O filme Corra! é a melhor estreia de um diretor no século XXI, ganhando o prêmio de Melhor Roteiro Original no Oscar de 2018. Jordan Peele coloca seu nome na história do cinema e começa uma carreira com trabalhos recheados de mensagens subliminares e críticas sociais.
Corra! marca a estreia de Jordan Peele na direção e já chega com um dos roteiros mais afiados e marcantes dos últimos anos. Faltando pouco tempo para o lançamento de Him (novo projeto produzido por Peele, mas não dirigido por ele) é impossível não revisitar sua trajetória e perceber como tudo em que ele se envolve deixa uma marca forte no cinema.
Em Corra!, Jordan Peele usa o terror como lente para expor o racismo estrutural disfarçado de cordialidade. A trama acompanha Chris, um jovem negro que vai conhecer a família da namorada branca em um fim de semana aparentemente tranquilo — até perceber que algo muito errado se esconde por trás da simpatia exagerada dos anfitriões.
O filme parte de uma situação cotidiana para escalar em tensão, desconforto e crítica social, transformando o medo em ferramenta de reflexão sobre como o racismo se manifesta até nos espaços mais “educados”.

Todos atores envolvidos conseguem entregar uma atuação impecável em Corra! – Divulgação Universal Pictures
Peele constrói o terror não no susto fácil, mas no clima, no silêncio tenso, nos gestos forçados, na sensação de que tem algo errado mesmo quando está tudo normal. É uma obra que usa e abusa da simbologia, mas o faz com maestria.
A atuação de Daniel Kaluuya é outro ponto alto. Ele entrega um personagem contido, mas carregado de emoção, e nos conduz por essa espiral de estranhamento até o ponto de explosão. O olhar dele carrega medo, cansaço e alerta.
Se Corra! partisse apenas de sua premissa: um jovem negro em perigo na casa da família branca da namorada, ele já teria força. Mas o que o torna tão especial é a forma como transforma isso numa análise social complexa, simbólica e impactante. É um filme que continua ecoando muito depois dos créditos finais.

Jordan Peele dirigiu, escreveu e produziu o filme – Divulgação Universal Pictures
Jordan Peele chegou com uma assinatura própria, e Corra! foi o aviso: ele não estava apenas dirigindo um terror — ele estava criando um novo espaço dentro do gênero, onde o medo é real e profundamente político.
As camadas presentes em cada cena, enquadramento e diálogo são densas e cuidadosamente construídas. Corra! é o tipo de filme que pede revisitas. Sua crítica social é tão profunda e detalhada que, na primeira experiência, é difícil captar todas as referências, símbolos e mensagens que Peele espalha ao longo da narrativa. Cada nova sessão revela algo que passou despercebido, tornando o filme ainda mais poderoso com o tempo.

O papel rendeu a Daniel Kaluuya uma indicação ao Oscar de Melhor Ator – Divulgação Universal Pictures
Corra! não reinventou o terror, ele reconectou o gênero às suas raízes mais potentes: o medo como espelho social. Jordan Peele mostrou que é possível assustar e, ao mesmo tempo, provocar reflexão, entregar entretenimento e levantar discussões urgentes.
O filme também abriu portas para uma nova leva de produções que enxergam o terror como espaço para crítica, representatividade e profundidade. Peele não só inspirou outros criadores, como também elevou o padrão de exigência do público para o que se espera de uma obra do gênero. Depois de Corra!, o terror passou a ser visto com outros olhos.
No fim das contas, esse é o tipo de filme que define uma geração. Ele mostra que o cinema pode ser ferramenta de transformação, mesmo nos formatos mais populares. Com essa estreia, Jordan Peele iniciou uma nova fase para o terror moderno.
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