins.

    A narrativa se desenvolve pela perspectiva do protagonista: um homem desonesto, pai de uma filha pequena e cercado de problemas. A partir disso, o filme o coloca em situações constrangedoras numa tentativa superficial de gerar empatia, mas o efeito acaba sendo pouco convincente.

    Em compensação, Bill Skarsgård entrega uma de suas performances mais marcantes, enquanto Anthony Hopkins, embora só apareça visualmente na segunda metade, já impõe sua força dramática apenas com a voz

    Bill Skarsgard interpreta o protagonista de Confinado

    Bill Skarsgard faz uma das melhores interpretações de sua carreira em Confinado – Divulgação Prime Video

    O maior acerto do filme é a construção da relação entre o protagonista e sua filha, elemento que sustenta a narrativa por boa parte do tempo. Foi esse laço que me manteve atento ao desenrolar da história, mesmo quando as consequências pareciam exageradas não pelo exagero, mas pela falta delas.

    Confinado não inova em termos narrativos ou estruturais, mas se sustenta graças às ótimas atuações do elenco. Anthony Hopkins, como de costume, extrai muito de um material limitado, reafirmando o porquê de sua consagração.

    Embora a situação central seja mostrada logo no começo, o filme demora a explorar assuntos que poderiam tornar a narrativa mais interessante. É possível que Yarovesky tenha se prendido demais às versões anteriores, resultando em um roteiro por vezes rígido e previsível.

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    Anthony Hopkins aparece pouco, mas brilha em Confinado – Divulgação Prime Video

    Um dos pontos altos do longa é, sem dúvida, a relação entre o protagonista e sua filha. Mesmo sendo poucos, esses momentos conseguem transmitir emoção real e funcionam como um fio condutor da narrativa.

    David Yarovesky mantém um estilo visual limpo e funcional, mas pouco ousado. A fotografia e a ambientação ajudam a sustentar a tensão, mas não inovam. A sensação de confinamento é transmitida, mas sem recursos que realmente desafiem o espectador, reforçando a ideia de que o filme segue fórmulas já vistas.

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    Confinado foi a pimeira vez em que Bill e David trabalharam juntos – Divulgação Prime Video

    Em resumo, Confinado é um filme que se apoia fortemente nas atuações — especialmente de Bill Skarsgård e Anthony Hopkins — para manter o interesse. A narrativa previsível e o roteiro engessado impedem que a premissa ganhe a força que mereceria.

    Pode-se dizer que Confinado é uma obra quase completa: a história já foi explorada de outras formas, e este longa representa apenas mais um olhar sobre a mesma situação. O diretor não me deixa muito animado em relação aos seus próximos trabalhos, mas pretendo acompanhá-los, acreditando que ele tenha aprendido com os erros desta vez.

    Ainda assim, para quem valoriza boas performances e momentos emocionais pontuais, o longa consegue entregar algo satisfatório.

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  • CRÍTICA | Corra que a Polícia Vem Aí recupera a comédia sem noção 

    CRÍTICA | Corra que a Polícia Vem Aí recupera a comédia sem noção 

    Corra que a Polícia Vem Aí sabe muito bem em que momento se encontra e dá um jeito de dialogar com todos os públicos.

    “Corra que a polícia vem aí” foi uma franquia de sucesso, por volta dos anos 80, no meio da comédia, sendo protagonizada por um ator que ficou conhecido pelo gênero de ação e que, ao envelhecer, se entregou para outro meio, ironizando um gênero que por tanto tempo fez parte. E Liam Neeson (conhecido por obras com muito tiro, como a trilogia “Busca Implacável“) parece seguir o mesmo percurso.

    A história percorre um caminho bem simples, com Frank Junior investigando um caso especial que o leva a encontrar uma mulher que fará seu mundo girar (talvez literalmente)  e o ajudará a descobrir sobre um plano maléfico que promete fazer a Terra voltar às suas raízes, quando o “tempo era bom”.

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    Corra que a Polícia Vem Aí | Paramount Pictures

    Fica visível pela simplicidade o quanto a obra está mais centrada em como vai contar essa clássica jornada, ao invés do que ela propõe em si, se aproveitando do gênero da comédia para exagerar, se divertir e aloprar os arquétipos comuns nos longas de ação e espionagem. Um que, por vezes, acaba sendo homenageado é a franquia Missão Impossível, que teve seu oitavo filme lançado no mesmo ano.

    Nos primeiros minutos, uma brincadeira absurda de tão fora da realidade é feita e já fica claro qual vai ser a abordagem do longa-metragem. Encontrando um modo atraente de dividir entre situações que não aconteceriam, sendo levadas na “seriedade”, em respostas literais para um pedido com outro sentido, na participação proposital da “mão do diretor” e no modo como a câmera dá foco para um acontecimento, enquanto deixa um espaço para outro que está sendo ignorado.

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    Corra que a Polícia Vem Aí | Paramount Pictures

    Dessa forma, não existe um fator que sobra ou incomoda, pois a óbvia trilha sonora, o vilão com feição esnobe e os comentários caricatos soam propositais, tendo o total intuito de provocar risada pelo quão cafona, bobo ou bizarro se torna aquele momento, especialmente aquele que o casal tira férias em uma cabana.

    Todavia, causa incômodo a pressa em resolver todas as situações alarmantes. A conclusão gera momentos marcantes e engraçados, mas carece de trazer uma dificuldade maior, ou apenas mais exagerada, que poderia gerar algo mais absurdo e que, dentro da proposta, seria cabível. O filme acaba rápido e o gosto por querer mais fica na ponta da língua. Pelo menos, acaba sendo bem legal como o filme encontra uma forma de te prender até a conclusão dos créditos.

    “Corra que a polícia vem aí” aborda a possibilidade de encontrar o amor depois de anos sozinho e a luta interminável do ser humano para com a evolução da tecnologia, podendo deixar que ela auxilie, mas não domine. Vão existir pessoas buscando ganhar por cima de outras, e vão existir aquelas que estarão despreocupadas com as situações que vão se meter, já que a causa vai além dos riscos. Liam Neeson sempre protagonizou o herói que faz tudo em prol do bem e aqui não é diferente, apenas se encontra em um tom mais agradável.

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  • CRÍTICA | A Morte de um Unicórnio beira entre magia e o vazio

    CRÍTICA | A Morte de um Unicórnio beira entre magia e o vazio

    Dirigido por Alex Scharfman, A Morte de Um Unicórnio é um conto de fadas moderno que perde sua magia ao trocar encantamento por violência gratuita

    Sempre que é anunciada uma produção envolvendo criaturas fantásticas ou mitológicas, meu interesse é imediatamente despertado. Afinal, uma das grandes virtudes da arte, especialmente do cinema, é a capacidade de subverter conceitos, ícones e símbolos estabelecidos ao longo de séculos, transformando-os em algo único e contemporâneo. O resultado pode variar: do excelente O Labirinto do Fauno (2006, Guillermo del Toro), passando pelo interessante A Lenda de Ochi (2025, Isaiah Saxon), até o mediano A Morte de Um Unicórnio.

    Estes três filmes podem ser considerados contos de fadas modernos, compartilhando elementos clássicos do gênero, como a presença do fantástico, a dicotomia bem/mal, coragem, perseverança e laços familiares, mas transportam estas histórias para épocas distintas, que apresentam diferentes valores e símbolos. Del Toro opta por um pano de fundo histórico, enquanto A Morte de Um Unicórnio situa-se num contexto mais contemporâneo.

    No caso de A Morte de Um Unicórnio, a figura central é o próprio unicórnio, criatura que fascina gerações, especialmente crianças e jovens adultos. Símbolo de pureza e inocência, e em algumas versões, encarnação divina, carregando significados que se esvaziam diante de um mundo capitalista e cínico, algo que o filme aborda de forma explícita.

    A Morte de um Unicórnio

    Cena de A Morte de um Unicórnio- Divulgação Universal Pictures

    Como o título já entrega, a trama gira em torno da morte desse ser sagrado, após ser atropelado por Elliot e sua enteada Ridley. Marcados por um relacionamento frio e distante após a morte da mãe da garota, eles embarcam numa jornada que mistura rancor, reconciliação e uma dose inesperada de violência, envolvendo unicórnios vingativos e interesses corporativos.

    Narrativamente, o filme segue todos os beats clássicos, chegando a homenagear, ou simplesmente copiar, grandes obras como Alien, o 8.º Passageiro (1979, Ridley Scott) e Jurassic Park (1993, Steven Spielberg), facilitando a compreensão da produção, porém, reduzindo a originalidade e desperdiçando o potencial mágico que todo o contexto do unicórnio poderia proporcionar.

    Após o atropelamento, Elliot e Ridley levam o animal à casa de Dell Leopold, magnata farmacêutico interpretado por Richard E. Grant. Ao descobrirem que o unicórnio possui poderes curativos, de acne a câncer, surge o previsível desejo de explorá-lo até a última gota. Quando os pais da criatura aparecem para vingar o filhote, a narrativa se aproxima perigosamente de um pastiche de suas principais referencias, levando à mortes que beiram o fetiche.

    Ideias promissoras como Ridley ser uma donzela de coração puro capaz de domar o unicórnio, ou a visão da “Máquina do Mundo” ao tocar o chifre, são abandonadas em prol de uma abordagem mais pé-no-chão e violenta, que dilui o encanto. O resultado é um filme com sérios problemas de tom: vendido como comédia sombria, não é engraçado; não funciona como fantasia, não emociona; não se encaixa nem como drama, nem como horror e não consegue convencer, ocasionando um filme sem público definido.

    A Morte de um Unicórnio

    Cena de A Morte de um Unicórnio- Divulgação Universal Pictures

    A violência gratuita, que lhe garantiu classificação para maiores de 18 anos, também afasta seu provável público-alvo: crianças e jovens fascinados por criaturas mágicas. No campo estético, a construção do animal é um ponto alto, fugindo do óbvio “cavalo com chifre”, porém, o design visual em geral é simplista e vazio, com exceção do clímax diurno, que oferece uma ambientação curiosamente marcante.

    No fim, A Morte de Um Unicórnio é um exemplo claro do risco de mirar alto sem definir com precisão o que se quer alcançar. O resultado é um entretenimento irregular: repleto de boas atuações, uma premissa com potencial, e momentos memoráveis, mas que poderia, e deveria, ter sido muito mais.

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  • CRÍTICA | Corra! é o tipo de terror que continua com você muito depois dos créditos

    CRÍTICA | Corra! é o tipo de terror que continua com você muito depois dos créditos

    O filme Corra! é a melhor estreia de um diretor no século XXI, ganhando o prêmio de Melhor Roteiro Original no Oscar de 2018. Jordan Peele coloca seu nome na história do cinema e começa uma carreira com trabalhos recheados de mensagens subliminares e críticas sociais.

    Corra! marca a estreia de Jordan Peele na direção e já chega com um dos roteiros mais afiados e marcantes dos últimos anos. Faltando pouco tempo para o lançamento de Him (novo projeto produzido por Peele, mas não dirigido por ele) é impossível não revisitar sua trajetória e perceber como tudo em que ele se envolve deixa uma marca forte no cinema.

    Em Corra!, Jordan Peele usa o terror como lente para expor o racismo estrutural disfarçado de cordialidade. A trama acompanha Chris, um jovem negro que vai conhecer a família da namorada branca em um fim de semana aparentemente tranquilo — até perceber que algo muito errado se esconde por trás da simpatia exagerada dos anfitriões.

    O filme parte de uma situação cotidiana para escalar em tensão, desconforto e crítica social, transformando o medo em ferramenta de reflexão sobre como o racismo se manifesta até nos espaços mais “educados”.

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    Todos atores envolvidos conseguem entregar uma atuação impecável em Corra! – Divulgação Universal Pictures

    Peele constrói o terror não no susto fácil, mas no clima, no silêncio tenso, nos gestos forçados, na sensação de que tem algo errado mesmo quando está tudo normal. É uma obra que usa e abusa da simbologia, mas o faz com maestria.

    A atuação de Daniel Kaluuya é outro ponto alto. Ele entrega um personagem contido, mas carregado de emoção, e nos conduz por essa espiral de estranhamento até o ponto de explosão. O olhar dele carrega medo, cansaço e alerta.

    Se Corra! partisse apenas de sua premissa: um jovem negro em perigo na casa da família branca da namorada, ele já teria força. Mas o que o torna tão especial é a forma como transforma isso numa análise social complexa, simbólica e impactante. É um filme que continua ecoando muito depois dos créditos finais.

    Corra! teve uma receita de 255,457 milhões de dólares.

    Jordan Peele dirigiu, escreveu e produziu o filme – Divulgação Universal Pictures

    Jordan Peele chegou com uma assinatura própria, e Corra! foi o aviso: ele não estava apenas dirigindo um terror — ele estava criando um novo espaço dentro do gênero, onde o medo é real e profundamente político.

    As camadas presentes em cada cena, enquadramento e diálogo são densas e cuidadosamente construídas. Corra! é o tipo de filme que pede revisitas. Sua crítica social é tão profunda e detalhada que, na primeira experiência, é difícil captar todas as referências, símbolos e mensagens que Peele espalha ao longo da narrativa. Cada nova sessão revela algo que passou despercebido, tornando o filme ainda mais poderoso com o tempo.

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    O papel rendeu a Daniel Kaluuya uma indicação ao Oscar de Melhor Ator – Divulgação Universal Pictures

    Corra! não reinventou o terror, ele reconectou o gênero às suas raízes mais potentes: o medo como espelho social. Jordan Peele mostrou que é possível assustar e, ao mesmo tempo, provocar reflexão, entregar entretenimento e levantar discussões urgentes.

    O filme também abriu portas para uma nova leva de produções que enxergam o terror como espaço para crítica, representatividade e profundidade. Peele não só inspirou outros criadores, como também elevou o padrão de exigência do público para o que se espera de uma obra do gênero. Depois de Corra!, o terror passou a ser visto com outros olhos.

    No fim das contas, esse é o tipo de filme que define uma geração. Ele mostra que o cinema pode ser ferramenta de transformação, mesmo nos formatos mais populares. Com essa estreia, Jordan Peele iniciou uma nova fase para o terror moderno.

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    CRÍTICA | Jurassic World: Recomeço entretém quem procura só isso

    CRÍTICA | F1: O Filme parece corrida de verdade, mas não empolga

    CRÍTICA | Missão Impossível : O Acerto Final é a conclusão certa para a franquia

  • CRÍTICA | Os Caras Malvados 2 traz um bom entretenimento

    CRÍTICA | Os Caras Malvados 2 traz um bom entretenimento

    Pra quem vai esperando uma continuação mais avassaladora em Os Caras Malvados 2, não é o que vai encontrar, mas também não sairá insatisfeito do cinema.

    Os Caras Malvados 2 abre com um assalto que já leva o espectador a cair de paraquedas nessa aventura que em dez minutos, relembra quem viu o primeiro filme dos acontecimentos e esclarece para o público novo quem são, tal qual, qual será a abordagem da vez para essa equipe que descobriu como fazer o bem pode trazer frutos.

    O inicio então, mesmo que no passado, prepara quem assiste para o ponto negativo que se encontra de pessoas que tentam voltar a sociedade depois de cometerem crimes e não conseguem. Os protagonistas estão buscando emprego e uma vida melhor, mas encontram diversos receios em suas entrevistas, até surgir uma emboscada que os coloquem no mundo que um dia fizeram parte ,em prol de melhorar a imagem negativa que possuem.

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    Os Caras Malvados 2 | Dreamworks

    A animação segue um caminho promissor nos assuntos que vai abordar, mas joga isso fora ao focar em uma aventura que agrade o público infantil. Piadas de peido são repetidas, os personagens seguem um caminho batido e até as reviravoltas perdem força quando o filme perde a coragem de manter as novas antagonistas… como antagonistas.

    Os personagens são carismáticos, existe uma quebra de quarta parede pontual e certas piadas são genuinamente engraçadas. Em nenhum momento o filme descansa, não dá tempo para momentos introvertidos, que possam aprofundar as figuras, mas também não se atropela, podendo perder qualquer carga emocional para com os acontecimentos.

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    Os Caras Malvados 2 | Dreamworks

    Aliás, um ponto deveras positivo, está na forma como a animação deixa de lado qualquer verossimilhança, dando até a sensação para mim de que a franquia “Velozes e Furiosos” funcionaria mais como desenho, ao elevar o nível de loucura e ação ao decorrer do longa-metragem. Explorando outros tipos de arte para dar um brilho, uma capa pra emoldurar, entendendo que o novo estilo de 2D com 3D agradou o grande público.

    Por ter assistido o filme em português, não posso falar sobre as vozes originais, mas devo elogiar a tamanha capacidade dos artistas brasileiros em trazerem tanto charme e tanta vida aos personagens. A sabedoria da direção em colocar referências da nossa cultura na obra engrandece ainda mais a experiência e deixa alguns diálogos mais engraçados.

    Os Caras Malvados 2 não tem nada que já não tenha sido visto. Peca pela falta de tocar em temas raros de se ver no mundo dos filmes animados, mas pelo menos passa uma lição de moral agradável, que deve fazer o público mais novo sair bem feliz.

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  • CRÍTICA | Duster e a impaciência para altos índices de audiência imediata dos Streamings

    CRÍTICA | Duster e a impaciência para altos índices de audiência imediata dos Streamings

    Duster, nova série de J. J. Abrams, distribuída pela Hbomax foi cancelada menos de uma semana após o episodio final ir ao ar. Esse texto estava sendo preparado quando chegou a noticia que o streaming não a renovaria para um segundo ano.

    Com potencial, boas atuações, uma bela fotografia, uma direção e um texto envolvente, que mesmo sendo batido, diverte e não se torna cansativo, a série não conseguiu uma renovação. Mas, vamos do inicio.

    A série se passa nos anos 1970 e acompanha Nina Hayes(Rachel Hilson), a primeira agente negra do FBI, recrutando Jim Ellis(Josh Holloway), como informante, após mostrar provas que seu chefe, um conhecido criminoso, pode ter assassinado seu irmão.

    A primeira cena de Duster, nos apresenta Jim, correndo contra o tempo para entregar uma encomenda. Chegando ao ponto de encontro, descobrimos ser não somente um coração, mas terminamos com o protagonista fazendo uma massagem cardíaca no paciente com o peito aberto na mesa de cirurgia.

    Pela descrição, a cena parece ser um pouco louca, mas aí está o trunfo da direção, transformar algo que parece absurdo no texto, mas que consegue funcionar em tela. Nesses primeiros minutos, a série nos diz como será sua temporada: seu protagonista se metendo em confusão e saindo delas de uma forma criativa.

    Logo após essa cena, temos os créditos iniciais, com carrinhos Hot Wheels, honestamente, a melhor abertura de uma série que já vi. Padrão abertura HBO, nos dá pequenas pistas do que vai acontecer ao decorrer da temporada e que muda uma coisinha aqui, outra ali, de episódio para episódio, assim como Game of Thrones e Westworld.

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    Duster | Hbomax

    Rachel Hilson faz um trabalho excelente e realmente consegue vender que é aquela personagem, mas, é inegável, toda vez que a historia está centrada em Jim Ellis, é mais interessante. Holloway tem presença e carisma para tomar o protagonismo para si, sem esforço. Isso se deve não somente ao ator, mas também ao texto, que não faz cenas tão memoráveis para Nina, como faz para Jim.

    Embora Jim tenha cenas mais interessantes, seja pelo seu estilo descolado dos anos 1970, com calças boca de sino, camisas coloridas, altas manobras em seu carro chamativo e uma facilidade para sair de confusão da mesma maneira que entrou, o protagonismo da série é dividido entre ele e Nina. Ao longo dos episódios, temos cortes indo de um para o outro. Mostrando que eles estão em situações similares e ambos tem o mesmo valor narrativo.

    O destaque de atuações além dos protagonistas, fica para Keith David, que interpreta o vilão Ezra Saxton E Corbin Bernsen, que interpreta Wade Ellis, pai do protagonista. Keith mostra nesse personagem, um homem ameaçador, você sabe do que ele é capaz e vemos ele fazendo essa coisas. Mas, assim como é imponente, tem uma vulnerabilidade que não faz você odiar o personagem como deveria. Já Corbin traz uma leveza maior ainda para a série, a vontade é que ele apareça mais a cada episódio. menção honrosa para Patrick Warburton, que aparece brevemente no segundo episódio e dá um show de atuação.

    J. J. Abrams e LaToya Morgan (criadores da série) não fogem do clichê, pelo contrario, usam isso ao seu favor. Por exemplo: quando Jim é demitido por Saxton, sabemos que ele vai voltar. Quando a oficial Hayes está no deserto tentando encontrar a chave de suas algemas, sabemos que ela vai acha-las no último segundo. Quando os dois protagonistas estão encurralados no último episódio, sabemos que eles vão sair vivos.

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    Duster | Hbomax

    Não tem perigo real para os dois protagonistas, nós sabemos disso, e os roteiristas sabem que sabemos disso. Então não tem uma preocupação em fugir do óbvio, mas sim em encontrar caminhos criativos, inesperados e engraçados para chegar neste óbvio. Como, parar uma luta para conversar sobre filosofia, vida e condições de trabalho; roubar um par de sapatos do Elvis, colocar o presidente Richard Nixon de CGI se gravando dizendo falas racistas e muitas outras coisas.

    Mas, não é por usar o clichê a seu favor que Duster escapa de cair em armadilhas, mesmo com uma excelente fotografia, a edição peca em alguns momentos, como: a câmera cortar para o mesmo ângulo, mas usando um take diferente no rosto do protagonista, ficar por menos de 5 segundos e cortar para outro ângulo, servindo para um absoluto nada. Deixando um corte em tela horroroso e desnecessário de se ver.

    O roteiro não te deixa pensando nele por dias e nem é sua intenção fazer isso, mas cumpre o que se propõe, entreter por algumas horas o espectador. Isso, combinado com boas atuações, uma química entre os atores e uma boa direção, faz você ter uma boa série para assistir por algumas horas.

    Por isso, é uma pena, mas não tanto uma surpresa quando a HBO Max anunciou que estava cancelando a série. Por mais que seja divertida e carismatica, ela não teve uma grande divulgação e nem uma boa campanha de marketing, com isso, episódios não tiveram os números de audiência que a HBO queria.

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    Duster | Hbomax

    O que, num palpite certeiro, a empresa por não investir em propaganda e ver que os primeiros episódios não repercutiram muito, já planejavam cancelar a partir dos primeiros episódios. Mas esperaram a conclusão da temporada para dar fim, assim, os índices dos episódios finais não serem mais baixos ainda.

    Se tivesse mais tempo para ficar no catálogo, poderia alcançar público, mas com o cancelamento, ninguém irá ver. A série temina bem, até os 4 minutos finais que abrem vários ganchos para sua segunda temporada (que nunca veremos). Duster vale a pena assistir, mesmo com o cancelamento e se voce mutar os últimos minutos da série, terá uma bela história terminando sem gancho e com Josh Holloway e Rachel Hilson admirando um belo pôr-do-sol de cgi.

    Todos os episódios de Duster estão dispóniveis na HBO Max.

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    CRÍTICA I “Amores Materialistas” e o preço de tentar reinventar o maior sentimento humano

    Após o sucesso sensível de “Vidas Passadas” (2023), Celine Song tropeça em seu segundo filme , com um romance cínico, verborrágico e surpreendentemente genérico.


    “Casamento é um contrato comercial”, declara Lucy (Dakota Johnson) já nas primeiras cenas de Amores Materialistas”. “Sempre foi assim.” A frase define com precisão o olhar cínico da protagonista — e também insinua a proposta do filme: discutir o amor sob a ótica das transações afetivas/financeiras. No entanto, ao longo de quase duas horas, o que se vê é uma história que flerta com a provocação, mas tropeça em escolhas narrativas frágeis e uma condução que se pretende sofisticada, mas termina desequilibrada.

    Na trama, acompanhamos Lucy, uma consultora de casamentos que trata relacionamentos como algoritmos emocionais. Ela está convicta de que o amor pode (e deve) ser medido em planilhas — até se envolver com dois homens completamente opostos: John (Chris Evans), um aspirante a ator falido com charme de galã clássico, e Harry (Pedro Pascal), um milionário emocionalmente disponível.

    Amores Materialistas

    Amores Materialistas I Sony Pictures

    Dividida entre razão e desejo, Lucy tenta aplicar suas próprias fórmulas ao próprio coração. O problema é que, embora o longa tente dar camadas à personagem, sua transformação soa inconsistente. Lucy é apresentada como uma mulher segura, decidida e bem resolvida — e de repente, sem construção adequada, tem suas convicções desmontadas por uma virada pouco verossímil. Especialmente para uma profissional vendida como experiente, a incapacidade de avaliar riscos soa forçada.

    A discussão sobre o amor como uma equação matemática até surge de forma interessante no texto, mas logo se perde em diálogos excessivos e uma verborragia emocional que esgota qualquer tentativa de sutileza. A beleza do “não dito”, tão bem trabalhada pela diretora/roteirista Celine Song (“The Seagull on the Sims 4”) em “Vidas Passadas” (2023), simplesmente desaparece aqui. Ao contrário da estreia, “Amores Materialistas” resulta em um filme inferior, genérico e inchado — levantando a incômoda dúvida: “Vidas Passadas” foi apenas um acaso feliz?

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    Amores Materialistas I Sony Pictures


    Neste novo longa, o triângulo amoroso é batido, previsível e nada empolgante. Por mais que Pedro Pascal (“The Last of Us”) e Chris Evans (“Os Vingadores”) tentem emprestar humanidade aos seus personagens, a presença constante de Dakota Johnson (“Cinquenta Tons de Cinza”) em modo pálido afasta qualquer senso de realismo. Lucy não é tratada como uma mulher comum — e, portanto, sua jornada perde parte do impacto que deveria ter.

    A narrativa ainda tenta mudar de tom na reta final, apostando em um drama repentino com carga trágica. No entanto, esse desvio não só quebra o pouco ritmo conquistado, como recorre a um artifício de gosto duvidoso: um evento extremamente violento sofrido por uma personagem secundária é instrumentalizado como simples catalisador para a epifania da protagonista. Em vez de expandir o debate, essa escolha apenas evidencia o desequilíbrio do roteiro.

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    Amores Materialistas I Sony Pictures


    No fim das contas, “Amores Materialistas” até pode ser assistido sem sofrimento, mas está muito longe de se destacar. É um filme que tenta ser moderno, inteligente e sensível — mas acaba parecendo apenas mais um romance urbano genérico, com pretensões maiores do que sua entrega.

    E considerando que se trata do aguardado segundo longa de Celine Song após a belíssima estreia com “Vidas Passadas”, o saldo é especialmente decepcionante. A promessa de uma nova voz autoral e sensível do cinema contemporâneo, por ora, fica em suspenso.

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  • CRÍTICA | Superman de James Gunn RECUPERA a era de ouro do herói

    CRÍTICA | Superman de James Gunn RECUPERA a era de ouro do herói

    Superman tem como seu maior triunfo a escolha de um elenco contagiante e de um protagonista que soa divergentes de todas as versões vistas até então.

    Superman é um filme que não tinha uma tarefa simples vide toda a construção errada que o universo coordenado por Zack Snyder acabou tendo, sendo este um filme que buscaria reiniciar e precisava de um pontapé certeiro, mas também contando o histórico fracassado de filmes do kryptoniano que não conseguiram acertar o coração do público desde o filme de Richard Donner, realizado em 1978.

    James Gunn, conhecido pela trilogia Guardiões da Galáxia, decide roteirizar e dirigir o longa em busca de recuperar todas as qualidades que existem ao redor deste personagem e que foram perdidas, ainda que nunca tenha sido um herói esquecido pela mídia, já que os seriados não deixavam seu mundo descansar. Indo de Smallville, para Supergirl, e então, a mais recente, Superman & Lois.

    A obra desde o começo toma para si o seu protagonista como alguém falho, alguém que precisa melhorar, que não está perto de ser aquele líder destemido visto no desenho da Liga da Justiça (2001), e acaba por descobrir que seu propósito na Terra era além da que imaginava quando a mensagem de seus pais de sangue é decifrada. O que você faz quando sua crença é abalada?

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    Superman | Warner Bros Pictures

    Superman se propõe a discutir sobre isso, sobre o que se faz em situações extremas, em situações que fogem do nosso controle, e também sobre que mensagem devemos deixar para o resto do mundo, independente do que nos aconteça. Há um claro otimismo dentro da obra que a deixa atraente e viva, questionando a ideia de acabar com vidas ”inferiores” e reavaliando o motivo do povo estar vendo esse herói diferente daqueles que já existiam.

    Todavia, são temas que não passam da superfície, a mensagem é vista, mas não explorada. Pautas são plantadas e acabam não florescendo como deveriam, indo do julgamento por não suportar conflitos para a divergência em como lidar com outros tipos de vida. Personagens, como Jimmy Olsen, têm atitudes que se repetem, seguindo um viés cômico, que acabam perdendo o tom conforme se repitam e não se expliquem.

    Tendo tantos personagens agindo ao mesmo tempo, o filme acaba por inflar e transparecer maior fragilidade ao não conseguir trabalhar sua maioria com a devida atenção, passando a impressão de uma história aleatória em quadrinhos, da qual você cai de paraquedas, o roteirista te explica o que tá acontecendo e os personagens vão seguindo suas vidas. E isso, também enxergo como um triunfo, por deixar a atenção do espectador mais afincada e passar um tom divergente daquele que ficamos acostumados no gênero de super-heróis.

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    Superman | Warner Bros Pictures

    Na parte técnica, não poderia ser deixado de citar as cenas de ação e de vôo. James Gunn encontrou seu estilo e permanece aqui, com uma constante movimentação, giro em 360º, havendo sabedoria nos cortes para se entender o que está acontecendo. Só que a parte chamativa se encontra realmente no Superman voando, apresentando posições de câmera que tragam imersão, como se estivesse junto com o herói, valendo cada segundo da experiência no cinema.

    Superman acaba por seguir uma condução dinâmica, divertida, que fica em constante movimento e entrega uma obra que faltava para o azulão, sabendo dosar humor e drama, no qual passa uma leveza para quem assiste e não fique de fora elementos que fazem parte desse grande personagem. É um inicio promissor para um universo que já soa rico, com elementos criativos, fora do forte tom realista, dando aquela vontade de permanecer por ali.

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  • CRÍTICA | Pecadores é um suspiro para histórias originais no cinema

    CRÍTICA | Pecadores é um suspiro para histórias originais no cinema

    Pecadores chegou à HBO Max provando que é muito mais do que um filme de terror. É uma obra autoral, ousada, e um verdadeiro fôlego criativo num cinema dominado por franquias, continuações e fórmulas repetidas.

    Sob direção de Ryan Coogler, Pecadores é a primeira história 100% original do diretor. O filme mostra que há espaço para narrativas novas, complexas e emocionalmente envolventes, e Michael B. Jordan entrega aqui a melhor atuação de sua carreira.

    Ambientado nos Estados Unidos dos anos 1930, em meio à segregação racial, o filme costura elementos de horror, drama e musical com um pano de fundo histórico potente. A trama mergulha nas raízes do blues e da cultura afro-americana como forma de resistência.

    Michael B. Jordan interpreta dois irmãos gêmeos com personalidades opostas (e é nesse duelo interno que o ator brilha), transitando entre vulnerabilidade e fúria com total domínio de cena.

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    Esse é a quarta vez em que Coogler e Jordan trabalham juntos – Divulgação Warner Bros

    Diferente da pressa comum dos filmes atuais, Pecadores aposta na construção lenta e cuidadosa dos personagens. O roteiro não tem medo de gastar tempo com contexto, ambiente e camadas emocionais. Quando a ação de fato começa, o espectador já está completamente imerso naquele universo.

    A música, elemento central da narrativa, vai além da trilha sonora: ela molda o ritmo, a estética e o sentimento do filme. Ludwig Göransson (vencedor do Oscar por Oppenheimer) entrega mais uma trilha memorável, que amplifica o peso e a beleza de cada cena. É um trabalho sonoro que emociona e assusta ao mesmo tempo.

    Mesmo partindo de uma premissa aparentemente comum (vampiros, ação, dualidade entre irmãos) o filme consegue transformar cada clichê em algo mais profundo. Nada é colocado ali por acaso. Tudo tem propósito: discutir identidade, pertencimento, herança cultural e sobrevivência em um mundo que tenta silenciar certas vozes.

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    A música é essencial para entender a mensagem de “Pecadores” – Divulgação Warner Bros

    A estrutura do filme é clara e direta, mas cheia de camadas. O subtexto está em todos os lugares: nas músicas, nos diálogos e nos olhares. É nesse equilíbrio entre forma e conteúdo que Pecadores se destaca, especialmente num cenário onde o novo virou exceção.

    Se há um ponto fraco, talvez seja a personagem de Hailee Steinfeld. Apesar da boa atuação, ela parece subutilizada na trama, servindo mais como peça dramática do que como alguém com presença real. Sua função na história é funcional, mas emocionalmente rasa.

    Ainda assim, Pecadores é um filme corajoso, que mistura gêneros sem perder sua identidade. Ryan Coogler e Michael B. Jordan mostram novamente a força criativa que têm juntos, e entregam uma obra que fala sobre dor, fé, cultura e resistência com autenticidade.

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    Michael B. Jordan entrega a melhor atuação de sua carreira em Pecadores – Divulgação Warner Bros

    Michael B. Jordan prova sua versatilidade ao estrear em um novo gênero e encarar o desafio de interpretar dois personagens. Ele dá vida a dois irmãos com personalidades totalmente opostas, e faz isso com tanta precisão que a distinção entre eles se torna clara desde os primeiros momentos.

    Mais do que um truque de atuação, essa dualidade se conecta de forma brilhante à narrativa, enriquecendo a jornada emocional do filme.

    Esse é um filme com muita alma e coração. Emocionando e assustando ao mesmo tempo. No fim das contas, é disso que o cinema precisa: histórias que tenham algo real a dizer.

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  • CRÍTICA | O Urso reencontra sua identidade e fortalece laços na 4ª temporada

    CRÍTICA | O Urso reencontra sua identidade e fortalece laços na 4ª temporada

    Na 4ª temporada, O Urso mostra que está amadurecendo: conclui tramas importantes, aprofunda seus personagens e ainda deixa tudo pronto para a 5ª temporada já confirmada.

    A 4ª temporada de O Urso representa um reencontro da série com o que ela tem de mais precioso: seus personagens e os vínculos que os unem. Após uma terceira temporada que dividiu o público, a nova leva de episódios retorna com mais foco às principais histórias da série.

    Diferente do caos explosivo das primeiras temporadas, essa fase aposta na introspecção. O Urso sempre foi uma série sobre pressão, trauma e tentativas de cura. Porém, agora ela abraça também o silêncio, os espaços não ditos, e o cotidiano que pulsa entre panelas e conversas difíceis. É uma série que cresce quando desacelera.

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    Sydney ganha mais espaço na 4ª temporada de O Urso e mostra evolução – Divulgação canal FX

    Com personagens já estabelecidos, a narrativa distribui seus arcos com equilíbrio e maturidade. Syd ganha o protagonismo emocional que merecia, finalmente tendo uma temporada para chamar de sua.

    Enquanto isso, figuras como Tina e Sugar perdem espaço, mas isso é compensado pelo aprofundamento das interações no núcleo principal. A química do elenco está mais afiada do que nunca, e é justamente essa conexão que sustenta o afeto do público.

    Um dos maiores destaques é o sétimo episódio, ambientado no casamento de Tiffany e Frank. Com 69 minutos de duração, ele poderia parecer inflado, mas faz o oposto: expande o universo da série sem perder o ritmo, mostrando que até os personagens secundários são carregados de história e significado. É um episódio que convida o espectador a permanecer. Um respiro. Um lugar seguro.

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    A relação de Richie e Carmy ganha uma nova camada nessa temporada – Divulgação canal FX

    Esse evento também serve como válvula de escape — tanto para Richie quanto para a própria série. Ao colocá-lo em contato com alguém fora do círculo de dor que define os Berzatto, há um momento de liberdade rara, quase terapêutica. É quando a série mais se aproxima da esperança.

    Essa nova temporada mostra como ignorar os próprios problemas e defeitos pode afetar profundamente nossas relações pessoais. A narrativa se constrói em torno dos conflitos internos de cada personagem: a dor de Marcus pela perda da mãe e relacionamento com o pai, as inseguranças de Syd, a difícil tentativa de reconciliação entre Carmy e sua mãe, e o esforço de Richie para lidar com a nova fase da ex-esposa e o impacto disso na relação com sua filha.

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    Claire volta com mais tempo de tela do que na temporada anterior – Divulgação Disney

    Mesmo assim, a temporada tem seus tropeços. A insistência em repetir mensagens como “a importância da família escolhida” e “ninguém está sozinho numa cozinha” pode soar redundante em certos momentos.

    Ainda há tempo demais dedicado à ex-namorada de Carmy, Claire. Molly Gordon ganha um pouco mais de substância neste ano, em comparação à fase romântica com Carmy na segunda temporada, mas Claire ainda é retratada de forma tão angelical e perfeita que destoa de uma série cuja força está justamente em amar os personagens apesar de suas falhas.

    Mas esses pequenos deslizes não tiram o brilho de uma temporada que emociona, reconcilia e pavimenta o futuro.

    Ainda não retornou ao nível das duas primeiras, mas O Urso continua sendo uma das experiências mais sensíveis e humanas da televisão contemporânea, e na 4ª temporada, ela nos lembra o porquê escolhemos voltar.

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  • Crítica | “Quebrando Regras” e o retrato morno de uma revolução

    Crítica | “Quebrando Regras” e o retrato morno de uma revolução

    Quebrando Regras“, lançado em 2025, é um daqueles filmes que carregam uma missão maior do que a própria narrativa ao precisar contar uma história real e que deve ser ouvida em todo o mundo. Inspirado na trajetória de Roya Mahboob, interpretada por Nikohl Boosheri, o filme narra a história de uma professora afegã que ousou aprender e ensinar robótica a meninas em um país onde educar mulheres é visto como desafio e, muitas vezes, como afronta. 

    A protagonista, então, forma o primeiro time de robótica composto apenas por meninas, e leva as competidoras a competições internacionais, atraindo olhares de jornais, políticos, figuras públicas e, também, do Talibã, autoridade em seu país. Infelizmente, a atenção chamada torna cada uma delas e suas famílias em um alvo ambulante do regime. Diante do desafio, a história de “Quebrando Regras” percorre uma parte do sonho de cada uma, desenrolando a cada competição e obstáculo. 

    Divertido e leve, o filme dirigido por Bill Guttentag é acessível a diversos públicos, sem, no entanto, perder de vista o peso do contexto. E um de seus pontos altos é não mergulhar na política ou em estereótipos recorrentes sobre o Oriente Médio. Em vez disso, aposta na força das histórias pessoais, na potência do aprendizado e na capacidade da ciência de literalmente abrir fronteiras. Em tempos em que Hollywood ainda trata o Oriente sob a ótica do exótico ou do trágico, “Quebrando Regras” se destaca por colocar o foco onde deve estar: nas pessoas e no poder da educação, tecnologia e ciência como força de mudança.

    “Quebrando Regras”

    Mas, mesmo com essa abordagem necessária, o filme fica aquém do que poderia ser. Faltou aprofundamento. A história dessas meninas merecia mais camadas, mais tempo para respirar. Em alguns momentos, as emoções parecem contidas demais, como se a direção tivesse receio de ir fundo no drama real. 

    A atuação, especialmente das jovens protagonistas, é um pouco crua, o que é perdoado por serem estreantes, o resultado final perde força.

    Outro ponto que enfraquece a autenticidade do longa é o idioma. Falado quase todo em inglês, o filme perde a textura cultural que um idioma local poderia trazer. Entende-se a escolha, considerando possíveis riscos e censuras do regime afegão, mas ainda assim, o inglês ocidentaliza uma história que tem alma oriental, e isso afeta a experiência.

    No fim, “Quebrando Regras” é um bom filme. Importante, necessário, com uma mensagem linda e personagens inspiradoras, mas poderia ser mais do que isso. Poderia emocionar de verdade, arrancar lágrimas e fazer com que o brilho dessas meninas ecoasse com mais potência. É um retrato digno, mas morno, de uma história que merecia o calor da intensidade que realmente tem.

  • CRÍTICA | Jurassic World: Recomeço entretém quem procura só isso

    CRÍTICA | Jurassic World: Recomeço entretém quem procura só isso

    Jurassic World: Recomeço sofre de repetir problemas do passado, mas também entrega situações que não tinham sido exploradas até então.

    Jurassic World: Recomeço deixa bem claro que mesmo podendo ser uma possibilidade de atrair um novo público, se mantém firme como continuação de toda a franquia, levando em conta acontecimentos do passado, falhas humanas e a lição aprendida de que os seres devem ser deixados em seu próprio habitat.

    A proposta da vez é criar um grupo em que cada pessoa terá uma função característica, em prol de ajudar pessoas ricas a ficarem ainda mais ricas, pegando o sangue de dinossauros que sofreram mutação e podem ajudar na cura de doenças humanas. Durante o percurso, uma família que estava viajando vai se meter na encrenca deles.

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    Jurassic World: Recomeço | Universal Pictures

    Se tratando da história, ainda que simples, o modo como leva a se concretizar é o que pode atrapalhar a experiência daquele que assiste, pois, há muita facilitação e conveniência de roteiro para os personagens escaparem com vida nas situações que se encontram, sendo salvos pelo dinossauro errar o tempo de morder ou por serem imunes à uma queda que é amortecida por galhos.

    Em diversos momentos, acontecem situações bizarras da personagem entrar no carro como se estivesse num filme de espião, de um ser grande desaparecer na floresta em questão de segundos ou de um pacote de Snikers ter uma função absurda graças ao roteiro. Muitas situações que funcionariam em uma animação ou filme de comédia, são colocadas e levadas a sério em Jurassic World: Recomeço.

    Não bastasse isso, os diálogos são cafonas, sem graça e parecem buscar um efeito. Contudo, piora quando o longa-metragem tenta ser engraçado, apresentando relações e situações onde o humor deveria ser o ponto forte, mas raras serão as cenas bem sucedidas nesse departamento. Fica claro uma falta de tato para onde a comédia funcionaria e, principalmente, onde teria sentido o personagem agir ou falar de tal modo.

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    Jurassic World: Recomeço | Universal Pictures

    As cenas com os seres que fazem essa franquia continuar tão forte fazem valer a assistida pela qualidade técnica, pelo novo visual e pelas situações tenebrosas que proporcionam a equipe. A forma que o diretor Gareth Edwards as conduz, começando com eles em segundo plano, para criar uma tensão e iniciar uma sequência em que o nível só eleva, ou brincar com a expectativa, estimula uma experiência agradável.

    Pena, que a resolução das cenas de ação, sofram de preguiça ou, em sua maioria, de um auxílio do roteiro. Todavia, é notável enxergar a belíssima mensagem que o filme procura passar em prol da natureza, da humanidade, de buscar ajudar o próximo ou de entender que há valor nessas vidas que os personagens estão mexendo, fazendo um possível reflexo com a própria natureza selvagem que estamos sempre cutucando, quando só deveríamos nos comportar.

    Vale destacar as referências que o filme busca fazer a trilogia clássica, abusando da nostalgia no uso da trilha sonora de John Williams, sendo o único momento que o som vai chamar a atenção dentro do filme, ou em coisas sutis, como a presença do T-Rex ou a situação perigosa com as crianças dentre corredores.

    Jurassic World: Recomeço em nada recomeça de verdade. Continua, se prende a nostalgia e mesmo que tecnicamente seja magnífico, na parte que mais importa, a magia desse universo adaptado pelo Spielberg, não apresenta algo que brilhe os olhos mesmo com uma mensagem tão otimista.

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  • CRÍTICA| Mesmo com falhas, Round 6 se encerra ressaltando a própria mensagem

    CRÍTICA| Mesmo com falhas, Round 6 se encerra ressaltando a própria mensagem

    Criada por Hwang Dong-hyuk, Round 6 encerra seu terceiro arco com pontos altos, e também alguns baixos, finalizando com coerência, e dividindo o público no processo.

    Obs: a seguinte crítica contém spoilers da última temporada de Round 6.

    Lançada em 2021, Round 6 rapidamente cativou o público por sua brutalidade e originalidade, abrindo portas para diversas outras produções sul coreanas realizadas pela NETFLIX, e enfatizando a força do cinema mundial.

    Com uma forte crítica ao sistema capitalista e à luta de classes, a produção serviu como discussão em muitas áreas, apesar de seu contexto de violência, por consequência, dentro de um serviço capitalista como a NETFLIX, derivados e sequências da produção começaram a serem produzidos, entre elas um reality show que desvirtua por completo a mensagem da produção original, além de “duas temporadas” que encerra o arco de Gi-hun.

    Round 6 não necessitava de uma continuação, porém, inevitavelmente tivemos, assim, em seu terceiro e último arco, a produção apresenta alguns destaques, entre eles possivelmente o melhor episódio da série, e tropeços inevitáveis para uma série que pretende se estender mais do que deveria, como as votações dos participantes que ficaram ainda mais cansativas.

    Para analisar este último arco, é necessário relembrar do último episódio da primeira temporada, quando Gi-hun faz uma aposta com Oh Il-nam, que um morador em situação de rua, congelando em plena nevasca, receberia ajuda. Quando o tempo limite estava quase se encerrando, ele é salvo por um estranho, provando a fé de Gi-hun na bondade da humanidade.

    Quando Gi-hun retorna ao jogo com o intuito de destrui-lo internamente, encontra novamente pessoas mesquinhas e egoístas, porém, também encontra pessoas boas, como Hyun-ju (jogadora 120), Geum-ja (Jogadora 149) e principalmente Jun-hee (jogadora 222), a chave para compreender todo o arco emocional deste final de Round 6.

    Round 6

    Geum-ja, Jun-hee e Hyun-ju em cena de Round 6- Divulgação NETFLIX

    Se olharmos as redes sociais desde o final da temporada, muitos criticam a NETFLIX e defendem um final mais otimista, com todos vivos e bem, ou com seus personagens favoritos vitoriosos, esquecendo qual a série que estão assistindo, e o que fez Round 6 tão popular para início de conversa: é um jogo mortal que somente sobrará um, não existiria a possibilidade da série ter um final feliz, porém, ninguém disse nada sobre um final esperançoso.

    Gi-hun é um homem inerentemente bom. Esta é a sua maior força dentro de um jogo que a humanidade está cada vez mais perdendo o contato com si mesma. Refletindo sobre, acredito que Round 6 não é uma série sobre lutas sociais e capitalismo, é uma série sobre humanidade.

    Após a tentativa fracassada no final da última temporada, Gi-hun perde a fé em si mesmo e no próprio jogo, se martirizando sobre os acontecimentos que se sucederam, porém, bem perto de si, Jun-hee segurava um símbolo de esperança e pureza, que traz um das escolhas narrativas mais interessantes deste último arco: um bebê.

    O símbolo do bebê é um artifício muito usado no cinema, e na literatura, como uma forma de representar esperança e novos caminhos, apesar dos tempos sombrios. Entre vários exemplos, cito aquele que mais ressoa comigo que é o de Rashomon (1951, Akira Kurosawa), uma das melhores produções da sétima arte, e uma também das mais sensíveis.

    O contraponto entre o inocente bebê de Jun-hee, que nasce dentro de um caótico jogo de esconde-esconde, um dos episódios mais maduros da série, é gritante. Quando a mãe morre e o bebê entra em seu lugar no jogo, o abismo é ainda mais forte, até onde vai a maldade da humanidade que coloca um bebê no jogo para seu próprio entretenimento?

    Round 6

    Jun-hee segurando seu bebê em cena de Round 6- Divulgação NETFLIX

    Neste momento que volta uma das melhores interações da segunda temporada, e pouco utilizada neste terceiro arco, que é a relação entre Gi-hun e In-ho, o líder do jogo, que incentiva o protagonista a matar seus oponentes com o intuito de conseguir sair do jogo com vida, e com o bebê. Apesar da ideia ser tentadora, Gi-hun não tem forças para, afinal, ele é um homem bom, não tem em si a maldade dos outros competidores.

    Esta é uma das maiores reflexões deste final de Round 6, a bondade que ainda existe no ser humano, na forma de Gi-hun e da bebê de Jun-hee, em contrapartida a todos os outros competidores finais, não ironicamente, todos homens.

    Em seu ato final, Gi-hun se sacrifica para salvar a bebê, como prometido para a mãe. Em sua fala final, Gi-hun fala uma frase incompleta: “Humanos são…”, dando ao espectador a missão de completar a frase de acordo com o próprio senso de ética, no meu caso, me veio uma frase filosófica que discute os ensinamento de Jean-Jacques Rousseau: “o ser humano nasce bom, a sociedade que o o corrompe”, por consequência, humanos são inerentemente bons, apesar de apresentar potencial para o mal.

    O que Gi-hun tenta nos demonstrar com este final, é justamente isso. Não pretende responder um debate filosófico antigo, mas, trazer esperança, ganhando a admiração até mesmo de In-ho, um homem que não apresenta o mesmo pensamento generoso de seu compatriota, mas, o respeita.

    Apesar de toda esta reflexão, a última temporada de Round 6 tem muita enrolação, provavelmente com o intuito de cumprir a cota de episódios exigidos pelo streaming, incluindo, mas não delimitado à: o arco de Jun-ho enquanto busca a ilha a procura de seu irmão, que é insatisfatório em muitos níveis; as votações constantes que não levam em nada e somente servem para reafirmar um ponto que o espectador já compreendeu; um grupo de “convidados” bem mais insuportável do que os da primeira temporada, entre outros.

    Round 6

    Cena de Round 6- Divulgação NETFLIX

    Com o encerramento de Round 6, e o inevitável encerramento de Stranger Things (2016, Matt Duffer, Ross Duffer), a NETFLIX apresenta consciência que perderá duas de suas maiores séries, por consequência, o final da temporada abre portas para futuros spin offs, que sim, são extremamente desnecessários, porém, dentro do sistema que estamos inseridos, não temos escolha se não aceitar este inevitável “progresso”, e torcer para o melhor, afinal, a partir deste final, Hwang Dong-hyuk impede qualquer sequência.

    Em questão técnica, esta última temporada apresenta problemas semelhantes à 2º temporada, incluindo quebras no ritmo, personagens menos memoráveis e uma tensão bem inferior àquela que existia quando a produção se iniciou, porém, mantendo uma estética cinematográfica de destaque e uma direção de arte esplendorosa.

    Toda produção apresenta uma mensagem potente por trás, quanto melhor a produção, mais mensagens serão encontradas que ressoarão pessoalmente com cada um da audiência. Round 6 se encerra, com consciência de seu legado, apesar de o final decepcionar muitos, caso seja friamente analisado, não existiria outro final possível, nós não vivemos em um conto de fadas, vivemos em um mundo cruel e sombrio que sempre nos derruba, porém, a cada 10 pessoas de índole questionável, existe um Gi-hun, e talvez esta seja a grande mensagem pretendida por Hwang Dong-hyuk: se ele convencer uma pessoa sequer a refletir sobre suas próprias ações, e como ele enxerga a humanidade, terá valido tudo a pena.

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  • CRÍTICA | F1: O Filme parece corrida de verdade, mas não empolga

    CRÍTICA | F1: O Filme parece corrida de verdade, mas não empolga

    F1: O Filme é carismático e apresenta cenas pra lá de impressionantes, mas não consegue repetir o feito do projeto anterior do diretor.

    Algo que tem chamado muito a atenção de F1: O Filme é o fato do diretor ser o mesmo de Top Gun: Maverick e fica claro que ele busca repetir o feito, visto que a nova produção copia diversos elementos deste que citei. E é aí que mora o problema.

    Repetir o feito não é fácil. Filmes de jato são muito mais difíceis de encontrar do que filmes de corrida, trazer um protagonista com um histórico de qualidade que se relaciona com um longa antecessor é diferente de pontuar isso em uma primeira vez e colocar como problema a relação com a juventude, no qual em Top Gun existe uma situação pessoal pra ser resolvida, não vai proporcionar o mesmo peso emocional.

    Enquanto a obra prosseguia, foi difícil não perceber essa familiaridade e sentir que algo estava faltando. Estava faltando novidade. Não estou dizendo que Top Gun: Maverick seja inovador, mas ele se beneficia de ser uma continuação e deixar verossímil as dificuldades que impõe. Aqui, você sabe exatamente onde vai dar cada mini trama e ainda toma algumas decisões questionáveis.

    lewis hamilton brad pitt

    F1: O Filme | Warner Bros Pictures

    Essa parte problemática eu deixo bem relacionada ao personagem Joshua Pearce (Damson Idris), que serve como contra ponto da antiga geração que Sonny Hayes (Brad Pitt) faz parte. Sua personalidade é imatura, mesmo que tenha cabimento com a idade, o auge da carreira e o medo de ser substituído, há um exagero na falta de reconhecer os erros que afasta o espectador. Cenas onde poderia conversar com o protagonista são ignoradas, o que leva a falta de empatia para com os dois na conclusão.

    Agora, sobre a parte que importa pra maioria… sim, as cenas de corrida são incríveis. Todas as posições de câmera escolhidas foram precisas e acertadas, deixando claro que o ator estava dirigindo naquela pista e passando a sensação de fazer parte daquele esporte, um pouquinho de como deve ser. A sensação é de estar vendo uma corrida sendo televisionada e isso diverte, não tenha dúvidas. Contudo, não emociona.

    F1: O Filme não precisa fazer quem assiste chorar, mas precisa fazer torcer, se importar, sentir a dificuldade e comemorar quando vence. E não acho que a obra encontre um jeito de proporcionar isso, seja por entregar um protagonista muito bom desde o início, não colocando uma dificuldade que precise superar, ainda que citem um trauma do passado, isso nunca é abordado com louvor, ou pela relação pouco explorada entre os pilotos.

    F1: O Filme

    F1: O Filme | Warner Bros Pictures

    A calmaria na narrativa é sua parte mais atraente, pois é nela que a direção decide se atentar aos sentimentos de Sonny e Joshua. A conversa na varanda ou o jogo de pôquer são esses momentos que eu ansiava por mais, até seguir pro lugar comum. O humor do filme pode falhar vez ou outra, mas não incomoda. Já a duração do projeto parece se prolongar mais do que deveria ao ficar tanto tempo estagnada em situações que soam cada vez mais repetitivas e clichês.

    F1: O Filme proporciona uma bela experiência para os fãs de fórmula 1 que gostariam de ver algo mais próximo na maior tela possível, entretanto, acaba por deixar de lado uma conduta mais natural e interessante para que o público se aproxime desses heróis tão distantes. O produto final é bem feito, mas traz aquele sentimento agoniante de já ter visto isso com maior carinho e atenção.

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  • CRÍTICA | Missão Impossível : O Acerto Final é a conclusão certa para a franquia

    CRÍTICA | Missão Impossível : O Acerto Final é a conclusão certa para a franquia

    Missão impossível: O Acerto Final pode soar corrido e mentiroso, mas entrega boa parte do que torna esse mundo tão eletrizante e finaliza do jeito que deveria.

    Pelo que pude notar no site, não existem críticas sobre a franquia protagonizada por Tom Cruise, então gostaria de pontuar como ela conseguiu se renovar por tanto tempo, proporcionando pelo menos uma cena que tirava o fôlego por filme e uma evolução narrativa de nunca soar repetitivo, ainda que houvesse toda vez a frase ”sua missão, caso decida aceitar”. Só que vamos adimitir, isso era um charme e tanto da saga, tal como a música principal que nunca deixou de animar quem estivesse ouvindo.

    Sendo assim, chegando em seu sétimo filme, o diretor das últimas produções (”Nação Secreta” e ”Fallout”), Christopher McQuarrie, anunciou que haveria uma história dividida em partes que ofereceria dois longa-metragens (”Acerto de Contas” e ”O Acerto Final”) com a chance de dar um fim para toda essa jornada de Ethan Hunt, na qual a parte 1 abordou mais o sacrifício de entrar na IMF e trouxe de volta um rosto conhecido, indicando que pontas soltas de uma origem não vista retornariam para assombrar o protagonista.

    Missão Impossível: O Acerto Final marca sua estreia como não só a parte 2, que vai concluir toda a trama envolvendo uma inteligência artificial chamada Entidade, tendo como objetivo o controle total das potências mundiais para fazer o que acha melhor com a humanidade, mas também como a provável conclusão da franquia, fazendo algumas homenagens para tudo que essa saga entregou aos fãs e dando um toque definitivo sobre o que cada agente da Força Missão Impossível representa.

    Missão Impossível: O Acerto Final | Paramount Pictures

    Missão Impossível: O Acerto Final | Paramount Pictures

    As referências aos filmes anteriores, ainda que agradáveis e nostálgicas, também passam do ponto a medida que se repetem pela duração, parecendo mais querer dar uma piscada ao fã do que realmente apresentar necessidade para a narrativa, funcionando quando relembra os acontecimentos do longa que antecede a este e ao trazer um objeto não visto há muito tempo de volta ao jogo. Mesmo soando um pouco aleatório.

    O objetivo da história como um todo também acaba por se perder nas próprias ideias, querendo explicar demais tudo que tá acontecendo com uma montagem frenética, que mesmo com o propósito de desenhar para o espectador, acaba deixando mais confuso do que deveria, jogando uma informação atrás da outra que, após se soltar do primeiro ato, esclarece não ser uma missão tão complexa quanto dava a entender.

    Missão Impossível: O Acerto Final demonstra ter noção de onde quer chegar, mas acaba por ignorar o limite de suas capacidades e entregar o impossível, de uma forma que deixe muito claro como o vilão da vez dificilmente seria vencido na vida real. Porém, estamos falando de um filme de ação e aventura, então a suspensão da descrença pode surgir daí, e o filme auxilia para que não vire um problema.

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    Missão Impossível: O Acerto Final | Paramount Pictures

    O nome da salvação é Tom Cruise. Pensa num ator que entrega, que dá tudo de si, para fazer o seu público acreditar no que está vendo em tela. É possível sentir o esforço do ator, e do personagem também, em entregar o que for preciso pra lidar com a sua missão, dando o tom dramático certo para que consigamos sentir seu pesar com o andamento da narrativa e uma agilidade em combate impressionante para um homem que está na casa dos 60 anos, executando todas as cenas malucas que o roteiro exige, como se pendurar num avião e abrir um paraquedas em chamas (cena que o intérprete realizou 16 vezes).

    Obviamente, a condução da direção exerce uma função essencial para que cada cena passe a ansiedade e a adrenalina necessária de modo que o contemplador possa imergir e temer pela forma que o herói vai escapar da situação em que se colocou. Entregando duas cenas que valem a experiência no cinema e se consagram entre as melhores da franquia. A do submarino, que traz um suspense avassalador, e aquela dos aviões, remetendo aos combates aventurescos vistos na franquia do Indiana Jones.

    Missão Impossível: O Acerto Final é a prova viva de como uma franquia pode perdurar com tamanha qualidade, entregando uma sensação que não será possível sentir em casa e um filme de ação que pode ir além da parte mirabolante ao refletir sobre o ser humano nos tempos atuais. O impossível não é uma palavra que podemos permitir que defina nossas ações, principalmente quando parte de uma consequência dos nossos atos. Se fomos capazes de criar algo perigoso, somos capazes de impedir que esse produto nos elimine.

    A mensagem do final, mesmo que soe sentimental demais para uma saga que nunca deu tanta atenção para isso, acaba tornando pertinente a reflexão sobre o protagonista, tudo que ele fez, tendo mais sua credibilidade sendo questionada do que o contrário, e ainda assim, se mantendo firme com seus ideais sobre o bem que a humanidade merece. Servindo de inspiração para ver como toda vida importa e como as escolhas que te definem são àquelas que toma depois dos erros que cometeu.

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    CRÍTICA | Como Treinar o Seu Dragão conseguiu se equiparar ao desenho

    Como Treinar o Seu Dragão é o melhor live-action que vai encontrar, transmitindo a mesma sensação do original. 

    O filme tinha a difícil tarefa de adaptar em live-action certa animação que conquistou uma legião de fãs, inclusive este que vos fala, um desenho que mesmo adaptando um livro de mesmo nome, se distanciava bastante da história como um todo, proporcionando uma mensagem de respeito, mudança, compaixão e adaptação. E felizmente, a adaptação com intérpretes físicos não se esqueceu da parte mais relevante… o coração da obra.

    Caso não saiba, a história acompanha um jovem Soluço (Mason Thames) que é filho de Stoico (Gerard Butler), o líder viking de seu povo, e inesperadamente captura um dragão, um Fúria da Noite, uma espécie que jamais foi pega. Contudo, o garoto não consegue matá-lo e acaba fazendo uma amizade, criando um laço com o ser que receberá o nome de Banguela. Agora, ele precisa convencer o seu povo a deixar de lado uma guerra que persiste por séculos.

    Como Treinar o Seu Dragão | Universal Pictures

    Como Treinar o Seu Dragão | Universal Pictures

    Já de cara é importante ressaltar a criatividade de Como Treinar o Seu Dragão, que quase não existe, já que ao adaptar o desenho de 2010, praticamente copia e cola os diálogos, os planos de câmera e a condunção da narrativa. As qualidades de ser leve, dinâmico ou divertido devem pairar mais sobre quem o fez do zero, do que quem só seguiu a fórmula para o sucesso. Aqui, poucas são as inserções de algo que não foi visto, seja um aprofundamento na relação de Soluço e Astrid (Nico Parker) ou uma participação maior de Melequento (Gabriel Howell) que se tirasse, não faria diferença.

    Dito isso, a qualidade dos efeitos visuais é de se tirar o chapéu, não deixando cartunesco ao trazer os dragões com olhos de gato e nem realista demais a ponto de perder a magia que se via na obra original. Eles tem camadas, possuem uma pele que soa palpável, apresentam personalidade própria por cada espécie e entregam por bastante tempo o que séries como ”House of the Dragon” parecem não conseguir. Cenas de vôo magnéticas, compreensíveis, enxergáveis e tão fluídas que deixam aquele desejo de querer mais.

    O diretor Dean DeBlois e o compositor da trilha sonora John Powell retornam para o trabalho que um dia fizeram, entregando sabiamente o que o fã vai querer ver e ouvir, tal qual o que um espectador calouro poderia querer. Aquele sentimento de aventura, de magia, de um entretenimento feito com cuidado e que busca falar sobre algo. A direção tem noção do tom que precisa dar ao projeto e a música consegue tocar lá no fundo, a ponto de comover os mais nostálgicos.

    Como Treinar o Seu Dragão | Universal Pictures

    Como Treinar o Seu Dragão | Universal Pictures

    Os intérpretes de Soluço e Astrid caem como uma luva, entendendo a personalidade e os trejeitos de seus personagens. Como alguém que estava bem receoso sobre a escolha de ambos, é com muito prazer que dou a notícia de que entregam um ótimo trabalho, com sintonia nas interações e agilidade nas ações. No entanto, a escolha perfeita recai sobre Gerard Butler como Stoico, que já tendo dublado o viking na trilogia da Dreamworks, incorpora o jeito bruto, mas incrementa com carinho no olhar, dando medo pelo tamanho que tem, mas também confiança pelo jeito que trata a todos, nunca soando um clássico vilão para o garoto com seu dragão. Transmitindo camadas que nas animações se desdobraram apenas nas continuações.

    Um ponto que deve ser ressaltado é o ganho de uma experiência mais imersiva por ser live-action, já que em filmes animados nos acostumamos com a falta de verossimilhança em feridas que os personagens podem sofrer, e com atores, a sensação de perigo fica maior, seja no machucado que Soluço pode arranjar treinando com o Banguela ou no embate final devido a um Dragão enorme que destrói com poucos movimentos. Sendo assim, cada cena com os seres alados trazem mais angústia e temor do que na versão animada.

    Como Treinar o Seu Dragão acaba portanto recuperando a alma de seu projeto original, não soando nada inovador, mas transmitindo a mesma sensação. Ainda que tenham cenas cômicas com uma falta de tato por se prolongarem além da cota, a obra entrega um visual que vale a assistida numa tela grande e a condução permite que o tempo passado nem seja notado.

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    CRÍTICA | Predador: Assassino de Assassinos é um presente aos fãs

    Dirigido por Dan Trachtenberg, Predador: Assassino de Assassinos amplia a mitologia e entrega tudo o que sempre desejamos ver de um filme da franquia

    Quando Arnold Schwarzenegger derrotou o primeiro alienígena da franquia em O Predador (1987, John McTiernan), uma produção que se mantém eficiente e atual até hoje, uma curiosidade e um interesse mórbido surgiu da parte dos fãs, afinal, quem é esta criatura? O que come? Onde mora? Por que seu objetivo primário é matar? Quando veremos mais dela?

    A resposta não demorou muito a chegar. Predador 2 (1990, Stephen Hopkins) chegou logo depois e ampliou ainda mais a franquia, e a curiosidade sobre estas feras tão temidas, explicando o fato que elas estão no nosso planeta há tanto tempo quanto a humanidade, sempre observando e sempre matando.

    Após isto, a franquia ganhou algumas sequências de qualidades duvidosas, além de dois filmes de Alien Vs. Predador (2004, Paul W. S. Anderson), que merecem um estudo a parte, com o tempo, perdemos esperanças que veríamos uma produção decente de Predador novamente, porém, a franquia foi renovada com o lançamento de O Predador: A Caçada (2022, Dan Trachtenberg).

    Dan Trachtenberg entendeu algo essencial para a longevidade da franquia: este universo é riquíssimo, porém, se não estiver baseado em emoções humanos, ele nada mais será do que somente uma brincadeira de crianças, assim, com o protagonismo de uma guerreira comanche, o oposto do brucutu de Schwarzenegger, ganhamos um novo gosto, e a curiosidade voltou.

    Predador: assassino de assassinos

    Cena de Predador:Assassino de Assassinos- Divulgação Star+

    Atuando ao mesmo tempo como uma sequência de Predador: A Caçada, e um filme independente, Predador: Assassino de Assassinos é uma animação que entrega o que o público começou a esperar de um filme da franquia: violência, um alienígena muito feio, lutas bem coreografadas com diferentes armas, uma ampliação da mitologia como um todo, e por fim, algo que todo filme deve ter: coração.

    A produção apresenta quatro capítulos bem divididos, e únicos à sua maneira, seja em questão de construção narrativa, ou de cenário ao que os personagens estão inseridos.

    O primeiro se passa na Era Viking e conta a história de uma mãe obcecada por vingança, o segundo se passa no Japão Feudal e conta a história de dois irmãos samurais, o terceiro se passa no começo da segunda guerra mundial e conta a história de um jovem piloto, o quarto unifica todos os capítulos em um grandioso final.

    Existem muitas coisas para se elogiar no filme. A animação obviamente é uma delas, seguindo um estilo fluido semelhante ao de produções como Arcane (2021, Christian Linke, Alex Yee) e Gato de Botas 2: O Último Pedido (2022, Joel Crawford), e que somente cresce ao se somar como uma cinematografia linda e movimentos de câmera dignos da tela grande, indo desde planos sequências maestrais até uma mise in scene louvorosa.

    Em questão narrativa, o fator animação coopera muito mais do que se a produção fosse feita em live-action, afinal, na animação o ritmo é muito distinto, é muito mais fácil ganhar empatia pelos seus personagens, não necessitando tanta explicação ou tempo de tela, e em Predador:Assassino de Assassinos, vemos esta vantagem ser usada até o último momento.

    Predador: assassino de assassinos

    Cena de Predador:Assassino de Assassinos- Divulgação Star+

    Dan Trachtenberg não decepcionou nesta concepção, criando um espetáculo visual e justificando a todo momento o uso do estilo 3d, sobreposto em desenhos bidimensionais, trazendo cenas belíssimas, dignas de serem quadros na parede, além disto, ao focar em 3 relações de amor básicas do ser humano: o amor de uma mãe, o amor fraternal, e o amor por um pai, a audiência se importa com estes personagens, e teme quando o Predador realmente aparece para cada um deles.

    Com muita violência que justifica a sua classificação indicativa, não presenciamos somente um Predador, e sim no mínimo 4, incluindo um rei Predador mostrado no último ato, que se passa no planeta dos alienígenas, sendo esta parte que o filme realmente brilha.

    Para os fãs, mostrar pela primeira vez o planeta dos Predadores, é algo surreal, uma pena que somente ocorre nos últimos 30 minutos, porém, com um ritmo rápido e 4 histórias potentes, não vemos o tempo passar. Com pouquíssimo tempo de tela, cada um de seus três protagonistas consegue mudar e crescer, algo honrável para uma animação do feito.

    Predador

    Cena de Predador:Assassino de Assassinos- Divulgação Star+

    Sabendo muito bem o seu objetivo de entretenimento, Predador: Assassino dos Assassinos aumenta nosso interesse por novos filmes da franquia, como Predador: Terras Selvagens (2025, Dan Trachtenberg), construindo uma necessária ponte entre nosso último contato com a franquia, e um futuro bem próspero, que mostrará pela primeira vez o ponto de vista do caçador, e quem sabe no futuro uma nova tentativa de retratar uma luta entre o Predador e um Xenomorfo?

    Predador: Assassino dos Assassinos já está disponível no Disney+.

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  • Crítica: Cazuza- Boas Novas é um retrato repetitivo da vida do cantor

    Crítica: Cazuza- Boas Novas é um retrato repetitivo da vida do cantor

    Compondo o festival In-Edit Brasil, e dirigido por Nilo Romero, Cazuza-Boas Novas faz um retrato grandioso sobre os últimos anos de vida do cantor, porém, não acrescenta nada novo àquilo que já vimos

    Existem algumas pessoas que deixam sua marca no universo, seja pela sua importância em algum campo científico, ou por conta do modo como consegue transmitir emoções e sentimentos, e para as pessoas que conseguiram acompanhar a ascensão e a queda destas estrelas, elas serão eternamente lembradas. Elvis Presley é uma delas, Ney Matogrosso é um destes e Cazuza atualmente é uma estrela dourada lá no céu, olhando para o povo brasileiro que tanto amava.

    Com mais de 3 milhões de ouvintes mensais no Spotify, e incontáveis mais em outras plataformas digitais e meios analógicos, é impossível demonstrar o impacto de Cazuza, seja no campo musical com a banda Barão Vermelho, ou em sua importância para a quebra do estigma sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), que tristemente o matou em 1990.

    Diversas produções já tentaram captar um pouco desta centelha, tendo o cantor ganho até mesmo uma cinebiografia, Cazuza- O Tempo Não Para (2004, Sandra Werneck, Walter Carvalho), em uma época que não era tão comum quanto atualmente.

    Cazuza

    Cazuza em show apresentado na produção- Foto Arquivo Globo

    Cazuza- Boas Novas, não somente é dirigido por um de seus amigos e colaboradores mais próximos, Nilo Romero, mas também se utiliza de depoimentos de parceiros, colegas, familiares e ex amores. Optando por um modo leve de retrato, afinal, os dias finais do cantor já são pesados por si só, a produção se assemelha em certos momentos com uma conversa de bar, em que grandes amigos relembram com carinho a vida do cantor, inclusive seus podres e momentos que o artista deixava sua ousadia realmente tomar conta.

    Intercalando os depoimentos, Nilo Romero optou por colocar gravações de shows e filmagens amadoras do cantor e de amigos, desde vídeos dos bastidores e notícias televisionadas, até a icônica cena do show no Canecão, em 1988, que Cazuza cuspiu na bandeira do Brasil.

    Demonstrando os altos, baixos, e tristezas do cantor, seja com a doença ou a notícia sensacionalista da Revista Veja que “o matou antes da hora”, a produção é interessante, porém, não apresenta nenhuma grande novidade sobre a vida desta estrela. Para aqueles que já conhecem a história do cantor, praticamente tudo que poderia ser dito sobre Cazuza, já foi dito em outras produções e repetido nesta, assim, o documentário tristemente é eficiente, mas, não se destaca nem esteticamente e nem narrativamente.

    Cazuza

    Cazuza em cena do show “O Tempo Não Para”- Divulgação Oficial

    Cazuza- Boas Novas terá sua estreia nacional durante a 17º Edição do Festival In- Edit Brasil.

    O festival de documentário musical terá sua abertura no dia 11 de Junho de 2025, com o filme Anos 90 – A Explosão do Pagode (2025, Emílio Domingos e Rafael Boucinha), e incluirá em sua programação produções variadas que incluem filmes sobre John Lennon e Yoko One, John Williams, Jackie Shane, entre outros, abordando uma gama variada de universos sonoros nacionais e internacionais.

    Entre os dias 11 e 22 de Junho de 2025, o festival In-Edit Brasil apresentará mais de 60 títulos, ocupando salas do CineSesc, Cinemateca Brasileira, Spcine Olido, Spcine Paulo Emílio (CCSP), Cine Bijou e Cine Matilha (Matilha Cultural), além de oferecer uma programação paralela com shows, debates, encontros e sessões comentadas com convidados especiais.

    Um recorte da programação estará disponível online para todo Brasil, também de forma gratuita, através das plataformas Spcine Play, Sesc Digital e Itaú Cultural Play (IC Play).

    Com entrada  gratuita em todas as sessões, exceto no CineSesc aonde serão vendidos ingressos a preço popular, a programação completa do 17º Festival In-Edit Brasil pode ser encontrado no site: https://br.in-edit.org/.

    Cazuza-Boas Novas terá suas primeiras sessões durante o festival e entrará no circuito nacional no dia 11 de Julho.

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  • CRÍTICA | Bailarina não consegue se desassociar de John Wick 

    CRÍTICA | Bailarina não consegue se desassociar de John Wick 

    Ainda que as cenas de ação sejam boas, Bailarina não dá tempo para a personagem e se deixa atrelar em quem não precisava.

    Eve Macarro (Ana de Armas) é apenas uma criança quando perde seu pai em meio à um caos envolvendo as consequências do que ele fez, portanto, ao ser acolhida por Winston Scott (Ian McShane), a bailarina se entrega às tradições assassinas da Ruska Roma. Já adulta, em uma de suas missões, encontra um homem com a mesma marca daqueles que atacaram sua casa no passado. Iniciando uma perseguição que não terá retorno.

    Se o fã do universo de John Wick está buscando ação, isso é o que não vai faltar. O longa-metragem se atenta a essa característica de tal modo que acabe se deixando levar, dando mais atenção para uma corrida desenfreada do que para uma história relevante que esteja querendo contar. As cenas de luta divertem, trazem uma coreografica compreensível e planos longos. A atriz principal se entrega de corpo e alma ao papel, fazendo jus ao que havia sido visto em ”007: Sem Tempo para Morrer”.

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    Bailarina | Paris Filmes

    No entanto, é importante frisar que filmes de ação não se bastam apenas nisso. A ação deve ser importante para a narrativa, movê-la de algum modo ou trazer algo que realmente chame a atenção. A franquia John Wick se destacou muito pela sua ação extremamente crível, onde era claro a presença de Keanu Reeves em cada cena, tal qual a criatividade de buscar trazer um estilo de luta divergente a cada combate iniciado, seja por um plano sequência ou por envolver cachorros no meio de tudo.

    Então, se a obra não tem algo que vá dar um tom diferenciado, daquele que pode se dizer que nunca se viu, é importante que sua história seja atraente, instigante, movendo a história por meio da ação, mas que se baste pelo roteiro, o que ocorre na franquia Missão Impossível. Infelizmente, não acontece aqui. Já que o tempo dado para o crescimento da personagem é curto, sua evolução não é sentida, os desafios nunca parecem ser dos maiores e quando se mostram a altura, não leva ao fim de sua vida. O cansaço poucas vezes é sentido e o andamento da narrativa, ainda que não canse, também não prende. Entretanto, Eve faz parte de um universo que conquistou muita gente, o que torna a aventura mais atraente.

    A trilha sonora do filme, quando tenta fazer algo próprio, não faz nada demais, mas quando se compara àquela vista nos filmes do Keanu Reeves, consegue até dar uma adrenalina. A fotografia e direção de arte se mantém em pé de igualdade com a franquia, estabelecendo ser uma identidade desse universo, onde a cor neon é forte, a cor azulada é fortificada e os enquadramentos têm ampla noção de como se movimentar em meio ao caos. Sendo bem maneiro de acompanhar, pelo menos pra quem gosta. Todavia, existe um problema no meio disso tudo, que é a forte presença de John Wick.

    Bailarina | Paris Filmes

    Bailarina | Paris Filmes

    Uma coisa seria pontuar no filme em que tempo cronológico ele se encontra dentro dessa saga, outra seria o personagem Baba Yaga virar uma espécie de Sr. Miyagi, mentor, para a protagonista, mostrando a clara evolução que ela teria durante a jornada da obra. Só que Bailarina nos traz uma ideia de quando a história tá acontecendo, proporciona um combate entre os dois e enfia ao final uma sequência de luta desse homem que para a história pouco tem a dizer, soando um serviço aos fãs que acaba por ofuscar o brilho daquela que dá nome ao filme. Ao final do filme, ainda leva a personagem à um caminho familiar que John passou, deixando os dois mais atrelados. E ao final, as cenas que estão na minha cabeça trazem mais o Keanu Reeves do que a Ana de Armas.

    Dito isso, ainda que não tenha a mesma magia dos antecessores, não soa válido dizer que Bailarina destoa muito dos outros, principalmente se comparado ao trabalho da história como um todo que os filmes tinham, que eram simples mesmo. Acontece que por aqui focar em uma outra área que não havia sido explorada, o filme acaba por se entregar à uma jornada genérica quando deveria se atentar mais ao lado que afeta e mexe com as mulheres. Lembra muito o erro que o filme da ”Viúva Negra” cometeu de não se aprofundar na Sala Vermelha. No entanto, a obra não falha em entreter, as motivações de cada personagem são claras e as cenas de luta fogem de algo bagunçado. Restando uma personagem que cativa, tem potencial pro futuro, mas que, no momento, não parece compensar ver mais de sua trajetória.

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  • CRÍTICA | Andor relembra sobre o que STAR WARS sempre foi em sua 2º Temporada

    CRÍTICA | Andor relembra sobre o que STAR WARS sempre foi em sua 2º Temporada

    Além de mudar completamente a forma como as pessoas vão ver o filme que dá final a essa história, Andor mostra o potencial que pode ser alcançado dentro de um universo tão judiado pelos executivos.

    Andor (Diego Luna) se uniu à causa rebelde após sua jornada na primeira temporada, onde depois de tanta reluta, acabou por aceitar o caminho que estava destinado a seguir. E aqui, lida não só com as consequências do que fez, como com outros grupos que querem ajudar, mas podem acabar atrapalhando os planos.

    Com diversos personagens já estando onde deveriam, a nova temporada se preocupa em juntar cada peça necessária, de três em três episódios, no qual um ano se passa por arco, até que enfim se conecte com o filme que dá fim à jornada de Cassian, ”Rogue One: Uma História Star Wars”. Sabendo exatamente quando dar atenção para um e proporcionar um momento relevante para tal.

    O curioso de Andor é que mesmo já existindo um filme que conclui toda a trama, muitos dos personagens do seriado não estão lá, o que ajuda na expectativa para com que desfecho cada um vai receber. E mesmo aqueles que sabemos, conseguem passar por situações que deixam o espectador aflito, seja pela bela preparação com a relevância daquele acontecimento quanto pela dificuldade proposta que indica um perigo mortal.

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    Andor | Disney Plus

    Curiosamente, ainda que distantes um do outro, cada arco da temporada passa um clima e uma situação divergente, sendo desenrolados com um tempo preciso para o que necessitam e dando um final que consegue satisfazer qualquer espectador de acordo com toda a situação que foi trabalhada.

    O primeiro arco da segunda temporada de Andor pode ser considerado o mais morno, vide o protagonista passar boa parte deste preso em uma situação que não deixa muito claro para o que veio, mas que ao pensar na temporada como um todo, conversa com a situação que o Império instaura na galáxia e com a forma que o povo se perde em meio ao perigo de falhar. E nosso protagonista em si, não pode falhar.

    Desde seu acordo com Luthen (Stellan Skarsgard), temos ampla noção do perigo que corre agora e do quão fundamental cada ação sua pode ser, incluindo deixar claro para uma infiltrada que o medo da morte é a base para fortalecer uma luta que acaba sendo de cada um que participa minimamente. Então, cada efeito, ainda que pequeno, será relevante para uma atitude fundamental como a que a Bix (Adria Arjona) tem ou essa mesma de Cassian levará ao surgimento da base rebelde em Yavin.

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    Andor | Disney Plus

    O grande charme por trás dessa série se trás pelo quão cinza cada mísero figurante consegue ser, indo daquele recepcionista do hotel, em Ghorman, para a Kleya (Elizabeth Dulau), que ganha mais relevância conforme a situação saia do controle e a mesma acabe recebendo um episódio solo que a consagra entre as melhores partes da produção como um todo. Mas essa qualidade vai além.

    Andor não é um herói, não é aquele líder com frases motivacionais, que sabe o que necessita fazer e que vai ser tranquilo com possíveis problemas para o que precisa fazer. Syril (Kyle Soller) não é um antagonista dentro do Império, é um homem manipulado que pensava ser correto acreditar no governo. Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) precisa abdicar da vida boa, deixar pessoas próximas terem fins repulsivos para que a vitória da Aliança fique cada vez mais próxima.

    O que cada um desses personagens passa para chegar onde precisa e o modo como o roteiro cutuca cada vez mais a realidade, manifestando a forma como a manipulação midiática tende a ocorrer, afetando os mais beneficiários socialmente, como um genocídio acontece sem controle e como o maior medo daqueles que estão no poder é que o conhecedor da verdade consiga abrir a sua boca. Tudo isso é abordado com dureza e maestria.

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    Andor | Disney Plus

    O terceiro arco de Andor, especificamente os episódios “Who Are You?” e “Welcome to the Rebellion”, se mostra o auge da produção, colocando-a entre as melhores séries dos últimos anos, ao trazer um ato de crueldade que foi bem organizado, afetando até quem fazia parte do lado errado, e um ato de rebeldia, um discurso não preparado, que depois de exposto necessita de proteção para brilhar ainda mais quando viajar pela galáxia.

    O final do programa, por sua vez, decide ser mais introspectivo, fechando as pontas soltas, esclarecendo onde cada personagem está e como o futuro é glorioso mesmo que a conclusão não seja vista aqui (prosseguindo para Rogue One e Uma Nova Esperança), pois as missões tiveram resultado e cada um está onde deveria, como tem de ser.

    A parte técnica das produções de StarWars sempre são mais complicadas de achar um defeito, mas o nível daqui é mais alto. Em roteiro, é superior a qualquer obra da franquia. Em fotografia, há uma forte noção da mensagem que continua mesmo no silêncio, com planos mais abertos para dar a dimensão do quão pequenos se sentem com a opressão do Império e planos mais fechados na janela para dar um vislumbre do futuro, da esperança.

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    Andor | Disney Plus

    A trilha sonora de Brandon Roberts evolui o trabalho brilhante que havia sido realizado na temporada antecessora, por Nicholas Britell, evocando batidas frenéticas para causar ansiedade, implementando um belo drama em momentos bons ou ruins, além de variar com músicas eletrônicas, músicas com instrumentos que dão um aspecto rural e músicas cantadas, até em coro, para marcar a luta do povo de Ghorman. Sempre de arrepiar.

    Andor é um lembrete sobre o que não podemos deixar acontecer, uma declaração em prol do senso de justiça que existe em cada um de nós e uma prova de que a guerra, antes de ir para as estrelas, começa embaixo, no solo, com pequenas atitudes que acendem a chama da busca por um amanhã melhor.

    Ainda que alguns relutem, a decisiva escolha entre abaixar a cabeça ou sacrificar o que ama, em prol de derrubar àqueles que pisam sem piedade, é aquela que te define pro resto da vida. Andor mostra o luto que vem com isso, mas também o regozijo de compreender que gerações futuras estarão melhores graças ao que fez.

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  • Crítica | 36 anos depois, Ilha das Flores continua relevante

    Crítica | 36 anos depois, Ilha das Flores continua relevante

    Dirigido por Jorge Furtado, Ilha das Flores demonstra a força de um retrato, e os impactos da economia e da luta de classes dentro da sociedade

    Eleito pela Abraccine como o melhor curta metragem brasileiro de todos os tempos, Ilha das Flores é considerado, por seu diretor, um ensaio cinematográfico. Apesar de ser enxergado como documentário, o curta apresenta atores, se inicia com a afirmação que Deus não existe, e nem mesmo foi filmado na Ilha das Flores por si, porém, sua discussão sobre os impactos da economia e do lixo na relação entre seres humanos, e na luta de classes como um todo, continua extremamente atual.

    Ilha das Flores não retrata somente uma região de Porto Alegre, ele abre discussões para os impactos do desperdício, a luta de classes entre aquele que produz e aquele que consome, a fome, a pobreza, entre outras discussões, porém, em nenhum momento é visto como militante, na verdade, o curta consegue ser dinâmico por conta de sua montagem e humor.

    Jorge Furtado é um dos cineastas mais inteligentes que temos atualmente em nosso cinema, tendo a habilidade de tornar discussões densas, em algo leve e dinâmico, seja no curta ou em outras produções como Saneamento Básico, o filme (2007, Jorge Furtado).

    Ilha das Flores é narrado pelo eterno Paulo José, e apresenta marcas artísticas de Furtado que também podem ser encontradas no recente Virginia e Adelaide (2024, Yasmin Thayná e Jorge Furtado), utilizando-se de uma edição rápida e didática, para elaborar um assunto complexo.

    Ilha das Flores

    Cena de Ilha das Flores- Divulgação Oficial

    Uma produção amplamente mostrada em diferentes graus de escolaridade, seja ensino fundamental, médio, graduação ou pós graduação, Ilha das Flores é um filme que fala com todo mundo, apesar de ficar cansativo após um tempo por conta do forte uso de inferências lógicas.

    Uma inferência lógica se resume em um problema de raciocínio, no caso de Ilha das Flores é uma relação de causa e consequência, se iniciando com um cultivador de tomates chamado Senhor Suzuki, e se encerrando em um paradoxo ao tentar discutir liberdade, algo que ninguém sabe explicar e, por consequência, finalizando o ensaio por não ter para onde correr.

    Ao longo destes 36 anos, Ilha das Flores impactou muito a região de Porto Alegre, segundo o artigo de Carlos Redel, copiado na integra para o site da casa de Cultura de Porto Alegre, alguns moradores da região não enxergam veracidade na produção de Furtado.

    Talvez este seja um dos maiores fantasmas da produção, ser um documentário e um retrato social e político, porém, apresentar tantas questões ficcionais que acaba caindo na sátira. O senhor Suzuki não se chama Suzuki, a família representada, são atores contratados, o retrato da situação na Ilha das Flores é importante, porém, a produção nem mesmo foi filmada na própria ilha, tendo sido gravada à 2 quilômetros do local, como exposto nos créditos do próprio curta metragem.

    Ilha das Flores

    Cena de Ilha das Flores- Divulgação Oficial

    Para aumentar a força do ‘documentário’, foi construído uma narrativa em cima dos fatos reais, como a situação em que os moradores disputavam comida com os porcos, algo exagerado e inverossímil, segundo os próprios moradores.

    O relançamento de Ilha das Flores, juntamente com Saneamento Básico, o filme, faz total sentido, afinal, ambos se utilizam do humor para discutir assuntos sérios como ambientalismo, e o descaso que a população deve lidar, por falta de opção, dentro de uma sociedade nem um pouco meritocrática.

    Ilha das Flores, é um relançamento da Vitrine Filmes, e volta aos cinemas nacionais, juntamente com Saneamento Básico, o filme, em cópia restaurada, a partir do dia 29 de Maio.

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    CRÍTICA | Após 18 anos, ‘Saneamento Básico, o filme’ ficou AINDA MELHOR

    Dirigido por Jorge Furtado, ‘Saneamento Básico, o filme’ se utiliza de um humor rápido e crítico para discutir o cinema e a sociedade como um todo

    Desde crianças, apresentamos o costume de consumir produções audiovisuais, sejam desenhos, filmes ou alguma outra forma de conteúdo, porém, em um país como o Brasil, o costume de consumir produções nacionais, algo que deveria ser instaurado e incentivado desde o berço, não é comum, pelo contrário, o cinema nacional é visto, por muitos, como fraco, ruim, ou outros adjetivos de baixo escalão que não cabem aqui nesta crítica.

    Esta mentalidade é comum em parte da população nacional, porém, se levarmos este pensamento em consideração, perderemos a oportunidade de desfrutar de produções excelentes como os recentes Homem com H (2025, Esmir Filho), e Manas (2025, Marianna Brennand Fortes) ou clássicos nacionais como Saneamento Básico, o filme.

    Dirigido por Jorge Furtado, responsável pela realização do eterno Ilha das Flores (1989, Jorge Furtado) e O Homem que Copiava (2003, Jorge Furtado), Saneamento Básico, o filme é uma comédia de muitas camadas, sendo uma produção que critica a política e a burocracia brasileira, questiona sobre a importância de verbas públicas, ao mesmo tempo que é uma homenagem não somente ao cinema como um todo, mas, principalmente ao cinema brasileiro e a sua luta por reconhecimento e destaque.

    Saneamento Básico

    Bruno Garcia, Tonico Pereira, Fernanda Torres, Wagner Moura e Camila Pitanga em cena de Saneamento Básico, o filme- Divulgação oficial Globo Filmes

    Existem vários filmes que dialogam com a própria arte de se fazer cinema, desde clássicos como A Noite Americana (1973, François Truffaut), séries como O estúdio (2025, Evan Goldberg e Seth Rogen) até nacionais como Sábado (1994, Ugo Giorgetti), porém, Saneamento Básico, o filme se destaca por conta da humanidade e inocência de seus personagens.

    Parafraseando uma fala de Fabrício, Bruno Garcia: “na Linha Cristal só tem caipiras”, e justamente estes caipiras que decidem fazer um filme com o intuito de arrecadar dinheiro para construir uma fossa, porém, com a exceção de um empolgado Lázaro Ramos, nenhum de seus protagonistas apresenta a menor ideia do que seria sequer, um filme de ficção, muito menos sobre as nuanças que envolvem uma produção audiovisual, eis que entra o rico humor de Jorge Furtado.

    Diferente de outros filmes do mesmo estilo, Saneamento Básico, o filme, traz uma comunicação franca e honesta com seu espectador, seus personagens são falhos, gritam muito e apresentam corações, ao final, todos são falhos, isto que os torna tão interessantes, engraçados e dignos de empatia.

    Apresentando uma mensagem clara àqueles que estejam abertos a aceitá-la, porém, sem ser militante em nenhum momento, a produção é uma comédia de absurdos e ridículos que nos diverte do começo ao fim, sem jamais se esquecer da sociedade ao seu redor.

    Saneamento Básico

    Lazaro Ramos, Fernanda Torres e Wagner Moura em cena de Saneamento Básico, o Filme- Divulgação Globo FIlmes

    Na melhor forma Aristotélica, Saneamento Básico, o filme, se utiliza do humor para mostrar as imperfeições humanas, criticando os vícios e defeitos sociais, neste caso especificamente seria na forma da burocracia política e da figura do prefeito de Vila Cristal, um espelho para algo comum em todo o país, ao se tratar de poder público, sejam as reclamações sobre tarifas tributárias, ou a verba insuficiente e mal planejada para o município.

    De forma orgânica e fluida, Saneamento Básico, o filme, é uma produção simples, acessível ao grande público, ao mesmo tempo que constrói momentos icônicos para a mitologia audiovisual nacional, como Silene Segal, aproveitando a força e determinação do brasileiro para construir uma crítica política e social, sem deixar de lado o entretenimento e toda a beleza possível que o cinema pode proporcionar, seja em quesito técnica, de construção de personagens ou de um excelente roteiro em sua totalidade.

    Saneamento Básico, o Filme, é um relançamento da Vitrine Filmes, e volta aos cinemas nacionais, em cópia restaurada, a partir do dia 29 de Maio.

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    CRÍTICA | “O Esquema Fenício” – Quando a fórmula se esgota

    Wes Anderson, em “O Esquema Fenício”, entrega mais uma obra visualmente impecável, mas esvaziada de conteúdo, transformando seu estilo autoral em uma caricatura de si mesmo.

    É impossível ignorar a precisão estética de um filme do diretor Wes Anderson (“O Fantástico Sr. Raposo”). Paletas de cores calculadas, figurinos impecáveis e composições simétricas marcam sua assinatura. Em O Esquema Fenício, que estreou no Festival de Cannes 2025, Anderson assume também o roteiro e a produção, reafirmando sua obsessão pelo controle visual. O problema é que esse rigor vem acompanhado de um evidente desgaste criativo.

    A trama envolve um sombrio conto de espionagem centrado no tenso relacionamento entre pai e filha à frente de uma empresa familiar. As reviravoltas giram em torno de traições e dilemas morais.

    O Esquema Fenício

    O Esquema Fenício I Universal Pictures


    Anderson organiza o filme em capítulos e aposta em encontros cuidadosamente orquestrados como pontos de virada — uma proposta que, no papel, soa interessante. Na prática, porém, resulta em uma sátira autocentrada, quase uma paródia da própria obra do cineasta. Falta originalidade e, sobretudo, envolvimento emocional. O longa se arrasta, preso em blocos autoindulgentes e um excesso de informações que pouco contribuem para a narrativa.

    Visualmente, o padrão de excelência do diretor se mantém, com o design de produção de Adam Stockhausen (“A Crônica Francesa”) e o figurino de Milena Canonero (“O Grande Hotel Budapeste”). No entanto, o impacto desses elementos já não surpreende. A estética vibrante, os cenários estilizados e a geometria das cenas — outrora encantadores — agora parecem previsíveis, quase automáticos.

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    O Esquema Fenício I Universal Pictures


    O elenco estelar, mais uma vez, como nos últimos títulos de Wes Anderson, é mal aproveitado. Grandes nomes ocupam papéis sem profundidade ou função narrativa clara, acentuando a sensação de desperdício. Há muito talento para personagens tão rasos.

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    O Esquema Fenício I Universal Pictures


    A falta de desenvolvimento compromete também o suspense e o impacto dramático. O filme revela cedo demais suas intenções, eliminando qualquer possibilidade de surpresa. Os coadjuvantes são esquecíveis e o desfecho, que tenta soar grandioso, soa apenas protocolar.

    No fim, “O Esquema Fenício” é uma vitrine requintada de elementos já conhecidos, que, repetidos à exaustão, perdem força. A genialidade estética de Wes Anderson continua evidente, mas seu cinema parece prisioneiro de uma fórmula que não se renova — apenas se repete. E quando o estilo sobrepõe a substância, resta pouco além da moldura.

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