Dirigido por Jorge Furtado, Ilha das Flores demonstra a força de um retrato, e os impactos da economia e da luta de classes dentro da sociedade
Eleito pela Abraccine como o melhor curta metragem brasileiro de todos os tempos, Ilha das Flores é considerado, por seu diretor, um ensaio cinematográfico. Apesar de ser enxergado como documentário, o curta apresenta atores, se inicia com a afirmação que Deus não existe, e nem mesmo foi filmado na Ilha das Flores por si, porém, sua discussão sobre os impactos da economia e do lixo na relação entre seres humanos, e na luta de classes como um todo, continua extremamente atual.
Ilha das Flores não retrata somente uma região de Porto Alegre, ele abre discussões para os impactos do desperdício, a luta de classes entre aquele que produz e aquele que consome, a fome, a pobreza, entre outras discussões, porém, em nenhum momento é visto como militante, na verdade, o curta consegue ser dinâmico por conta de sua montagem e humor.
Jorge Furtado é um dos cineastas mais inteligentes que temos atualmente em nosso cinema, tendo a habilidade de tornar discussões densas, em algo leve e dinâmico, seja no curta ou em outras produções como Saneamento Básico, o filme (2007, Jorge Furtado).
Ilha das Flores é narrado pelo eterno Paulo José, e apresenta marcas artísticas de Furtado que também podem ser encontradas no recente Virginia e Adelaide (2024, Yasmin Thayná e Jorge Furtado), utilizando-se de uma edição rápida e didática, para elaborar um assunto complexo.

Cena de Ilha das Flores- Divulgação Oficial
Uma produção amplamente mostrada em diferentes graus de escolaridade, seja ensino fundamental, médio, graduação ou pós graduação, Ilha das Flores é um filme que fala com todo mundo, apesar de ficar cansativo após um tempo por conta do forte uso de inferências lógicas.
Uma inferência lógica se resume em um problema de raciocínio, no caso de Ilha das Flores é uma relação de causa e consequência, se iniciando com um cultivador de tomates chamado Senhor Suzuki, e se encerrando em um paradoxo ao tentar discutir liberdade, algo que ninguém sabe explicar e, por consequência, finalizando o ensaio por não ter para onde correr.
Ao longo destes 36 anos, Ilha das Flores impactou muito a região de Porto Alegre, segundo o artigo de Carlos Redel, copiado na integra para o site da casa de Cultura de Porto Alegre, alguns moradores da região não enxergam veracidade na produção de Furtado.
Talvez este seja um dos maiores fantasmas da produção, ser um documentário e um retrato social e político, porém, apresentar tantas questões ficcionais que acaba caindo na sátira. O senhor Suzuki não se chama Suzuki, a família representada, são atores contratados, o retrato da situação na Ilha das Flores é importante, porém, a produção nem mesmo foi filmada na própria ilha, tendo sido gravada à 2 quilômetros do local, como exposto nos créditos do próprio curta metragem.

Cena de Ilha das Flores- Divulgação Oficial
Para aumentar a força do ‘documentário’, foi construído uma narrativa em cima dos fatos reais, como a situação em que os moradores disputavam comida com os porcos, algo exagerado e inverossímil, segundo os próprios moradores.
O relançamento de Ilha das Flores, juntamente com Saneamento Básico, o filme, faz total sentido, afinal, ambos se utilizam do humor para discutir assuntos sérios como ambientalismo, e o descaso que a população deve lidar, por falta de opção, dentro de uma sociedade nem um pouco meritocrática.
Ilha das Flores, é um relançamento da Vitrine Filmes, e volta aos cinemas nacionais, juntamente com Saneamento Básico, o filme, em cópia restaurada, a partir do dia 29 de Maio.
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