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CRÍTICA | Guerra Civil apresenta o outro lado da guerra

Guerra Civil mostra como o fotojornalismo pode ser uma área importante e problemática no meio que se encontra.

Guerra Civil apresenta a história de dois jornalistas que precisam chegar na capital dos Estados Unidos antes que o presidente seja assassinado devido às atitudes que tomou durante seu terceiro mandato. Então, em meio ao caos que se alastrou, unir o senso de urgência ao risco de sobreviver encaminha a obra para uma direção que fica difícil prever até onde vai.

Sendo assim, o destaque principal fica em acompanhar o grupo de viagem formado que precisa chegar em determinado local numa época de guerra, mas também em um futuro meio apocalíptico, que não seria exagero dizer que lembra algumas produções recentes como “1917” e ”The Last of Us”, onde haverão momentos de conforto para em seguida causar impacto no espectador, apresentará perspectivas divergentes das pessoas perante o que está acontecendo e desenvolverá a relação dos protagonistas de um jeito natural, do qual leva a uma preocupação com o risco de vida que todos estão passando.

Guerra Civil

Guerra Civil | A24

E se os personagens funcionam tanto em um curto período de exibição, é porque o elenco completo demonstra estar confortável nos papéis em que se encontram. Kirsten Dunst rouba a atenção ao dizer pouco enquanto sua fisicalidade diz tanto, sua personagem mostra alguém que cansou do trabalho que exerce e precisa lidar com uma nova geração a caminho nesse ramo, do qual o desconforto é enorme, mas tentará não transparecer isso. Wagner Moura por sua vez, já apresenta uma tranquilidade referente a vida que leva, como se gostasse da adrenalina que a guerra entrega, entretanto esconde os receios de tal maneira que só fica perceptível quando a situação piora.

Enquanto isso, Stephen Henderson traz um tom leve com alguém que parece representar um peso morto para a equipe de jornalistas, mas pode trazer a resposta certa para dúvidas intrigantes e momentos desesperadores. Por fim, Cailee Spaeny pode representar um novo chamariz no ramo de Hollywood, visto que ano passado chamou muita atenção por sua interpretação em ”Priscilla” e ainda que precise lidar, com os pesos pesados a sua volta, se sustenta o suficiente para ser notável o progresso que sua personagem civil transcorre durante o longa-metragem, conseguindo ganhar o espectador a ponto de causar os momentos de maior aflição.

Guerra Civil

Guerra Civil | A24

Com isso, a direção de Alex Garland se mostra precisa no que decide aprofundar, escolhendo muito bem o quanto determinado personagem vai mostrar o que sente ou como vai aprofundar os temas que o filme aborda, onde muito deles são debatidos de modo superficial para que a audiência determine de onde aquilo surgiu, seja um pensamento ou uma situação. No fim, o fotojornalismo acaba sendo a pauta mais destrinchada, de tal modo que não busque explicações do porquê alguém escolheu essa profissão, mas apresente os percalços e decisões difíceis que terá de fazer para continuar no ramo, sendo um deles preocupante, ainda que infelizmente não se aprofunde nisso.

Nesse aspecto, a parte fotográfica da obra gruda sua atenção por todas as alternativas que escolhe durante suas quase 2 horas, pois além do efeito colocado na foto registrada pelos trabalhadores, que vem no momento certo para mostrar o lado artístico disso, o nível que cada um busca alcançar e o poder que isso causa em quem vê. A direção nesse aspecto do filme permite criar momentos fotográficos do público desejar uma foto do que está vendo, deixando até mesmo se viajar com isso ao produzir quase um videoclipe de um helicóptero seguindo rumo em direção ao nascer do Sol.

Todavia, são raros esses momentos que soam enrolados e a presença da câmera consegue ser sentida na ação, levando a quem assiste se encontrar no meio daquela guerra, conseguindo transpor a sensação horripilante de estar ali e angustiante de ver gente querendo gravar como se fosse uma situação segura pra isso.

Guerra Civil é um momento episódio dentro do fotojornalismo que não necessariamente precisa ser visto como algo fictício em um futuro distópico, já que o tipo de trabalho abordado aqui acontece diariamente e apenas não é visto, ou até valorizado como deveria. É uma situação incomum de se acompanhar e por isso tão interessante de ver, levando a refletir sobre como a guerra pode mudar até mesmo aqueles que não estão lutando dentro dela, mas lutando para que o mundo veja o que a mídia pode querer esconder. A maior luta pode não ser em fotografar as mortes que vislumbra, mas aquela que pode te dilacerar por dentro aos poucos.

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