CRÍTICA | Capoeiras mistura capoeira, candomblé e jornada de herói

Capoeiras

Dirigida por Tomas Portella, Capoeiras mistura dança, candomblé, luta e a cultura carioca para construir uma jornada clássica de herói, transmitindo um sentimento genuinamente brasileiro, apesar de sua falta de ousadia.

Aos poucos, as produções nacionais vêm conquistando mais espaço no streaming da Disney Plus, desde longas metragens originais como A Vilã das Nove (2024, Teo Poppovic), à novelas como Amor da Minha Vida (2025, René Sampaio; Matheus Souza), Impuros (2018, René Sampaio) e Maria e o Cangaço (2025, Sérgio Machado). Ainda assim, poucas carregam tanto da nossa identidade quanto Capoeiras.

A série dialoga diretamente com o cinema brasileiro, evocando obras como Cidade de Deus (2002, Fernando Meirelles) no retrato do negro marginalizado, e entrega momentos grandiosos, como uma cerimônia de Candomblé celebrando o nascimento de Carolina, filha da Orixá dos Ventos. Esse é o maior trunfo da produção: mesmo quando a narrativa se americaniza demais, como nas sequências que remetem diretamente à Clube da Luta (1999, David Fincher), o Brasil segue pulsando em cada cena.

No campo narrativo, Capoeiras segue a estrutura clássica da Jornada do Herói. A trama acompanha Veneno da Madrugada, faxineiro de uma boate em um pequeno vilarejo carioca, professor da escola de capoeira do Mestre Ouro, e padrinho orgulhoso de sua afilhada, e Noivo da Vida, um antigo amigo que após conhecer o mundo todo, retorna para casa após ter uma terrível premonição. Este reencontro acaba os levando em uma jornada pelas lutas clandestinas de capoeira.

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Sergio Malheiros em cena de Capoeiras- Divulgação Disney Plus Brasil

Ao longo de seis episódios de cerca de 40 minutos, a série se inspira tanto no teatro grego, ao reforçar a inevitabilidade do destino, quanto em Shakespeare, especialmente Hamlet (1623), ao explorar relações familiares corrompidas. O tio Dinho assume o papel de antagonista, estando ligado à morte do modelo paterno dos protagonistas, e o seu casamento com a viúva. No entanto, o personagem carece de força dramática, e ao invés de explorá-lo mais a fundo, a narrativa se arrasta em tramas paralelas que não avançam a história como um todo, como o arco da amiga de Veneno da Madrugada, que termina de forma abrupta e sem impacto.

Como destaques ficam para as coreografias de luta e a trilha sonora marcada pelo berimbau e instrumentos de percussão, que imprimem tensão e autenticidade. Em contrapartida, o tom novelesco pesa contra a produção: diálogos exagerados, repetições de flashbacks e retcons que almejam criar surpresas no público, mas acabam cansando o espectador.

Ainda assim, Capoeiras acerta ao valorizar a capoeira não apenas como prática, mas como símbolo de identidade e resistência, sendo vocalmente exclamado diversas vezes ao longo da série que ela libera o melhor de todos nós. É fácil imaginar que a série inspire curiosidade e até mesmo novos praticantes.

Capoeiras

Cena de Capoeiras- Divulgação Disney Plus Brasil

Capoeiras é uma série que une em si muitas qualidades boas e muitas qualidade que ainda devem ser melhoradas como produto audiovisual, sendo dramática e por vezes arrastada, mas ao mesmo tempo é carregada de energia brasileira e um senso de nacionalismo e pertencimento, transmitido principalmente por seus cenários e um design de produção exemplar.

Com ajustes de ritmo e lapidações narrativas, uma segunda temporada, que pelo final do episódio 6, já está muito bem encaminhada, pode consolidar Capoeiras como mais um sucesso nacional no catálogo da Disney Plus, demonstrando novamente a força do audiovisual brasileiro.

Capoeiras é uma produção original Star+ e estreia em 29 de agosto no Disney Plus.

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