Crítica | Marvel Zumbis é muita promessa e pouca entrega

Marvel Zumbis- Divulgação Marvel

Dirigida por Bryan Andrews, Marvel Zumbis opta por se prender em uma história cansada, e não alcança o potencial que poderia

Desde que o MCU começou em 2008, a ideia que deve haver um universo compartilhado entre todas as suas produções, levou a Marvel a um caminho que se encontra cada vez mais frágil. Marvel Zumbis sofre diretamente destas restrições: ao invés de ousar criar um universo autônomo, mantém-se amarrada ao cânone, ousa pouco, e não alcança seu potencial criativo, se reduzindo a uma série pouco inovadora de histórias já contadas.

Derivado de um dos episódios mais impactantes de What If? (2021, Bryan Andrews), o enredo gira em torno de personagens das fases mais recentes, como Shang-Chi, o Guardião Vermelho, Yelena Belova, o Barão Zemo e, principalmente, Kamala Khan, que assume o papel de protagonista. A escolha é, em parte, acertada: a jovem heroína traz empatia e frescor à narrativa, equilibrando sua ingenuidade adolescente com a gravidade do apocalipse, além de ser uma das personagens mais amadas desta nova fase, porém, o roteiro pouco aproveita esta questão, fazendo Kamala repetir um arco previsível e imaturo.

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Marvel Zumbis | Marvel Animation

A produção boas ideias pontuais, como a introdução de um Blade Cavaleiro da Lua, e algumas sequências visuais vibrantes nos episódios finais, ao mesmo tempo que apresenta uma quantidade generosa de easter eggs, incluindo referências a produções menos celebradas, e atualmente esquecidas, como Eternos (2021, Chloé Zhao), porém, que ao seu final, não acrescenta em nada à trama.

Enquanto os quadrinhos de Marvel Zumbis marcaram época justamente por sua crueldade melancólica, somada a um otimismo introvertido, a produção de Andrews não segue este caminho.

Ao invés de zumbis complexos como nos quadrinhos, estes são simples cascas grotescas, sem a dimensão trágica dos quadrinhos, e restando apenas monstros no estilo George Romero que apesar de falar, não são nada mais do que típicos zumbis, controlados por uma poderosa Feiticeira Escarlate que facilmente encerraria esta série em um episódio se quisesse.

Ao longo de rápidos 4 episódios, somos apresentados a um desequilíbrio entre humor, drama e violência que agrava ainda mais a narrativa: piadas deslocadas interrompem momentos de tensão, impedindo que a obra assuma de fato uma identidade de horror.

Visualmente, a série repete a estética de What If?, com uma animação 2D competente, mas sem maiores ousadias. O destaque fica para o uso de cores nos episódios finais, quando o confronto contra Thanos zumbi e a destruição das Joias do Infinito criam imagens memoráveis, porém, é inevitável que faltou coragem para realmente lidar com um gore estético que Marvel Zumbis poderia alcançar, realmente aproveitando a sua classificação indicativa para maiores de 18 anos.

A produção busca homenagear Chadwick Boseman ao dar mais um desfecho ao Pantera Negra, porém, apesar do gesto ser bonito, somente evidencia como a série depende de vínculos passados, algo que mostra sinais de desgaste, afinal, personagens secundários não conseguem sustentar sozinhos o interesse do público, enquanto figuras mais icônicas, como os X-Men ou o Quarteto Fantástico, permanecem de fora.

No fim, Marvel Zumbis é um exemplo claro de como a Marvel teme correr riscos. A série entrega momentos isolados empolgantes, como a batalha contra um Namor zumbi ou o confronto final com o Hulk, mas carece de uma narrativa coesa e de personagens que despertem genuína empatia, resultando em uma produção que demonstra potencial, mas que aposta na familiaridade em vez de explorar o radical e o inusitado que os quadrinhos proporcionaram, sem contar que evita lidar com todas as possibilidades que a classificação indicativa para maior poderia proporcionar.

Caso a produção tivesse optado por abraçar a liberdade criativa, sem as amarras do MCU, Marvel Zumbis poderia se tornar uma das melhores produções da Marvel, ao invés de ser apenas uma fagulha: um vislumbre do que poderia ter sido, mas que se apaga rapidamente no momento que se encerra.

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