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  • Crítica | A Mulher na Janela – A obsessão pela vida alheia

    Crítica | A Mulher na Janela – A obsessão pela vida alheia

    Os telespectadores construíram uma relação sólida com as “Telas”. Cinema, TV e celular são alguns dos painéis usados para mergulhar dentro de histórias, bisbilhotando a narrativa acerca do personagem e seus conflitos. Para Anna Fox, protagonista do longa-metragem A Mulher na Janela, sua tela é exatamente o que está no título do filme.

    São inegáveis as comparações que rondam o “thriller” A Mulher na Janela, longa baseado na obra literária de Dan Mallory, que assinou seu livro com o pseudônimo de A.J. Finn. Entre homenagens e o uso de fórmulas estabelecidas em filmes que seguiram a mesma linha narrativa, a adaptação cinematográfica está no banco dos réus, neste exato momento. De um lado, os apreciadores do livro, descontentes com a versão audiovisual, do outro, o público dividido. Afinal de contas, qual é o “crime” cometido pela fita estrelada por Amy Adams? Existe a hipótese de absolvição ou apenas condenação?

    A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
    A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

    Sinopse:

    Anna Fox mora sozinha em uma casa que um dia abrigou sua família feliz. Separada do marido e da filha e sofrendo de uma fobia que a mantém reclusa, ela passa os dias bebendo vinho, assistindo filmes antigos e conversando com estranhos na internet. Quando uma nova família se muda para a casa do outro lado do parque, Anna fica obcecada por aquela vida perfeita. Até que certa noite, bisbilhotando com sua câmera, ela vê algo que muda tudo.

    Concebido, inicialmente, sob o guarda-chuva de projetos da 20th Century Studios, o filme foi passado para a Disney, após a casa do Mickey Mouse comprar a 20th Century Fox. Devido a uma série de fatores, como adiamentos e a pandemia, o projeto entrou na mira da Netflix, que fechou um acordo com a Disney para lançá-lo na plataforma. Estreando no dia 14 de maio, o filme recebeu uma chuva de críticas negativas, e apesar de não conquistar o status de obra-prima, A Mulher na Janela não é esse desastre todo que estão pintando nas redes sociais.

    A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
    A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

    Através das cortinas e persianas, Anna se desliga da própria realidade e passa a vivenciar a vida dos outros. Aspirando uma premissa dissecada em outras obras, o longa dirigido por Joe Wright, às vezes, parece um eco, mas detém sua própria identidade. Recapitulando a 7ª arte, o trabalho de Wright é, em simultâneo, um cortejo ao clássico Janela Indiscreta (de Alfred Hitchcock), e um produto proveniente de uma narrativa explorada em outros títulos como A Garota no Trem, dirigido por Tate Taylor e Paranoia, longa de 2007.

    Todavia, dois erros amargam a narrativa de A Mulher na Janela: o aproveitamento raso de um elenco estelar e a escolha pífia de sustentar um mistério resolvido pelo público nos primeiros 15 minutos de projeção. Fora isso, os diálogos passam do ponto algumas vezes, e o que deveria servir como “indício” para futuras reviravoltas, torna os acontecimentos óbvios. Infelizmente, o elemento surpresa é só um elemento. Há uma única revelação, requentada, que pode levar uma parcela dos assinantes a exclamar um “isso não passou pela minha cabeça!“, porém, a essa altura, o filme já está no chão, após cair do próprio pedestal.

    A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
    A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

    Para compor o time de apoio, o roteiro ganha forma através dos atores Wyatt Russell, Brian Tyree Henry, Jennifer Jason Leigh, Gary Oldman, Julianne Moore e Anthony Mackie. É frustrante assistir, cena após cena, o desperdício de elenco, no entanto, a única atriz que consegue ter cinco minutos com um bom aproveitamento é Julianne Moore, mas isso não apaga que Joe Wright deixou a oportunidade escapar por suas mãos como fumaça. O longa, Entre Facas e Segredos, por exemplo, contava com um número maior de atores, e ainda assim extraiu o suficiente para justificar a presença de um cast numeroso. Em suma, faltou em Wright um “que” de Rian Johnson.

    Nesse tribunal estabelecido para julgar A Mulher na Janela, Amy Adams é a testemunha de defesa. Sua performance é a única prova que atesta os pontos positivos do filme. Sozinha, ela carrega o peso de ancorar a atenção do público na trama, isso do primeiro ato até a metade do segundo. Apegando-se ao olhar desarticulado e os vícios inerentes do seu papel, Adams incorpora bem esse modelo de “personagem não confiável”. E ainda que o roteiro e as escolhas criativas trabalhem contra, a atriz faz o seu melhor.

    A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
    A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

    Portanto, discutidos os pontos a favor e contra, A Mulher na Janela constrói uma história com um bom começo, mas que tropeça ao costurar um mistério batido, que passa do prazo de validade muito rápido. Ademais, depositar a fé em dois plot twist (um, totalmente previsível, e o outro, fraco), contribuiu para a decepção da audiência.

    À vista disso, é sempre bom lembrar que a experiência é algo singular. O que pode funcionar para mim, pode não funcionar para você, e vice-versa. Ser um filme mediano, não é um crime cinematográfico, mas as consequências disso podem colocá-lo em uma zona chamada “esquecimento”.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

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    Crítica | Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games.

  • Crítica | Mortal Kombat

    Crítica | Mortal Kombat

    Mortal Kombat já está entre nós e traz uma trama que introduz um vasto universo mítico, com a promessa de ser desenvolvido em uma nova leva de filmes. Como introdução para uma nova franquia, o longa não chama muito a atenção de quem não acompanha Mortal Kombat em outros formatos, mas traz uma história rica e interessante que merece continuidade.

    Sinopse: “Em Mortal Kombat, o lutador de MMA Cole Young, acostumado a apanhar por dinheiro, não faz ideia da herança que carrega – ou por que o Imperador da Exoterra, Shang Tsung, enviou seu melhor guerreiro, Sub-Zero, um criomancer de outro mundo, para exterminar Cole. Temendo pela segurança de sua família, Cole sai em busca de Sonya Blade por recomendação de Jax, um major das Forças Especiais que tem a mesma estranha marca de nascença na forma de dragão que Cole. Logo, ele se encontra no templo do Lorde Raiden, um Deus Ancião e protetor do reino da Terra, que acolhe aqueles que ostentam a marca. Lá, Cole treina com os experientes guerreiros Liu Kang, Kung Lao e o mercenário vigarista Kano, à medida que se prepara para enfrentar, ao lado dos maiores campeões da Terra, inimigos oriundos da Exoterra em uma arriscada batalha pelo universo. Contudo, será que ele treinará o bastante para desbloquear sua arcana — o imenso poder que existe dentro de sua alma – a tempo não só de salvar sua família, mas também de vencer a Exoterra de uma vez por todas?”

    Crítica | Mortal Kombat - Brutal como deveria ser, mas nada especial
    Logo Mortal Kombat (2021) | Warner Bros. Pictures

    Após alguns anos de espera o novo filme que ‘reboota’ o universo de Mortal Kombat finalmente chegou aos cinemas, prometendo trazer grandes cenas de lutas, coreografias mais fieis nas batalhas, comparado aos jogos da franquia nos video games e uma história mais elaborada para enaltecer seus personagens. Mas será que todas essas promessas foram cumpridas?

    O novo Mortal Kombat consegue prender a atenção do espectador durante todo o tempo, mas acaba pecando em aspectos que mereciam ser impecáveis, como as cenas de luta. A maior surpresa, claramente, são a forma como tais cenas foram pensadas para serem brutais e sangrentas. A classificação destinada para o público maior de dezoito anos possibilitou o longa trazer a verdadeira identidade da produção, que buscou ao máximo respeitar seu material de origem. Mas apesar disso, o excesso de personagens causou uma certa pressa no tempo das lutas e suas coreografias, não atingindo o ápice de toda a beleza das lutas que vemos quando jogamos em nossos consoles. Até existe alguns movimentos que são satisfatórios de ver, como os “falatlities” e “brutalities”, mas o andamento e as finalizações são de uma correria sem tamanho, acabando com toda a euforia que seria necessária para o público.

    Crítica | Mortal Kombat - Brutal como deveria ser, mas nada especial
    Mortal Kombat (2021) | Warner Bros. Pictures

    Exatamente por conta do excesso de personagens, o roteiro não consegue dar conta de todos e alguns personagens icônicos acabam sendo deixados de lado e se tornam meros lacaios, como é o caso de boa parte da equipe vilã do filme, os seres da exoterra. Em contrapartida temos personagens que se sobressaem como deveria acontecer; Scorpion e Sub-Zero brilham e transmitem angustia e empolgação em todas as vezes que aparecem. O caso das coreografias mal executas não se aplicam especificamente a eles. É visível e compreensível que todo o trabalho mais pesado da produção está em todas as cenas que envolvem esses personagens, e as atuações de Joe Taslim e Hiroyuki Sanada abrilhantam tudo ainda mais. Por outro lado, temos Cole, o protagonista do filme, interpretado por Lewis Tan e que foi criado exclusivamente para o novo filme, mas não brilha e acabou se tornando uma adição não muito boa.

    Uma das melhores coisas a se notar é a trilha sonora, que até dá um ânimo para as cenas de lutam e deixa uma sensação de nostalgia, e que nos lembra as lutas do jogo. Outro ponto de atenção positiva são os figurinos que estão impecáveis. A repaginação das vestimentas que remetem mais ao oriental moderno, com armaduras texturizadas, preenchem a beleza visual do filme. Os efeitos especiais do longa também não ficam para trás. Apesar de não ser nada tão exuberante, o CGI alcança a naturalidade da paisagem. Já a montagem do longa deixa um pouco a desejar e a direção não é nada satisfatória.

    Crítica | Mortal Kombat - Brutal como deveria ser, mas nada especial
    Mortal Kombat (2021) | Warner Bros. Pictures

    Apesar dos pesares, a produção apresenta uma história rica e que merece ser estendida, porém trabalhada em algo que fuja do mero fan-service e que seja acessível para o público geral, garantindo seu espaço entre a geração mais nova que não conhece tanto os jogos ou os filmes mais antigos.

    Mortal Kombat é um filme bom para um ponta pé inicial de uma nova franquia, mas pode não agradar aos que não tem muita intimidade com seus personagens em outras mídias. No fim, a produção entrega tudo o que era esperado, mas não cumpre algumas promessas e não supera as expectativas, se tornando uma produção que será esquecida ao passar dos anos caso não tenha uma sequência, o que não aconteceu nem com os filmes dos anos noventa, que apesar de não serem os favoritos do público, ainda conseguiram deixar um legado que vive até hoje.

    Nota: 3/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Em Guerra Com o Vovô

    Crítica | Em Guerra Com o Vovô

    Baseado no livro infantil homônimo de Robert Kimmel Smith, de 1984, “The War With Grandpa”, no original, é uma comédia dramática sobre a relação conturbada de uma criança com o seu avô. Dirigido por Tim Hill, o longa reúne grandes nomes como Robert De Niro, Uma Thurman e Christopher Walken, mas oferece uma narrativa superficial e completamente inofensiva.

    Produção estadunidense original da The Weinstein Company Dimension Films, “Em Guerra Com o Vovô” (2021) foi inicialmente programado para estrear no dia 21 de abril de 2017. No entanto, devido às mudanças nos locais de gravação e ao cronograma apertado da produtora, o filme foi adiado por três anos e chegou até a ser cortado do calendário de lançamento. Agora, após ter os direitos de transmissão adquiridos pela 101 Studios, o longa de Tim Hill finalmente chega ao grande público.

    Em “Em Guerra Com o Vovô“, Peter (Oakes Fegley) é forçado a deixar o seu quarto e a se mudar para o sótão quando o seu avô Ed (Robert De Niro) passa a morar com a sua família. Insatisfeito pela mudança repentina e determinado a retomar o seu espaço, o jovem arma uma série de armadilhas para tentar afugentar o novo residente. No entanto, o velho é mais esperto do que aparenta e pretende revidar as pegadinhas com seus próprios esquemas e armações, dando início a uma verdadeira guerra dentro e fora de casa. A partir de então, decididos a vencer essa briga, os dois perdem o controle da situação e passam a prejudicar todos ao redor.

    Em Guerra Com o Vovô
    Em Guerra Com o Vovô/Diamond Films Brasil

    The War With Grandpa“, que não é capaz de apresentar nenhum material novo para o espectador, falha em sua premissa inicial de fazer comédia e acaba por fornecer uma narrativa genérica e desinteressante sobre um tema já muito explorado pela indústria cinematográfica. Recorrendo exageradamente ao humor físico entre os personagens e à piadas inexpressivas sobre idade e competição, o longa é uma grande e decepcionante sátira sobre a velhice e não tem capacidade de sair da zona de conforto para ir além da “fórmula” da Sessão da Tarde. Nesse sentido, ainda que conte com um elenco estrelado – com nomes como Robert De Niro, Uma Thurman, Christopher Walken, Rob Riggle, Jane Seymour e Cheech Marin -, a estreia da Diamond Films se limita a sequências constrangedoras e estereotipadas de uma luta forçada entre um avô e o seu neto.

    Além disso, enquanto investe em episódios próprios da comédia pastelão e na violência cartunesca de riso fácil, o longa de Tom Hill testa a paciência do espectador e caminha a passos largos para se tornar um dos piores do ano. Por conseguinte, à medida que desperdiça o seu potencial com uma narrativa medíocre, o filme esquece de estabelecer um cenário minimamente decente e decide explorar, em tom de deboche, o luto de um avô amoroso que ainda tem que aturar os tormentos de uma criança mimada. De forma simplificada, há um motivo bastante plausível para “Em Guerra Com o Vovô” ter ficado na prateleira por três longos anos e ter sido cortado do calendário de lançamentos da Dimension Films.

    Em Guerra Com o Vovô
    Em Guerra Com o Vovô/Diamond Films Brasil

    Finalmente, “Em Guerra Com o Vovô” é um entretenimento superficial que não desenvolve de maneira apropriada nenhuma das suas tantas premissas. Dolorosamente sem graça, o longa é um convite ao esquecimento e apresenta ideias tão completamente exageradas e fora de contexto que o transformam em um árduo teste de resistência para quem o assiste. Incapaz de oferecer uma narrativa minimamente interessante, a comédia familiar de Tom Hill é mal conduzida e se perde em suas próprias ambições, deixando de lado a capacidade do seu elenco e entregando um material apático e sem grandes novidades.

    Em Guerra Com o Vovô tem estreia prevista para o dia 20 de maio.

    Nota: 2/5

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    Veja também: Crítica | Bela Vingança

  • Crítica | Bela Vingança

    Crítica | Bela Vingança

    Produção estadunidense original da Focus Features, “Bela Vingança” é um thriller inteligente sobre a questão do machismo e do assédio sexual na sociedade. Dirigido por Emerald Fennell, o longa é uma análise profunda do impacto desses abusos na vida das mulheres e entrega uma sátira sombria que impressiona o espectador, à medida que “faz justiça” com as próprias mãos.

    Com previsão de estreia no Brasil para o dia 13 de maio de 2021, “Promising Young Woman“, no original, é um conto de comédia e suspense dirigido, escrito e co-produzido por Emerald Fennell. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original [e indicado em outras quatro categorias da premiação, incluindo Melhor Filme], o longa estrelado por Carey Mulligan (“As Sufragistas“) é um chamado por justiça que instiga um importante discurso sobre as pautas de gênero.

    Em “Bela Vingança“, Cassie (Carey Mulligan) era uma jovem bastante talentosa e promissora, até que um misterioso evento destrói abruptamente o seu futuro e as suas relações. Traumatizada, nada em sua vida é o que parece ser: ela é perversamente inteligente e vive uma rotina secreta à noite, quando frequenta bares e se finge de bêbada, a fim de atacar os predadores sexuais que tentam abusar dela. No entanto, um encontro inesperado lhe dá uma nova chance de recuperar a sua antiga vida, à medida que ela mergulha em uma trilha de pistas que podem lhe ajudar a corrigir os erros do seu passado.

    สรุปรายชื่อผู้เข้าชิงรางวัล Academy Awards ประจำปี 2021 - Major Cineplex  รอบฉายเมเจอร์ รอบหนัง จองตั๋ว หนังใหม่
    Bela Vingança/Universal Pictures Brasil

    Promising Young Woman“, que trilha a sua narrativa a partir de um primeiro encontro chocante entre Cassie e um abusador de bar, subverte as expectativas do grande público quanto aos famosos “thrillers de vingança”. No filme, o arco narrativo da personagem é uma crítica explícita ao machismo e ao assédio sexual na sociedade, e se apoia em uma atuação forte de Carey Mulligan [indicada ao Oscar de Melhor Atriz], que entrega uma performance sólida e humanizada de uma mulher cuja vida foi destruída pelas ações bárbaras de alguns homens. Nesse sentido, a partir do momento que induz uma conversa assertiva sobre o patriarcado, o longa torna-se extremamente eficiente e traz às telas uma visão visceral e poética do combate à cultura do estupro.

    Além disso, enquanto equilibra uma vasta teia de personagens, valores e ideologias, a produção de Emerald Fennell se destaca ao reunir elementos característicos das comédias românticas com as nuances perturbadoras do suspense, de modo a garantir uma história tão real que chega a ser aterrorizante. Por conseguinte, ao mesmo tempo em que oferece um espelho para a sociedade, “Bela Vingança” condena e ironiza o privilégio masculino, por meio de uma paleta de cores chamativa com tons pastéis e florais que tornam a obra ainda mais atraente e expressiva. Com isso, à medida que desenvolve um relato feroz sobre a violência contra a mulher, o filme oferece uma experiência catártica para o público feminino e reitera que as situações vividas em tela por Cassie são realmente próximas à realidade.

    Bela Vingança
    Bela Vingança/Universal Pictures Brasil

    Finalmente, “Promising Young Woman” abandona o seu disfarce inicial de “vingança fantasiosa” e cria uma narrativa inesperadamente profunda e necessária. Assumindo o protagonismo no discurso sobre as pautas de gênero, o filme alcança um clímax surpreendente e deixa os espectadores ávidos pela conclusão nada ortodoxa da sua trama. Capaz de iniciar um diálogo importante sobre o machismo e o abuso sexual na sociedade, a produção da estreante Emerald Fennell é sombriamente cômica e se torna, definitivamente, uma das melhores do ano.

    Bela Vingança tem estreia prevista para o dia 13 de maio.

    Nota: 4,5/5

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    Veja também: Crítica | Invincible

  • Crítica | Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games

    Crítica | Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games

    Quatro anos atrás, a Netflix abriu uma porta para a escuridão. Das sombras, renasceu um dos jogos mais aclamados da empresa Konami Castlevania. Deixando os consoles e migrando para o streaming, a série animada adaptou a trajetória dos “games” seguindo os passos do caçador de monstros, Trevor Belmont. Após três ciclos, a temporada final é uma recompensa para os fãs, transpondo o horror visual e a ação frenética presente no material de origem.

    É comum observar rostos franzidos e sobrancelhas arqueadas quando uma manchete no mundo do entretenimento anuncia uma adaptação audiovisual de “games”. Essa reação é uma resposta automática dos fãs, pois nos últimos anos eles tiveram que engolir, a contragosto, versões cinematográficas que não respeitavam a fonte primária. Nos cinemas, Resident Evil fez bilheteria, mas conquistou uma parcela ínfima de apreciadores dos jogos. Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos, longa baseado no clássico dos MMORPGs, também deslizou no abismo, despertando apenas a insatisfação dos “gamers”.

    Livros, jogos e HQs. Afinal, todas as adaptações precisam ser fiéis? Esse é um debate que está impregnado na essência da Cultura Pop, e até hoje não há uma resposta unânime. Assim como existem exemplos que desagradaram a audiência, o oposto também está por aí.

    Na prática, o que faz uma releitura ser um projeto bem sucedido é a qualidade narrativa, a assinatura criativa combinada entre roteirista e diretor e uma representação que respeite o personagem existente em outra mídia. Esse é o combo de acertos que Warren Ellis fez na conclusão de Castlevania.

    Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games
    Castlevania (temporada final) / Netflix

    Sobre a temporada final:

    ‎Valáquia entra em caos enquanto facções se confrontam: algumas tentando assumir o controle, outras tentando trazer Drácula de volta dos mortos. Ninguém é quem parece, e ninguém é confiável. Estes são os tempos finais. ‎

    A temporada final de uma série detém a responsabilidade de encerrar a jornada, de trancar todas as portas abertas e concretizar as promessas feitas no decorrer da história. Castlevania nasceu na Netflix de forma introspectiva, com apenas quatro episódios, e no andar da carruagem foi ganhando força e forma, apostando nas raízes que fizeram o jogo se popularizar. Agora, dez capítulos cumprem a tarefa de apresentar o “grand finale”.

    A cena de abertura ancora nossa atenção em Sypha e Trevor, ou seja, somos agraciados pela química fervorosa que existe entre eles. Contemplar a Maga e o Caçador de Monstros atuarem em conjunto é um vício; sempre queremos mais dessa dinâmica. Como um dueto destrutivo, ambos alcançaram o entrosamento perfeito. É divertido e assustador assistir os seres demoníacos suarem muito para enfrentá-los.

    Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games
    Castlevania (temporada final) / Netflix

    Warren soube equilibrar o “ouro” que tinha nas mãos: os protagonistas e os coadjuvantes. A dinâmica criada por ele, além de sagaz, transforma o arco dos personagens em um grande espetáculo lúgubre. O aproveitamento feito com os coadjuvantes é o ponto alto na temporada final. Isso já ocorreu nos ciclos anteriores, no entanto, aqui é maior o tempo de tela que eles têm. Alucard, Trevor e Sypha, três pilares cruciais no roteiro, dessa vez passam mais tempo nos bastidores, enquanto os personagens secundários brilham em narrativas paralelas que conquistam nossa atenção.

    Basta um minuto para que o público compre essa ideia, incentivados pelos monólogos bem arquitetados que desbravam o passado, a ambição e a tese trabalhada nos coadjuvantes. Esse cuidado especial vai na contramão de outras produções que tratam tais figuras apenas como suporte narrativo. Entretanto, em Castlevania, todos as peças usufruem o poder de movimentar a história para frente; aqui os peões também são reis, decidindo o destino nesse tabuleiro sangrento.

    Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games
    Castlevania (temporada final) / Netflix

    Trevor Belmont é aquele personagem carrancudo e boca suja que conquista nossa empatia logo de cara. Um especialista em combate com armas, ele eleva o nível de dificuldade para os inimigos toda vez que entra no campo de batalha. Seu arco de personagem é uma bomba relógio: nunca sabemos se ele vai explodir ou se as coisas ao redor dele vão. De fato, ele é um ímã para o caos.

    Ora herói, ora anti-herói, afinal o que pesa mais? Existe uma balança interna no Belmont, oscilando constantemente. Assumir um manto é a grande pergunta na última fase, e caberá aos episódios finais concederem uma resposta definitiva.

    Alucard é como uma fênix renascendo das cinzas. Depois de uma terceira temporada que o deixou de “escanteio”, ele recupera o fôlego, tomando as rédeas de um protagonista. Sob uma narrativa que o insere no centro de uma batalha, quase como um salvador divino, o filho do Drácula precisa lutar, física e mentalmente, contra seus inimigos e os fantasmas que sussurram em sua cabeça.

    O senso de justiça e a vontade de perseverar são os atributos que nutrem a força de Sypha. Canalizando esse dom graças ao diálogo, a personagem cresce episódio após episódio. Suas escolhas e questionamentos são fortes como um discurso. Aliás, todas às vezes que Sypha movimenta as mãos, conjurando elementos da natureza, a animação se transforma em uma explosão de cores e movimentos. A fluidez utilizada para animar os dons dela é um deleite visual. Água, gelo, fogo e sangue — essa é a fórmula que nunca perde o efeito de impressionar.

    Castlevania — Temporada Final é um épico sombrio digno dos games
    Castlevania (temporada final) / Netflix

    A temporada final de Castlevania é uma experiência que une a imersão dos jogos com o poder narrativo de uma série. Diversas cenas simulam o enquadramento dos “games”, como se o público estivesse usando um “joystick invisível”, movendo os personagens nas cenas de batalha. A movimentação giratória e a perspectiva visual durante o confronto final é similar ao clima de títulos como God of War e Shadow of the Colossus.

    Para a Netflix, esse “game over” é o “start” para futuras adaptações de games. A princípio, pode soar prematuro o encerramento da série em seu 4º ano. Todavia, é preciso ter muito tato para colocar um ponto final em uma história. E o criador Warren Ellis escolheu o momento certo, transformando Castlevania em um épico gótico.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Invincible.

  • Crítica | Mundo em Caos

    Crítica | Mundo em Caos

    Mundo em Caos, filme estrelado por Tom Holland (Homem-Aranha: Longe de Casa) e Dasy Ridley (Star Wars: A ascensão Skywalker) não consegue estabelecer uma conexão com o público e nem mesmo aproveitar a força dos atores protagonistas para causar empatia com a produção.

    Sinopse: Em um futuro não muito distante, em um mundo onde as mulheres desapareceram e os homens foram afetados pelo “ruído” – uma força que deixa seus pensamentos audíveis – Todd Hewitt (Tom Holland) encontra Viola (Daisy Ridley), uma jovem misteriosa que aterrissou em seu planeta. Com Viola correndo perigo, Todd jura protegê-la e colocá-la fora de perigo. Para salvá-la, Todd terá que controlar seu “ruído”, descobrir sua própria força e desvendar todos os segredos sombrios que seu planeta e sua comunidade guardam.

    Crítica | Mundo em Caos
    Mundo em Caos | Lionsgate | Paris Filmes

    Você deve estar se perguntando se está valendo a pena ir ao cinema em plena pandemia para assistir aos seus filmes favoritos, porque apesar da crise, a indústria não para e seus filmes favoritos estão sendo exibidos ‘normalmente’. Mundo em Caos é um dos filmes que já estão em cartaz em todo o circuito nacional, mas será que realmente vale a pena assistir esse filme no cinema?

    SPOILERS A SEGUIR!

    O longa começa com uma premissa bastante interessantes, onde os humanos conseguiram colonizar um planta desconhecido, como citado no filme, e misteriosamente os pensamentos dos homens deixaram de ser algo secreto, são expostos e ouvidos por todos, o que denominaram como ruídos, e o assassinato de todas as mulheres da colônia. Esse começo já induz ao espectador uma série de dúvidas do porque tudo aquilo está acontecendo e a ansiedade por respostas é quase iminente.

    Ao desenrolar da trama descobrimos que o planeta é habitado por criaturas nativas do planeta e que esses são responsáveis por matar todas as mulheres da aldeia de colonos e a chegada de uma nova mulher vinda de uma estação espacial, para dar seguimento a segunda fase da colonização após dezenas de anos. Eis aqui mais uma trama para expandir a curiosidade do espectador e transportar ele para dentro da tela, mas em uma tentativa fracassada.

    Crítica | Mundo em Caos
    Mundo em Caos | Lionsgate | Paris Filmes

    O roteiro abre uma centena de parênteses que quando não são explicados de maneira rasa e incoerente, nem são explicados, como por exemplo os nativos do planeta que não não nada aproveitados, estão ali apenas pra justificar uma mentira e a real razão do assassinado das mulheres. Isso também traz uma série de dúvidas sobre o que exatamente essa trama quis abordar, entre feminicídio, machismo, racismo e empoderamento feminino. São tantas bandeiras levantadas de uma única vez, não sei se sem querer ou com a intenção, mas não há a menor convicção e nenhum peso para quem assiste. No final só o que resta é uma chacota de questões necessárias aplicadas de maneira errônea.

    Mundo em Caos tem um elenco invejável, com as principais estrelas da atualidade como Tom Holland (do Universo Cinematográfico da Marvel), Daisy Ridley (Protagonista da última franquia de Star Wars), Nick Jonas, que vem cada vez mais tomando espaço em Hollywood participando de produções aclamadas como a nova franquia Jumanji, além de Mads Mikkelsen, que traz uma atuação avassaladora como protagonista de Druk: Mais Uma Rodada, atual vencedor de Melhor Filme Internacional do Oscar e Cynthia Erivo, vencedora de prêmios como Emmy , o Tony e indicada até ao Oscar e ao BAFTA. Mas eis aqui um desperdício de talentos causado pelo mau desenvolvimento do roteiro. É quase palpável o desconforto dos atores ao decorrer dos longuíssimas 1 hora e 50 minutos. e por incrível que pareça, quem brilha nesse longa estrelado é um cachorro!

    É inegável que o filme comece bem, interessante e com uma proposta que claramente é boa e original, mas nada convence, nada faz sentido, é exaustivo e apático de uma maneira que não há como mensurar. A fantasia, a aventura e a ação do filme são chatas e desinteressantes, sem contar da parte científica que é esquecida em uma trama de ficção sobre colonização de outros planetas. Os protagonistas não encantam e não chamam atenção positiva. A direção de Doug Liman é esforçada mas também não salva absolutamente nada.

    Por fim, Mundo em Caos é um daqueles filmes sem alma, confusos, desinteressantes e que parecem durar uma eternidade e te deixa cansado ao fim da sessão. Com certeza é alvo de comentários como “Era melhor ter ido ver o filme do Pelé”. Uma pena, de fato, porque potencial não faltou, atores do momento, trama original e interessante trabalhados de forma superficial e sem vontade.

    Nota: 1/5

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  • Crítica | Falcão e o Soldado Invernal

    Crítica | Falcão e o Soldado Invernal

    Segunda produção da Marvel Studios para o streaming do Disney+, “Falcão e o Soldado Invernal” apresenta uma narrativa política sobre os ídolos e a memória de uma Nação. Dirigido por Kari Skogland, a minissérie é um exame profundo do racismo institucional e carrega consigo a carga dramática necessária para se destacar.

    Falcão e o Soldado Invernal“, segunda série do projeto da Marvel Studios para o streaming do Disney+, traz às telas uma narrativa estimulante sobre o legado do Capitão América. Desenvolvida por Malcolm Spellman, a minissérie de 6 episódios tece comentários sociais maduros e aproxima o espectador da discussão sobre intolerância, simbolismo e diversidade. Dessa forma, à medida que assume um compromisso com esses temas, a produção do estúdio norte-americano define o seu tom e adota um diálogo consistente que conquista o público.

    Na série, após receber o manto de Capitão América das mãos do próprio Steve Rogers (Chris Evans), em Avengers Endgame (2019), Sam Wilson, o Falcão (Anthony Mackie), reluta em empunhar o escudo e o entrega às autoridades. Sob forte pressão governamental, o herói se alia a Bucky Barnes, o Soldado Invernal (Sebastian Stan), e embarca em uma perigosa missão que os coloca em contato com os Apátridas – uma célula terrorista que defende que o mundo era melhor durante o “Blip”, quando metade da população foi exterminada por Thanos. Assim, enquanto lutam contra os insurgentes, Sam e Bucky devem resolver as suas diferenças e encontrar um meio de evitar o colapso da geopolítica mundial, mesmo que isso signifique se aproximar de antigos inimigos.

    Falcão e o Soldado Invernal
    Falcão e o Soldado Invernal/Disney +

    Falcão e o Soldado Invernal“, que começa a ladrilhar o futuro de alguns personagens no Universo Cinematográfico Marvel, desenvolve a sua narrativa a partir da recusa de Sam Wilson em assumir o manto de Capitão América. Certo de que o simbólico escudo deveria ser aposentado, o herói o entrega ao governo norte-americano e decide continuar a sua luta contra o crime como o “Falcão”. No entanto, contrariando as expectativas, as autoridades decidem eleger um novo super-soldado para o lugar de Steve Rogers e, então, John Walker (Wyatt Russel), um veterano de guerra, se apresenta ao mundo e assume a missão de dar continuidade ao legado do Primeiro Vingador.

    Nesse sentido, impulsionado por uma atuação impecável de Wyatt Russel, que provoca o ódio do espectador, o novo Capitão América tenta unir forças com Sam e Bucky, a fim de traçar um plano de ação para neutralizar a ameaça dos Apátridas. Porém, à medida que as suas diferenças se manifestam, os dois se recusam a trabalhar com ele. A partir de então, John Walker assume um comportamento controverso e provoca questionamentos à sua integridade, ao passo que coloca em risco a segurança de todos ao seu redor. Por conseguinte, desacreditado, ele se torna uma ameaça real para o Falcão e o Soldado Invernal, dando origem a uma batalha pela memória de Steve Rogers e pelo destino do escudo.

    Enquanto isso, Sam e Bucky procuram maneiras pacíficas de lidar com o movimento insurgente, liderado por Karli Morgenthau (Erin Kellyman), e com os mistérios do Mercador do Poder, uma figura anônima que controla diversos recursos e operações ilegais no Oriente. Para tal, a dupla conta com a ajuda de Sharon Carter (Emily VanCamp) e do excelente Barão Zemo (Daniel Brühl), que acrescentam subtramas interessantes, ainda que pouco profundas, à narrativa de Malcolm Spellman. Logo, o desenvolvimento de “Falcão e o Soldado Invernal” alcança um clímax político complexo que apresenta com excelência temáticas como a crise demográfica e a migração compulsória.

    Zemo (Daniel Brühl) in Marvel Studios' THE FALCON AND THE WINTER SOLDIER exclusively on Disney+. Photo by Chuck Zlotnick. ©Marvel Studios 2021. All Rights Reserved.
    Falcão e o Soldado Invernal/Disney +

    Finalmente, “Falcão e o Soldado Invernal” se debruça sobre uma história madura de perdas e reparações. Servindo como uma passagem de manto do Capitão América no Universo Cinematográfico da Marvel, a minissérie de seis episódios analisa a questão do racismo institucional e denuncia a narrativa dos super-heróis pretos propositalmente “apagados” da História. Produzido exclusivamente para o streaming do Disney+, assim como “WandaVision“, a série é um dos experimentos mais ousados ​​e desafiadores da Marvel. Dessa forma, embora não seja impecável, a nova produção do estúdio oferece um espetáculo grandioso e altamente envolvente que, definitivamente, causa impacto.

    Falcão e o Soldado Invernal já está disponível no Disney+.

    Nota: 4/5

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    Veja também: Crítica | WandaVision

  • Crítica | Invincible

    Crítica | Invincible

    Produção original da Amazon Prime Video, “Invincible” apresenta uma narrativa extraordinária sobre o universo sombrio dos super-heróis. Baseada na série de quadrinhos homônima de Robert Kirkman, a adaptação investe em excelentes sequências de violência gráfica e se destaca graças à profundidade de seus personagens e à força de sua história.

    Recentemente renovada até a terceira temporada, “Invincible” estreou no streaming da Amazon Prime Video no dia 25 de março, com a premissa de subverter o gênero dos super-heróis e parodiar personagens já estabelecidos entre o grande público, como o Batman, a Mulher Maravilha e o Superman. Adaptada diretamente das HQs da Image Comics, a série de oito episódios surpreende o público e mergulha em uma narrativa sangrenta sobre a dualidade dos heróis e o preço dos seus poderes.

    Em “Invincible” (2021), Mark Grayson (Steven Yeun) é um garoto de 17 anos igual a qualquer outro de sua idade – exceto que seu pai é o super-herói mais poderoso do planeta, o Omni-Man (JK Simmons). Frustrado por ainda não ter nenhum poder, Mark vive à sombra da família e enfrenta dificuldades para se destacar. No entanto, à medida que se aproxima da maioridade, ele desenvolve as próprias habilidades especiais e mergulha em um mundo fantástico de heróis e super vilões. Dessa forma, treinado para combater o crime, Mark se depara com uma rede de conspirações e descobre que o legado de seu pai pode não ser tão heroico quanto aparenta.

    Invincible
    Invincible/Amazon Prime Video

    Invincible“, a partir de então, embarca em uma jornada investigativa sobre a duplicidade dos heróis e a corrupção dos seus valores morais, de modo a impulsionar a narrativa em direção ao plot mais importante da série: a chacina dos membros dos Guardiões do Globo, equipe mais poderosa da Terra, pelas mãos do próprio Omni-Man. Nesse sentido, enquanto estabelece seu universo sangrento, a obra de Robert Kirkman se delicia com o prazer que os heróis sentem ao exercer os seus poderes e revela uma abordagem satírica do gênero, guiando o espectador através de sequências brutais e perturbadoras que dificilmente serão esquecidas.

    Por conseguinte, em comunhão com a notável violência gráfica, a produção da Amazon Prime Video estabelece uma gama de personagens humanizados e uma história profunda de dor e perda que, por sua vez, contam com um elenco de voz de excelência (Steven Yeun, J.K.Simmons, Sandra Oh, Seth Rogen, Mark Hamill, Jason Mantzoukas, Zachary Quinto, Mae Whitman) que potencializam a dramaticidade e a força da narrativa. Ao mesmo tempo, à medida que mantém essa seriedade virtuosa, “Invincible” desenvolve um grande – e perturbador – senso de humor e se torna uma experiência obrigatória para o grande público, que descobre uma série equilibrada, audaciosa e emocionante.

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    Invincible/Amazon Prime Video

    Finalmente, “Invincible” é uma adição bem-vinda ao mercado supersaturado de super-heróis e surge a partir de um conteúdo extremo que convida o espectador a fazer parte da loucura sádica de alguns personagens. Comparado ao sucesso de “The Boys” (2019-atualmente), a série entrega um material recheado de reviravoltas e não se preocupa em transformar os seus atos em batalhas sanguinárias que explodem membros e órgãos para todos os lados. Dessa forma, ainda que clichê, a nova produção do Prime Video revela motivos de sobra para se destacar no mercado e promete sequências arrebatadoras cheias do encanto agressivo que fizeram da primeira temporada um sucesso.

    Invincible já está disponível na Amazon Prime Video.

    Nota: 4,5/5

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    Veja também: Crítica | WandaVision

  • Crítica | WandaVision

    Crítica | WandaVision

    Produção norte-americana desenvolvida por Jac Schaeffer para o Disney+, “WandaVision” é o primeiro retrato da Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel, após os eventos de ‘Avengers: Endgame’. Inovadora, a minissérie de nove episódios explora um formato singular e apresenta uma narrativa radical sobre o luto e realidades alternativas.

    Primeira produção da Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel, “WandaVision” faz parte de um planejamento do estúdio para a construção do futuro de alguns personagens. Integrando uma seleção de novas séries (que incluem “O Falcão e o Soldado Invernal“, “Loki“, “Gavião Arqueiro“, e outras), o arco da Feiticeira Escarlate com o seu falecido interesse amoroso, o Visão, abre portas para uma narrativa inesgotável que será explorada nos próximos filmes da Marvel Studios, como “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura“, em 2022.

    Em “WandaVision“, três semanas após os eventos de Avengers: Endgame (2019), Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) se esforçam para levar uma vida suburbana relativamente normal na cidade de Westview, no estado de New Jersey. Esforçando-se para esconder os seus poderes, o casal começa a suspeitar que a perfeição de suas vidas não pode estar tão certa assim. Na verdade, eles se encontram presos dentro de uma gigantesca sitcom criada pela própria Wanda e, conforme o tempo passa, essa realidade alternativa começa a apresentar diversos problemas e ameaçar a segurança dos cidadãos da cidade fictícia.

    WandaVision
    WandaVision/Disney+

    Produzida exclusivamente para o streaming do Disney+, “WandaVision” mergulha fundo na dimensão dos poderes da Feiticeira Escarlate. Ao contrário de “Vingadores: Era de Ultron“, sua primeira aparição nos cinemas, que reduziu a personagem à manipulação mental e outros poderes ‘vermelhos’ genéricos, aqui ela foi completamente redefinida e aprofundada. Desde o luto pela morte do Visão [pelas mãos do Titã Louco, o Thanos] até as suas motivações para a manipulação da realidade, Wanda Maximoff entra em um desenvolvimento crescente que culmina em uma explosão de dor e poder que aprisiona toda uma cidade dentro de uma realidade televisiva dos anos 50, 60 e 70.

    Neste cenário, assombrada pelos seus sentimentos, a Feiticeira “recria” o Visão e embarca em uma jornada pessoal de negação, abandonando a vida real e fugindo para uma sitcom de TV, onde tudo é perfeito e exatamente como ela deseja. No entanto, enquanto isso, os verdadeiros cidadãos de Westview são mentalmente manipulados pelos seus poderes e forçados a desempenhar papéis que contribuem para a manutenção e para o desenvolvimento da história roteirizada por Wanda, na qual ela e o Visão ainda são um casal e viverão felizes para sempre.

    Em contrapartida, apesar da serenidade inicial de sua criação, a quantidade absurda de Magia do Caos utilizada pela Feiticeira para a manipulação da realidade [e o consequente “sumiço” de uma cidade] chamam a atenção da SWORD, uma agência de inteligência ultrassecreta. Dessa forma, uma missão governamental com o objetivo de pôr fim aos caprichos revoltos de Wanda e salvar os reféns tem início – e traz de volta à tela alguns personagens já conhecidos pelo público, como Darcy (Kat Dennings), de “Thor”, e Jimmy Woo (Randall Park), de “Homem Formiga”. Contudo, à medida que o apego de Maximoff àquela realidade aumenta, seus poderes se fortalecem e exterminam qualquer tentativa mortal de impedi-la. A partir de então, diversas possibilidades narrativas sobre a extensão das suas habilidades são criadas, abrindo brechas para o futuro da personagem nas próximas produções da Marvel Studios.

    Elizabeth Olsen as Wanda Maximoff and Paul Bettany as Vision in Marvel Studios' WANDAVISION exclusively on Disney+. Photo courtesy of Marvel Studios. ©Marvel Studios 2021. All Rights Reserved.
    WandaVision/Disney+

    Finalmente, a partir do momento que decide se distanciar da “fórmula Marvel” e explorar um formato diferente de tudo que o estúdio já produziu antes, “WandaVision” cria uma abordagem genuinamente única para o UCM e para a TV em geral, assumindo um protagonismo na reformulação da forma que histórias de heróis podem ser contadas e possibilitando uma gama maior de produções do gênero. Por conseguinte, além de sua entrega ao formato, a série torna-se um sucesso ao abordar temas fortes relacionados à tristeza, amor e família, o que humaniza os personagens e aproxima o público da história de luto e desespero [inicialmente disfarçada de uma sitcom ] ofertada pela Marvel Studios.

    WandaVision, que revoluciona o mundo das minisséries VOD (Video on Demand), é imperdível, do início ao fim, e já está disponível no Disney+.

    Nota: 4,5/5

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    Veja também: Crítica | O Último Jogo

  • Crítica | Godzilla vs. Kong

    Crítica | Godzilla vs. Kong

    A Warner segue firme e forte lançando seus filmes no mercado internacional, quase sem concorrência, e a sua estratégia de lançar as suas principais produções simultaneamente nos cinemas dos EUA e no HBO MAX, superando todas as expectativas e se consolidando entre as principais arrecadações durante a pandemia, batendo recordes atrás de recordes.

    O que torna um filme bom atualmente? Um roteiro super elaborado, fotografia esplêndida, uma trilha sonora inesquecível, atuações impecáveis ou apenas o puro e simples entretenimento? A cada filme do universo compartilhado de monstros da Legendary Pictures que é lançado, além de muitos outros de “gosto popular,” esses questionamentos reaparecem e para entendermos como isso está ligado a franquia, e até chegarmos a Godzilla vs. Kong, precisamos recapitular.

    Quando lançado em 2014, “Godzilla” foi a porta de entrada para um universo compartilhado. A produção se tornou um enorme sucesso por sua trama mais parecida com um filme de catástrofe, e voltada para o ponto de vista humano sobre os ataques do grande monstro, o que acarretou em apenas 15 minutos de tela do monstro protagonista e dono do título do longa, gerando uma onda de críticas por conta disso e das cenas escuras que envolviam o mesmo. Mas apesar das reclamações, o público comprou a ideia e pediu por mais, e cerca de três anos depois tivemos o segundo filme do intitulado “Monsterverse”.

    Crítica | Godzilla vs. Kong
    Godzilla (2014) / Warner Bros. Pictures

    Em 2017, assim como o grande lagarto gigante e radioativo, Kong (o rei dos primatas, como conhecido por muitos) teve um filme para chamar de seu. Em um filme de época, situado nos anos 70, o filme aborda a viagem exploratória de uma organização para buscar informações sobre os temíveis Kaijus na Ilha da Caveira, lar do protagonista, assim como sua ascensão. “Kong: A Ilha da Caveira” garantiu a expansão do universos de monstros co-produzido pela Legendary Pictures e a Warner Bros. Depositando pequenas referências, ligando as tramas dos filmes e deixando mais para o futuro. E aqui mais um sucesso, garantindo mais um filme para expandir ainda mais a história das gigantescas criaturas e garantindo o confronto que todos esperávamos: Godzilla vs. Kong!

    Crítica | Godzilla vs. Kong
    Kong: A Ilha da Caveira (2017) / Warner Bros. Pictures

    Muito diferente do primeiro filme, “Godzilla 2: Rei dos Monstros” decidiu deixar o núcleo humano em segundo plano e focar nos grandes monstros aterrorizantes. Aqui descobrimos que os Kaijus estão reascendendo e gerando destruição por onde passam, e podemos ver tudo isso mais ao ponto de vista dos próprios monstros e de todo o caos causado por eles. Tal decisão deixou o público dividido entre os que gostaram de uma trama voltada única e exclusivamente para pancadaria de monstros gigantes e os que preferiam ver uma trama mais elaborada, focando no ponto de vista humano. Porém, o publico pediu mais e devido ao apelo tivemos a confirmação de “Godzilla vs. Kong“.

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    Godzilla II: Rei dos Monstros (2019) / Warner Bros. Pictures

    “Godzilla vs. Kong” foi um dos muitos filmes que sofreu com as consequências da pandemia e teve diversos adiamentos, até finalmente ser lançado nos cinemas dos EUA e nos HBO MAX em 31 de março e no Brasil apenas em 29 de abril. Mas será que toda a espera valeu a pena?

    Sinopse: Lendas entram em rota de colisão em Godzilla vs. Kong, quando esses dois adversários míticos se encontram em uma batalha espetacular e histórica, que coloca o destino do mundo em jogo. Kong e seus protetores iniciam uma jornada perigosa para encontrar seu verdadeiro lar. Com eles está Jia, jovem órfã com quem Kong criou um vínculo único e sólido. Mas, inesperadamente, eles cruzam o caminho de um Godzilla enfurecido, que tem deixado atrás de si uma trilha de destruição em todo o planeta. O confronto épico entre os dois titãs – instigado por forças invisíveis – é apenas a porta de entrada do grande mistério que reside nas profundezas do núcleo da Terra.

    Crítica | Godzilla vs. Kong
    Godzilla vs. Kong / Warner Bros. Pictures
    Alerta de spoiler!

    “Godzilla vs. Kong” é um daqueles filmes que deixam um gosto agridoce depois da sessão. Pode-se dizer que o filme é um dos mais fracos de todo o monsterverse até o momento, o que é uma pena, pois esse, com certeza, foi um dos filmes mais ‘hypado’ da franquia. Os problemas começam pela divulgação do longa, que sofreu com os adiamentos inevitáveis devido o atual saúde de saúde e sanitária, e que foram a causa do atraso do marketing. Muita coisa foi entregue desnecessariamente em diversos materiais de vídeo, como por exemplo a presença do Mechagodzilla e o excesso de novas informações dadas pelo diretor da produção.

    Partindo para o filme em si, o roteiro prejudica demais e essa é a pior coisa a pontuar. É perceptível que a trama central do filme são os embates entre Goodzilla e Kong e que tudo além disso está ali unicamente para preencher o longa, não é atoa que esse é o filme mais curto do Monsterverse, e garanto que poderia ser mais. O núcleo humano é péssimo, mal desenvolvido e arrasta a história em um grau absurdo, causando desconforto e a sensação de pressa para que alguma cena de ação comece.

    Os novos personagens são mal inseridos e os antigos reduzidos a absolutamente nada, o personagem de Kyle Chandler se tornou uma mera participação e a de Millie Bobby Brown um verdadeiro pé no saco. O alívio cômico foi deixado para o personagem de Brian Tyree Henry, que traz um personagem mais caricato que o necessário e com atitudes que não casam com os momentos. Um exemplo, é uma cena onde ele invade um galpão de instalação secreta e solta um grito para fazer eco – Não faz nenhum sentido. A única personagem que causa uma boa sensação em tela é a de Kaylee Hottle, que é uma fofura e com uma atuação perfeita.

    Seguindo ainda pelas péssimas decisões do roteiro, está a parte científica da história que tenta elaborar demais e nem mesmo se explica. As informações sobre a Terra Oca, assim como a capacidade de um humano viajar para lá, mesmo depois de diversas falhas que acabaram em fatalidades, são jogadas para o lúdico, com interpretações que devem ser feitas pelo próprio espectador, e que muito provavelmente não se trata nem de interpretar, mas apenas aceitar o que viu e bola pra frente. A criação do Mechagodzilla é uma desculpa esfarrapada para um final clichê, que todos já sabiam. Uma das coisas mais irritantes para o espectador é não saber exatamente como o Kong foi capturado vivo e como ainda conseguem mantê-lo sob custódia, além de sua descendência que foi abordada, mas também não foi explicada. O final deixa claro, que muito disso poderá ser abordado em um próximo filme (se realmente tiver um).

    Os pontos positivos estão certamente no que o filme é e foi prometido, nas lutas entre os titãs. Com embates épicos e bem produzidos, a cada luta é uma apreensão para saber quem sairá vitorioso. É tudo muito grandioso, estrondoso e violento. Uma das maiores surpresas é realmente ver que de fato temos um vitorioso explícito, sem necessário interpretações. A cena de Hong Kong é espetacular, o uso das cores neon abrilhantam literalmente as cenas. A trilha sonora deixa tudo ainda mais dinâmico e eleva consideravelmente a dinâmica de tudo que está acontecendo na tela.

    Crítica | Godzilla vs. Kong
    Godzilla vs. Kong / Warner Bros. Pictures

    Esse filme responde muito bem a pergunta sobre o que é necessário para se considerar um filme bom, e a resposta é muito simples: cumprir o que foi prometido, no mínimo atingir as expectativas, e sem a necessidade de elaborar um roteiro mais ou menos do que é necessário, que além de prejudicar a produção, acaba tirando a identidade do que ele realmente é. No caso desse filme especificamente, ele tentou ser mais do que podia e deveria ser. É nítido que Godzilla vs. Kong” foi feito feito para ser assistido numa tela de cinema, e pra ser mais exato, em uma sala IMAX, porém no final você se questiona se ele realmente vale o ingresso.

    Com tramas indigestas e que beiram a chatice e a cafonice, as decisões mal tomadas do roteiro pesaram demais sobre tudo de bom que o longa tem, e que são poucas. Ao menos temos a promessa cumprida de um embate épico e poderoso, com a destemida decisão de apresentar um vencedor de forma coerente. No fim tudo que sobra são questionamentos e o desejo que o próximo filme do “Monsterverse” seja tão bom quanto os três primeiros e que se redima por esse.

    Nota: 2,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Vozes e Vultos

    Crítica | Vozes e Vultos

    Em novo suspense produzido pela Netflix “Vozes e Vultos”, Amanda Seyfried e James Norton enfrentam possessões, aparições e uma crise gigantesca no casamento.

    Sabe aqueles filmes de terror onde a família compra uma casa assombrada e dali pra frente a vida deles nunca mais foram as mesmas ? Pois é, o clichê mais conhecido dos filmes assustadores está bem presente em Vozes e Vultos, nova produção da Netflix.

    Vozes e Vultos conta a historia do casal Catherine Clare (Amanda Seyfried) e George (James Norton), que se mudam para a cidade onde George irá lecionar. A casa no interior é grande e antiga, além de ser cercada de mistérios que envolve a vida de seus primeiros donos.

    Após a mudança, Catherine começa a perceber que coisas estranhas vem acontecendo, o que não a assusta tanto já que ela tem uma ligação é uma crença forte que beira ao espiritismo. O que mais assusta a artista é que seu marido George vem agindo de maneira completamente diferente é extremamente agressivo, como se estivesse possuído por algo ruim. Clichê? Sim!

    Vozes e Vultos
    Vozes e Vultos | Netflix

    A história de uma família que vê fantasmas na casa nova já é coisa antiga, mas mesmo assim parece que a fórmula agrada tanto os roteiristas, diretores e produtores, que é visível em praticamente 60% dos filmes de terror.

    O que difere Vozes e Vultos dos outros filmes com certeza é a atuação da Amanda e do James, que mais uma vez foi impecável e deram um show. Além da história colocar a protagonista como uma pessoa sensitiva, ganhando pontos por não mostrar uma mulher fraca e medrosa, e sim alguém curiosa que vai atrás de descobrir o real da história.

    Apesar das aparições constantes e do susto leve que levamos no decorrer do filme, o drama e o péssimo convívio do casal acaba chamando toda a atenção, fazendo com que certos detalhes sejam deixados de lado.

    Vozes e Vultos
    Vozes e Vultos | Netflix

    O longa é baseado no livro de Elizabeth Brundage, e foi dirigido por Shari Springer Berman e Robert Pulcini que, apesar de já terem trabalhado em grandes obras, não conseguiram fazer o mesmo feito e trazer a mesma qualidade com Vozes e Vultos.

    A Netflix vem investindo bastante em produções originais nos últimos anos, a minha torcida é que isso não vire um problema que acarretará na diminuição da qualidade de cada lançamento. Óbvio que o longa não é de todo ruim, tem seus momentos de tensão e dão leves sustos, mas também não são filmes memoráveis.

    Por fim, Vozes e Vultos não ganha o prêmio de obra prima, mas passa bem longe de ser um filme sem graça. A história é interessante, mesmo se perdendo no drama do casal ele não perde a sua essência do suspense.

    Vozes e Vultos já está disponível na Netflix.

    Nota: 2/5

    Veja o trailer:

  • Crítica | Os Pequenos Vestígios

    Crítica | Os Pequenos Vestígios

    Suspense policial Os Pequenos Vestígios é um dos próximos lançamentos da volta dos cinemas. O longa que já estreou nos EUA tem chamado a atenção pelo sucesso de bilheteria, e por ter sido classificado como +18. Com um elenco de dar inveja, o filme é mais do que só um clichê policial.

    Um bom suspense policial, para mim, consegue ultrapassar a marca de clichê e se tornar algo único no meio de tantos outros que tem histórias um tanto quanto parecidas. Trabalhar em cima de um roteiro bem escrito é, na maioria das vezes, um prato cheio para diretores e atores já consagrados por trabalharem com filmes nesse estilo. O elenco bem formado é a chave para o sucesso de Os Pequenos Vestígios, novo suspense estrelado por Denzel Washington.

    A história gira em torno do xerife Deke (Denzel Whahington), que encontra seus antigos colegas de trabalho ao investigar um caso um tanto quanto familiar. O desaparecimento de uma jovem e o assassinato de outra fazem com que o xerife (conhecido por enxergar os pequenos detalhes) fique em sua cidade natal.

    Os Pequenos Vestígios
    Os Pequenos Vestígios | Warner Bros. Pictures

    Ele se une ao jovem detetive Baxter (Rami Malek) para encontrar o serial killer, responsável pela morte de várias jovens nos últimos anos, e acabam investigando um homem um tanto quanto peculiar (Jared Leto).

    Apesar da história parecer simples, as coisas começam a complicar quando o passado obscuro, o mau comportamento e a teimosia  do xerife se tornam um problema, dificultando toda a investigação.

    Típico clichê policial, juntando duas gerações para irem atrás do vilão. Talvez essa seja a ideia que o trailer passa do filme, mas o buraco é bem mais em baixo. O roteiro simples serve justamente para surpreender o telespectador, uma história já contada pode ser sim melhorada e bem explorada, e esse é o caso do filme.

    Os Pequenos Vestígios
    Os Pequenos Vestígios | Warner Bros. Pictures

    Dirigido por John Lee Hancock, Os Pequenos Vestígios se sobressai ao trazer o plot twist pra dentro da história, nos fazendo pensar que nem tudo é o que parece. Além de pequenos vestígios, o filme conta com pequenos detalhes que valem a pena serem citados. A forma como o assassino é introduzido na história é de cair o queixo, foi realmente uma surpresa agradável.

    Ver Denzel, Rami e Jared atuando lado a lado é de encher os olhos, tem tanta experiência sendo compartilhada, que as vezes fica até difícil prestar a atenção no filme.

    Mas nada que não pudesse melhorar. Talvez por ser uma história batida, o filme deixe um pouco a desejar em alguns quesitos (que eu acho que são bem particulares, e não valem ser citados para não estragarem a experiência), afinal, apesar de surpreender, ele não é uma obra prima. Mas, de fato, é um filme que consegue se reinventar em cada ato.

    Os Pequenos Vestígios
    Os Pequenos Vestígios | Warner Bros. Pictures

    Os Pequenos Vestígios reveses lançamento interrompido por conta do número de casos de COVID-19 no Brasil, mas antes conseguiu fazer um número invejável de bilheteria nos Estados Unidos e em mais de 21 países em que foi lançado.

    Os Pequenos Vestígios estreia no Brasil dia 24 de Abril, seguindo as datas de reabertura dos cinemas que diferem de acordo com os estados.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Amor e Monstros

    Crítica | Amor e Monstros

    Indicado ao Oscar, nova produção da Netflix “Amor e Monstros” chaga ao Streaming trazendo Dylan O’Brien enfrentando monstros gigantes em um cenário pós apocalíptico em busca de seu verdadeiro amor.

    Filmes apocalípticos e pós-apocalípticos com monstros gigantes e pessoas abrigadas em lugares inacessíveis não é uma novidade, já vimos isso em O Nevoeiro e sabemos como tudo terminou. A diferença aqui  é que uma história de amor nunca foi contada em um mundo assim, pelo menos não que eu lembre. Amor e Monstros mostra que, mesmo o mundo acabando e as pessoas sendo comidas por insetos gigantescos, vale sim a pena lutar pelo amor.

    Amor e Monstros começa sendo narrado por Joel (Dylan O’Brien), um adolescente que vê sua vida mudar completamente quando uma tentativa falha do governo em atingir um meteoro acaba resultando no crescimento de criaturas como sapos, formigas e abelhas, o transformando em monstros gigantes e extremamente perigosos. Tudo isso acontece enquanto Joel está com a sua namorada Aimee ( Jessica Henwick), para salvarem as suas vidas e a de suas famílias, os dois se separam para procurarem abrigos. Na luta pela sobrevivência, Joel acaba perdendo os seus pais e sendo resgatado por um grupo que estava indo se refugiar no subsolo.

    Amor e Monstros
    Amor e Monstros | Netflix

    Sete anos se passam e vemos um mundo completamente tomado pelas criaturas mutantes, enquanto as partes de sobreviventes humanos vivem refugiados e longe da luz do sol. Joel fica em uma comunidade jovem, sendo assim, todos consequentemente formaram casais, fazendo com que o jovem fofo e romântico tenha a companhia somente de uma vaca e um rádio. Se sentindo sozinho e ainda apaixonado pela namorada da época da escola, Joel decide entrar em contato com várias comunidades através do rádio amador, até encontrar o paradeiro de sua amada, o que incrivelmente acontece.

    Depois de um tempo conversando pelo rádio, Joel – que não é a melhor referência quando o assunto é coragem- decide enfrentar sozinho 130 km até a comunidade de Aimee, tendo que lidar com os monstros na terra. Em sua jornada, ele encontra outros sobreviventes, um homem mais velho (Michael Rooker), uma menina de 8 anos extremamente corajosa (Ariana Greenblatt) e um cachorro chamado Garoto, que o acompanhou fielmente.

    Amor e Monstros
    Amor e Monstros | Netflix

    Se de Amor e Monstros você espera algo sério e terrivelmente triste, é melhor rever suas expectativas. Apesar de ser um mundo pós-apocalíptico, o humor consegue ser bem presente, trazendo similaridades com produções como Zumbilândia. A trama consegue dosar igualmente os momentos de tensão, humor e até mesmo os momentos emocionantes, e talvez isso seja a receita para que filmes assim deem certo.

    Apesar de o diretor Michael Matthews ter se inspirado no jogo The Last Of Us para fazer o filme, acredito que a referência tenha passado totalmente batido para os leigos em games. Mas há quem diga que o personagem Joel é bem parecido com a personagem principal do jogo, principalmente pela forma que eles se vestem.

    Dylan já é um veterano quando o assunto é mundos pós-apocalíptico, ele já havia mostrado todo o seu talento em Blaze Runner, mas continua impressionando em cada papel que se propõe a fazer. O ator já é por si só muito simpático, ter papéis em que a característica do personagem é a simpatia e o humor cai como uma luva, e o faz ser o grande destaque da produção.

    Amor e Monstros
    Amor e Monstros | Netflix

    E o destaque não fica somente no ator, os efeitos especiais são um copo cheio para quem é fã de monstros gigantescos. Apesar de soar um pouco falso em alguns momentos, a imagem que recebemos dos gigantes consegue assustar um pouco, principalmente porque são animais que nós vivemos normalmente, só que com o tamanho exorbitante. E foram esses efeitos especiais que garantiram o lugar do filme no Oscar 2021.

    Amor e Monstros foi, pra mim, uma grata surpresa. Apesar de ter visto o trailer diversas vezes, eu ainda não sabia muito bem o que seria apresentado, o que foi bom porque no fim conseguiu superar totalmente as minhas expectativas. E o melhor (ou pior, dependendo do ponto de vista) é que, provavelmente o filme terá uma sequência. Apesar de a história parecer encerrada e de já imaginarmos como será a vida após o término do filme, é claro que fica aquele gostinho de quero mais e, se depender do público, o diretor do longa já deixou claro que super toparia dar continuidade ao trabalho.

    Amor e Monstros já está disponível na Netflix.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Meu Pai

    Crítica | Meu Pai

    Anthony Hopkins e Olivia Colman  estrelam o filme “Meu Pai”, um drama sobre a velhice e a inversão de papéis entre pais e filhos.

    Anthony Hopkins e Olívia Colman são grandes estrelas de Hollywood, os dois já mostraram o seu trabalho diversas vezes dando vida a personagens complexos e até mesmo populares. Em “Meu Pai”, os dois tentam trabalhar uma forma mais simples, visando somente passar a mensagem do filme.

    Em “Meu Pai”, Anthony (Anthony Hopkins) tem 83 anos e mora sozinho  em um grande apartamento, recusando ajudas médicas e especializadas, ele tem somente a filha Anne (Olivia Colman) para confiar a sua saúde e seus bens materiais. Anne, indo visitar o seu pai depois que mais uma enfermeira desistiu de cuidar dele, informa que irá se mudar para Paris junto de um rapaz que está conhecendo, o que tornará impossível o contato todos os dias com o seu pai.

    Meu Pai
    Meu Pai | Florian Zeller

    Anthony, que já é desconfiado por natureza – coisa que aumentou ainda mais por conta da avançada idade- passa a desconfiar de sua própria filha. Afinal, coisas estranhas começaram a acontecer na casa, e ele imagina se isso não seria um plano de sua filha para conseguir o tirar de casa.

    Toda essa desconfiança é colocada a prova, principalmente quando um personagem já tem extrema desconfiança sobre tudo ao seu redor. Anthony, que já é um ator consagradíssimo e já esteve em diversos papéis icônicos, conseguiu mostrar de um jeito simples a dificuldade que o avanço da idade traz para as pessoas.

    Apesar da premissa simples, o filme consegue mergulhar numa angustiante passagem de tempo e acontecimentos. Os diálogos são intensos-assim como a vida-, e funcionam super bem, consegue alcançar o que foi proposto, consegue passar o quão doloroso é o ato de envelhecer, adoecer e ser dependente.

    Meu Pai
    Meu Pai | Florian Zeller

    O diretor e roteirista francês Florian Zeller utilizou de várias técnicas cinematográficas para conseguir trazer a realidade para o cinema, lembrando mais uma vez que a simplicidade nesse longa é o que o torna especial.

    Com um roteiro e técnicas tão simples, acredito que a história não teria um interesse tão grande do público se não fosse pelo seu elenco de peso. A meu ver, seria só mais uma história do cinema independente.

    Por fim, o filme se torna poético, arrebatador e faz pensar. Não é atoa que o seu lugar no Oscar está muito bem ocupado.

    “Meu Pai” ainda não tem data de estreia no Brasil.

    Nota: 4,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | O Último Jogo

    Crítica | O Último Jogo

    Baseado no romance chileno “El Fantasista“, de Hernán Rivera Letelier, “O Último Jogo” retrata a histórica rivalidade futebolística entre Brasil e Argentina. Dirigido por Roberto Studart, o longa nacional apresenta uma narrativa de comédia eficiente e carismática sobre dois povos vizinhos cujo antagonismo supera os limites da razão.

    O Último Jogo“, primeiro filme ficcional do documentarista Roberto Studart, é um conto audacioso sobre a paixão pelo futebol. Abandonando propositalmente a racionalidade, a obra caminha em direção à fantasia, a fim de entregar um material capaz de ressignificar a história de uma das maiores rivalidades do mundo e de dissertar sobre a relação viciante do ser humano com o esporte mais popular do planeta.

    No filme, dois vilarejos na fronteira entre Brasil e Argentina vivem em pé de guerra. Separados por nove quilômetros e por uma excêntrica competição no futebol, o imaginário dos cidadãos locais gira em torno das partidas amistosas realizadas entre as equipes de várzea de cada cidade. No entanto, a história do confronto está prestes a mudar: os habitantes de Belezura, do lado brasileiro, estão prestes a perder a sua principal fonte de renda, o que culminará na extinção do povoado. Dessa forma, uma inevitável partida decisiva contra os arquirrivais vizinhos entra em pauta. É a hora de definir quem são os melhores, os brasileiros ou os argentinos. E em um ponto todos concordam: é preciso vencer, custe o que custar.

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    O Último Jogo / Pandora Filmes

    O Último Jogo“, que traça a sua narrativa a partir de um assunto de grande apelo popular, tem início em uma vibrante partida de futebol entre os povoados do Brasil e da Argentina. Recheado de lances de pura classe e outros de pura maldade – dignos da maior rivalidade da história do esporte -, o longa se lança em um contexto humorístico e fantasioso que conquista a atenção de todos os espectadores. Por conseguinte, a partir do momento que o resultado final do clássico sul-americano favorece aos argentinos, a produção documenta o caos que se instaura no imaginário dos cidadãos brasileiros. Desolados, os habitantes de Belezura procuram formas de superar o estrago da derrota e maneiras de aplicar o “troco” em seus maiores rivais.

    No entanto, quando a contagem regressiva para a revanche se inicia, é descoberto que a fábrica de móveis que garante o sustento da cidade brasileira está falida e que o povoado está à beira da extinção. Dessa forma, uma última partida entre as equipes torna-se uma obsessão. É preciso vencer o confronto final e se tornar o eterno campeão. Porém, as expectativas dos brasileiros são as mais baixas possíveis, uma vez que o seu goleiro está engessado dos pés ao pescoço, o seu melhor zagueiro está preso e o seu camisa 10 desiste de jogar bola. O cenário de desespero e pessimismo toma conta dos envolvidos na partida e a derrota é praticamente certa. Isto é, até um craque de futebol conhecido como “O Fantasista” aparecer, por coincidência, na cidade e reacender as esperanças do vilarejo por uma vitória contra os argentinos.

    O Último Jogo
    O Último Jogo / Pandora Filmes

    A partir daí, “O Último Jogo” demonstra uma qualidade notável no desenvolvimento de seus personagens e na construção de um ambiente narrativo agradável e envolvente que transporta o espectador para dentro de tela. Utilizando cenários coloridos, tons saturados e doses desmedidas de um humor ácido e inteligente, o longa cria uma atmosfera aconchegante e divertida que não permite um momento sequer de tédio ou desatenção. Para isso, a experiência de Roberto Studart como documentarista se mostra indispensável, uma vez que contribui para o estabelecimento de um universo criativo e particular que consegue traduzir em imagens a histórica rivalidade entre Brasil e Argentina e, ainda, o poder de união que o futebol tem sobre as pessoas.

    Finalmente, a produção nacional se destaca por explorar o realismo fantástico, cujo conceito é aplicado quando produções artísticas misturam elementos da realidade, da fantasia e do sonho, a fim de criar uma narrativa que não obedece a uma ordem lógico-científica. Dessa forma, o longa não assume compromisso em corresponder ao que é “possível” e mergulha fundo em uma dramatização cômica e bastante irreal que agrada a maior parte dos espectadores.

    O Último Jogo tem estreia prevista para o dia 01 de abril de 2021

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Pânico na Floresta (2021)

  • Crítica | Alma de Cowboy

    Crítica | Alma de Cowboy

    Em um faroeste urbano, Idris Elba enfrenta um de seus maiores papéis: o de ser pai! A nova produção da Netflix “Alma de Cowboy” traz uma discussão velada sobre a paternidade e a luta dos moradores de um bairro da Filadélfia.

    Cowboy sempre foi uma palavra que me remetia ao velho oeste, pessoas com suas armas e seus cavalos lutando por um pedaço de terra ou conduzindo uma boiada. Talvez essa ideia esteja um tanto quanto ultrapassada. Deixando o velho oeste para trás, Alma de Cowboy mostra que veio para quebrar os paradigmas sobre a imagem por trás de um verdadeiro montador de cavalos.

    Alma de Cowboy traz um jovem complicado de lidar e um tanto quanto rebelde. Cole ( Caleb McLaughlin) que é expulso de casa pela própria mãe após a saturar com os problemas que ele se metia na escola e com a polícia. Sem saber que estava indo para a casa do pai, Cole é o adolescente comum e revoltado, que culpa o pai ausente por todos os seus problemas.

    Alma de Cowboy
    Alma de Cowboy | Netflix

    O pai de Cole, Harp ( Idris Elba) é um cowboy conhecido e respeitado num pequeno bairro da Filadélfia, nos Estados Unidos, onde vivem um grupo de caubóis do asfalto e grandes seleiros. As reuniões em volta de fogueiras e a presença constante dos cavalos não é algo que agrade tanto Cole, apesar da narrativa nos levar a entender que o personagem cresceu lá, ele já não se considera mais parte dessa comunidade.

    Infeliz, Cole se junta ao amigo de infância Smush (Jharrel Jerome), que é má companhia e acaba o metendo em uma guerra entre os traficantes da Filadélfia. Fazendo com que Cole tenha que decidir entre o tráfico e a vida tranquila cuidando de cavalos.

    Apesar da história não chamar tanto a atenção num primeiro momento, é o clichê que acaba salvando toda a história. A ligação entre pai e filho misturados com a ligação do garoto com os cavalos acaba por prender o telespectador pelas 1h50 de duração.

    Alma de Cowboy
    Alma de Cowboy | Netflix

    Mesmo com a aparência de durão do personagem Harp, ele consegue passar todas as lições e mostra que o objetivo do pequeno grupo de cuidadores de cavalos e cowboys é tentar manter os jovens longe do crime e de más influências.

    A força da produção só é apresentada de fato nos crédito, que acabam por  revelar que a maior parte dos personagens apresentados no longa fazem parte de fato do Clube Fletcher Street, trazendo a magia à narrativa ao contar histórias reais e trazer a cultura dos cowboys do asfalto.

    Em termos técnicos o filme não falha, ele entrega tudo aquilo que foi apresentado de início, e traz a conclusão necessária para a história. Dirigido por Ricky Staub, Alma de Cowboy se fez um serviço necessário.

    Alma de Cowboy
    Alma de Cowboy | Netflix

    Não posso deixar de citar a minha grata surpresa ao ver o Caleb McLaughlin atuando em algo sólido. Já havia me surpreendido com ele em Stranger Things, mas ter ele separado de outros adolescentes, trazendo um personagem complicado e tão intenso foi realmente sensacional. Acredito que tenha sido o match perfeito entre o Caleb e Idris Elba.

    Por fim, Alma de Cowboy conseguiu me surpreender em vários aspectos. Não é um filme fácil, e também não é o tipo que agrada todos os gostos, mas apresentar uma cultura real e um tanto quanto desconhecida sempre vai encher os meus olhos.

    Alma de Cowboy estreia dia 2 de Abril na Netflix.

    Nota : 4,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | A Semana Da Minha Vida

    Crítica | A Semana Da Minha Vida

    A Semana Da Minha Vida (A Week Away)  é o novo drama adolescente musical da Netflix. Estrelado por Bailee Madison ( Esposa de Mentirinha), a trama promete músicas que são fáceis de decorar e uma história que, apesar de ser clichê, promete surpreender.

    Musicais adolescentes são o que há de bom na indústria cinematográfica quando o assunto é entreter os jovens, o Disney Channel  já vem trabalhando nisso há um bom tempo com títulos como High School Musical, Camp Rock e Teen Beach Movie, e o que se sabe é que isso tem dado muito certo. A Semana Da Minha Vida, apesar de não ser produzida pela Disney, trouxe alguns aspectos conhecidos pelo público. Colocar adolescentes cantando em um acampamento onde se encontra pessoas com personalidades completamente diferentes e um tanto quanto competitivas já virou até clichê, mas isso não significa necessariamente que o filme seja ruim.

    Em A Semana Da Minha Vida, Will (Kevin Quinn) é um adolescente um tanto quanto problemático, ele perdeu os pais enquanto era criança e passou por diversas famílias, que consequentemente acabaram devolvendo o garoto por conta do seu péssimo comportamento e por ser um ímã de problemas. Após ser pego pela polícia, Will esgota as tentativas do Serviço de Proteção à Criança e ao Adolescente de torná-lo um rapaz sem problemas, sendo a última alternativa colocá-lo em um centro de detenção.

    A Semana Da Minha Vida
    A Semana Da Minha Vida | Netflix

    Mas como um bom filme adolescente com uma lição por trás de toda a história, Will é salvo pelo gongo ao ser convidado por Kristin (Sherri Shepherd) e seu filho George (Jahbril Cook) para ir em um acampamento durante a última semana de verão.

    E é no acampamento que as coisas acontecem. Sem saber que estava se metendo em um acampamento gospel, Will se vê, além de extremamente apaixonado por Avery (Bailee Madison) -que é a filha do dono do acampamento (Will Hawkins)- , obrigado a esconder a sua verdadeira história para poder interagir com os novos colegas que são extremamente positivos e cheios de energia e fé.

    A história, apesar de batida, segue uma linha muito boa entre o musical e a história de superação e todas as coisas bonitas que acontecem quando um marginal se torna alguém melhor.

    A Semana Da Minha Vida
    A Semana Da Minha Vida | Netflix

    Musicais são dificilmente apreciados pela maioria das pessoas, e isso vem desde antes de Amor, Sublime Amor (1961). A história contada a partir de músicas, mesmo que não seja 100% do tempo de tela, ainda é de torcer o nariz. Mas pra mim, existe algo mágico em expressar os sentimentos a partir de músicas e coreografias (mesmo que elas comecem do nada).

    As músicas do filme foram muito bem construídas, e a minha aposta para a queridinha é “Place in this world”, cantada pelo casal de protagonistas. E vale lembrar que nem só de boas letras e uma coreografia bem formada que se faz um musical, as vozes dos atores também impressionam bastante.

    Dirigido por Roman White, A Semana Da Minha Vida é fofo. O filme faz pensar e te leva muito bem durante as 1h40 de duração. É um filme família, daqueles que junta todo mundo no sofá pra assistir e tirar um “awn” no finzinho.

    A Semana Da Minha Vida
    A Semana Da Minha Vida | Netflix

    Acredito que seria interessante mostrar um segundo ano do acampamento, e explorar mais algumas histórias e alguns personagens, mas tudo isso só seria válido se seguisse a mesma qualidade de história e música da primeira parte. A Semana Da Minha Vida acertou em cheio em vários aspectos, mesmo não sendo uma obra de arte, ele provavelmente agradará – e muito – o seu público alvo.

    A Semana Da Minha Vida já está disponível na Netflix.

    Nota : 4/5

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  • Crítica | Lucicreide vai pra Marte

    Crítica | Lucicreide vai pra Marte

    Produção brasileira original da Globo Filmes, “Lucicreide vai pra Marte” apresenta o retorno de Fabiana Karla à personagem de sucesso do programa Zorra Total. Dirigido por Rodrigo Cesar, o longa-metragem apresenta uma temática promissora, mas peca no desenvolvimento da sua narrativa e entrega um produto superficial e pouco agradável.

    Personagem criada originalmente pela atriz Fabiana Karla, em 1989, Lucicreide se tornou um sucesso da televisão ao representar a realidade de uma pernambucana mãe de cinco filhos que alia o caos de sua vida particular com a leveza e a graça de sua personalidade. Retrato da simplicidade do povo brasileiro, a esquete humorística sofreu uma revitalização oportuna e, agora, é adaptada para as telas de cinema.

    Em “Lucicreide vai pra Marte“, a empregada doméstica Lucicreide (Fabiana Karla) está à beira de um colapso: seu marido a abandonou, seus filhos estão fora de controle e sua sogra se instalou em sua casa após ter sido despejada. Saturada das responsabilidades da vida cotidiana, ela promete deixar tudo para trás e permite que o filho de seus patrões a inscreva em um programa de candidatos para uma excursão só de ida à Marte. No entanto, sem entender direito a dimensão de uma viagem ao espaço, a personagem é submetida a uma série de testes – na sede da NASA, nos Estados Unidos – e se aproxima cada vez mais de deixar o planeta Terra para sempre.

    Lucicreide Vai Pra Marte
    Lucicreide Vai Pra Marte / Globo Filmes

    Lucicreide vai pra Marte” é, sobretudo, uma alegoria medíocre sobre a inocência de uma mãe de família que é inserida em uma realidade “fantasiosa” de viagem espacial. Aliando performances teatrais rasas e extremamente forçadas (caso da personagem de Fabiana Karla) com momentos constrangedores de um humor inadequado, a produção de Rodrigo Cesar é decepcionante e pouco funciona. Nesse sentido, a comédia – que procura, desde o início, desenvolver um arco narrativo minimamente eficiente – se torna um grande e terrível deboche. Perdido em suas próprias escolhas, o filme acumula erros e discrepâncias marcantes que, finalmente, afugentam o espectador.

    Por outro lado, enquanto tenta emplacar um conto ficcional sobre um programa da NASA, o filme conquista o seu primeiro ponto positivo: parte das filmagens foram rodadas, de fato, na instalação da agência espacial americana. Resumidamente, é a primeira produção desde “Armaggedon ” (1998) a ser filmada no local. Além disso, dentre os efeitos especiais utilizados na produção do longa, o filme conta com sequências executadas dentro de um avião que simula gravidade zero. A aeronave – dedicada ao treinamento de astronautas – partiu de Las Vegas e realizou acrobacias sobre o deserto de Nevada (EUA), criando sequências inéditas no cinema brasileiro. Portanto, ainda que se esforce para produzir um conteúdo – majoritariamente – ruim, a produção é louvável em seu pioneirismo no cenário audiovisual nacional.

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    Lucicreide Vai Pra Marte / Globo Filmes

    Lucicreide vai pra Marte“, por fim, é uma crescente frustação em formato de filme. Incapaz de proporcionar sequências minimamente cativantes, o longa é uma interminável experiência de desespero e agonia que prioriza situações irrisórias de riso imediato – e de curto efeito -, ao invés de uma trama coesa e razoável. Dessa forma, recheada de erros fundamentais de percurso e de protagonismos essencialmente desagradáveis, a produção nacional se transforma em um genérico desinteressante. Por conseguinte, ainda que ofereça referências bem-vindas às franquias de Star Wars e Alien, o lançamento da Globo Filmes não é capaz de desempenhar o mínimo e se perde no abismo do esquecimento.

    Lucicreide vai pra Marte estreia dia 04 de março nos cinemas.

    Nota: 1,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Judas e o Messias Negro

  • Crítica | Pânico na Floresta (2021)

    Crítica | Pânico na Floresta (2021)

    Produção americana original da The H Collective, “Pânico na Floresta” retorna às telas de cinema em um reboot macabro que conjura elementos sangrentos do subgênero “slasher“. Dirigido por Mike P. Nelson, o sétimo filme da franquia revitaliza a narrativa original de Alan B. McElroy, enquanto oferece uma caçada mortal capaz de aterrorizar e envolver o espectador.

    Dezoito anos após Alan B. McElroy apresentar ao mundo a história cruel da chacina canibal de “Wrong Turn” (2003), no original, o escritor retorna à liderança do projeto que o consagrou com uma trama inédita e ousada sobre o poder do medo e da fúria de um povo. Reinventando a mitologia macabra que definiu o âmago da saga, o longa mergulha na impiedade da floresta e investe em uma odisseia bizarra de maldade e morte.

    Em “Pânico na Floresta” (2021), seis amigos – Jennifer (Charlotte Vega), Darius (Adain Bradley), Milla (Emma Dumont), Adam (Dylan Mctee), Luis (Adrian Favela) e Gary (Vardaan Arora) – partem em uma viagem para caminhar pela Trilha dos Apalaches, no estado de Virgínia. Apesar dos avisos para se manterem na trilha, os caminhantes se desviam do curso e cruzam para terras habitadas pela Fundação, uma comunidade oculta de habitantes das montanhas que, extremamente hostis a forasteiros, recorrem a meios mortais para proteger seu modo de vida. Finalmente cercados, o grupo deve lutar por sobrevivência e buscar uma saída do matadouro selvagem.

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    Pânico na Floresta / Saban Films

    Pânico na Floresta” – que, desde o início, procura se livrar das amarras obsoletas de seus antecessores – opta pelo desenvolvimento de uma sequência fundamentalmente moderna de terror, em prol da construção de uma narrativa mais atraente e prática para o grande público. Dispensando o clássico dos fazendeiros canibais, o longa não se aproveita de grande parte do material original e caminha na direção de uma obra mais autônoma, conquistando o fôlego necessário para o reinício da franquia. Dessa forma, a partir do momento que prioriza uma abordagem mais ambiciosa e esboça um conto inteligente, o longa de Mike P. Nelson torna-se suficientemente marcante.

    Logo, a produção lança mão das tradicionais armadilhas mortais para mergulhar o espectador em uma realidade grotesca e singular que reflete a dicotomia entre o passado e o presente – por meio de um duelo mortal entre o povo secular da montanha e os visitantes da cidade – e que se aproveita do banho de sangue do elenco para promover uma fascinante ode à insanidade. No entanto, apesar de edificar uma narrativa consistente e criativa, o longa da “The H Collective” falha em algumas das suas propostas e, por vezes, beira o genérico. Nesse sentido, é possível perceber personagens rasos e sequências irrelevantes que destoam do tom previamente apresentado.

    Pânico na Floresta
    Pânico na Floresta / Saban Films

    Pânico na Floresta” (2021), finalmente, oferece uma revitalização oportuna à franquia de terror de Mike P. Nelson – que, capaz de revelar mecanismos narrativos surpreendentes e cenas teatrais de retaliação, se distancia dos originais e se define como uma versão moderna e eficiente do subgênero “slasher“. Consequentemente, cumprindo com as expectativas da saga e representando uma alegoria inteligente sobre a atual “divisão” dos povos, o filme entrega um thriller eficaz e, ainda que previsível, oferece emoções devastadoras.

    Pânico na Floresta será lançado em Video on Demand no dia 26 de fevereiro.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Pai em Dobro

  • Crítica | Judas e o Messias Negro

    Crítica | Judas e o Messias Negro

    Baseado em eventos reais, “Judas e o Messias Negro” é uma dramatização histórica eletrizante sobre o Partido dos Panteras Negras e o líder revolucionário Fred Hampton. Dirigido por Shaka King (Newlyweeds), o longa é uma condenação expressiva da injustiça racial no território norte-americano e traz a público uma narrativa poderosa de esperança e traição.

    Judas e o Messias Negro” (2021) conta a história de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), o presidente do Partido dos Panteras Negras do Estado de Illinois que foi perseguido e assassinado pelas forças do FBI durante a sua incansável luta por igualdade de direitos. Na produção da Warner Bros, o ativista de 21 anos torna-se alvo de uma extensa operação policial com o objetivo de frear a sua crescente influência no cenário político. Para isso, o agente especial Roy Mitchell (Jesse Plemons) infiltra o delator William O’Neal (LaKeith Stanfield) no movimento dos Panteras, a fim de colher informações úteis para as autoridades e manipular o líder da organização.

    No auge dos anos 60, o relato melancólico de Shaka King e Will Berson é capaz de colocar um holofote fundamental sobre a luta da comunidade negra e sobre as questões de racismo e identidade na sociedade. Impulsionado pela metodologia eficiente do diretor, o longa torna-se uma declaração social instrutiva que mantém aceso o olhar crítico do espectador e, a partir do momento que investe em uma realidade urgente de morte e segregação, entrega um material relevante que inspira e enfurece.

    Judas e o Messias Negro
    Judas e o Messias Negro / Warner Bros. Pictures

    Judas and the Black Messiah“, que constrói uma proposta ousada sobre um dos maiores líderes do movimento negro, apoia-se na escolha de seus protagonistas para montar uma visão contextual dos Panteras que esclareça ao público a política ideologicamente complexa por trás da narrativa. Apresentando a oposição entre o partido de Fred e os supremacistas brancos como argumento, a história mergulha em um drama poderoso e bem-executado recheado de reviravoltas, alianças e hipocrisias. Nesse sentido, Daniel Kaluuya – o Messias Negro – e LaKeith Stanfield – o Judas – performam um dueto expressivo no desenvolvimento performático do mártir em ascensão e do traidor condescendente, respectivamente.

    Logo, as peças do tabuleiro de Shaka King são distribuídas em perfeita comunhão pelo cenário fílmico e abrilhantam o relato histórico da resistência dos Panteras Negras, de modo a criar uma dinâmica fervorosa que impressiona o grande público – ainda que o final da narrativa já seja conhecido. Por conseguinte, à medida que alia a profundidade do tema com a capacidade criativa de King, “Judas e o Messias Negro” embarca em uma crescente vertiginosa de poder e valor. Dessa forma, representando a realidade violenta dos anos 60 – a partir do magnetismo eletrizante das cenas de ação – e transportando a pauta do racismo para o cenário contemporâneo, o longa é extraordinário em seus fins e deixa marcas significativas no imaginário do espectador.

    Judas e o Messias Negro
    Judas e o Messias Negro / Warner Bros. Pictures

    Judas e o Messias Negro“, finalmente, é revolucionário ao entregar um material que retrata fielmente a legitimidade do movimento dos Panteras Negras e que desconstrói a imagem hollywoodiana da polícia dos Estados Unidos – mais especificamente, o FBI. Unindo a luta, o amor e a libertação em uma cinebiografia pungente, o longa de 2021 torna-se poesia. Nesse sentido, ao investir em uma narrativa informativa e se apoiar no senso de urgência da trama política, a produção de Shaka King se torna indispensável e não demora a se tornar favorito para a vindoura temporada de premiações.

    Judas e o Messias Negro estreia dia 25 de fevereiro no HBO Max.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Tom e Jerry: O Filme

  • Crítica | Tom e Jerry: O Filme

    Crítica | Tom e Jerry: O Filme

    Em tempos de incerteza sobre novos lançamentos no cinema, a Warner aposta em um novo formato de estreias lançando seus filmes normalmente no mercado internacional, em países que ainda não dispõem do streaming HBO MAX. Tom e Jerry: O Filme é o segundo filme a seguir esse novo modelo estratégico de distribuição e garante muita risada com um toque de nostalgia.

    Uma das rivalidades mais amadas da história é reacendida quando Jerry se muda para o melhor hotel de Nova York na véspera do “casamento do século”, forçando a desesperada organizadora do evento a contratar Tom para se livrar do rato em Tom e Jerry: O Filme, do diretor Tim Story. A batalha de gato e rato que se segue ameaça destruir a carreira dela, o casamento e até o próprio hotel. Mas logo surge um problema ainda maior: um funcionário diabolicamente ambicioso conspira contra os três.

    Crítica | Tom e Jerry: O Filme
    Tom e Jerry: O Filme | Warner Bros. Pictures

    Seguindo a mesma linha de alguns dos grandes clássicos dos anos noventa que misturam uma animação mais caricata com live action, como ‘Space Jam’ e ‘Uma Cilada Para Roger Rabbit’, Tom e Jerry: O Filme dá uma renovada nessa mistura exótica abrindo espaço para mais adaptações desse tipo e principalmente para a vindoura sequência do filme clássico dos Looney Tunes, ‘Space Jam: Um Novo Legado’.

    Mesmo já vindo de uma linhagem de filmes de sucesso do mesmo tipo, como os citados acima, o longa protagonizado pelo rato e o gato mais famosos do mundo ainda segue descrente pelo grande público, talvez por parecer algo brega e batido. O que é um grande engano, porque o brega também pode ser bom quando bem aplicado! Essa nova adaptação de Tom e Jerry tem tudo para agradar aqueles que cresceram assistindo a animação clássica na infância e na adolescência, personagens e momentos icônicos, além de uma grande sensação de nostalgia e a lembrança de quando acordávamos ainda sonolentos às 7h da manhã, íamos para o sofá com a coberta pendurada sobre os ombros e sintonizávamos a TV no SBT para assistir Bom dia e CIA.

    Crítica | Tom e Jerry: O Filme
    Tom e Jerry: O Filme | Warner Bros. Pictures

    O mais interessante é vermos de uma forma mais clara a relação de amor e ódio instinto que Tom e Jerry tem. A trama da personagem de Chloë Grace Moretz (“Vizinhos 2”) casa muito bem com a dos queridos mascotes e que se complementa melhor ainda com a trama dos personagens de Michael Peña (“Homem-Formiga”) e Rob Delaney (“Deadpool 2“). A direção de Tim Story é mais que satisfatória e a trilha sonora um espetáculo. Um dos grandes temores do filme era saber se a interação humana com os animais recriados em CGi seria boa – e posso dizer com satisfação que sim; a ponto de chegar na metade do filme eu já estar convencido de que tudo aqui ali era real.

    Apesar de ser incrivelmente nostálgico e bem adaptado, Tom e Jerry: O Filme ainda tem uns probleminhas com o roteiro, que aborda algumas situações de forma mais brega do que necessário, mas que é facilmente relevado quando levado em conta que tudo que está ali na tela não deve ser levado a sério.

    Tom e Jerry: O Filme é uma experiência que traz alegria e aquece o coração daqueles que se permitirem e aos que entendem a proposta da produção. É o tipo de filme bem Sessão da Tarde, pra toda família, que transcende o corpo adulto e toca a alma de criança que ainda habita em nós.

    NOTA: 4/5

    Assista o trailer e uma cena do filme

    Leia tembém: Crítica | Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre

  • Crítica | Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre

    Crítica | Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre

    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre estreou na última sexta feira na Netflix prometendo dar um ponto final feliz para o relacionamento de Lara Jean e Peter Kavinsky. A produção encerra com o seu terceiro filme levando os fãs a darem os seus mais fofos e sinceros “awn” enquanto assistem.

    Desde o começo, o relacionamento de Lara Jean (Lana Condor) e Peter Kavinsky (Noah Centineo) foi coberto de momentos fofos, entre eles com certeza foi a descoberta de que um estava apaixonado pelo outro no primeiro filme. Com a vida adulta chegando, cabe aos dois enfrentarem os desafios para continuarem juntos, sem deixar o relacionamento esfriar.

    Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre é sobre o crescimento dos dois personagens e as escolhes que devem fazer. Como um bom romance adolescente americano, a escolha pela faculdade pode influenciar em seu relacionamento, principalmente se a faculdade não for a mesma.  O filme começa com a família Covey passando férias na Coreia do Sul, acompanhada pelas irmãs Kitty (Anna Cathcart), Margot (Janel PArrish) e pelo pai (John Corbett), Lara explora a cultura de sua mãe e lugares onde a mesma passou quando era jovem, contando constantemente com a presença do frio na barriga por saber que ao chegar em casa, poderá receber o e-mail de aceitação ou rejeição da faculdade de Stanford.

    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre
    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre | Netflix

    A escolha da faculdade não foi atoa, com Peter ganhando bolsa de jogador, ficou claro que Stanford era o lugar perfeito para dar continuidade no relacionamento dos dois, e a chance perfeita para eles criarem ainda mais intimidade. As decisões que podem ou não dificultar a aproximação do casal são o tema principal deste terceiro filme.

    Totalmente diferente do anterior, este filme já começa apresentando cenas interessantes, parece até que houve uma melhora no quesito figurino e diálogos. A mudança de cenário também pode ser contado como um ponto positivo que difere o terceiro filme do segundo, sair um pouco da escola e explorar lugares como Nova York foi a pitada que a trama precisava.

    Além disso, a presença constante da família de Lara, que desta vez ganhou mais tempo de tela, deu um tom de despedida para esse que já sabíamos que seria o fim da história. A novidade na trama foi a aparição do pai de Peter, aquele que descobrimos logo no primeiro filme que havia deixado Peter e sua mãe para trás, e criado uma nova família. Numa tentativa frustrante de voltar a se relacionar com o filho, o pai de Kavinsky aparece um total de duas vezes e já chama a atenção por ser interpretado por ninguém menos que Henry Thomas, famoso por interpretar o Elliot no filme E.T.: O Extraterrestre.

    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre
    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre | Netflix

    Apesar de ser fofo em vários quesitos, o filme peca em vários outros. Apresentar personagens em um segundo filme que nem sequer são citados no terceiro faz eu questionar se os produtores e roteiristas prestaram a atenção no que estavam fazendo, pra mim é como se tivesse faltando algo na história.

    Mas mesmo com esse ponto negativo, Para Todos Os Garotos Que Já Amei: Agora e Para Sempre conseguiu entregar um final digno a uma história de amor, que mesmo tendo altos e baixos, conseguiu se mostrar o mais perto da realidade possível. Lara Jean e Peter tiveram o final perfeito sem nenhuma forçassão de barra. Foi fofo.

    Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre já está disponível na Netflix.

    Nota: 3,5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Cidade Invisível – 1ª Temporada

    Crítica | Cidade Invisível – 1ª Temporada

    Cidade Invisível é a mais nova produção brasileira original da Netflix. A série que estreou na última sexta feira tem como tema principal o nosso tão querido folclore, mas com uma roupagem diferente partindo do suspense policial que flerta constantemente com o terror.

    É fato que nós brasileiros não damos conta da quantidade de personagens mitológicos que temos em nossa cultura, ou por falta de interesse ou por total desapego pelas histórias que rondam as vilas e interiores das grandes cidades. O meu primeiro contato com o folclore brasileiro foi durante a minha infância, quando as histórias de Monteiro Lobato já não estavam mais nos livros, e partiram para a televisão como o “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, mas mesmo assim, não procurei me aprofundar sobre a cultura até a adolescência, mas confesso que ver filmes e séries sobre as nossas lendas urbanas era um desejo guardado por anos, e graças a Netflix e sua nova produção “Cidade Invisível”, esse desejo pôde se realizar.

    Cidade Invisível é uma série baseada nas histórias dos escritores Raphael Draccon e Carolina Munhóz, e tem como ponto de partida uma queimada em uma floresta que fica ao lado da Vila Toré, uma comunidade de pescadores no Rio de Janeiro que vem sendo ameaçada por uma construtora. O incêndio aparentemente criminoso acaba fazendo uma vítima.Gabriela (Julia Konrad) era uma antropóloga que lutava ao lado dos moradores para transformar a região em área de proteção ambiental. Para investigar o assassinato, o marido de Gabriela, que é policial ambiental Eric (Marco Pigossi) passa a investigar o caso, ao lado de sua parceira Márcia (Áurea Maranhão).

    Cidade Invisível
    Cidade Invisível | Netflix

    Recém-viúvo e tendo a sua filha Luna (Manu Diegue) para criar, Eric começa a passar 100% do seu tempo dedicado a encontrar o assassino de sua esposa, e isso faz com que ele se depare com personagens da nossa mitologia, até se dar conta de que nem toda história é só história.

    Cidade Invisível é uma narrativa que resignifica o nosso folclore, e mistura personagens de norte a sul em uma trama que se passa no Rio de Janeiro.  Trazidas para um contexto de atualidade, hoje as criaturas mágicas já não são mais tão mágicas assim. O seus envolvimentos com o mundo urbano e atual fez com que as mesmas criassem vícios e uma imagem um pouco diferente da que conhecemos, fazendo com que eles se percam em suas histórias as deixando de lado.

    Mas se engana quem diz que fazer com que os personagens pareçam ainda mais como seres humanos normais tire toda a essência de suas histórias, pelo contrário, eu me senti ainda mais perto dessas criaturas e pude perceber que, apesar de serem seres mitológicos, ainda tem um pouco de humanidade em cada um.

    Cidade Invisível
    Cidade Invisível | Netflix

    Para começar a falar sobre os personagens que aparecem nessa primeira parte da história, vale lembrar que você deve se desapegar de toda imagem que já viu ou ouviu desses seres, deixar a cabeça aberta para o que irá ver é a melhor forma de conseguir se aprofundar na história. Cuca é conhecida por ter o seu grande caldeirão e ter uma aparência de jacaré, pelo menos essa foi a imagem passada a anos por aqueles que contavam sua histórias. Na série, ela é representada por ninguém menos que Alessandra Negrini , – que está perfeita no papel, diga-se de passagem-, e que é chamada de Inês. Pode parecer estranho essa troca de nomes no começo, mas vale lembrar que  por estar vivendo com uma pessoa normal, não é de se estranhar que a personagem use nomes comum.

    Assim como Inês, temos o Manaus (Victor Sparapane), o famoso boto cor-de-rosa. Conhecido por atrair mulheres e engravida-las, o boto é uma importante peça nessa história. Além dele, Iberê (Fábio Lago) é o Curupira, guardião da floresta, Camila (Jessica Córes) é a sereia Iara, Tutu (Jimmy London) é o bicho papão e Isac (Wesley Guimarães), que é um dos personagens mais queridos e conhecidos do folclore, Saci Pererê. O elenco conta também com nomes como José Dumont e Tainá Medina.

    A atuação de todos do elenco deixa a trama ainda mais tensa, sempre que eu posso vou exaltar a excelente escolha de atores para produções nacionais, visto que é completamente diferente uma pessoa atuar numa novela, no teatro e no cinema.

    Cidade Invisível
    Cidade Invisível | Netflix

    Criado por Carlos Saldanha, Cidade Invisível não peca quando se fala em qualidade. O roteiro é ótimo, a trama extremamente interessante e a produção tá impecável. Nem o uso do CGI ( que normalmente não é tão bom) fez cair a qualidade.

    Quando fiquei sabendo que a Netflix estava produzindo uma série sobre o nosso folclore, a sensação foi muito boa. Eu fiquei imaginando o alcance do streaming no mundo, e que dali pra frente pessoas de todos os países poderão conhecer um pouco mais sobre a nossa cultura, que muitas vezes não é valorizada nem pelo próprio brasileiro.

    Por fim, além de série, Cidade Invisível é um poema ecológico, um grito da floresta fácil de ser ouvido. Em um momento que a pauta é a salvação de nossas florestas, a série vem como um pedido de proteção contra a exploração, utilizando da licença poética para fazer isso.

    Cidade Invisível já está disponível na Netflix.

    Nota: 5/5

    Assista ao trailer:

  • Crítica | Malcolm e Marie – Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo

    Crítica | Malcolm e Marie – Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo

    Em 2019, a aclamada série de televisão Euphoria, escrita e dirigida por Sam Levinson, abriu uma porta para que o mundo pudesse vislumbrar o talento de Zendaya. Dois anos depois, a dupla se reúne com John David Washington para compor Malcolm e Marie. A nova produção da Netflix, isenta de cores, mostra que “nem tudo é preto no branco“.

    Sobrecarregado de emoções, a primeira coisa que escrevi ao assistir História de Um Casamento, alguns anos atrás, foi: “Quer ser feliz? Não case! Quer fazer o outro feliz? Case!“. Esse pensamento, proveniente da sabedoria de Masaharu Taniguchi (líder religioso japonês), sacudiu todas as certezas e incertezas que eu tinha sobre relacionamentos. Agora, essa mesma analogia pode ser traçada, direta e indiretamente, ao novo filme Malcolm e Marie. Uma poesia cruel e realista, que toca nas feridas sem apelar para a violência visual, evidenciando que palavras podem fazer o outro sangrar. De mãos dadas, paixão e apatia movimentam a trama, trazendo à tona múltiplos sentimentos.

    Se em História de Um Casamento Noah Baumbach dividiu culpa, dor e arrependimento ao casal protagonista, Sam Levinson seguiu a mesma receita, acrescentando um pouco mais na quantidade de ingredientes, abraçando exageros, mas sem soar caricato. É um longa-metragem difícil de idolatrar e difícil de odiar. É uma experiência paradoxal e necessária, fruto da intrigante química dos atores em cena, da fotografia bicolor e, é claro, da constante presença de longos diálogos e ausência destes, afinal, o silêncio também é parte crucial dessa receita.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    Sinopse Malcolm e Marie:

    Um cineasta volta para casa com sua namorada após a estreia de um filme comemorativo, enquanto aguarda o que será um sucesso financeiro e crítico iminente. A noite muda repentinamente quando revelações sobre seus relacionamentos começam a aparecer, testando a força de seu amor.

    Distante, do lado de fora da casa e ansioso. É exatamente assim que o telespectador se sente no primeiro “frame” de Malcolm e Marie. Ao longe, os faróis de um automóvel indicam a aproximação dos protagonistas. E pronto! Segundos depois, você está dentro do lar, cercado por uma mobília moderna, corredores imensos e muito espaço vazio. A movimentação de câmera é precisa, realçando gestos sutis, olhares duvidosos e objetos de cena que falam um pouco mais sobre a camada metafórica do filme.

    Há algo no ar: uma oscilação de humor que aos poucos alimenta nossa percepção. É notório que existe um abismo entre o casal, uma ruptura que desperta sorrisos forçados de Marie e coloca a alegria e excitação de Malcolm em xeque. E assim nasce uma sucessão de pequenos mistérios que levarão a audiência a dissecar o passado, o presente e o futuro desse par.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    A partir dessa premissa conturbada, o público é pego pela mão e jogado em uma roda de discussões calorosas e revelações dolorosas. Em apenas uma noite, Malcolm e Marie abrem todas as feridas, tocando bem fundo, sem medo de magoar, assinando um atestado de casal imperfeito. Não é à toa que a culpa é jogada de um lado para o outro, como se fosse uma bola sendo arremessada. Ambos têm razões e motivações para tal comportamento. Não há alguém correto ou incorreto, apenas culpabilidade para os dois. E ao longo desse vai e volta de palavras afiadas, tanto um, quanto o outro, vestem a camisa de vencedor e perdedor.

    Malcolm e Marie tem um “que” teatral que funciona até certo ponto, pois essa característica torna-se cansativa do segundo para o terceiro ato. Os diálogos, ao mesmo tempo, avançam e retrocedem a narrativa, criando uma barreira na evolução desses personagens, imprimindo a sensação de que estamos diante de um ciclo vicioso: a culpa é dela, a culpa é dele, ela errou, ele errou, ele grita, ela grita, silêncio. E tudo acontece de novo e de novo. As “pausas” durante as brigas criam uma antecipação do desentendimento que vem a seguir.  Monólogos servem como palanque para que os protagonistas brilhem e mergulhem fundo, nos dando o pior, o melhor e o mediano de cada um.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    Você não será juiz, sua função não é sentar na frente da tela e julgá-los. Um expectador impotente é como você se sentirá, compreendendo as angústias, traumas e sonhos. Levinson sabe que a vida a dois é uma viagem cheia de solavancos e ele aperta essa tecla mais de uma vez, sem pintar culpado ou inocente. Ele fica em cima do muro, e está tudo bem. Essa visão de pessoas cinzentas é sensível e condizente com a realidade.

    A “crítica” de cinema entra em pauta e protagoniza um momento crucial no roteiro, em virtude de Malcolm, um cineasta. Ele retruca, cutuca, desdenha e questiona uma análise positiva sobre o filme que dirigiu. Sua visão é confusa e amargurada, e isso gera um debate interessante por causa da metalinguagem.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    Zendaya é uma atriz gigante e versátil, capaz de utilizar até os mínimos detalhes para contar algo a mais. Sua performance é composta por uma linha de evolução, fazendo-a reluzir mesmo sem falar, sem se mexer, apenas apoiada no olhar e no gestual. Quando ela se movimenta, de um lado para o outro, falando, gritando, chorando e sorrindo, sua interpretação usurpa para si os batimentos da narrativa. Malcolm e Marie não seria o que é se a terceira letra “M” (de Marie) não estivesse na mesma equação, ao lado da letra “Z” de Zendaya.

    John David Washington carrega uma dose exagerada de explosão e quietude, além de uma perfeita sintonia com sua parceira de cena. Ele dá vida ao “sonhador destruidor”, um cineasta amargo e apaixonado, ora inseguro, ora muito seguro de si. Ele vomita tudo o que está impregnado no cerne de seu personagem, nos dando uma visão completa sobre o mesmo. Sem meio-termo, sem reticências. Para mim, este é o seu trabalho mais desafiador. Não há cenas de ação como em Tenet, permitindo que ele busque respiro no malabarismo conceitual do Nolan (não, isso não é uma crítica negativa!). Aqui, David Washington é um marido, confinado numa casa, falando, falando e falando. Algo complexo, mas feito com muita competência.

    Malcolm & Marie - Um retrato em preto e branco sobre amor, desprezo e egoísmo
    Malcolm e Marie / Netflix

    No encerramento (melancólico e belo), ficamos numa posição oposta, quando comparada ao início do filme. E isso diz muito sobre nós, do que eles (os personagens). Aceitamos tudo e seguimos adiante. Não restam julgamentos, nem meias palavras, todas as cartas foram colocadas na mesa, o que é revigorante e exaustivo.

    Talvez, não seja um final feliz, muito menos um desfecho infeliz. Nada é preto, nada é branco. Ao mesmo tempo que há luz, há sombras. É o cinza sendo reverenciando, mostrando que dicotomia é mera fábula. Eis dois personagens que são perfeitos em sua imperfeição.

    Malcolm e Marie carrega em seu âmago mais do que uma dissertação acerca do confronto entre amor e desamor. Em quase 120 minutos de projeção (que poderiam ser enxugados) são apresentadas as diversas faces do ego, do julgamento, da autocrítica e, consequentemente, o choque entre estes. É um filme que comunica com perfeição os efeitos da “falta de comunicação”, muitas vezes propagada além da ausência de palavras.

    Nota: 4/5

    Assista ao trailer:

    Veja também: Crítica | Fate: A Saga Winx – Abandonando a nostalgia, 1ª temporada trilha um caminho diferente.