CRÍTICA | Ladrões consegue ser bom, mesmo sem inovar em nada

Ladrões se torna um dos ótimos trabalhos de Austin Butler

Ladrões chega aos cinemas como uma das produções mais comentadas de 2025 e não é difícil entender o motivo. A adaptação do romance de Charlie Huston equilibra tensão, emoção e uma construção narrativa que respeita cada personagem, sem desperdiçar tempo ou espaço em tela. O resultado é um filme que, mesmo partindo de uma trama já explorada inúmeras vezes no cinema, consegue se destacar pela forma como é conduzido.

Desde o início, nota-se um ótimo desenvolvimento da história. Não há personagens descartáveis; cada figura, por menor que pareça, exerce um papel fundamental no desenrolar dos acontecimentos.

Essa escolha narrativa cria um dinamismo que prende a atenção do espectador, transformando a trama em um quebra-cabeça no qual todas as peças são necessárias.

A sensação é de que cada diálogo e cada interação carregam peso, fortalecendo a experiência e evitando o comum problema de personagens vazios em thrillers policiais.

image

Austin Butler e Matt Smith funcionam muito bem juntos em Ladrões – Divulgação Columbia Pictures

Um dos grandes trunfos do longa está na atuação de Austin Butler, que comprova sua versatilidade ao assumir um papel completamente distinto de seus trabalhos anteriores.

O ator se apropria de nuances emocionais, oscilando entre vulnerabilidade e determinação, e consegue transmitir ao público uma carga dramática que humaniza seu personagem.

Butler constrói alguém complexo, um protagonista que, ao mesmo tempo em que se mostra duro pelas circunstâncias, revela fragilidade em pequenos gestos e olhares. É, sem dúvida, um dos grandes momentos de sua carreira até agora.

image 1

Mesmo não sendo do mesmo nível dos melhores trabalhos de Darren Aronofsky, Ladrões é uma ótima escolha do diretor – Divulgação Columbia Pictures

Entre as surpresas mais delicadas está o toque de sensibilidade na relação com o gato, que funciona como uma espécie de contraponto ao ambiente violento e imprevisível da narrativa. Essa conexão não é apenas um detalhe acessório, mas um recurso que dá profundidade emocional ao protagonista e, consequentemente, ao próprio filme.

É através dessa relação que se revela uma face mais íntima e humana da personagem central, oferecendo ao espectador respiros emocionais em meio ao caos.

Outro destaque é a maneira como o filme apresenta seus vilões. Eles não surgem de forma apressada ou caricata, mas são inseridos com calma e desenvolvidos a ponto de se tornarem peças essenciais no jogo de poder que se estabelece.

image 3

Zoe Kravitz talvez seja não utilizada da melhor maneira, visto o talento da atriz – Divulgação Columbia Pictures


É importante ressaltar que, em sua essência, a trama aborda uma temática já revisitada diversas vezes pelo cinema: um homem comum envolvido em situações criminosas maiores do que ele poderia controlar.

Ainda assim, o longa consegue se reinventar de forma original, muito pela combinação de escolhas de roteiro, atuações sólidas e decisões de direção que surpreendem. Não se trata de reinventar a roda, mas de dar a ela uma nova textura, um novo ritmo e um novo olhar.

Em suma, Ladrões é uma obra que entende o valor de contar bem uma história. Com personagens relevantes, um protagonista em estado de graça, vilões memoráveis, um olhar sensível e uma estética visual competente.

Mesmo em um terreno já explorado inúmeras vezes pelo cinema, encontra frescor e identidade própria. Trata-se de uma narrativa que respeita a inteligência do público, conduzida com habilidade e que, ao final, deixa uma marca clara: a de um filme que soube passar a mensagem que queria.

Veja também:

CRÍTICA | Confinado parte de uma boa premissa, mas não consegue ir além do óbvio

CRÍTICA | F1: O Filme parece corrida de verdade, mas não empolga

CRÍTICA | Corra! é o tipo de terror que continua com você muito depois dos créditos

Comentários

Deixe um comentário