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CRÍTICA | 2ª temporada de Invencível mostra a dificuldade de superar um trauma

Depois de lutar contra o próprio pai para salvar a Terra, Mark Grayson se dedica a vida heroica sem permitir que descanse e viva um pouco como um adolescente normal. Sua mãe e amigos dão o máximo para auxiliá-lo nessa recuperação, em ajuda-lo a equilibrar os dias de luta e de faculdade, até que surge um homem chamado Angstrom Levy, que após sofrer um acidente envolvendo o Invencível, o vê como uma ameaça que deve ser destruída não importa de que Terra no multiverso venha.

Partindo disso, o segundo ano do universo criado por Robert Kirkman, que atua fortemente na produção da animação, explora todos os lados imagináveis envolvendo o multiverso, a galáxia que é bem mais ampla do que aparenta e para que rumo vai levar cada personagem com suas tramas particulares. Então, mesmo que cada episódio apresente uma duração de quase uma hora e todos sejam completamente bem equilibrados no ritmo, na abordagem de um tema especifico e de quando vai propor uma briga dentro da história, fica uma sensação de que muitos assuntos foram colocados e alguns acabaram esquecidos, ao mesmo tempo, que ao parar pra pensar sobre o que deveria ser feito, não existe muitas ideias palpáveis para manter a temporada.

Os primeiros episódios são estritamente focados em abordar a ideia do multiverso, onde o espectador conhece versões alternativas do protagonista como um inimigo e os Guardiões como os defensores da Terra, do mesmo jeito que acompanha variadas personalidades de um mesmo personagem que se unem em prol de um objetivo comum. Ainda que o tema seja explorado de um modo divergente do que ficamos acostumados a ver no cinema, quando a série decide abordar outros assuntos e volta com isso apenas no final, fica a sensação de que faltou algo, seja o protagonista conhecendo seu lado maléfico ou o antagonista trazendo algo de relevante ao retornar, principalmente quando em determinado momento descobre uma arma que poderia derrotar o Invencível, mas que no último episódio tudo fica resumido em ameaçar quem o herói ama.

Entretanto, mesmo que o tema de realidades alternativas pareça desperdiçado por parte de viajar por estas outras dimensões, se mostra um ponto fundamental para o crescimento de Mark que durante toda a temporada lutou contra a chance de ser comparado ao Omni-Man, buscando dar valor ao seu relacionamento com a Amber e se controlar com os seus poderes em prol de não acabar matando ninguém, fazendo um reflexo distinto para com uma versão que é vista nos primeiros minutos da temporada. O herói, ainda que ressentido para com seu pai se encontre numa encruzilhada ao perceber que a raça viltrumita ainda busca dominar a Terra e só ele é capaz de impedir, mas como fazer isso sem soltar um lado agressivo que existe dentro de si?

CRÍTICA | 2ª temporada de Invencível mostra a dificuldade de superar um trauma

Invencível (2ª temporada) | Prime Video

Então, a luta do herói para se afastar de uma versão sombria em potencial e superar o que aconteceu no final do primeiro ano, reflete tanto nos outros personagens lidando com os seus próprios problemas, como na abertura do seriado que ainda se faz presente ao conversar com a obra num todo. Iniciando ensanguentada e escura, para ser quebrada no decorrer dos episódios, representando essa superação de algo traumático e uma renovação para com a nova pessoa que vai surgir a partir disso, espelhando-se tanto com o protagonista que ao final promete deixar de lado uma parte de sua vida para se dedicar em ser melhor, quanto com o amadurecimento dos coadjuvantes em seus respectivos enredos.

O ponto alto da série sempre se tratou no modo como os roteiristas sabiamente trabalhavam todos os personagens de um jeito humano, complexo, onde raramente alguém soava preto no branco e a humanidade era imposta até mesmo nos inimigos do Invencível. Nessa temporada, isso ficou ainda melhor. O drama do seriado ganha força nesses oito episódios, deixando de lado uma luta física de pessoas poderosas para trabalhar a luta interior do dia a dia que todos passam, seja a Amber tendo que lidar com a ausência do seu namorado porque este precisa salvar o mundo, ganhando muita simpatia do espectador por reconhecer seu esforço em ser compreensiva mesmo que doa, ou a Debbie, mãe do protagonista, enfrentando a dor de ter sido traída pelo amor que nunca foi reciproco, ganhando um escopo fundamental para falar sobre trauma, depressão e o combate diário que não se mostra fácil, mas pelo menos se mostra vencível. Tornando ela uma das personagens mais bem trabalhadas, tal como se mostrando um exemplo de uma mulher forte.

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Invencível (2ª temporada) | Prime Video

Isso sem contar outros personagens, com tramas deixadas em aberto na primeira temporada, que são concluídas aqui em um ponto preciso entre os episódios, como se a produção quisesse deixar pouco assunto em aberto imaginando o que tem preparado pro terceiro ano. Trazendo a sensação de esta temporada ser um ano de passagem, de trabalhar, amadurecer e fortalecer todos os personagens perante as dificuldades que devem enfrentar em uma terceira temporada já confirmada. Mas nunca deixando de ser criativa ao fazer isso, como no episódio que decide mostrar a vida do Allen, o alienígena, e coloca uma voz over (termo usado para definir um narrador que não está presente em cena) para contar a jornada desse personagem divertido, enquanto esclarece sua relevância para uma guerra a caminho. Além de ser um jeito da própria produção mostrar sua criatividade, não só em como abordar personagens de um jeito diferente, mas como de conversar com o espectador na abertura ou em cenas mais especificas (e memoráveis) como aquela em que Mark conhece seu artista favorito.

Na parte técnica, é notável uma evolução em todas as áreas, ainda que mínimo perante o esperado, principalmente na parte visual que não mudou muita coisa e deixou ainda mais negativo o tempo demorado para entregar pouca evolução, ainda que notável. Já na parte da trilha sonora, na dublagem e na direção, fica claro um aprofundamento em todos os sentidos, onde tudo está bem alinhado e a música consegue passar perfeitamente a ideia do momento que se encontra, seja algo que soa desafinado quando Mark perde a linha, a batida tensa quando uma pessoa importante é ameaçada e algo leve para acompanhar um alienígena carismático.

Sendo assim, a segunda temporada de Invencível mesmo apresentando leves problemas de foco em narrativa, ainda se mostra um diferencial no gênero de super-heróis provando a imensidão de temas que podem ser abordados quando há criatividade e carinho com cada personagem, mesmo o mais irrelevante possível. Ainda que demore pra chegar, o retorno do seriado é muito bem vindo e consegue encontrar sempre um jeito de surpreender. Mostrando que independente das atitudes que tenha ou das situações que vivencie, nunca é tarde para mudar e se renovar, ainda que dificilmente consiga se tornar invencível.

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