Wes Anderson, em “O Esquema Fenício”, entrega mais uma obra visualmente impecável, mas esvaziada de conteúdo, transformando seu estilo autoral em uma caricatura de si mesmo.
É impossível ignorar a precisão estética de um filme do diretor Wes Anderson (“O Fantástico Sr. Raposo”). Paletas de cores calculadas, figurinos impecáveis e composições simétricas marcam sua assinatura. Em “O Esquema Fenício”, que estreou no Festival de Cannes 2025, Anderson assume também o roteiro e a produção, reafirmando sua obsessão pelo controle visual. O problema é que esse rigor vem acompanhado de um evidente desgaste criativo.
A trama envolve um sombrio conto de espionagem centrado no tenso relacionamento entre pai e filha à frente de uma empresa familiar. As reviravoltas giram em torno de traições e dilemas morais.

O Esquema Fenício I Universal Pictures
Anderson organiza o filme em capítulos e aposta em encontros cuidadosamente orquestrados como pontos de virada — uma proposta que, no papel, soa interessante. Na prática, porém, resulta em uma sátira autocentrada, quase uma paródia da própria obra do cineasta. Falta originalidade e, sobretudo, envolvimento emocional. O longa se arrasta, preso em blocos autoindulgentes e um excesso de informações que pouco contribuem para a narrativa.
Visualmente, o padrão de excelência do diretor se mantém, com o design de produção de Adam Stockhausen (“A Crônica Francesa”) e o figurino de Milena Canonero (“O Grande Hotel Budapeste”). No entanto, o impacto desses elementos já não surpreende. A estética vibrante, os cenários estilizados e a geometria das cenas — outrora encantadores — agora parecem previsíveis, quase automáticos.

O Esquema Fenício I Universal Pictures
O elenco estelar, mais uma vez, como nos últimos títulos de Wes Anderson, é mal aproveitado. Grandes nomes ocupam papéis sem profundidade ou função narrativa clara, acentuando a sensação de desperdício. Há muito talento para personagens tão rasos.

O Esquema Fenício I Universal Pictures
A falta de desenvolvimento compromete também o suspense e o impacto dramático. O filme revela cedo demais suas intenções, eliminando qualquer possibilidade de surpresa. Os coadjuvantes são esquecíveis e o desfecho, que tenta soar grandioso, soa apenas protocolar.
No fim, “O Esquema Fenício” é uma vitrine requintada de elementos já conhecidos, que, repetidos à exaustão, perdem força. A genialidade estética de Wes Anderson continua evidente, mas seu cinema parece prisioneiro de uma fórmula que não se renova — apenas se repete. E quando o estilo sobrepõe a substância, resta pouco além da moldura.
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