Coração de Lutador traz uma bibliografia diferenciada, que homenageia a força do boxe e apresenta uma oportunidade do ator The Rock fazer algo diferente.
Coração de Lutador é um filme dirigido por Ben Safdie, que decide contar a curta, mesmo no momento podendo ter sido árdua, jornada do lutador Mark Kerr em vencer seu vício por opioides e enfrentar a ideia de também poder ser derrotado no esporte que ama.
Existem dois clichês em obras bibliográficas: aquela que faz tudo em um modo automático sem vida, não arriscando em apresentar os defeitos do artista, e aquela que apresenta sua superação em meio aos conflitos, ganhando uma produção que respeita suas vitórias, mas não esconde seus problemas. Felizmente, esse filme se diferencia de ambos arquétipos.

Coração de Lutador | A24
Coração de Lutador conta a história de Mark Kerr com precisão, cuidado e carinho. A direção escolhe o estilo cinematográfico “Found Footage“para contar essa história, proporcionando uma visão familiar a que se teria ao acompanhar tais personagens no dia a dia, o que dá uma chance de ver como era a rotina do lutador, o que chateava sua pessoa e o que também dava gosto.
O longa-metragem em nenhum momento busca fazer uma lista de documentos sobre a origem desse homem, onde cresceu e como chegou no período da obra (entre 1997 e 2000). Pelo contrário, procura sua simpatia para onde ele está, enxergando a luta diária para manter suas vitórias, e te deixa procurar as respostas para as lacunas pontuadas. A obra se concentra no que importa e mergulha nisso.
Mark Kerr é quem importa. Ele não é perfeito, não é sempre o cara legal, tenta sim fazer o certo, mas também se descontrola, vicia e coloca no direito de decidir o que bem entender. E Dwayne Johnson, que já foi um lutador, parece saber exatamente como imprimir isso na tela, deixando apenas para seus olhos dizerem o que incomoda e o que agrada.
Acaba sendo fácil dizer que é a melhor interpretação do ator, porque ele nunca havia se entregado para um papel que demandasse maior seriedade, sempre se levando por frases de efeito e uma cara de “bad-ass”, o que contrasta com alguém que realmente acompanhamos por mais tempo. A câmera está a todo momento procurando olhar pra ele, quase não deixando haver cortes, o que permite maior tempo pro artista ficar no personagem e brilhar.

Coração de Lutador | A24
A mesma câmera também dá sua atenção para os embates do filme, nunca enrolando demais com a resolução, mas sempre entregando algo verossímil, sem coreografias exageradas, com cada soco dado sendo sentido e, uma visão próxima que não indica o uso de dublês. Ou seja, parece mesmo um documentário sobre o lutador.
No entanto, mesmo que a proposta da produção seja essa abordagem mais leve, até crua, de acompanhar Kerr em momentos conturbados, a falta de um debate maior sobre a quebra mental de ter perdido ou do que precisou deixar de lado, acabou por me distanciar como espectador. Parece que a câmera virou tão documental, que só pode gravar o que era permitido, tendo visto uma coisa ou outra que desse o que falar, mas não permitindo que eu sentasse ao lado do homem.
Por isso, Coração de Lutador se diferencia dos outros. Ele dá muito tempo de tela para ver como Mark Kerr reage, mostra como se pode encontrar a felicidade com a perda, já que ela faz parte e todos somos humanos, mas peca ao jogar situações no ar que são resolvidas por um rápido texto antes dos créditos. Sendo uma obra que você não sente passar, mas também não se conecta emocionalmente. Pelo menos, no meu caso.
Só pra não deixar em branco, Emily Blunt arrebenta no papel de Dawn Staples! Ela sim, merece uma indicação ao Oscar.
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