Animais Perigosos tem uma história que podia envolver e deixar tenso, mas opta por tomar decisões questionáveis que tornam a experiência angustiante.
O começo de Animais Perigosos diz muito sobre ele num geral. Um casal quer ter uma experiência marítima de ver tubarões de perto, dentro de uma gaiola metálica, a moça começa a ficar com medo pelas histórias aterrorizantes que aconteceram com esses animais. A montagem e trilha sonora fazem questão de explorar o terror do que pode vir a acontecer, sendo bem preciso quanto ao que vai acontecer, o que já atrapalha a imersão, porque torna o que vem a seguir esperado. No entanto, uma virada acontece e indica que toda a parte escancarada foi proposital, o filme queria brincar com o espectador e vai contar outro tipo de história agora, ainda mais interessante. Só que a execução joga tudo de bom pro alto.
O diretor Sean Byrne parece querer tanto fazer algo surpreendente, fora do habitual, que acaba por deixar o rumo escolhido sem lógica. Até pode ser pensado uma lógica, mas falta verossimilhança e sobra o questionamento do quão provável seria tal ocorrido ou tal escapatória. Isso, quando não acaba por fazer algo cafona, que traga vergonha, onde duas pessoas se conhecem e um foco é dado para o aperto de mãos, ou a proposta de abordar os tubarões como seres vivos com compaixão, acreditando que trazer uma cena de conexão instantânea, sem um preparo antes, vai causar uma comoção como se fosse o clássico “E.T. – O extraterrestre”.

Animais Perigosos | Diamond Films
Dando alguns exemplos, sem esclarecer o que vai acontecer na obra. Muitas vezes, Animais Perigosos toma uma decisão que de primeira é interessante e poderia acontecer, mas a forma como é explorada, aprofundada, é o que estraga a assistida. O personagem está buscando uma pessoa e revela ter os sentidos aguçados como o Superman. De acordo com a tensão que procura causar, a ameaça do tubarão varia entre ter um ou muitos, com um escolhendo se vai querer aparecer ou apenas beliscar. Existe um local cheio de luzes, com barulho de muita conversa, mas ninguém ouve os gritos, o som de motor do barco, ou vê as luzes fortes de uma balsa chegando em um mar aberto. E acredite, tem mais do que isso.
Quando se trata dos intérpretes de cada personagem, quem se destaca positivamente é a protagonista Zephyr (Hassie Harrison) por conseguir expor fluidez em seus diálogos, trazer um olhar imponente que leve a acreditar em sua capacidade, tal como, sua expressão física passa muita segurança sobre quem é e o que pode fazer, não fazendo o papel da protagonista que aprende a se defender… ela já sabe. Já seu rival Tucker (Jai Courtney) fica preso ao esteriótipo do homem sem parafuso, que vê diversão em tudo, passa do ponto no jeito gozado de ser e consegue ser mais superficial que uma parede. O resto do elenco não incomoda, mas também não chama a atenção.

Animais Perigosos | Diamond Films
Como um filme que se propõe a causar terror, mesmo que psicológico, ele acaba por errar no propósito graças à sua montagem. Um trilha sonora densa é posta antes de qualquer acontecimento relevante, já indicando que algo possa acontecer, então quando ocorre não surpreende. Poucas são as vezes que a obra decide deixar o som ambiente e proporcionar uma surpresa, um clima silencioso, que traz a verdadeira sensação de terror para imaginar o que de pior pode vir. Mas aí, vem os cortes bruscos e rápidos entre as ações dos personagens, dando uma sensação desconfortável sobre como uma coisa levou a outra, mais afastando quem assiste do que aproximando para ficar empolgado ou tenso.
No meio disso tudo, é notável que Animais Perigosos faça questão de desconstruir a ideia sobre o tubarão ser esse animal marítimo aterrorizante que vai matar qualquer um que passar perto, trazendo informações que têm base se for pesquisar (coisa que eu fiz hahaha) e um apreço para o quão calmos, singelos, podem acabar sendo. Isso funcionaria bastante se a proposta do filme fosse abordar o que são os tubarões, mas eles são objetos, usados para um meio nesse filme, não qualquer coisa além disso. Então, na última vez que trazem isso, chega de forma inapropriada, deixando uma cena cafona que funcionaria melhor em um filme do herói Aquaman.
Concluindo, o filme claramente quer ser levado a sério, mas acaba por querer abordar temas demais e não conseguir casar as tramas que se interessa em debater, acreditando que poderia ter sido de tudo (filme de romance, comédia, terror ou drama), o que resta a ser apenas vazio.
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