CRÍTICA | Após 18 anos, ‘Saneamento Básico, o filme’ ficou AINDA MELHOR

Saneamento Básico

Dirigido por Jorge Furtado, ‘Saneamento Básico, o filme’ se utiliza de um humor rápido e crítico para discutir o cinema e a sociedade como um todo

Desde crianças, apresentamos o costume de consumir produções audiovisuais, sejam desenhos, filmes ou alguma outra forma de conteúdo, porém, em um país como o Brasil, o costume de consumir produções nacionais, algo que deveria ser instaurado e incentivado desde o berço, não é comum, pelo contrário, o cinema nacional é visto, por muitos, como fraco, ruim, ou outros adjetivos de baixo escalão que não cabem aqui nesta crítica.

Esta mentalidade é comum em parte da população nacional, porém, se levarmos este pensamento em consideração, perderemos a oportunidade de desfrutar de produções excelentes como os recentes Homem com H (2025, Esmir Filho), e Manas (2025, Marianna Brennand Fortes) ou clássicos nacionais como Saneamento Básico, o filme.

Dirigido por Jorge Furtado, responsável pela realização do eterno Ilha das Flores (1989, Jorge Furtado) e O Homem que Copiava (2003, Jorge Furtado), Saneamento Básico, o filme é uma comédia de muitas camadas, sendo uma produção que critica a política e a burocracia brasileira, questiona sobre a importância de verbas públicas, ao mesmo tempo que é uma homenagem não somente ao cinema como um todo, mas, principalmente ao cinema brasileiro e a sua luta por reconhecimento e destaque.

Saneamento Básico

Bruno Garcia, Tonico Pereira, Fernanda Torres, Wagner Moura e Camila Pitanga em cena de Saneamento Básico, o filme- Divulgação oficial Globo Filmes

Existem vários filmes que dialogam com a própria arte de se fazer cinema, desde clássicos como A Noite Americana (1973, François Truffaut), séries como O estúdio (2025, Evan Goldberg e Seth Rogen) até nacionais como Sábado (1994, Ugo Giorgetti), porém, Saneamento Básico, o filme se destaca por conta da humanidade e inocência de seus personagens.

Parafraseando uma fala de Fabrício, Bruno Garcia: “na Linha Cristal só tem caipiras”, e justamente estes caipiras que decidem fazer um filme com o intuito de arrecadar dinheiro para construir uma fossa, porém, com a exceção de um empolgado Lázaro Ramos, nenhum de seus protagonistas apresenta a menor ideia do que seria sequer, um filme de ficção, muito menos sobre as nuanças que envolvem uma produção audiovisual, eis que entra o rico humor de Jorge Furtado.

Diferente de outros filmes do mesmo estilo, Saneamento Básico, o filme, traz uma comunicação franca e honesta com seu espectador, seus personagens são falhos, gritam muito e apresentam corações, ao final, todos são falhos, isto que os torna tão interessantes, engraçados e dignos de empatia.

Apresentando uma mensagem clara àqueles que estejam abertos a aceitá-la, porém, sem ser militante em nenhum momento, a produção é uma comédia de absurdos e ridículos que nos diverte do começo ao fim, sem jamais se esquecer da sociedade ao seu redor.

Saneamento Básico

Lazaro Ramos, Fernanda Torres e Wagner Moura em cena de Saneamento Básico, o Filme- Divulgação Globo FIlmes

Na melhor forma Aristotélica, Saneamento Básico, o filme, se utiliza do humor para mostrar as imperfeições humanas, criticando os vícios e defeitos sociais, neste caso especificamente seria na forma da burocracia política e da figura do prefeito de Vila Cristal, um espelho para algo comum em todo o país, ao se tratar de poder público, sejam as reclamações sobre tarifas tributárias, ou a verba insuficiente e mal planejada para o município.

De forma orgânica e fluida, Saneamento Básico, o filme, é uma produção simples, acessível ao grande público, ao mesmo tempo que constrói momentos icônicos para a mitologia audiovisual nacional, como Silene Segal, aproveitando a força e determinação do brasileiro para construir uma crítica política e social, sem deixar de lado o entretenimento e toda a beleza possível que o cinema pode proporcionar, seja em quesito técnica, de construção de personagens ou de um excelente roteiro em sua totalidade.

Saneamento Básico, o Filme, é um relançamento da Vitrine Filmes, e volta aos cinemas nacionais, em cópia restaurada, a partir do dia 29 de Maio.

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