Arquivos: Reviews

  • CRÍTICA | Superman de James Gunn RECUPERA a era de ouro do herói

    CRÍTICA | Superman de James Gunn RECUPERA a era de ouro do herói

    Superman tem como seu maior triunfo a escolha de um elenco contagiante e de um protagonista que soa divergentes de todas as versões vistas até então.

    Superman é um filme que não tinha uma tarefa simples vide toda a construção errada que o universo coordenado por Zack Snyder acabou tendo, sendo este um filme que buscaria reiniciar e precisava de um pontapé certeiro, mas também contando o histórico fracassado de filmes do kryptoniano que não conseguiram acertar o coração do público desde o filme de Richard Donner, realizado em 1978.

    James Gunn, conhecido pela trilogia Guardiões da Galáxia, decide roteirizar e dirigir o longa em busca de recuperar todas as qualidades que existem ao redor deste personagem e que foram perdidas, ainda que nunca tenha sido um herói esquecido pela mídia, já que os seriados não deixavam seu mundo descansar. Indo de Smallville, para Supergirl, e então, a mais recente, Superman & Lois.

    A obra desde o começo toma para si o seu protagonista como alguém falho, alguém que precisa melhorar, que não está perto de ser aquele líder destemido visto no desenho da Liga da Justiça (2001), e acaba por descobrir que seu propósito na Terra era além da que imaginava quando a mensagem de seus pais de sangue é decifrada. O que você faz quando sua crença é abalada?

    GtvVk1kWgAAlOGM

    Superman | Warner Bros Pictures

    Superman se propõe a discutir sobre isso, sobre o que se faz em situações extremas, em situações que fogem do nosso controle, e também sobre que mensagem devemos deixar para o resto do mundo, independente do que nos aconteça. Há um claro otimismo dentro da obra que a deixa atraente e viva, questionando a ideia de acabar com vidas ”inferiores” e reavaliando o motivo do povo estar vendo esse herói diferente daqueles que já existiam.

    Todavia, são temas que não passam da superfície, a mensagem é vista, mas não explorada. Pautas são plantadas e acabam não florescendo como deveriam, indo do julgamento por não suportar conflitos para a divergência em como lidar com outros tipos de vida. Personagens, como Jimmy Olsen, têm atitudes que se repetem, seguindo um viés cômico, que acabam perdendo o tom conforme se repitam e não se expliquem.

    Tendo tantos personagens agindo ao mesmo tempo, o filme acaba por inflar e transparecer maior fragilidade ao não conseguir trabalhar sua maioria com a devida atenção, passando a impressão de uma história aleatória em quadrinhos, da qual você cai de paraquedas, o roteirista te explica o que tá acontecendo e os personagens vão seguindo suas vidas. E isso, também enxergo como um triunfo, por deixar a atenção do espectador mais afincada e passar um tom divergente daquele que ficamos acostumados no gênero de super-heróis.

    GfKydToW8AAo0tP

    Superman | Warner Bros Pictures

    Na parte técnica, não poderia ser deixado de citar as cenas de ação e de vôo. James Gunn encontrou seu estilo e permanece aqui, com uma constante movimentação, giro em 360º, havendo sabedoria nos cortes para se entender o que está acontecendo. Só que a parte chamativa se encontra realmente no Superman voando, apresentando posições de câmera que tragam imersão, como se estivesse junto com o herói, valendo cada segundo da experiência no cinema.

    Superman acaba por seguir uma condução dinâmica, divertida, que fica em constante movimento e entrega uma obra que faltava para o azulão, sabendo dosar humor e drama, no qual passa uma leveza para quem assiste e não fique de fora elementos que fazem parte desse grande personagem. É um inicio promissor para um universo que já soa rico, com elementos criativos, fora do forte tom realista, dando aquela vontade de permanecer por ali.

    Veja também:

  • CRÍTICA | Pecadores é um suspiro para histórias originais no cinema

    CRÍTICA | Pecadores é um suspiro para histórias originais no cinema

    Pecadores chegou à HBO Max provando que é muito mais do que um filme de terror. É uma obra autoral, ousada, e um verdadeiro fôlego criativo num cinema dominado por franquias, continuações e fórmulas repetidas.

    Sob direção de Ryan Coogler, Pecadores é a primeira história 100% original do diretor. O filme mostra que há espaço para narrativas novas, complexas e emocionalmente envolventes, e Michael B. Jordan entrega aqui a melhor atuação de sua carreira.

    Ambientado nos Estados Unidos dos anos 1930, em meio à segregação racial, o filme costura elementos de horror, drama e musical com um pano de fundo histórico potente. A trama mergulha nas raízes do blues e da cultura afro-americana como forma de resistência.

    Michael B. Jordan interpreta dois irmãos gêmeos com personalidades opostas (e é nesse duelo interno que o ator brilha), transitando entre vulnerabilidade e fúria com total domínio de cena.

    image 34

    Esse é a quarta vez em que Coogler e Jordan trabalham juntos – Divulgação Warner Bros

    Diferente da pressa comum dos filmes atuais, Pecadores aposta na construção lenta e cuidadosa dos personagens. O roteiro não tem medo de gastar tempo com contexto, ambiente e camadas emocionais. Quando a ação de fato começa, o espectador já está completamente imerso naquele universo.

    A música, elemento central da narrativa, vai além da trilha sonora: ela molda o ritmo, a estética e o sentimento do filme. Ludwig Göransson (vencedor do Oscar por Oppenheimer) entrega mais uma trilha memorável, que amplifica o peso e a beleza de cada cena. É um trabalho sonoro que emociona e assusta ao mesmo tempo.

    Mesmo partindo de uma premissa aparentemente comum (vampiros, ação, dualidade entre irmãos) o filme consegue transformar cada clichê em algo mais profundo. Nada é colocado ali por acaso. Tudo tem propósito: discutir identidade, pertencimento, herança cultural e sobrevivência em um mundo que tenta silenciar certas vozes.

    image 35

    A música é essencial para entender a mensagem de “Pecadores” – Divulgação Warner Bros

    A estrutura do filme é clara e direta, mas cheia de camadas. O subtexto está em todos os lugares: nas músicas, nos diálogos e nos olhares. É nesse equilíbrio entre forma e conteúdo que Pecadores se destaca, especialmente num cenário onde o novo virou exceção.

    Se há um ponto fraco, talvez seja a personagem de Hailee Steinfeld. Apesar da boa atuação, ela parece subutilizada na trama, servindo mais como peça dramática do que como alguém com presença real. Sua função na história é funcional, mas emocionalmente rasa.

    Ainda assim, Pecadores é um filme corajoso, que mistura gêneros sem perder sua identidade. Ryan Coogler e Michael B. Jordan mostram novamente a força criativa que têm juntos, e entregam uma obra que fala sobre dor, fé, cultura e resistência com autenticidade.

    image 36

    Michael B. Jordan entrega a melhor atuação de sua carreira em Pecadores – Divulgação Warner Bros

    Michael B. Jordan prova sua versatilidade ao estrear em um novo gênero e encarar o desafio de interpretar dois personagens. Ele dá vida a dois irmãos com personalidades totalmente opostas, e faz isso com tanta precisão que a distinção entre eles se torna clara desde os primeiros momentos.

    Mais do que um truque de atuação, essa dualidade se conecta de forma brilhante à narrativa, enriquecendo a jornada emocional do filme.

    Esse é um filme com muita alma e coração. Emocionando e assustando ao mesmo tempo. No fim das contas, é disso que o cinema precisa: histórias que tenham algo real a dizer.

    Veja também:

    CRÍTICA | Jurassic World: Recomeço entretém quem procura só isso

    CRÍTICA | F1: O Filme parece corrida de verdade, mas não empolga

    CRÍTICA | Missão Impossível : O Acerto Final é a conclusão certa para a franquia

  • CRÍTICA | O Urso reencontra sua identidade e fortalece laços na 4ª temporada

    CRÍTICA | O Urso reencontra sua identidade e fortalece laços na 4ª temporada

    Na 4ª temporada, O Urso mostra que está amadurecendo: conclui tramas importantes, aprofunda seus personagens e ainda deixa tudo pronto para a 5ª temporada já confirmada.

    A 4ª temporada de O Urso representa um reencontro da série com o que ela tem de mais precioso: seus personagens e os vínculos que os unem. Após uma terceira temporada que dividiu o público, a nova leva de episódios retorna com mais foco às principais histórias da série.

    Diferente do caos explosivo das primeiras temporadas, essa fase aposta na introspecção. O Urso sempre foi uma série sobre pressão, trauma e tentativas de cura. Porém, agora ela abraça também o silêncio, os espaços não ditos, e o cotidiano que pulsa entre panelas e conversas difíceis. É uma série que cresce quando desacelera.

    image

    Sydney ganha mais espaço na 4ª temporada de O Urso e mostra evolução – Divulgação canal FX

    Com personagens já estabelecidos, a narrativa distribui seus arcos com equilíbrio e maturidade. Syd ganha o protagonismo emocional que merecia, finalmente tendo uma temporada para chamar de sua.

    Enquanto isso, figuras como Tina e Sugar perdem espaço, mas isso é compensado pelo aprofundamento das interações no núcleo principal. A química do elenco está mais afiada do que nunca, e é justamente essa conexão que sustenta o afeto do público.

    Um dos maiores destaques é o sétimo episódio, ambientado no casamento de Tiffany e Frank. Com 69 minutos de duração, ele poderia parecer inflado, mas faz o oposto: expande o universo da série sem perder o ritmo, mostrando que até os personagens secundários são carregados de história e significado. É um episódio que convida o espectador a permanecer. Um respiro. Um lugar seguro.

    image 1

    A relação de Richie e Carmy ganha uma nova camada nessa temporada – Divulgação canal FX

    Esse evento também serve como válvula de escape — tanto para Richie quanto para a própria série. Ao colocá-lo em contato com alguém fora do círculo de dor que define os Berzatto, há um momento de liberdade rara, quase terapêutica. É quando a série mais se aproxima da esperança.

    Essa nova temporada mostra como ignorar os próprios problemas e defeitos pode afetar profundamente nossas relações pessoais. A narrativa se constrói em torno dos conflitos internos de cada personagem: a dor de Marcus pela perda da mãe e relacionamento com o pai, as inseguranças de Syd, a difícil tentativa de reconciliação entre Carmy e sua mãe, e o esforço de Richie para lidar com a nova fase da ex-esposa e o impacto disso na relação com sua filha.

    image 2

    Claire volta com mais tempo de tela do que na temporada anterior – Divulgação Disney

    Mesmo assim, a temporada tem seus tropeços. A insistência em repetir mensagens como “a importância da família escolhida” e “ninguém está sozinho numa cozinha” pode soar redundante em certos momentos.

    Ainda há tempo demais dedicado à ex-namorada de Carmy, Claire. Molly Gordon ganha um pouco mais de substância neste ano, em comparação à fase romântica com Carmy na segunda temporada, mas Claire ainda é retratada de forma tão angelical e perfeita que destoa de uma série cuja força está justamente em amar os personagens apesar de suas falhas.

    Mas esses pequenos deslizes não tiram o brilho de uma temporada que emociona, reconcilia e pavimenta o futuro.

    Ainda não retornou ao nível das duas primeiras, mas O Urso continua sendo uma das experiências mais sensíveis e humanas da televisão contemporânea, e na 4ª temporada, ela nos lembra o porquê escolhemos voltar.

    Veja também:

    CRÍTICA | Missão Impossível : O Acerto Final é a conclusão certa para a franquia

    CRÍTICA | F1: O Filme parece corrida de verdade, mas não empolga

    CRÍTICA | Mesmo com falhas, Round 6 se encerra ressaltando a própria mensagem

  • Crítica | “Quebrando Regras” e o retrato morno de uma revolução

    Crítica | “Quebrando Regras” e o retrato morno de uma revolução

    Quebrando Regras“, lançado em 2025, é um daqueles filmes que carregam uma missão maior do que a própria narrativa ao precisar contar uma história real e que deve ser ouvida em todo o mundo. Inspirado na trajetória de Roya Mahboob, interpretada por Nikohl Boosheri, o filme narra a história de uma professora afegã que ousou aprender e ensinar robótica a meninas em um país onde educar mulheres é visto como desafio e, muitas vezes, como afronta. 

    A protagonista, então, forma o primeiro time de robótica composto apenas por meninas, e leva as competidoras a competições internacionais, atraindo olhares de jornais, políticos, figuras públicas e, também, do Talibã, autoridade em seu país. Infelizmente, a atenção chamada torna cada uma delas e suas famílias em um alvo ambulante do regime. Diante do desafio, a história de “Quebrando Regras” percorre uma parte do sonho de cada uma, desenrolando a cada competição e obstáculo. 

    Divertido e leve, o filme dirigido por Bill Guttentag é acessível a diversos públicos, sem, no entanto, perder de vista o peso do contexto. E um de seus pontos altos é não mergulhar na política ou em estereótipos recorrentes sobre o Oriente Médio. Em vez disso, aposta na força das histórias pessoais, na potência do aprendizado e na capacidade da ciência de literalmente abrir fronteiras. Em tempos em que Hollywood ainda trata o Oriente sob a ótica do exótico ou do trágico, “Quebrando Regras” se destaca por colocar o foco onde deve estar: nas pessoas e no poder da educação, tecnologia e ciência como força de mudança.

    “Quebrando Regras”

    Mas, mesmo com essa abordagem necessária, o filme fica aquém do que poderia ser. Faltou aprofundamento. A história dessas meninas merecia mais camadas, mais tempo para respirar. Em alguns momentos, as emoções parecem contidas demais, como se a direção tivesse receio de ir fundo no drama real. 

    A atuação, especialmente das jovens protagonistas, é um pouco crua, o que é perdoado por serem estreantes, o resultado final perde força.

    Outro ponto que enfraquece a autenticidade do longa é o idioma. Falado quase todo em inglês, o filme perde a textura cultural que um idioma local poderia trazer. Entende-se a escolha, considerando possíveis riscos e censuras do regime afegão, mas ainda assim, o inglês ocidentaliza uma história que tem alma oriental, e isso afeta a experiência.

    No fim, “Quebrando Regras” é um bom filme. Importante, necessário, com uma mensagem linda e personagens inspiradoras, mas poderia ser mais do que isso. Poderia emocionar de verdade, arrancar lágrimas e fazer com que o brilho dessas meninas ecoasse com mais potência. É um retrato digno, mas morno, de uma história que merecia o calor da intensidade que realmente tem.

  • CRÍTICA | Jurassic World: Recomeço entretém quem procura só isso

    CRÍTICA | Jurassic World: Recomeço entretém quem procura só isso

    Jurassic World: Recomeço sofre de repetir problemas do passado, mas também entrega situações que não tinham sido exploradas até então.

    Jurassic World: Recomeço deixa bem claro que mesmo podendo ser uma possibilidade de atrair um novo público, se mantém firme como continuação de toda a franquia, levando em conta acontecimentos do passado, falhas humanas e a lição aprendida de que os seres devem ser deixados em seu próprio habitat.

    A proposta da vez é criar um grupo em que cada pessoa terá uma função característica, em prol de ajudar pessoas ricas a ficarem ainda mais ricas, pegando o sangue de dinossauros que sofreram mutação e podem ajudar na cura de doenças humanas. Durante o percurso, uma família que estava viajando vai se meter na encrenca deles.

    thumb 1920 1386076

    Jurassic World: Recomeço | Universal Pictures

    Se tratando da história, ainda que simples, o modo como leva a se concretizar é o que pode atrapalhar a experiência daquele que assiste, pois, há muita facilitação e conveniência de roteiro para os personagens escaparem com vida nas situações que se encontram, sendo salvos pelo dinossauro errar o tempo de morder ou por serem imunes à uma queda que é amortecida por galhos.

    Em diversos momentos, acontecem situações bizarras da personagem entrar no carro como se estivesse num filme de espião, de um ser grande desaparecer na floresta em questão de segundos ou de um pacote de Snikers ter uma função absurda graças ao roteiro. Muitas situações que funcionariam em uma animação ou filme de comédia, são colocadas e levadas a sério em Jurassic World: Recomeço.

    Não bastasse isso, os diálogos são cafonas, sem graça e parecem buscar um efeito. Contudo, piora quando o longa-metragem tenta ser engraçado, apresentando relações e situações onde o humor deveria ser o ponto forte, mas raras serão as cenas bem sucedidas nesse departamento. Fica claro uma falta de tato para onde a comédia funcionaria e, principalmente, onde teria sentido o personagem agir ou falar de tal modo.

    thumb 1920 1386075

    Jurassic World: Recomeço | Universal Pictures

    As cenas com os seres que fazem essa franquia continuar tão forte fazem valer a assistida pela qualidade técnica, pelo novo visual e pelas situações tenebrosas que proporcionam a equipe. A forma que o diretor Gareth Edwards as conduz, começando com eles em segundo plano, para criar uma tensão e iniciar uma sequência em que o nível só eleva, ou brincar com a expectativa, estimula uma experiência agradável.

    Pena, que a resolução das cenas de ação, sofram de preguiça ou, em sua maioria, de um auxílio do roteiro. Todavia, é notável enxergar a belíssima mensagem que o filme procura passar em prol da natureza, da humanidade, de buscar ajudar o próximo ou de entender que há valor nessas vidas que os personagens estão mexendo, fazendo um possível reflexo com a própria natureza selvagem que estamos sempre cutucando, quando só deveríamos nos comportar.

    Vale destacar as referências que o filme busca fazer a trilogia clássica, abusando da nostalgia no uso da trilha sonora de John Williams, sendo o único momento que o som vai chamar a atenção dentro do filme, ou em coisas sutis, como a presença do T-Rex ou a situação perigosa com as crianças dentre corredores.

    Jurassic World: Recomeço em nada recomeça de verdade. Continua, se prende a nostalgia e mesmo que tecnicamente seja magnífico, na parte que mais importa, a magia desse universo adaptado pelo Spielberg, não apresenta algo que brilhe os olhos mesmo com uma mensagem tão otimista.

    Veja também:

  • CRÍTICA| Mesmo com falhas, Round 6 se encerra ressaltando a própria mensagem

    CRÍTICA| Mesmo com falhas, Round 6 se encerra ressaltando a própria mensagem

    Criada por Hwang Dong-hyuk, Round 6 encerra seu terceiro arco com pontos altos, e também alguns baixos, finalizando com coerência, e dividindo o público no processo.

    Obs: a seguinte crítica contém spoilers da última temporada de Round 6.

    Lançada em 2021, Round 6 rapidamente cativou o público por sua brutalidade e originalidade, abrindo portas para diversas outras produções sul coreanas realizadas pela NETFLIX, e enfatizando a força do cinema mundial.

    Com uma forte crítica ao sistema capitalista e à luta de classes, a produção serviu como discussão em muitas áreas, apesar de seu contexto de violência, por consequência, dentro de um serviço capitalista como a NETFLIX, derivados e sequências da produção começaram a serem produzidos, entre elas um reality show que desvirtua por completo a mensagem da produção original, além de “duas temporadas” que encerra o arco de Gi-hun.

    Round 6 não necessitava de uma continuação, porém, inevitavelmente tivemos, assim, em seu terceiro e último arco, a produção apresenta alguns destaques, entre eles possivelmente o melhor episódio da série, e tropeços inevitáveis para uma série que pretende se estender mais do que deveria, como as votações dos participantes que ficaram ainda mais cansativas.

    Para analisar este último arco, é necessário relembrar do último episódio da primeira temporada, quando Gi-hun faz uma aposta com Oh Il-nam, que um morador em situação de rua, congelando em plena nevasca, receberia ajuda. Quando o tempo limite estava quase se encerrando, ele é salvo por um estranho, provando a fé de Gi-hun na bondade da humanidade.

    Quando Gi-hun retorna ao jogo com o intuito de destrui-lo internamente, encontra novamente pessoas mesquinhas e egoístas, porém, também encontra pessoas boas, como Hyun-ju (jogadora 120), Geum-ja (Jogadora 149) e principalmente Jun-hee (jogadora 222), a chave para compreender todo o arco emocional deste final de Round 6.

    Round 6

    Geum-ja, Jun-hee e Hyun-ju em cena de Round 6- Divulgação NETFLIX

    Se olharmos as redes sociais desde o final da temporada, muitos criticam a NETFLIX e defendem um final mais otimista, com todos vivos e bem, ou com seus personagens favoritos vitoriosos, esquecendo qual a série que estão assistindo, e o que fez Round 6 tão popular para início de conversa: é um jogo mortal que somente sobrará um, não existiria a possibilidade da série ter um final feliz, porém, ninguém disse nada sobre um final esperançoso.

    Gi-hun é um homem inerentemente bom. Esta é a sua maior força dentro de um jogo que a humanidade está cada vez mais perdendo o contato com si mesma. Refletindo sobre, acredito que Round 6 não é uma série sobre lutas sociais e capitalismo, é uma série sobre humanidade.

    Após a tentativa fracassada no final da última temporada, Gi-hun perde a fé em si mesmo e no próprio jogo, se martirizando sobre os acontecimentos que se sucederam, porém, bem perto de si, Jun-hee segurava um símbolo de esperança e pureza, que traz um das escolhas narrativas mais interessantes deste último arco: um bebê.

    O símbolo do bebê é um artifício muito usado no cinema, e na literatura, como uma forma de representar esperança e novos caminhos, apesar dos tempos sombrios. Entre vários exemplos, cito aquele que mais ressoa comigo que é o de Rashomon (1951, Akira Kurosawa), uma das melhores produções da sétima arte, e uma também das mais sensíveis.

    O contraponto entre o inocente bebê de Jun-hee, que nasce dentro de um caótico jogo de esconde-esconde, um dos episódios mais maduros da série, é gritante. Quando a mãe morre e o bebê entra em seu lugar no jogo, o abismo é ainda mais forte, até onde vai a maldade da humanidade que coloca um bebê no jogo para seu próprio entretenimento?

    Round 6

    Jun-hee segurando seu bebê em cena de Round 6- Divulgação NETFLIX

    Neste momento que volta uma das melhores interações da segunda temporada, e pouco utilizada neste terceiro arco, que é a relação entre Gi-hun e In-ho, o líder do jogo, que incentiva o protagonista a matar seus oponentes com o intuito de conseguir sair do jogo com vida, e com o bebê. Apesar da ideia ser tentadora, Gi-hun não tem forças para, afinal, ele é um homem bom, não tem em si a maldade dos outros competidores.

    Esta é uma das maiores reflexões deste final de Round 6, a bondade que ainda existe no ser humano, na forma de Gi-hun e da bebê de Jun-hee, em contrapartida a todos os outros competidores finais, não ironicamente, todos homens.

    Em seu ato final, Gi-hun se sacrifica para salvar a bebê, como prometido para a mãe. Em sua fala final, Gi-hun fala uma frase incompleta: “Humanos são…”, dando ao espectador a missão de completar a frase de acordo com o próprio senso de ética, no meu caso, me veio uma frase filosófica que discute os ensinamento de Jean-Jacques Rousseau: “o ser humano nasce bom, a sociedade que o o corrompe”, por consequência, humanos são inerentemente bons, apesar de apresentar potencial para o mal.

    O que Gi-hun tenta nos demonstrar com este final, é justamente isso. Não pretende responder um debate filosófico antigo, mas, trazer esperança, ganhando a admiração até mesmo de In-ho, um homem que não apresenta o mesmo pensamento generoso de seu compatriota, mas, o respeita.

    Apesar de toda esta reflexão, a última temporada de Round 6 tem muita enrolação, provavelmente com o intuito de cumprir a cota de episódios exigidos pelo streaming, incluindo, mas não delimitado à: o arco de Jun-ho enquanto busca a ilha a procura de seu irmão, que é insatisfatório em muitos níveis; as votações constantes que não levam em nada e somente servem para reafirmar um ponto que o espectador já compreendeu; um grupo de “convidados” bem mais insuportável do que os da primeira temporada, entre outros.

    Round 6

    Cena de Round 6- Divulgação NETFLIX

    Com o encerramento de Round 6, e o inevitável encerramento de Stranger Things (2016, Matt Duffer, Ross Duffer), a NETFLIX apresenta consciência que perderá duas de suas maiores séries, por consequência, o final da temporada abre portas para futuros spin offs, que sim, são extremamente desnecessários, porém, dentro do sistema que estamos inseridos, não temos escolha se não aceitar este inevitável “progresso”, e torcer para o melhor, afinal, a partir deste final, Hwang Dong-hyuk impede qualquer sequência.

    Em questão técnica, esta última temporada apresenta problemas semelhantes à 2º temporada, incluindo quebras no ritmo, personagens menos memoráveis e uma tensão bem inferior àquela que existia quando a produção se iniciou, porém, mantendo uma estética cinematográfica de destaque e uma direção de arte esplendorosa.

    Toda produção apresenta uma mensagem potente por trás, quanto melhor a produção, mais mensagens serão encontradas que ressoarão pessoalmente com cada um da audiência. Round 6 se encerra, com consciência de seu legado, apesar de o final decepcionar muitos, caso seja friamente analisado, não existiria outro final possível, nós não vivemos em um conto de fadas, vivemos em um mundo cruel e sombrio que sempre nos derruba, porém, a cada 10 pessoas de índole questionável, existe um Gi-hun, e talvez esta seja a grande mensagem pretendida por Hwang Dong-hyuk: se ele convencer uma pessoa sequer a refletir sobre suas próprias ações, e como ele enxerga a humanidade, terá valido tudo a pena.

    Veja também

  • CRÍTICA | F1: O Filme parece corrida de verdade, mas não empolga

    CRÍTICA | F1: O Filme parece corrida de verdade, mas não empolga

    F1: O Filme é carismático e apresenta cenas pra lá de impressionantes, mas não consegue repetir o feito do projeto anterior do diretor.

    Algo que tem chamado muito a atenção de F1: O Filme é o fato do diretor ser o mesmo de Top Gun: Maverick e fica claro que ele busca repetir o feito, visto que a nova produção copia diversos elementos deste que citei. E é aí que mora o problema.

    Repetir o feito não é fácil. Filmes de jato são muito mais difíceis de encontrar do que filmes de corrida, trazer um protagonista com um histórico de qualidade que se relaciona com um longa antecessor é diferente de pontuar isso em uma primeira vez e colocar como problema a relação com a juventude, no qual em Top Gun existe uma situação pessoal pra ser resolvida, não vai proporcionar o mesmo peso emocional.

    Enquanto a obra prosseguia, foi difícil não perceber essa familiaridade e sentir que algo estava faltando. Estava faltando novidade. Não estou dizendo que Top Gun: Maverick seja inovador, mas ele se beneficia de ser uma continuação e deixar verossímil as dificuldades que impõe. Aqui, você sabe exatamente onde vai dar cada mini trama e ainda toma algumas decisões questionáveis.

    lewis hamilton brad pitt

    F1: O Filme | Warner Bros Pictures

    Essa parte problemática eu deixo bem relacionada ao personagem Joshua Pearce (Damson Idris), que serve como contra ponto da antiga geração que Sonny Hayes (Brad Pitt) faz parte. Sua personalidade é imatura, mesmo que tenha cabimento com a idade, o auge da carreira e o medo de ser substituído, há um exagero na falta de reconhecer os erros que afasta o espectador. Cenas onde poderia conversar com o protagonista são ignoradas, o que leva a falta de empatia para com os dois na conclusão.

    Agora, sobre a parte que importa pra maioria… sim, as cenas de corrida são incríveis. Todas as posições de câmera escolhidas foram precisas e acertadas, deixando claro que o ator estava dirigindo naquela pista e passando a sensação de fazer parte daquele esporte, um pouquinho de como deve ser. A sensação é de estar vendo uma corrida sendo televisionada e isso diverte, não tenha dúvidas. Contudo, não emociona.

    F1: O Filme não precisa fazer quem assiste chorar, mas precisa fazer torcer, se importar, sentir a dificuldade e comemorar quando vence. E não acho que a obra encontre um jeito de proporcionar isso, seja por entregar um protagonista muito bom desde o início, não colocando uma dificuldade que precise superar, ainda que citem um trauma do passado, isso nunca é abordado com louvor, ou pela relação pouco explorada entre os pilotos.

    F1: O Filme

    F1: O Filme | Warner Bros Pictures

    A calmaria na narrativa é sua parte mais atraente, pois é nela que a direção decide se atentar aos sentimentos de Sonny e Joshua. A conversa na varanda ou o jogo de pôquer são esses momentos que eu ansiava por mais, até seguir pro lugar comum. O humor do filme pode falhar vez ou outra, mas não incomoda. Já a duração do projeto parece se prolongar mais do que deveria ao ficar tanto tempo estagnada em situações que soam cada vez mais repetitivas e clichês.

    F1: O Filme proporciona uma bela experiência para os fãs de fórmula 1 que gostariam de ver algo mais próximo na maior tela possível, entretanto, acaba por deixar de lado uma conduta mais natural e interessante para que o público se aproxime desses heróis tão distantes. O produto final é bem feito, mas traz aquele sentimento agoniante de já ter visto isso com maior carinho e atenção.

    Veja também:

  • CRÍTICA | Missão Impossível : O Acerto Final é a conclusão certa para a franquia

    CRÍTICA | Missão Impossível : O Acerto Final é a conclusão certa para a franquia

    Missão impossível: O Acerto Final pode soar corrido e mentiroso, mas entrega boa parte do que torna esse mundo tão eletrizante e finaliza do jeito que deveria.

    Pelo que pude notar no site, não existem críticas sobre a franquia protagonizada por Tom Cruise, então gostaria de pontuar como ela conseguiu se renovar por tanto tempo, proporcionando pelo menos uma cena que tirava o fôlego por filme e uma evolução narrativa de nunca soar repetitivo, ainda que houvesse toda vez a frase ”sua missão, caso decida aceitar”. Só que vamos adimitir, isso era um charme e tanto da saga, tal como a música principal que nunca deixou de animar quem estivesse ouvindo.

    Sendo assim, chegando em seu sétimo filme, o diretor das últimas produções (”Nação Secreta” e ”Fallout”), Christopher McQuarrie, anunciou que haveria uma história dividida em partes que ofereceria dois longa-metragens (”Acerto de Contas” e ”O Acerto Final”) com a chance de dar um fim para toda essa jornada de Ethan Hunt, na qual a parte 1 abordou mais o sacrifício de entrar na IMF e trouxe de volta um rosto conhecido, indicando que pontas soltas de uma origem não vista retornariam para assombrar o protagonista.

    Missão Impossível: O Acerto Final marca sua estreia como não só a parte 2, que vai concluir toda a trama envolvendo uma inteligência artificial chamada Entidade, tendo como objetivo o controle total das potências mundiais para fazer o que acha melhor com a humanidade, mas também como a provável conclusão da franquia, fazendo algumas homenagens para tudo que essa saga entregou aos fãs e dando um toque definitivo sobre o que cada agente da Força Missão Impossível representa.

    Missão Impossível: O Acerto Final | Paramount Pictures

    Missão Impossível: O Acerto Final | Paramount Pictures

    As referências aos filmes anteriores, ainda que agradáveis e nostálgicas, também passam do ponto a medida que se repetem pela duração, parecendo mais querer dar uma piscada ao fã do que realmente apresentar necessidade para a narrativa, funcionando quando relembra os acontecimentos do longa que antecede a este e ao trazer um objeto não visto há muito tempo de volta ao jogo. Mesmo soando um pouco aleatório.

    O objetivo da história como um todo também acaba por se perder nas próprias ideias, querendo explicar demais tudo que tá acontecendo com uma montagem frenética, que mesmo com o propósito de desenhar para o espectador, acaba deixando mais confuso do que deveria, jogando uma informação atrás da outra que, após se soltar do primeiro ato, esclarece não ser uma missão tão complexa quanto dava a entender.

    Missão Impossível: O Acerto Final demonstra ter noção de onde quer chegar, mas acaba por ignorar o limite de suas capacidades e entregar o impossível, de uma forma que deixe muito claro como o vilão da vez dificilmente seria vencido na vida real. Porém, estamos falando de um filme de ação e aventura, então a suspensão da descrença pode surgir daí, e o filme auxilia para que não vire um problema.

    MI8lovende reacties over laatste mission impossible the final reckoning met tom cruise briljant en gedurfd 176781747128021

    Missão Impossível: O Acerto Final | Paramount Pictures

    O nome da salvação é Tom Cruise. Pensa num ator que entrega, que dá tudo de si, para fazer o seu público acreditar no que está vendo em tela. É possível sentir o esforço do ator, e do personagem também, em entregar o que for preciso pra lidar com a sua missão, dando o tom dramático certo para que consigamos sentir seu pesar com o andamento da narrativa e uma agilidade em combate impressionante para um homem que está na casa dos 60 anos, executando todas as cenas malucas que o roteiro exige, como se pendurar num avião e abrir um paraquedas em chamas (cena que o intérprete realizou 16 vezes).

    Obviamente, a condução da direção exerce uma função essencial para que cada cena passe a ansiedade e a adrenalina necessária de modo que o contemplador possa imergir e temer pela forma que o herói vai escapar da situação em que se colocou. Entregando duas cenas que valem a experiência no cinema e se consagram entre as melhores da franquia. A do submarino, que traz um suspense avassalador, e aquela dos aviões, remetendo aos combates aventurescos vistos na franquia do Indiana Jones.

    Missão Impossível: O Acerto Final é a prova viva de como uma franquia pode perdurar com tamanha qualidade, entregando uma sensação que não será possível sentir em casa e um filme de ação que pode ir além da parte mirabolante ao refletir sobre o ser humano nos tempos atuais. O impossível não é uma palavra que podemos permitir que defina nossas ações, principalmente quando parte de uma consequência dos nossos atos. Se fomos capazes de criar algo perigoso, somos capazes de impedir que esse produto nos elimine.

    A mensagem do final, mesmo que soe sentimental demais para uma saga que nunca deu tanta atenção para isso, acaba tornando pertinente a reflexão sobre o protagonista, tudo que ele fez, tendo mais sua credibilidade sendo questionada do que o contrário, e ainda assim, se mantendo firme com seus ideais sobre o bem que a humanidade merece. Servindo de inspiração para ver como toda vida importa e como as escolhas que te definem são àquelas que toma depois dos erros que cometeu.

    Veja também:

  • CRÍTICA | Como Treinar o Seu Dragão conseguiu se equiparar ao desenho

    CRÍTICA | Como Treinar o Seu Dragão conseguiu se equiparar ao desenho

    Como Treinar o Seu Dragão é o melhor live-action que vai encontrar, transmitindo a mesma sensação do original. 

    O filme tinha a difícil tarefa de adaptar em live-action certa animação que conquistou uma legião de fãs, inclusive este que vos fala, um desenho que mesmo adaptando um livro de mesmo nome, se distanciava bastante da história como um todo, proporcionando uma mensagem de respeito, mudança, compaixão e adaptação. E felizmente, a adaptação com intérpretes físicos não se esqueceu da parte mais relevante… o coração da obra.

    Caso não saiba, a história acompanha um jovem Soluço (Mason Thames) que é filho de Stoico (Gerard Butler), o líder viking de seu povo, e inesperadamente captura um dragão, um Fúria da Noite, uma espécie que jamais foi pega. Contudo, o garoto não consegue matá-lo e acaba fazendo uma amizade, criando um laço com o ser que receberá o nome de Banguela. Agora, ele precisa convencer o seu povo a deixar de lado uma guerra que persiste por séculos.

    Como Treinar o Seu Dragão | Universal Pictures

    Como Treinar o Seu Dragão | Universal Pictures

    Já de cara é importante ressaltar a criatividade de Como Treinar o Seu Dragão, que quase não existe, já que ao adaptar o desenho de 2010, praticamente copia e cola os diálogos, os planos de câmera e a condunção da narrativa. As qualidades de ser leve, dinâmico ou divertido devem pairar mais sobre quem o fez do zero, do que quem só seguiu a fórmula para o sucesso. Aqui, poucas são as inserções de algo que não foi visto, seja um aprofundamento na relação de Soluço e Astrid (Nico Parker) ou uma participação maior de Melequento (Gabriel Howell) que se tirasse, não faria diferença.

    Dito isso, a qualidade dos efeitos visuais é de se tirar o chapéu, não deixando cartunesco ao trazer os dragões com olhos de gato e nem realista demais a ponto de perder a magia que se via na obra original. Eles tem camadas, possuem uma pele que soa palpável, apresentam personalidade própria por cada espécie e entregam por bastante tempo o que séries como ”House of the Dragon” parecem não conseguir. Cenas de vôo magnéticas, compreensíveis, enxergáveis e tão fluídas que deixam aquele desejo de querer mais.

    O diretor Dean DeBlois e o compositor da trilha sonora John Powell retornam para o trabalho que um dia fizeram, entregando sabiamente o que o fã vai querer ver e ouvir, tal qual o que um espectador calouro poderia querer. Aquele sentimento de aventura, de magia, de um entretenimento feito com cuidado e que busca falar sobre algo. A direção tem noção do tom que precisa dar ao projeto e a música consegue tocar lá no fundo, a ponto de comover os mais nostálgicos.

    Como Treinar o Seu Dragão | Universal Pictures

    Como Treinar o Seu Dragão | Universal Pictures

    Os intérpretes de Soluço e Astrid caem como uma luva, entendendo a personalidade e os trejeitos de seus personagens. Como alguém que estava bem receoso sobre a escolha de ambos, é com muito prazer que dou a notícia de que entregam um ótimo trabalho, com sintonia nas interações e agilidade nas ações. No entanto, a escolha perfeita recai sobre Gerard Butler como Stoico, que já tendo dublado o viking na trilogia da Dreamworks, incorpora o jeito bruto, mas incrementa com carinho no olhar, dando medo pelo tamanho que tem, mas também confiança pelo jeito que trata a todos, nunca soando um clássico vilão para o garoto com seu dragão. Transmitindo camadas que nas animações se desdobraram apenas nas continuações.

    Um ponto que deve ser ressaltado é o ganho de uma experiência mais imersiva por ser live-action, já que em filmes animados nos acostumamos com a falta de verossimilhança em feridas que os personagens podem sofrer, e com atores, a sensação de perigo fica maior, seja no machucado que Soluço pode arranjar treinando com o Banguela ou no embate final devido a um Dragão enorme que destrói com poucos movimentos. Sendo assim, cada cena com os seres alados trazem mais angústia e temor do que na versão animada.

    Como Treinar o Seu Dragão acaba portanto recuperando a alma de seu projeto original, não soando nada inovador, mas transmitindo a mesma sensação. Ainda que tenham cenas cômicas com uma falta de tato por se prolongarem além da cota, a obra entrega um visual que vale a assistida numa tela grande e a condução permite que o tempo passado nem seja notado.

    Veja também:

    • CRÍTICA | Bailarina não consegue se desassociar de John Wick 
    • CRÍTICA | Andor relembra sobre o que STAR WARS sempre foi em sua 2º Temporada
  • CRÍTICA | Predador: Assassino de Assassinos é um presente aos fãs

    CRÍTICA | Predador: Assassino de Assassinos é um presente aos fãs

    Dirigido por Dan Trachtenberg, Predador: Assassino de Assassinos amplia a mitologia e entrega tudo o que sempre desejamos ver de um filme da franquia

    Quando Arnold Schwarzenegger derrotou o primeiro alienígena da franquia em O Predador (1987, John McTiernan), uma produção que se mantém eficiente e atual até hoje, uma curiosidade e um interesse mórbido surgiu da parte dos fãs, afinal, quem é esta criatura? O que come? Onde mora? Por que seu objetivo primário é matar? Quando veremos mais dela?

    A resposta não demorou muito a chegar. Predador 2 (1990, Stephen Hopkins) chegou logo depois e ampliou ainda mais a franquia, e a curiosidade sobre estas feras tão temidas, explicando o fato que elas estão no nosso planeta há tanto tempo quanto a humanidade, sempre observando e sempre matando.

    Após isto, a franquia ganhou algumas sequências de qualidades duvidosas, além de dois filmes de Alien Vs. Predador (2004, Paul W. S. Anderson), que merecem um estudo a parte, com o tempo, perdemos esperanças que veríamos uma produção decente de Predador novamente, porém, a franquia foi renovada com o lançamento de O Predador: A Caçada (2022, Dan Trachtenberg).

    Dan Trachtenberg entendeu algo essencial para a longevidade da franquia: este universo é riquíssimo, porém, se não estiver baseado em emoções humanos, ele nada mais será do que somente uma brincadeira de crianças, assim, com o protagonismo de uma guerreira comanche, o oposto do brucutu de Schwarzenegger, ganhamos um novo gosto, e a curiosidade voltou.

    Predador: assassino de assassinos

    Cena de Predador:Assassino de Assassinos- Divulgação Star+

    Atuando ao mesmo tempo como uma sequência de Predador: A Caçada, e um filme independente, Predador: Assassino de Assassinos é uma animação que entrega o que o público começou a esperar de um filme da franquia: violência, um alienígena muito feio, lutas bem coreografadas com diferentes armas, uma ampliação da mitologia como um todo, e por fim, algo que todo filme deve ter: coração.

    A produção apresenta quatro capítulos bem divididos, e únicos à sua maneira, seja em questão de construção narrativa, ou de cenário ao que os personagens estão inseridos.

    O primeiro se passa na Era Viking e conta a história de uma mãe obcecada por vingança, o segundo se passa no Japão Feudal e conta a história de dois irmãos samurais, o terceiro se passa no começo da segunda guerra mundial e conta a história de um jovem piloto, o quarto unifica todos os capítulos em um grandioso final.

    Existem muitas coisas para se elogiar no filme. A animação obviamente é uma delas, seguindo um estilo fluido semelhante ao de produções como Arcane (2021, Christian Linke, Alex Yee) e Gato de Botas 2: O Último Pedido (2022, Joel Crawford), e que somente cresce ao se somar como uma cinematografia linda e movimentos de câmera dignos da tela grande, indo desde planos sequências maestrais até uma mise in scene louvorosa.

    Em questão narrativa, o fator animação coopera muito mais do que se a produção fosse feita em live-action, afinal, na animação o ritmo é muito distinto, é muito mais fácil ganhar empatia pelos seus personagens, não necessitando tanta explicação ou tempo de tela, e em Predador:Assassino de Assassinos, vemos esta vantagem ser usada até o último momento.

    Predador: assassino de assassinos

    Cena de Predador:Assassino de Assassinos- Divulgação Star+

    Dan Trachtenberg não decepcionou nesta concepção, criando um espetáculo visual e justificando a todo momento o uso do estilo 3d, sobreposto em desenhos bidimensionais, trazendo cenas belíssimas, dignas de serem quadros na parede, além disto, ao focar em 3 relações de amor básicas do ser humano: o amor de uma mãe, o amor fraternal, e o amor por um pai, a audiência se importa com estes personagens, e teme quando o Predador realmente aparece para cada um deles.

    Com muita violência que justifica a sua classificação indicativa, não presenciamos somente um Predador, e sim no mínimo 4, incluindo um rei Predador mostrado no último ato, que se passa no planeta dos alienígenas, sendo esta parte que o filme realmente brilha.

    Para os fãs, mostrar pela primeira vez o planeta dos Predadores, é algo surreal, uma pena que somente ocorre nos últimos 30 minutos, porém, com um ritmo rápido e 4 histórias potentes, não vemos o tempo passar. Com pouquíssimo tempo de tela, cada um de seus três protagonistas consegue mudar e crescer, algo honrável para uma animação do feito.

    Predador

    Cena de Predador:Assassino de Assassinos- Divulgação Star+

    Sabendo muito bem o seu objetivo de entretenimento, Predador: Assassino dos Assassinos aumenta nosso interesse por novos filmes da franquia, como Predador: Terras Selvagens (2025, Dan Trachtenberg), construindo uma necessária ponte entre nosso último contato com a franquia, e um futuro bem próspero, que mostrará pela primeira vez o ponto de vista do caçador, e quem sabe no futuro uma nova tentativa de retratar uma luta entre o Predador e um Xenomorfo?

    Predador: Assassino dos Assassinos já está disponível no Disney+.

    Leia Também:

  • Crítica: Cazuza- Boas Novas é um retrato repetitivo da vida do cantor

    Crítica: Cazuza- Boas Novas é um retrato repetitivo da vida do cantor

    Compondo o festival In-Edit Brasil, e dirigido por Nilo Romero, Cazuza-Boas Novas faz um retrato grandioso sobre os últimos anos de vida do cantor, porém, não acrescenta nada novo àquilo que já vimos

    Existem algumas pessoas que deixam sua marca no universo, seja pela sua importância em algum campo científico, ou por conta do modo como consegue transmitir emoções e sentimentos, e para as pessoas que conseguiram acompanhar a ascensão e a queda destas estrelas, elas serão eternamente lembradas. Elvis Presley é uma delas, Ney Matogrosso é um destes e Cazuza atualmente é uma estrela dourada lá no céu, olhando para o povo brasileiro que tanto amava.

    Com mais de 3 milhões de ouvintes mensais no Spotify, e incontáveis mais em outras plataformas digitais e meios analógicos, é impossível demonstrar o impacto de Cazuza, seja no campo musical com a banda Barão Vermelho, ou em sua importância para a quebra do estigma sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), que tristemente o matou em 1990.

    Diversas produções já tentaram captar um pouco desta centelha, tendo o cantor ganho até mesmo uma cinebiografia, Cazuza- O Tempo Não Para (2004, Sandra Werneck, Walter Carvalho), em uma época que não era tão comum quanto atualmente.

    Cazuza

    Cazuza em show apresentado na produção- Foto Arquivo Globo

    Cazuza- Boas Novas, não somente é dirigido por um de seus amigos e colaboradores mais próximos, Nilo Romero, mas também se utiliza de depoimentos de parceiros, colegas, familiares e ex amores. Optando por um modo leve de retrato, afinal, os dias finais do cantor já são pesados por si só, a produção se assemelha em certos momentos com uma conversa de bar, em que grandes amigos relembram com carinho a vida do cantor, inclusive seus podres e momentos que o artista deixava sua ousadia realmente tomar conta.

    Intercalando os depoimentos, Nilo Romero optou por colocar gravações de shows e filmagens amadoras do cantor e de amigos, desde vídeos dos bastidores e notícias televisionadas, até a icônica cena do show no Canecão, em 1988, que Cazuza cuspiu na bandeira do Brasil.

    Demonstrando os altos, baixos, e tristezas do cantor, seja com a doença ou a notícia sensacionalista da Revista Veja que “o matou antes da hora”, a produção é interessante, porém, não apresenta nenhuma grande novidade sobre a vida desta estrela. Para aqueles que já conhecem a história do cantor, praticamente tudo que poderia ser dito sobre Cazuza, já foi dito em outras produções e repetido nesta, assim, o documentário tristemente é eficiente, mas, não se destaca nem esteticamente e nem narrativamente.

    Cazuza

    Cazuza em cena do show “O Tempo Não Para”- Divulgação Oficial

    Cazuza- Boas Novas terá sua estreia nacional durante a 17º Edição do Festival In- Edit Brasil.

    O festival de documentário musical terá sua abertura no dia 11 de Junho de 2025, com o filme Anos 90 – A Explosão do Pagode (2025, Emílio Domingos e Rafael Boucinha), e incluirá em sua programação produções variadas que incluem filmes sobre John Lennon e Yoko One, John Williams, Jackie Shane, entre outros, abordando uma gama variada de universos sonoros nacionais e internacionais.

    Entre os dias 11 e 22 de Junho de 2025, o festival In-Edit Brasil apresentará mais de 60 títulos, ocupando salas do CineSesc, Cinemateca Brasileira, Spcine Olido, Spcine Paulo Emílio (CCSP), Cine Bijou e Cine Matilha (Matilha Cultural), além de oferecer uma programação paralela com shows, debates, encontros e sessões comentadas com convidados especiais.

    Um recorte da programação estará disponível online para todo Brasil, também de forma gratuita, através das plataformas Spcine Play, Sesc Digital e Itaú Cultural Play (IC Play).

    Com entrada  gratuita em todas as sessões, exceto no CineSesc aonde serão vendidos ingressos a preço popular, a programação completa do 17º Festival In-Edit Brasil pode ser encontrado no site: https://br.in-edit.org/.

    Cazuza-Boas Novas terá suas primeiras sessões durante o festival e entrará no circuito nacional no dia 11 de Julho.

    Leia também:

  • CRÍTICA | Bailarina não consegue se desassociar de John Wick 

    CRÍTICA | Bailarina não consegue se desassociar de John Wick 

    Ainda que as cenas de ação sejam boas, Bailarina não dá tempo para a personagem e se deixa atrelar em quem não precisava.

    Eve Macarro (Ana de Armas) é apenas uma criança quando perde seu pai em meio à um caos envolvendo as consequências do que ele fez, portanto, ao ser acolhida por Winston Scott (Ian McShane), a bailarina se entrega às tradições assassinas da Ruska Roma. Já adulta, em uma de suas missões, encontra um homem com a mesma marca daqueles que atacaram sua casa no passado. Iniciando uma perseguição que não terá retorno.

    Se o fã do universo de John Wick está buscando ação, isso é o que não vai faltar. O longa-metragem se atenta a essa característica de tal modo que acabe se deixando levar, dando mais atenção para uma corrida desenfreada do que para uma história relevante que esteja querendo contar. As cenas de luta divertem, trazem uma coreografica compreensível e planos longos. A atriz principal se entrega de corpo e alma ao papel, fazendo jus ao que havia sido visto em ”007: Sem Tempo para Morrer”.

    noticia completa bailarina 2

    Bailarina | Paris Filmes

    No entanto, é importante frisar que filmes de ação não se bastam apenas nisso. A ação deve ser importante para a narrativa, movê-la de algum modo ou trazer algo que realmente chame a atenção. A franquia John Wick se destacou muito pela sua ação extremamente crível, onde era claro a presença de Keanu Reeves em cada cena, tal qual a criatividade de buscar trazer um estilo de luta divergente a cada combate iniciado, seja por um plano sequência ou por envolver cachorros no meio de tudo.

    Então, se a obra não tem algo que vá dar um tom diferenciado, daquele que pode se dizer que nunca se viu, é importante que sua história seja atraente, instigante, movendo a história por meio da ação, mas que se baste pelo roteiro, o que ocorre na franquia Missão Impossível. Infelizmente, não acontece aqui. Já que o tempo dado para o crescimento da personagem é curto, sua evolução não é sentida, os desafios nunca parecem ser dos maiores e quando se mostram a altura, não leva ao fim de sua vida. O cansaço poucas vezes é sentido e o andamento da narrativa, ainda que não canse, também não prende. Entretanto, Eve faz parte de um universo que conquistou muita gente, o que torna a aventura mais atraente.

    A trilha sonora do filme, quando tenta fazer algo próprio, não faz nada demais, mas quando se compara àquela vista nos filmes do Keanu Reeves, consegue até dar uma adrenalina. A fotografia e direção de arte se mantém em pé de igualdade com a franquia, estabelecendo ser uma identidade desse universo, onde a cor neon é forte, a cor azulada é fortificada e os enquadramentos têm ampla noção de como se movimentar em meio ao caos. Sendo bem maneiro de acompanhar, pelo menos pra quem gosta. Todavia, existe um problema no meio disso tudo, que é a forte presença de John Wick.

    Bailarina | Paris Filmes

    Bailarina | Paris Filmes

    Uma coisa seria pontuar no filme em que tempo cronológico ele se encontra dentro dessa saga, outra seria o personagem Baba Yaga virar uma espécie de Sr. Miyagi, mentor, para a protagonista, mostrando a clara evolução que ela teria durante a jornada da obra. Só que Bailarina nos traz uma ideia de quando a história tá acontecendo, proporciona um combate entre os dois e enfia ao final uma sequência de luta desse homem que para a história pouco tem a dizer, soando um serviço aos fãs que acaba por ofuscar o brilho daquela que dá nome ao filme. Ao final do filme, ainda leva a personagem à um caminho familiar que John passou, deixando os dois mais atrelados. E ao final, as cenas que estão na minha cabeça trazem mais o Keanu Reeves do que a Ana de Armas.

    Dito isso, ainda que não tenha a mesma magia dos antecessores, não soa válido dizer que Bailarina destoa muito dos outros, principalmente se comparado ao trabalho da história como um todo que os filmes tinham, que eram simples mesmo. Acontece que por aqui focar em uma outra área que não havia sido explorada, o filme acaba por se entregar à uma jornada genérica quando deveria se atentar mais ao lado que afeta e mexe com as mulheres. Lembra muito o erro que o filme da ”Viúva Negra” cometeu de não se aprofundar na Sala Vermelha. No entanto, a obra não falha em entreter, as motivações de cada personagem são claras e as cenas de luta fogem de algo bagunçado. Restando uma personagem que cativa, tem potencial pro futuro, mas que, no momento, não parece compensar ver mais de sua trajetória.

    Veja também:

  • CRÍTICA | Andor relembra sobre o que STAR WARS sempre foi em sua 2º Temporada

    CRÍTICA | Andor relembra sobre o que STAR WARS sempre foi em sua 2º Temporada

    Além de mudar completamente a forma como as pessoas vão ver o filme que dá final a essa história, Andor mostra o potencial que pode ser alcançado dentro de um universo tão judiado pelos executivos.

    Andor (Diego Luna) se uniu à causa rebelde após sua jornada na primeira temporada, onde depois de tanta reluta, acabou por aceitar o caminho que estava destinado a seguir. E aqui, lida não só com as consequências do que fez, como com outros grupos que querem ajudar, mas podem acabar atrapalhando os planos.

    Com diversos personagens já estando onde deveriam, a nova temporada se preocupa em juntar cada peça necessária, de três em três episódios, no qual um ano se passa por arco, até que enfim se conecte com o filme que dá fim à jornada de Cassian, ”Rogue One: Uma História Star Wars”. Sabendo exatamente quando dar atenção para um e proporcionar um momento relevante para tal.

    O curioso de Andor é que mesmo já existindo um filme que conclui toda a trama, muitos dos personagens do seriado não estão lá, o que ajuda na expectativa para com que desfecho cada um vai receber. E mesmo aqueles que sabemos, conseguem passar por situações que deixam o espectador aflito, seja pela bela preparação com a relevância daquele acontecimento quanto pela dificuldade proposta que indica um perigo mortal.

    nline trailer uhd r709f stills 250219 086737

    Andor | Disney Plus

    Curiosamente, ainda que distantes um do outro, cada arco da temporada passa um clima e uma situação divergente, sendo desenrolados com um tempo preciso para o que necessitam e dando um final que consegue satisfazer qualquer espectador de acordo com toda a situação que foi trabalhada.

    O primeiro arco da segunda temporada de Andor pode ser considerado o mais morno, vide o protagonista passar boa parte deste preso em uma situação que não deixa muito claro para o que veio, mas que ao pensar na temporada como um todo, conversa com a situação que o Império instaura na galáxia e com a forma que o povo se perde em meio ao perigo de falhar. E nosso protagonista em si, não pode falhar.

    Desde seu acordo com Luthen (Stellan Skarsgard), temos ampla noção do perigo que corre agora e do quão fundamental cada ação sua pode ser, incluindo deixar claro para uma infiltrada que o medo da morte é a base para fortalecer uma luta que acaba sendo de cada um que participa minimamente. Então, cada efeito, ainda que pequeno, será relevante para uma atitude fundamental como a que a Bix (Adria Arjona) tem ou essa mesma de Cassian levará ao surgimento da base rebelde em Yavin.

    1366 2000

    Andor | Disney Plus

    O grande charme por trás dessa série se trás pelo quão cinza cada mísero figurante consegue ser, indo daquele recepcionista do hotel, em Ghorman, para a Kleya (Elizabeth Dulau), que ganha mais relevância conforme a situação saia do controle e a mesma acabe recebendo um episódio solo que a consagra entre as melhores partes da produção como um todo. Mas essa qualidade vai além.

    Andor não é um herói, não é aquele líder com frases motivacionais, que sabe o que necessita fazer e que vai ser tranquilo com possíveis problemas para o que precisa fazer. Syril (Kyle Soller) não é um antagonista dentro do Império, é um homem manipulado que pensava ser correto acreditar no governo. Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) precisa abdicar da vida boa, deixar pessoas próximas terem fins repulsivos para que a vitória da Aliança fique cada vez mais próxima.

    O que cada um desses personagens passa para chegar onde precisa e o modo como o roteiro cutuca cada vez mais a realidade, manifestando a forma como a manipulação midiática tende a ocorrer, afetando os mais beneficiários socialmente, como um genocídio acontece sem controle e como o maior medo daqueles que estão no poder é que o conhecedor da verdade consiga abrir a sua boca. Tudo isso é abordado com dureza e maestria.

    andor im senat macht sich mon mothma mit ihrer rede keine freundeid70d0ae54btvmoview1200ca10.40084.80100.00rmsk

    Andor | Disney Plus

    O terceiro arco de Andor, especificamente os episódios “Who Are You?” e “Welcome to the Rebellion”, se mostra o auge da produção, colocando-a entre as melhores séries dos últimos anos, ao trazer um ato de crueldade que foi bem organizado, afetando até quem fazia parte do lado errado, e um ato de rebeldia, um discurso não preparado, que depois de exposto necessita de proteção para brilhar ainda mais quando viajar pela galáxia.

    O final do programa, por sua vez, decide ser mais introspectivo, fechando as pontas soltas, esclarecendo onde cada personagem está e como o futuro é glorioso mesmo que a conclusão não seja vista aqui (prosseguindo para Rogue One e Uma Nova Esperança), pois as missões tiveram resultado e cada um está onde deveria, como tem de ser.

    A parte técnica das produções de StarWars sempre são mais complicadas de achar um defeito, mas o nível daqui é mais alto. Em roteiro, é superior a qualquer obra da franquia. Em fotografia, há uma forte noção da mensagem que continua mesmo no silêncio, com planos mais abertos para dar a dimensão do quão pequenos se sentem com a opressão do Império e planos mais fechados na janela para dar um vislumbre do futuro, da esperança.

    star wars andor season 2 first look 07 b9d644eb

    Andor | Disney Plus

    A trilha sonora de Brandon Roberts evolui o trabalho brilhante que havia sido realizado na temporada antecessora, por Nicholas Britell, evocando batidas frenéticas para causar ansiedade, implementando um belo drama em momentos bons ou ruins, além de variar com músicas eletrônicas, músicas com instrumentos que dão um aspecto rural e músicas cantadas, até em coro, para marcar a luta do povo de Ghorman. Sempre de arrepiar.

    Andor é um lembrete sobre o que não podemos deixar acontecer, uma declaração em prol do senso de justiça que existe em cada um de nós e uma prova de que a guerra, antes de ir para as estrelas, começa embaixo, no solo, com pequenas atitudes que acendem a chama da busca por um amanhã melhor.

    Ainda que alguns relutem, a decisiva escolha entre abaixar a cabeça ou sacrificar o que ama, em prol de derrubar àqueles que pisam sem piedade, é aquela que te define pro resto da vida. Andor mostra o luto que vem com isso, mas também o regozijo de compreender que gerações futuras estarão melhores graças ao que fez.

    Veja também:

  • Crítica | 36 anos depois, Ilha das Flores continua relevante

    Crítica | 36 anos depois, Ilha das Flores continua relevante

    Dirigido por Jorge Furtado, Ilha das Flores demonstra a força de um retrato, e os impactos da economia e da luta de classes dentro da sociedade

    Eleito pela Abraccine como o melhor curta metragem brasileiro de todos os tempos, Ilha das Flores é considerado, por seu diretor, um ensaio cinematográfico. Apesar de ser enxergado como documentário, o curta apresenta atores, se inicia com a afirmação que Deus não existe, e nem mesmo foi filmado na Ilha das Flores por si, porém, sua discussão sobre os impactos da economia e do lixo na relação entre seres humanos, e na luta de classes como um todo, continua extremamente atual.

    Ilha das Flores não retrata somente uma região de Porto Alegre, ele abre discussões para os impactos do desperdício, a luta de classes entre aquele que produz e aquele que consome, a fome, a pobreza, entre outras discussões, porém, em nenhum momento é visto como militante, na verdade, o curta consegue ser dinâmico por conta de sua montagem e humor.

    Jorge Furtado é um dos cineastas mais inteligentes que temos atualmente em nosso cinema, tendo a habilidade de tornar discussões densas, em algo leve e dinâmico, seja no curta ou em outras produções como Saneamento Básico, o filme (2007, Jorge Furtado).

    Ilha das Flores é narrado pelo eterno Paulo José, e apresenta marcas artísticas de Furtado que também podem ser encontradas no recente Virginia e Adelaide (2024, Yasmin Thayná e Jorge Furtado), utilizando-se de uma edição rápida e didática, para elaborar um assunto complexo.

    Ilha das Flores

    Cena de Ilha das Flores- Divulgação Oficial

    Uma produção amplamente mostrada em diferentes graus de escolaridade, seja ensino fundamental, médio, graduação ou pós graduação, Ilha das Flores é um filme que fala com todo mundo, apesar de ficar cansativo após um tempo por conta do forte uso de inferências lógicas.

    Uma inferência lógica se resume em um problema de raciocínio, no caso de Ilha das Flores é uma relação de causa e consequência, se iniciando com um cultivador de tomates chamado Senhor Suzuki, e se encerrando em um paradoxo ao tentar discutir liberdade, algo que ninguém sabe explicar e, por consequência, finalizando o ensaio por não ter para onde correr.

    Ao longo destes 36 anos, Ilha das Flores impactou muito a região de Porto Alegre, segundo o artigo de Carlos Redel, copiado na integra para o site da casa de Cultura de Porto Alegre, alguns moradores da região não enxergam veracidade na produção de Furtado.

    Talvez este seja um dos maiores fantasmas da produção, ser um documentário e um retrato social e político, porém, apresentar tantas questões ficcionais que acaba caindo na sátira. O senhor Suzuki não se chama Suzuki, a família representada, são atores contratados, o retrato da situação na Ilha das Flores é importante, porém, a produção nem mesmo foi filmada na própria ilha, tendo sido gravada à 2 quilômetros do local, como exposto nos créditos do próprio curta metragem.

    Ilha das Flores

    Cena de Ilha das Flores- Divulgação Oficial

    Para aumentar a força do ‘documentário’, foi construído uma narrativa em cima dos fatos reais, como a situação em que os moradores disputavam comida com os porcos, algo exagerado e inverossímil, segundo os próprios moradores.

    O relançamento de Ilha das Flores, juntamente com Saneamento Básico, o filme, faz total sentido, afinal, ambos se utilizam do humor para discutir assuntos sérios como ambientalismo, e o descaso que a população deve lidar, por falta de opção, dentro de uma sociedade nem um pouco meritocrática.

    Ilha das Flores, é um relançamento da Vitrine Filmes, e volta aos cinemas nacionais, juntamente com Saneamento Básico, o filme, em cópia restaurada, a partir do dia 29 de Maio.

    Leia Também:

  • CRÍTICA | Após 18 anos, ‘Saneamento Básico, o filme’ ficou AINDA MELHOR

    CRÍTICA | Após 18 anos, ‘Saneamento Básico, o filme’ ficou AINDA MELHOR

    Dirigido por Jorge Furtado, ‘Saneamento Básico, o filme’ se utiliza de um humor rápido e crítico para discutir o cinema e a sociedade como um todo

    Desde crianças, apresentamos o costume de consumir produções audiovisuais, sejam desenhos, filmes ou alguma outra forma de conteúdo, porém, em um país como o Brasil, o costume de consumir produções nacionais, algo que deveria ser instaurado e incentivado desde o berço, não é comum, pelo contrário, o cinema nacional é visto, por muitos, como fraco, ruim, ou outros adjetivos de baixo escalão que não cabem aqui nesta crítica.

    Esta mentalidade é comum em parte da população nacional, porém, se levarmos este pensamento em consideração, perderemos a oportunidade de desfrutar de produções excelentes como os recentes Homem com H (2025, Esmir Filho), e Manas (2025, Marianna Brennand Fortes) ou clássicos nacionais como Saneamento Básico, o filme.

    Dirigido por Jorge Furtado, responsável pela realização do eterno Ilha das Flores (1989, Jorge Furtado) e O Homem que Copiava (2003, Jorge Furtado), Saneamento Básico, o filme é uma comédia de muitas camadas, sendo uma produção que critica a política e a burocracia brasileira, questiona sobre a importância de verbas públicas, ao mesmo tempo que é uma homenagem não somente ao cinema como um todo, mas, principalmente ao cinema brasileiro e a sua luta por reconhecimento e destaque.

    Saneamento Básico

    Bruno Garcia, Tonico Pereira, Fernanda Torres, Wagner Moura e Camila Pitanga em cena de Saneamento Básico, o filme- Divulgação oficial Globo Filmes

    Existem vários filmes que dialogam com a própria arte de se fazer cinema, desde clássicos como A Noite Americana (1973, François Truffaut), séries como O estúdio (2025, Evan Goldberg e Seth Rogen) até nacionais como Sábado (1994, Ugo Giorgetti), porém, Saneamento Básico, o filme se destaca por conta da humanidade e inocência de seus personagens.

    Parafraseando uma fala de Fabrício, Bruno Garcia: “na Linha Cristal só tem caipiras”, e justamente estes caipiras que decidem fazer um filme com o intuito de arrecadar dinheiro para construir uma fossa, porém, com a exceção de um empolgado Lázaro Ramos, nenhum de seus protagonistas apresenta a menor ideia do que seria sequer, um filme de ficção, muito menos sobre as nuanças que envolvem uma produção audiovisual, eis que entra o rico humor de Jorge Furtado.

    Diferente de outros filmes do mesmo estilo, Saneamento Básico, o filme, traz uma comunicação franca e honesta com seu espectador, seus personagens são falhos, gritam muito e apresentam corações, ao final, todos são falhos, isto que os torna tão interessantes, engraçados e dignos de empatia.

    Apresentando uma mensagem clara àqueles que estejam abertos a aceitá-la, porém, sem ser militante em nenhum momento, a produção é uma comédia de absurdos e ridículos que nos diverte do começo ao fim, sem jamais se esquecer da sociedade ao seu redor.

    Saneamento Básico

    Lazaro Ramos, Fernanda Torres e Wagner Moura em cena de Saneamento Básico, o Filme- Divulgação Globo FIlmes

    Na melhor forma Aristotélica, Saneamento Básico, o filme, se utiliza do humor para mostrar as imperfeições humanas, criticando os vícios e defeitos sociais, neste caso especificamente seria na forma da burocracia política e da figura do prefeito de Vila Cristal, um espelho para algo comum em todo o país, ao se tratar de poder público, sejam as reclamações sobre tarifas tributárias, ou a verba insuficiente e mal planejada para o município.

    De forma orgânica e fluida, Saneamento Básico, o filme, é uma produção simples, acessível ao grande público, ao mesmo tempo que constrói momentos icônicos para a mitologia audiovisual nacional, como Silene Segal, aproveitando a força e determinação do brasileiro para construir uma crítica política e social, sem deixar de lado o entretenimento e toda a beleza possível que o cinema pode proporcionar, seja em quesito técnica, de construção de personagens ou de um excelente roteiro em sua totalidade.

    Saneamento Básico, o Filme, é um relançamento da Vitrine Filmes, e volta aos cinemas nacionais, em cópia restaurada, a partir do dia 29 de Maio.

    Leia Também:

  • CRÍTICA | “O Esquema Fenício” – Quando a fórmula se esgota

    CRÍTICA | “O Esquema Fenício” – Quando a fórmula se esgota

    Wes Anderson, em “O Esquema Fenício”, entrega mais uma obra visualmente impecável, mas esvaziada de conteúdo, transformando seu estilo autoral em uma caricatura de si mesmo.

    É impossível ignorar a precisão estética de um filme do diretor Wes Anderson (“O Fantástico Sr. Raposo”). Paletas de cores calculadas, figurinos impecáveis e composições simétricas marcam sua assinatura. Em O Esquema Fenício, que estreou no Festival de Cannes 2025, Anderson assume também o roteiro e a produção, reafirmando sua obsessão pelo controle visual. O problema é que esse rigor vem acompanhado de um evidente desgaste criativo.

    A trama envolve um sombrio conto de espionagem centrado no tenso relacionamento entre pai e filha à frente de uma empresa familiar. As reviravoltas giram em torno de traições e dilemas morais.

    O Esquema Fenício

    O Esquema Fenício I Universal Pictures


    Anderson organiza o filme em capítulos e aposta em encontros cuidadosamente orquestrados como pontos de virada — uma proposta que, no papel, soa interessante. Na prática, porém, resulta em uma sátira autocentrada, quase uma paródia da própria obra do cineasta. Falta originalidade e, sobretudo, envolvimento emocional. O longa se arrasta, preso em blocos autoindulgentes e um excesso de informações que pouco contribuem para a narrativa.

    Visualmente, o padrão de excelência do diretor se mantém, com o design de produção de Adam Stockhausen (“A Crônica Francesa”) e o figurino de Milena Canonero (“O Grande Hotel Budapeste”). No entanto, o impacto desses elementos já não surpreende. A estética vibrante, os cenários estilizados e a geometria das cenas — outrora encantadores — agora parecem previsíveis, quase automáticos.

    image

    O Esquema Fenício I Universal Pictures


    O elenco estelar, mais uma vez, como nos últimos títulos de Wes Anderson, é mal aproveitado. Grandes nomes ocupam papéis sem profundidade ou função narrativa clara, acentuando a sensação de desperdício. Há muito talento para personagens tão rasos.

    image 1

    O Esquema Fenício I Universal Pictures


    A falta de desenvolvimento compromete também o suspense e o impacto dramático. O filme revela cedo demais suas intenções, eliminando qualquer possibilidade de surpresa. Os coadjuvantes são esquecíveis e o desfecho, que tenta soar grandioso, soa apenas protocolar.

    No fim, “O Esquema Fenício” é uma vitrine requintada de elementos já conhecidos, que, repetidos à exaustão, perdem força. A genialidade estética de Wes Anderson continua evidente, mas seu cinema parece prisioneiro de uma fórmula que não se renova — apenas se repete. E quando o estilo sobrepõe a substância, resta pouco além da moldura.

    Leia também:

  • CRÍTICA | A Lenda de Ochi traz um filme com a energia dos anos 80 para a A24

    CRÍTICA | A Lenda de Ochi traz um filme com a energia dos anos 80 para a A24

    Em pouco tempo de duração, A Lenda de Ochi relembra a essência da animação Como Treinar o Seu Dragão. Isso se mantém até o fim.

    Quando a obra inicia, ela apresenta um grupo de crianças lideradas por um homem que caça uma espécie antiga que se encontra em uma área restrita da floresta. Certo dia, a protagonista descobre que uma armadilha da sua equipe capturou um filhote destes seres “maquiavélicos”, contudo, ao ver os olhos assustados de um animal indefeso, a garota apenas o solta e, com o tempo, tenta entender mais quem ele é.

    O que desenrola a partir disso é um laço que converge duas espécies distintas, tentando entender o que as leva a terem nascido antagônicas, quando não passam de crianças formadas em um ambiente de guerra sendo ensinadas a ver o diferente como algo ruim. A criança percebe que precisa proteger esse bebê até que esteja de volta para sua família, o problema é que seu pai não pode saber do que está acontecendo.

    2025mspiff The Legend of Ochi 1920x1080

    A Lenda de Ochi | Paris Filmes

    Caso tenha sentido que já viu essa história antes, você não está errado. A relação da criança com o monstro pode ser comparada tanto ao “E.T. – O Extraterrestre” quanto ao “Como Treinar o Seu Dragão“, seja pela energia oitentista que a obra desperta com tamanha delicadeza com a qual trata a relação dos protagonistas ou pela mensagem principal de que a compaixão é uma ótima forma de reconhecer as similaridades com aquele que soa tão anormal a primeira vista.

    A figura animalesca de A Lenda de Ochi é claramente uma nova forma de ganhar dinheiro vendendo boneco, o que de modo algum está errado, mas com os olhos gigantes, o tamanho pequeno e a linguagem incompreensível. Duro é a missão de não se entregar a fofura de alguém tão parecido com o Baby Yoda de The Mandalorian. E faço essa comparação, principalmente porque em termos visuais, ambos soam mais um boneco de mão do que um efeito puramente realizado no computador.

    the legend of ochi

    A Lenda de Ochi | Paris Filmes

    A ambientação do longa-metragem se conserva para poucos locais, nada que soe muito distante um do outro, tal qual o núcleo de personagens não foge das famílias que a dupla protagonista fazem parte, o que dá esse viés de filme independente, mas que também o auxilia a escapar de uma longa duração ou tramas adicionadas que poderiam inflar a jornada, deixando a experiência cansativa ou mais do mesmo.

    Felizmente, ainda que não conquiste o espectador, o elenco carismático, a trilha agradável e a belíssima direção de arte proporcionam uma experiência confortável que mesmo tendo uma personalidade forte, traz uma bela mensagem para todas as idades sobre aprender com os erros e buscar melhorar ao invés de apenas repeti-los, levando as novas gerações a não prosseguirem com algo que está errado.

    Veja também:

  • CRÍTICA | Demolidor Renascido é tão boa quanto visitar um velho amigo

    CRÍTICA | Demolidor Renascido é tão boa quanto visitar um velho amigo

    Demolidor Renascido tem altos e baixos, mas estabelece bem seu futuro no Universo Cinematográfico Marvel.

    Assim como visitar um amigo que há muito tempo não víamos, sentimos saudades e temos aquela sensação maravilhosa de nostalgia ao assistir a série, mas, assim como podemos ver atitudes e comportamentos errados em nosso amigo, vemos erros técnicos gritantes nessa produção. Logo nos 15 minutos iniciais do primeiro episódio, a série nos mostra para que veio, tanto para o bom quanto para o ruim.

    A série começa com Matt Murdock, Karen Page e Foggy Nelson saindo do escritório e indo para o Josie’s Dinner, um restaurante já conhecido das temporadas anteriores. Tudo está tranquilo, os três estão se divertindo e Foggy celebrando uma vitória antecipada, que será o grande plot final da temporada.

    A paz não dura e nesses 15 minutos, Foggy é baleado pelo Mercenário em frente a Karen, enquanto Matt entra em luta sanguinária com o atirador. No maior estilo “cena do corredor” das temporadas anteriores, um plano sequência se inicia. Vemos os dois personagens lutando do térreo até o topo de um prédio de 3 andares, com bem mais brutalidade que nas temporadas anteriores distribuídas pela Netflix.

    images 6 1

    Demolidor Renascido | Disney+

    A parte boa é, uma sequência criativa e instigante de assistir, que te deixa tenso, justamente porquê vemos o tempo inteiro Matt escutar os batimentos cardíacos de Foggy durante a luta e não queremos que o personagem se vá. A parte feia, são os efeitos especiais desnecessários usados nos personagens durante a cena da luta. Tentam fazer com o Demolidor o mesmo que fizeram em sua participação na série da Mulher-Hulk, trazendo parkour e movimentos alongados para o personagem ficar mais cartunesco.

    Mas aqui, isso não funciona, é feio, tem momentos que os atores parecem bonecos de borracha. Além, é claro, de usarem a montagem dos episódios para tentar ajudar, o que acaba piorando e a cena fica beirando o vale da estranheza e quebrando a imersão do espectador. Em todas as cenas de luta da temporada eles abusam dos efeitos especiais e principalmente da edição, isso é um erro.

    Nesses primeiros minutos temos um vislumbre de alguns personagens que vão ganhar destaque ao longo da temporada. O episódio inteiro você sente o luto do Matt, sente que algo está faltando, justamente Foggy e Karen(que some para voltar no último episódio), mas essa sensação, assim como o próprio luto, vai passando conforme os episódios avançam.

    A base da temporada é estabelecida com Matt negando para si, ser o Demolidor e Fisk negando para o público, ser o Rei do Crime. Mas como vemos ao final do primeiro episódio, Fisk, agora prefeito, olha para a cidade da sacada de um prédio, ele está na escuridão e somente uma luz branca o ilumina rapidamente. Assim também está Matt, no meio da multidão, com o rosto inclinado para cima e uma luz vermelha pulsante piscando em seu rosto. Ambos estão contemplando, negando e sentindo dentro de si o desejo de libertar o seu alter ego.

    Por que Matt Murdock salvou Wilson Fisk legadodamarvel

    Demolidor Renascido | Disney+

    A série tem uma boa dose de fã service: as cenas do Matt com o Fisk conversando em uma lanchonete é o exemplo disso. Com uma atuação impecável tanto do Charlie Cox como do Vicente D’Onofrio, realmente é difícil imaginar outros atores interpretando esses personagens. Agora, mais velho, o Charlie Cox traz para o Matt Murdock um senso de responsabilidade muito maior. É notável que não só ator amadureceu, como o personagem também. Não somente na idade, mas também na atuação.

    E falando em boa atuação, Kamar de Los Reyes, que interpreta o Hector Ayala ou Tigre Branco nessa temporada, dá um show de interpretação. Ele conseguiu trazer a carga dramática que o papel pedia. O ator infelizmente faleceu de câncer no final de 2023. Hector Ayala é um dos pontos alto da série, o episódio de seu julgamento, é tudo que a série da Mulher-Hulk prometeu e não foi, um episódio de advocacia.

    A série está repleta de referências ao UCM, seja uma menção aos Skrulls, a Echo ou ao policial Morales, pai de Miles Morales e a maior de todas, um episódio inteiro com o pai de Kamala Khan, a Ms. Marvel, como coadjuvante de Matt. Por mais que a Marvel tenham exagerado nos últimos anos com milhares de referências em suas séries e filmes, que muitas vezes não dá para entender tudo, aqui eles diminuíram a dosagem e não entregam demasiadamente.

    Aos poucos vemos Matt se soltando das amarras que o impedia de retornar como vigilante, ao longo dos episódios ele se coloca em situações perigosas para no fim da série ter sua culminância retornando como Demolidor, assim também faz Wilson Fisk como Rei do Crime.

    Já sabemos desde o início que o Rei do Crime é o principal vilão da série, mas ao decorrer dos episódios, vemos vigilantes sendo introduzidos, com uma história cativante e bem desenvolvida, mas que é abandonada no episódio seguinte. Criam um personagem, dão uma história, desenvolvem ele para ser antagonista ou ajudante do Demolidor e o matam logo em seguida. Isso acaba se tornando uma fórmula repetitiva e frustrante.

    Demolidor Renascido

    Demolidor Renascido | Disney+

    A série tem sua alta no começo da temporada e conforme os episódios vão passando, tem uma baixa. O motivo disso é a troca da equipe criativa, com a Marvel demitindo os produtores e showrunners iniciais e trazendo de volta a mesma equipe criativa de quando a série foi distribuida pela Netflix. A troca foi feita durante a greve dos roteiristas e atores de Hollywood. O plano inicial era a série ter 18 episódios na primeira temporada, mas com a mudança, a série terá duas temporadas com 9 episódios cada.

    A equipe consegue juntar suas ideias com as da equipe anterior, mas a mudança é perceptível, essa baixa se dá a isso, mas mesmo assim, não chega a ser ruim. Ela apenas abre mais portas e ganchos para a conclusão na segunda temporada, além de preparar o terreno para o Demolidor, Justiceiro e o Rei do Crime no UCM.

    A série tem muitas ideias e execuções boas, mas também tem muitas partes que sofrem com qualidade técnica. Ela não tem sutileza em lugares que precisa ter, como na edição, por exemplo. Mas tem ótimas atuações, tem um roteiro interessante e o fator nostalgia ao seu lado. Não é a melhor série da Marvel, mas com certeza não é a pior, tem potencial e sendo bem trabalhada, pode ficar ainda melhor. A série nos dá um bom fã service e uma base boa do personagem no futuro do UCM.

    A segunda temporada da série está sendo gravada em Nova York e tem data de lançamento para 2 de março de 2026. Até lá, você pode assistir a todas as temporadas de Demolidor e a temporada completa de Demolidor Renascido no Disney+.

    Leia também:

    CRÍTICA | Looney Tunes – O Dia Que a Terra Explodiu é diversão para crianças e principalmente para adultos

    CRÍTICA | Round 6 Mantém o mesmo nível de qualidade da primeira temporada, o que é raro

  • Crítica | Screamboat: Terror a Bordo é uma história de amor

    Crítica | Screamboat: Terror a Bordo é uma história de amor

    Dirigido por Steven LaMorte, Screamboat homenageia o filme trash, da mesma forma que homenageia produções da Disney

    Na margem das grandes produções hollywoodianas, existe um submundo cinematográfico apelidado de cinema trash, apesar de não apresentar o charme de grandes produções da Warner ou da Disney, ele consegue atrair uma parcela do público, por alguns motivos que vão do racional ao puro instintivo.

    Seja por sua temática cômica ou uma sensação que varia de “por quê estou assistindo isso?” até “não acredito que tiveram coragem de filmar esta coisa”, grandes diretores construíram sua fama em filmes deste “sub-gênero”, entre eles Ed Wood e Roger Corman, cineastas que abriram caminho para diversas produções subsequentes, de qualidade duvidosa com certeza, afinal, apresentam baixo orçamento, atores baratos e tecnicamente deixam muito a desejar, porém, sendo sempre nítido o amor que estes artistas apresentam pelo produto, este é o caso de Screamboat.

    Screamboat

    Cena de Screamboat- Divulgação Oficial

    Screamboat somente existe por conta de seu timing. Em 1º de Janeiro de 2024, para a infelicidade da Walt Disney Animation Studios, a versão original de Mickey Mouse entrou em domínio público. Um personagem tão amado pelo público, não somente norte-americano, mas, mundial, cuja fisionomia consegue ser identificável até mesmo no escuro, a versão de Mickey apresentada na animação Steamboat Willie agora pode ser usado em diversas produções independentes, isento de qualquer direito, assim, um prato cheio para produções independentes e satíricas.

    Screamboat é um slasher que se passa em um barco, aonde os passageiros vão sendo assassinados por um pequeno e feio rato chamado Willie, que pode ser facilmente chutado para longe, porém, causa muita confusão e matanças inteligentes, além de ser extremamente expressivo em questão corporal e facial.

    Seguindo a onda de outro slashers, o foco de Screamboat não é na jornada dramática dos personagens, afinal, elas são superficiais, e sim o quão divertido é o seu contexto e universo. Ninguém assiste Sexta-Feira 13 (1980, Sean S. Cunningham) pela história, mas, ele se tornou um clássico por conta de seu nível de entretenimento barato.

    Para retratar a história de origem de Willie, Screamboat se utiliza de uma sequência em animação que inclui uma figura que remete diretamente à Walt Disney. A sequência em 2D é revigorante ao construir um pastiche das animações da década de 30, que moldaram todas as que vieram futuramente, incluindo Branca de Neve e os Sete Anões (1937, David Hand), o filme que abriu a porteira para o estúdio crescer em níveis assustadores.

    Screamboat

    Cena de Screamboat- Divulgação Oficial

    Screamboat talvez não seja o melhor filme do ano, mas, ele não busca isso, se preocupando em ser divertido, nada além disso, algo demonstrado pelo diretor Steven LaMorte, e toda a equipe técnica de arte, figurino, fotografia, etc. Todos fizeram seus respectivos deveres de casa, desde grandes referências, até homenagens para fãs mais hardcore, como, por exemplo, o nome da balsa ser Mortimer, um vilão secundário das histórias de Mickey Mouse.

    A trilha sonora merece ser exaltada. Conduzindo desde o clima de tensão, até momentos cômicos, parodiando músicas clássicas típicas de cartoons, como a Cavalgada das Valquírias de Richard Wagner, até os assobios do monstro Willie, que remetem a diversas músicas de filmes clássicos norte-americanos, incluindo a própria música assobiada por Mickey em seu desenho original.

    Por meio de uma rídicula subversão, Screamboat constrói em uma hora e 40, que poderia ser facilmente reduzida para uma hora e 20, uma rídicula história de amor ao cinema slasher, ao mesmo tempo que com muita graça, pode ser considerado sim, uma homenagem a filmes amados por tantos, mesmo após mais de 100 anos desde a introdução de seu mascote.

    Screamboat tem distribuição da Imagem Filmes e será lançado nacionalmente no dia 01 de Maio de 2025.

    Leia Também:

  • Crítica | Until Dawn cria  tensão, mas peca no terror

    Crítica | Until Dawn cria tensão, mas peca no terror

    Dirigido por David F. Sandberg, Until Dawn é um filme de terror vazio

    Segundo o site de crítica, Rotten Tomatoes, O Babadook (2014, Jennifer Kent), é considerado um grande sucesso, com 98% de aprovação e uma história sincera e genuína, sem apresentar sustos baratos. Ao usar a alegoria de um monstro infantil, como modo de representação do luto, a produção apresenta um core emocional dramático forte, uma mensagem potente, um medo que acompanha todo o filme, e um sentimento final de conclusão, a ponto da diretora se recusar a fazer sequências do filme. Nada do que foi elogiado em O Babadook, pode ser dito sobre Until Dawn.

    Apesar de pertencerem a sub-gêneros diferentes do gênero cinematográfico, Until Dawn também é um filme de terror que lida com o luto, porém, na medida que se encaixa em um terror “padrão”, incluindo, mas, não limitado à: monstros, bruxas, hospitais abandonados, assassinos mascarados e casas assustadoras, a produção fica vazia de conteúdo, em pró de uma checklist de itens assustadores, focando em sustos baratos, ao invés da história em si.

    Baseado na franquia de sucesso da Playstation, Until Dawn gira em torno de Clover, uma jovem que refaz, juntamente com 4 amigos, a última viagem de sua irmã antes de desaparecer, porém, o grupo se percebe preso em um looping temporal de horror, sendo obrigado a passar por diferentes pesadelos, que só serão interrompidos se o grupo sobreviver até o amanhecer.

    Until Dawn

    Cena de Until Dawn-Divulgação Sony Pictures

    Já tivemos alguns exemplos de adaptações de videogames que se tornaram sucessos cinematográficos, acredito que a franquia Sonic seja o maior atual. Para alcançar o público, Until Dawn se utiliza de um nome poderoso e se distancia do material original, a ponto de manter a temática principal, mas, criar novos personagens e uma história inédita, com o número certo de referências para entreter os assíduos pelo videogame.

    A graça de se jogar Until Dawn é estarmos na pele de seus personagens, nós tomamos as decisões e temos que lidar com as consequências, o jogador ativamente participa da situação, ao passarmos a produção para o cinema, nos tornamos passivos, tirando grande parte de nossa potência, assim, o sentimento de medo diminui, o que o diretor deveria fazer para evitar que isso ocorresse? Construir um sólido universo, amedrontador para o público e simples de entender, algo que não soube trabalhar tão bem.

    Parafraseando John Goodman no clássico independente Matinee (1993, Joe Dante), ao presenciarmos uma sensação de medo, nos sentimos mais vivos em seguida, pois, percebemos que aquilo era só um filme, trazendo um sentimento de catarse e satisfação, porém, em Until Dawn, este sentimento se torna raiva na medida que acompanhamos os personagens tomando decisão estúpida, atrás de decisão estúpida, o que só me fez relembrar a paródia O Segredo da Cabana (2011, Drew Goddard), e como ela estava a frente de seu tempo em tantos níveis.

    Sim, as regras de Until Dawn são simples de entender, afinal, como foi verbalmente exposto no filme, o público já está muito acostumado com produções de looping temporal, porém, para que então, em seu terceiro ato, tentar explicar psicologicamente tudo o que estava acontecendo? De modo sem nexo que confunde mais ainda o espectador? Tudo para enrolar o vilão para ele ser derrotado do modo mais clichê, previsível, e fácil, possível? Sem catarse nenhuma por trás? Isto sim, é decepcionante.

    Until Dawn

    Ella Rubin em Until Dawn– Divulgação Sony Pictures

    Eu não vejo nenhum problema em filmes de terror que não se levam a sério, inclusive, em muitos aspectos os acham mais interessantes do que os demais, como os da franquia Pânico e o filme de Goddard, porém, eu vejo problema quando ocorre uma mudança de tom em plena narrativa, quando a produção não entende o que ela realmente almeja alcançar.

    O que começa como um filme de terror interessante, abraça o trash de uma maneira inorgânica e sem nexo, ao mesmo tempo que a produção almeja ser um novo Evil Dead (1981, Sam Raimi), ela quer ser inteligente, duas coisas que não combinam, e tiram a força do terror em si.

    Algumas cenas trazem tensão, auxiliado pelo clima criado pela fotografia, e pelos efeitos visuais, construindo um gore que é muito atraente, e é divertido em certos momentos, porém, na medida que o roteiro foca em sustos baratos e previsíveis, indo na contramão da tensão orquestrada por Jennifer Kent, mostrando, assim, mais do que deveria, a produção falha aonde mais importa: construir um filme de terror que dê medo.

    Enquanto O Babadook foi um filme de terror independente que alcançou novos ares por conta do modo eficiente que usa o terror, Until Dawn é um filme de grande orçamento, com um nome poderoso por trás, que permitirá sequências, e uma nova vida no streaming, porém, é vazio de conteúdo se o considerarmos como um produto isolado de todo o ânimo que permeia esta franquia.

    Leia Também:

  • CRÍTICA | Looney Tunes – O Dia Que a Terra Explodiu é diversão para crianças e principalmente para adultos

    CRÍTICA | Looney Tunes – O Dia Que a Terra Explodiu é diversão para crianças e principalmente para adultos

    Looney Tunes: O Dia Que a Terra Explodiu é o primeiro filme totalmente animado em 2D da franquia com lançamento nos cinemas

    Desde a primeira cena, o filme remete aquela lembrança boa de assistir um desenho 2D dos Looney Tunes no sábado animado sendo transmitido pelo SBT. A animação inteira nos transporta para o ínicio dos anos 2000.

    Claro, o filme ser inteiramente 2D é a causa principal para essa nostalgia. A dublagem do filme é outro fator importantissimo para tal, sendo a voz dos protagonistas a mesma das animações, Márcio Simões (Patolino) e Manolo rey (Gaguinho). O filme nos faz emergir naquele mundo colorido e animado.

    O Dia Que a Terra Explodiu nos mostra os dois protagonistas, sendo adotados pelo fazendeiro Jim. Vemos eles crescendo(com os créditos iniciais do filme, que serve para nos situar o porquê de sua casa ser tão importante) e adultos, que é onde nossa história começa.

    No filme, Gaguinho e Patolino tentam encontrar emprego para pagar o seguro da casa deles após um meteoro destruir o telhado. Na procura por emprego, eles acabam trabalhando na fábrica de chicletes Goodie Gum e lá descobrem um plano alienigena que pretende transformar em zumbi todos que mascarem o chiclete.

    Patolino e Gaguinho são o contraponto um do outro, o primeiro é ingênuo, desastrado e bobo, já o segundo é atento, inteligente e o mais consciente. Por isso se completam tão bem. Indo mais além, Patolino é o Público infantil. Gaguinho, o público adulto.

    O longa é um prato cheio para os adultos, como já falado, justamente pela nostalgia, mas funciona muito bem para as crianças, com piadas que os mais jovens podem se identificar, como, por exemplo, na procura por emprego, o Patolino se torna um digital influencer e vira TikToker. Ainda nessa cena, eles mencionam auxílio emergencial e mergulham no próprio universo Looney Tunes, enquanto são demitidos das profissões (o que serve de reminiscência para os adultos).

    Em certo momento somos apresentados a Petunia, uma porquinha cientista que arruma um emprego para eles na fábrica de chicletes. Petunia se torna interesse romântico de Gaguinho, o que em algumas vezes o coloca em conflito, pois ele quer ficar com ela, mas precisa salvar/ajudar Patolino. Em determinado ponto, Gaguinho mente para Patolino para poder ficar a sós com Petunia.

    No final, Gaguinho fala com o Patolino sobre esses momentos e frustrações, o que serve perfeitamente para as crianças que assistem ao filme, pois mostra a elas que, se você não gosta de algo ou alguma coisa te incomoda, você pode falar sobre e está tudo bem. O longa, sutilmente incentiva o diálogo e ajuda a mostrar para crianças que elas podem estabelecer limites.

    É inacreditável pensar que desde 1930, quando começou as produções desses personagens, esse é primeiro filme totalmente 2D dos Looney Tunes com um lançamento nos cinemas. Todos os anteriores foram híbridos com humanos ou feitos diretamente para televisão quando eram somente animação.

    Por pouco ele ia sendo descartado pela Warner Bros. por questões financeiras, mas como os diretores conseguiram fazer tudo com um baixo orçamento, a Warner vendeu os direitos de distribuição nos Estados Unidos para a Ketchup Entertainment. Sendo a primeira vez que a Warner não faz a distribuição de um filme dos Looney Tunes. No Brasil, a distribuição ficou por conta da Paris Filmes.

    Esse é um ótimo filme de porta de entrada para crianças que não conhecem os Looney Tunes e um excelente para os que já conhecem e estão na casa dos 20/30 anos. O longa é engraçado, atual, rápido, criativo(com um belo plot no final) e lindo visualmente. Looney Tunes: O Dia Que a Terra Explodiu chega aos cinemas dia 24 de Abril.

    Leia também:

  • Crítica | Nas Terras Perdidas: a péssima execução de uma boa premissa

    Crítica | Nas Terras Perdidas: a péssima execução de uma boa premissa

    Dirigido por Paul W. S. Anderson, Nas Terras Perdidas apresenta um universo interessante, porém, falha em explorá-lo além do raso

    É um fato que George R. R. Martin pode ser considerado um gênio para criação de universos, antes mesmo de estruturar A Guerra dos Tronos (1996), Martin já havia escrito diversos contos fantásticos que mostravam o seu potencial como autor, entre eles, um conto presente na coletânea Amazons II (1982) chamado Nas Terras Perdidas.

    Contando a história da bruxa Grays Alys e do caçador Boyce, Nas Terras Perdidas se passa um mundo povoado por criaturas místicas como bruxas, demônios e lobisomens, ao mesmo tempo que homens e mulheres comuns, além de um governo autoritário, uma igreja poderosa e outros clichês presentes em diversas produções pós apocalípticos.

    Nas Terras Perdidas apresentava em suas mãos todas as peças para se tornar um blockbuster de sucesso, porém, seus dois maiores problemas conseguem impedir o sucesso de qualquer filme: roteiro e direção.

    O roteiro de Constantin Werner não estabelece o universo e nem mesmo os seus personagens, até mesmo a bruxa Gray Alys, a protagonista da produção, não é bem desenvolvida, a ponto de não entendermos os seus poderes, a fazendo ficar sujeita às vontades do próprio roteirista, o que ele quer que ela faça no momento, ela fará, e não é assim que se constrói nenhum personagem.

    Nas Terras Perdidas

    Milla Jovovich e Dave Bautista em cena de Nas Terras Perdidas- Divulgação oficial

    Os diálogos não auxiliam no enriquecimento nem dos personagens e nem do universo, além do fato de Gray Alys e Boyce, serem os únicos personagens com o mínimo de desenvolvimento, todos os personagens dizem e expressam a todo momento, exatamente o que eles estão pensando, isto não é bom para ninguém e muito menos para o público, é quase um tell, not show ao invés da regra clássica dos roteiristas show, not tell.

    O universo de as Terras Perdidas apresenta potencial, porém, entrega uma estética muito padrão para um mundo pós apocalíptico, a todo momento eu olhava a construção da cidadela e lembrava do castelo de Imortal Joe em Mad Max: Estrada da Fúria (2015, George Miller), com direito à mesma caveira como símbolo de autoridade.

    Ao sair do filme, eu nem mesmo lembrava o nome do personagem de Dave Bautista, que era o co-protagonista da produção junto com Milla Jovovich, o que dirá dos outros personagens esquecíveis como a rainha ou o líder da igreja, isto é grave em um filme deste tamanho e com um autor tão rico por trás, quanto George R. R. Martin.

    O que me leva ao segundo problema de Nas Terras Perdidas, a direção e escolha estética de Paul W. S. Anderson. Apesar de apresentar um nicho cinematográfico e fãs, Anderson produz filmes com narrativas medianas para fracas, porém, que apresentam algumas características estilísticas que conseguem prender a atenção do público, como o caso de Monster Hunter (2020, Paul W. S. Anderson), assim, Nas Terras Perdidas não seria diferente, sendo mostrado nas principais inspirações de Anderson: o cinema de faroeste e uma estética muito usada por outro diretor espalhafatoso: Zack Snyder.

    O cinema de faroeste alcançou seu auge na segunda metade do século XX, durante o século XXI tivemos algumas tentativas como O Cavaleiro Solitário (2013, Gore Verbinski), porém, nada que realmente se comparasse à glória dos filmes de Sergio Leone ou de Clint Eastwood, algo que Anderson sabe bem, porém, que não o impediu tentar e criar algo extremamente mediano em Nas Terras Perdidas.

    O clima árido, a união dos solitários, o bang-bang clássico, a camaradagem durante os perigos e as sessões de “santa ceia” ao redor de uma fogueira, aonde os personagens desabafam sobre suas vidas e pesares, todas estão presentes em Nas Terras Perdidas, juntamente com uma estética vazia que tira toda a vida e a cor dos personagens, e suga a energia do público no processo, o que fazia o faroeste, um filme de faroeste, se perde em pró de uma estética vazia.

    Nas Terras Perdidas

    Milla Jovovich em cena de Nas Terras Perdidas- Divulgação Oficial

    As cenas de ação são competentes, principalmente nas cenas em que Boyce utiliza duas cobras como arma, e Gray Alys utiliza suas foices. Nestas cenas de ação, Anderson utiliza uma estética usada muito por Zack Snyder no filme Sucker Punch (2012, Zack Snyder) como o universo plástico, a câmera lenta em cenas de ação para maior impacto e uma paleta monocromática que atua como sonífero para a audiência.

    Em Nas Terras Perdidas, Anderson construiu um universo gigantesco em tela verde e efeitos especiais, auxiliando nas filmagens de sua grandeza por meio de drones e demonstrando a magnitude do mundo ficcional, porém, na medida que suas regras básicas não são estabelecidas, nem com seus personagens e nem com sua organização social básica, do que adianta o público se importar, por uma hora e 40, com personagens vazios, se nem mesmo eles mesmos aparentam se preocupar?

    Leia Também:

  • Crítica | Presença: O terror experimental da visão do espectador

    Crítica | Presença: O terror experimental da visão do espectador

    Dirigido por Steven Soderbergh, Presença subverte a história de casa mal-assombrada por meio de uma singela, e agonizante, mudança de ponto de vista.

    Obs: A seguinte crítica apresenta spoilers do filme Presença.

    Em 1954, Alfred Hitchcock fez Janela Indiscreta, a produção se utiliza de um protagonista imobilizado em seu apartamento para discutir voyeurismo, paranoia e tensão que ocorre ao observamos aquilo que não desejamos.

    No livro de entrevistas: Hitchcock Truffaut, em que o cineasta francês discute a obra do mestre do suspense, Hitchcock defende que o personagem de James Stewart está no papel de espectador assistindo ao filme. Truffaut complementa por meio de uma analogia que 9 em 10 pessoas, ao verem do outro lado da janela uma mulher se despindo ou um homem arrumando a casa, não conseguirão desviar o olhar, continuarão olhando, por mais que tente desviar seus olhos. O observador está imobilizado, fascinado e distante do objeto observado, pois bem, tudo isto para começarmos a discutir um interessante filme de terror chamado: Presença.

    O terror é um dos gênero mais antigos da humanidade. No campo cinematográfico ele apresenta diversos sub-gêneros, desde o slasher, o psicológico, a casa mal-assombrada e os mais experimentais como A Bruxa de Blair (1999, Eduardo Sánchez, Daniel Myrick) e Atividade Paranormal (2007, Oren Peli), que abriram portas para novos modos de tecnicamente explorar o terror.

    presenca

    Callina Liang, Chris Sullivan, Eddy Maday, Julia Fox e Lucy Liu em cena de Presença- Divulgação The Spectral Spirit Company

    Presença é um destes filmes experimentais, subvertendo o filme de “Casa mal-assombrada” e fazendo uso de 33 planos sequência, feitos em steadicam, permitindo uma maior fluidez no movimento, na medida que não acompanhamos a família sendo assombrada, e sim a própria assombração que observa a família.

    A respiração, o movimento escada acima, o movimento escada abaixo, a todo momento o espírito de Presença observa a família, sem ser visto ou ouvido, coincidentemente do mesmo modo que o espectador que vai ver qualquer filme no cinema, e que tem o olhar direcionado por conta de escolhas certeiras do diretor e que não são mudadas, por mais que desejamos.

    Eu me recordo quando assisti ao filme O Homem Invísivel (2020, Leigh Whannell). Em uma cena, a personagem de Elizabeth Moss é atacada por seu ex marido, agora invisível, dentro de um hospício. O monstro mata diversos médicos e seguranças indefesos, enquanto Elizabeth Moss agoniza e se arrasta no chão, passando por uma arma de fogo que estava ao seu lado. Me recordo vivamente que neste momento eu gritei bem alto, como se ela pudesse me ouvir: “Pega a Arma”, mesmo sabendo que ela jamais conseguiria me escutar.

    Quando assistimos um filme, nos inserimos neste mundo, nos aproximamos dos personagens, quase como se eles se tornassem nossos amigos mais íntimos por um tempo de duas horas. Por conta disso que nos emocionamos em filmes como Vingadores: Guerra Infinita (2018, Joe e Anthony Russo), quando o Homem Aranha é desintegrado pelo estalo de Thanos. Por conta desta proximidade, nós torcemos pelo bem e desejamos a queda do mal, isto não ocorre, assim, ficamos arrasados e almejamos um modo de impedir aquilo à tudo custo.

    Presença faz tudo isso com maestria, a assombração se aproxima dos moradores, diversas vezes quase encostando neles, como se tentasse a todo momento dizer algo, os protegê-los, porém, eles não os escutam. Por mais que esteja sempre presente, a assombração, que somente é vista rapidamente no último minuto do filme, é constantemente ignorada e apresenta pouco poder em alterar os fatos que ocorrem, exceto em alguns momentos bem específicos em que realmente mostra seu poder, principalmente em questão de zelo para aqueles que ama.

    Desde Frankenstein de Mary Shelley, entendemos que aqueles que enxergamos popularmente como monstros, raramente são tão terríveis quanto aparentam. O monstro de Frankenstein foi criado por um cientista maluco e jogado no mundo sem preparo ou conhecimento, o Fantasma da Ópera somente desejava um amor, e a assombração de Presença somente desejava proteger a família.

    Presença

    Callina Liang em cena de Presença– Divulgação The Spectral Spirit Company

    Do mesmo modo que Ghost Story (2017, David Lowery), a produção se baseia em diferentes linhas do tempo que mesclam o passado e o presente, nos gerando uma dúvida sobre quem é a assombração que observa esta família, prendendo a atenção do espectador não por meio de um terror, mas, por conta de uma tensão e um abalo causado pela nossa impotência como espectador.

    Presença é um filme curto, apresentando menos de uma hora e 30, porém, por conta de seu ponto de vista único e uma cinematografia experimental e tecnicamente interessante, prende a atenção e a curiosidade do público. No pôster da produção existe uma citação da crítica feita pelo site Bloody Disgusting: “Te deixa totalmente abalado”. A pergunta que podemos fazer é: por quê?

    A resposta é mais simples do que aparenta, ela nos deixa abalado não por conta da assombração, afinal, na medida que ela não é mostrada e vista sempre por meio de um ponto de vista, quem ela poderia ser além do próprio espectador? Um espectador que se sente tão desconfortável que abandona a sala de cinema no meio do filme? Como ocorreu durante o lançamento da produção no Festival de Sundance, e ocorreu novamente na pré estreia que tive o prazer de assistir ao filme?

    O que realmente nos deixa abalados é o que a assombração presencia, sendo praticamente inapto de alterar ou impedir os acontecimentos, como quando Ryan, um menino loiro e misterioso, dopa Chloe, a protagonista que a assombração observa desde o começo do filme.

    A assombração de Presença observa Ryan colocando a droga no suco, subindo ao quarto e oferecendo inocentemente para Chloe. No momento que o fantasma observa em um close, auxiliado pela lente olho de peixe, o espectador também quer gritar para Chloe não tomar o suco, porém, estamos impossibilitados de auxiliar, afinal, estamos em outro plano do que os personagens, nós não podemos ajudar aqueles de quem gostamos, isto sim abala.

    O roteiro de David Koepp intercala a onisciência do espectador com surpresas, afinal, o único ponto de vista que presenciamos ao longo de Presença é a da assombração, um personagem mudo, assim, o que ele sabe, nós sabemos, mesmo quando preferimos não saber, como é o caso de Ryan e a tentativa de “Boa Noite Cinderela” em Chloe.

    Neste momento a câmera treme e desfoca, enfatizando uma espécie de grito, auxiliado por um agudo sonoro que deixa qualquer um desconfortável. O forte de Presença, é este sentimento de nos colocar realmente na posição de espectador indefeso, aquele que como Jimmy Stewart somente observa o desastre se desenrolando, aquele que não consegue impedir a morte de um personagem querido como o Homem Aranha, ou aquele dá conselhos inatingíveis para Elizabeth Moss. Isto que nos abala: o sentimento de impotência.

    presenca 1

    Pôster Oficial de Presença

    Presença é considerado um filme de horror, porém, eu consideraria mais um thriller e um filme experimental, afinal, o mais perto que chegamos do terror, é transmitido pelo próprio ser humano, e pela nossa incapacidade tanto de ajudar, quanto de desviar o olhar, nos deixando fracos e fazendo refletir sobre o papel passivo que apresentamos toda vez que entramos em uma sala de cinema.

    Caso o espectador entre na sala buscando um terror, ele sairá decepcionado, afinal, o ponto de vista é extremamente cansativo após um certo tempo e o desconforto é constante durante toda a sua duração, porém, se for levado pelo filme, presenciará mais emoções e angústias do que muitas produções de horror da atualidade.

    Leia Também:

  • CRÍTICA | Vitória: Um Retrato Incompleto de Coragem

    CRÍTICA | Vitória: Um Retrato Incompleto de Coragem

    Embora traga uma história poderosa e mais uma atuação brilhante de Fernanda Montenegro, o filme peca na direção e na construção narrativa, ficando aquém do seu potencial.

    Nos anos 2000, a aposentada alagoana Joana Zeferino da Paz, moradora da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, iniciou uma investigação, por conta própria, que levou à prisão de mais de 30 pessoas, entre traficantes e policiais militares envolvidos no tráfico local.

    A história, revelada em 2005 pelo jornal Extra, do Rio de Janeiro, ganhou notoriedade quando Joana, vivendo sob anonimato, pelo pseudônimo Vitória, por questões de segurança, gravou vídeos do tráfico em sua vizinhança para desmentir alegações falsas de um coronel da PM durante um processo judicial. Sua coragem resultou em uma investigação que expôs a omissão policial e o envolvimento de PMs com o crime organizado. Joana viveu em segredo por 17 anos até sua morte na Bahia. Sua trajetória agora é retratada em “Vitória”, longa estrelado por Fernanda Montenegro (“Central do Brasil”).

    Vitória

    Vitória I Conspiração Filmes


    A premissa do filme tinha grande potencial: um relato real, cheio de reviravoltas. No entanto, o resultado final não faz jus à riqueza da história original, sendo salvo apenas por mais uma atuação excepcional de Fernanda Montenegro, aos 95 anos, como protagonista. Fora isso, “Vitória” perde força em escolhas narrativas que não fazem justiça à profundidade do caso.

    O principal atributo da produção, como já dito, é, sem dúvida, a performance de Montenegro. Sua interpretação é a única que consegue transmitir a complexidade emocional da personagem e a tensão da situação. Contudo, o restante do elenco não consegue sustentar a gravidade da trama. As atuações são limitadas e, em muitos momentos, as interações entre os personagens soam artificiais, prejudicando a imersão do espectador.

    Foto2

    Vitória I Conspiração Filmes

    Outro ponto negativo é a estética de telefilme, antiquada e pouco envolvente. A direção, de Andrucha Waddington (“Casa de Areia”), não consegue traduzir a tensão e o impacto do caso de Joana com a intensidade que a história exige. Além disso, a tentativa de inserir humor em momentos dramáticos é deslocada e ineficaz, criando um tom desconexo em várias cenas. Essas conveniências narrativas, que tentam suavizar o peso de uma história já dramática, enfraquecem ainda mais o enredo.

    Apesar de seus problemas, “Vitória” ainda consegue gerar algum nível de entretenimento, principalmente devido à força do personagem de Joana e o fato que inspira a trama. A história, embora mal explorada, continua fascinante.

    Foto3 1

    Vitória I Conspiração Filmes


    No final, o filme não chega a ser uma grande tragédia, mas também não atinge seu potencial máximo. A atuação de Fernanda Montenegro e o impacto do caso real são os únicos elementos que impedem “Vitória” de ser uma completa, perdoe o trocadilho, derrota.

    Leia também: