Ainda que as cenas de ação sejam boas, Bailarina não dá tempo para a personagem e se deixa atrelar em quem não precisava.
Eve Macarro (Ana de Armas) é apenas uma criança quando perde seu pai em meio à um caos envolvendo as consequências do que ele fez, portanto, ao ser acolhida por Winston Scott (Ian McShane), a bailarina se entrega às tradições assassinas da Ruska Roma. Já adulta, em uma de suas missões, encontra um homem com a mesma marca daqueles que atacaram sua casa no passado. Iniciando uma perseguição que não terá retorno.
Se o fã do universo de John Wick está buscando ação, isso é o que não vai faltar. O longa-metragem se atenta a essa característica de tal modo que acabe se deixando levar, dando mais atenção para uma corrida desenfreada do que para uma história relevante que esteja querendo contar. As cenas de luta divertem, trazem uma coreografica compreensível e planos longos. A atriz principal se entrega de corpo e alma ao papel, fazendo jus ao que havia sido visto em ”007: Sem Tempo para Morrer”.

Bailarina | Paris Filmes
No entanto, é importante frisar que filmes de ação não se bastam apenas nisso. A ação deve ser importante para a narrativa, movê-la de algum modo ou trazer algo que realmente chame a atenção. A franquia John Wick se destacou muito pela sua ação extremamente crível, onde era claro a presença de Keanu Reeves em cada cena, tal qual a criatividade de buscar trazer um estilo de luta divergente a cada combate iniciado, seja por um plano sequência ou por envolver cachorros no meio de tudo.
Então, se a obra não tem algo que vá dar um tom diferenciado, daquele que pode se dizer que nunca se viu, é importante que sua história seja atraente, instigante, movendo a história por meio da ação, mas que se baste pelo roteiro, o que ocorre na franquia Missão Impossível. Infelizmente, não acontece aqui. Já que o tempo dado para o crescimento da personagem é curto, sua evolução não é sentida, os desafios nunca parecem ser dos maiores e quando se mostram a altura, não leva ao fim de sua vida. O cansaço poucas vezes é sentido e o andamento da narrativa, ainda que não canse, também não prende. Entretanto, Eve faz parte de um universo que conquistou muita gente, o que torna a aventura mais atraente.
A trilha sonora do filme, quando tenta fazer algo próprio, não faz nada demais, mas quando se compara àquela vista nos filmes do Keanu Reeves, consegue até dar uma adrenalina. A fotografia e direção de arte se mantém em pé de igualdade com a franquia, estabelecendo ser uma identidade desse universo, onde a cor neon é forte, a cor azulada é fortificada e os enquadramentos têm ampla noção de como se movimentar em meio ao caos. Sendo bem maneiro de acompanhar, pelo menos pra quem gosta. Todavia, existe um problema no meio disso tudo, que é a forte presença de John Wick.

Bailarina | Paris Filmes
Uma coisa seria pontuar no filme em que tempo cronológico ele se encontra dentro dessa saga, outra seria o personagem Baba Yaga virar uma espécie de Sr. Miyagi, mentor, para a protagonista, mostrando a clara evolução que ela teria durante a jornada da obra. Só que Bailarina nos traz uma ideia de quando a história tá acontecendo, proporciona um combate entre os dois e enfia ao final uma sequência de luta desse homem que para a história pouco tem a dizer, soando um serviço aos fãs que acaba por ofuscar o brilho daquela que dá nome ao filme. Ao final do filme, ainda leva a personagem à um caminho familiar que John passou, deixando os dois mais atrelados. E ao final, as cenas que estão na minha cabeça trazem mais o Keanu Reeves do que a Ana de Armas.
Dito isso, ainda que não tenha a mesma magia dos antecessores, não soa válido dizer que Bailarina destoa muito dos outros, principalmente se comparado ao trabalho da história como um todo que os filmes tinham, que eram simples mesmo. Acontece que por aqui focar em uma outra área que não havia sido explorada, o filme acaba por se entregar à uma jornada genérica quando deveria se atentar mais ao lado que afeta e mexe com as mulheres. Lembra muito o erro que o filme da ”Viúva Negra” cometeu de não se aprofundar na Sala Vermelha. No entanto, a obra não falha em entreter, as motivações de cada personagem são claras e as cenas de luta fogem de algo bagunçado. Restando uma personagem que cativa, tem potencial pro futuro, mas que, no momento, não parece compensar ver mais de sua trajetória.
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